BERNARDO E JOHANA HEINZEN – O RECANTO QUE ENCHE OS OLHOS E A ALMA

 

(27/06/2025)

Sabe daquelas casas lá no recanto de um morro qualquer, que costumam constar na paisagem de cartões postais, e que mais parecem uma visão ou miragem? Pois bem, eu conheço uma morada assim, encrustada nos montes, no alto do Morro dos Heinzen, no Distrito de Vargem do Cedro, município de São Martinho.

Há um arvoredo que rodeia o casarão, em meio a outros pequenos arbustos e flores. Há muitas árvores frutíferas e, em certas ocasiões, eu pude desfrutar da doçura e da diversidade de sabores das frutas que se colhem naquele pomar.

E as flores? Você está brincando? Imagine um jardim de orquídeas e lírios e margaridas e toda sorte de plantas ornamentais e medicinais. E não é exagero dizer: ‘uma mais linda do que a outra’, revelando a dificuldade que se tem quando se quer avaliar qual a mais bela. Talvez fosse mais fácil discernir qual a mais perfumada, qual a mais florida, qual a maior ou a menor, qual a mais rara e a mais abundante... Mas todas são igualmente belas, com suas características peculiares.

Com estas letras, navegando pelas minhas memórias, quero homenagear, particularmente, duas pessoas queridas que faleceram recentemente: o Bernardo Heinzen (21 de abril deste ano) e a Johana (12 de maio). 

Recordo, também, com carinho, de Ema e de Madalena, que moravam com eles e adormeceram: uma há coisa de oito anos e outra há cinco anos. Dos irmãos solteiros, a remanescente é Clara, que permanece no casarão da família e é assistida pelo irmão Antônio, sua cunhada Leonete e por seus sobrinhos.

A jornada tem início em Vargem do Cedro. Deixando a estrada geral, calçada com lajotas, o amigo tomará uma estrada de chão batido até o alto do Morro dos Heinzen. 

A subida é uma doce aventura, contendo muitas curvas e alguns aclives bem acentuados. Há que se dirigir com cuidado e diligência.

É possível observar que logo ali ao lado, após o frágil cercado de mourão de madeira e arame farpado, está um precipício. Dali, pelo escarpado, vê-se pasto, plantação de eucalipto e, perau abaixo, o bosque que se derrama até o vale.

Mas se o amigo erguer os olhos um pouquinho (o que é impossível não fazê-lo) verá o espetáculo da paisagem rural de nossa região: morros, pastagens, plantações, sítios, moradas, paióis e potreiros... entrecortados por algumas ruelas de chão.

Seguindo a viagem, logo à esquerda, diante do quadro que acabei de descrever, está a Gruta de Nossa Senhora das Graças, montada com pedras que os antigos Heinzen trouxeram até ali. Aproveitaram o olho d’água para que houvesse água corrente aos pés da imagem. 

Madalena e suas irmãs aprenderam desde cedo a cuidar do monumento de sua fé mariana, depositando flores e velas junto à pequena imagem. A família e os vizinhos se reuniam ali para rezar o terço, quase sempre em alemão e, mais tarde, também em português.

Ainda hoje o local é ponto de parada para os transeuntes descansarem e beberem daquela água pura e fresca que brota das pedras. Em tempos de estiagem, é para lá que estudantes e moradores da comunidade se dirigem para pedir chuva. E são atendidos (às vezes, ainda antes de chegarem em casa).

A família do seu Zequinha Heinzen, que faleceu a pouco tempo, ainda reside lá em cima. Vinícius e Vitória crescem saudáveis naquelas plagas. E o amigo vai passar diante das residências deles.

Continuando a viagem, passará por roçados e arvoredos e o mata-burros. Então, após uma elevação, a paisagem logo se descortina diante do visitante, e já é possível ver o recanto dos Heinzen, ao longo, lá abaixo. 
O potreiro está à direita. Mais ao fundo, encontra-se a carpintaria do Bernardo e os engenhos de cana-de-açúcar e de farinha. 

Em ambientes assim, cada peça e instrumento faz recordar muitas histórias vividas pela família. Ali no morro, ao lado da casa, há um roçado onde a Madalena plantou centenas de ramas de aipim antes de morrer, há alguns anos. E teria dito, pouco antes de adoecer repentinamente e falecer: “Não se preocupem com a farinha de mandioca; eu já deixei uma roça cheia de aipim para vocês”

No pasto, além dos bovinos, patos e marrecos, galinhas e gansos convivem aparentemente em grande harmonia.

Os cachorros anunciam a chegada de estranhos. Imediatamente percebe-se movimentos dentro da casa. Geralmente era o Bernardo quem vinha por primeiro, sorrindo timidamente, acolher o visitante. 

Depois, caminhando com dificuldade, por conta da idade, na medida do possível, vinham uma a uma: a Emma, a Madalena, a Johana e a Clara. Queriam cumprimentar a visita.

Algumas vezes fiz-me acompanhar do professor Luiz Jorge Hellmann, amigos da família que, além de se interessar por flores, podia conversar com eles em alemão. A conversa ficavam bem animada e participativa. Quando precisávamos falar apenas em português, o assunto fluía com menos espontaneidade.

O antigo casarão de madeira e alvenaria é herança dos seus pais. Eles tiveram vários filhos. Todos foram criados nas tradições germânicas e cresceram profundamente católicos.

Além das orações diárias em família, eram assíduos às funções religiosas que os padres do Coração de Jesus ministravam na matriz São Sebastião (que está para celebrar 100 anos de sua inauguração em 21 de janeiro de 2028).

A terra providenciou quase tudo que precisavam para sobreviver. Seguiam um sistema de troca de produtos e comercializavam bens no Mercado da vila. Alguns filhos não casaram e permaneceram morando na residência, mesmo depois do falecimento dos patriarcas. Foi o caso do Bernardo e suas quatro irmãs.

Eu gostava de sentar-me na varanda e desfrutar da beleza daqueles jardins. Mas, dentro de casa, também era muito interessante. Os armários de madeira são verdadeiras obras de arte. Exímio artesão, o velho Heinzen esculpiu entalhes nos móveis que não passam despercebidos a ninguém. 

Flores de plásticos se misturam às flores naturais expostas nos vasos sobre a mesa, onde sempre há um oratório. Caixas de remédios também ficam por ali, como que formando uma pequena farmácia doméstica; sem comentar nas muitas ervas medicinais e remédios caseiros que a família faz uso.

Nas paredes brancas há muitos quadros e souvenires que a família foi ganhando, comprando e guardando por ali. Há várias obras de artesanato que as meninas mesmas fizeram, especialmente a Johana, que era exímia bordadeira e crocheteira. Também havia quadros com fotos da família e de padres que passaram pelo lugar. O Venerável Pe. Aloísio Boeing e a Bem-Aventurada Albertina Berkenbrock tinham lugares de destaque em meio a tantos objetos.

Através de um pequeno aparelho de TV, eles podiam acompanhar as Missas transmitidas diariamente. Devotos da Senhora Aparecida, era uma alegria especial compartilhar comigo as belezas dessas celebrações, especialmente aquelas Novenas em preparação à Festa da padroeira do Brasil. 

A casa possui vários quartos e, no meio da sala, se vê uma escada de madeira que dá para o sótão. Antigamente, as crianças dormiam lá em cima também. 

O lugar servia para depósito de alimentos, após as safras. Nunca tive a curiosidade e nem a ousadia para subir os degraus e verificar o que havia lá em cima. 

A cozinha é grande, e o fogão à lenha permanece sempre ativado e, ali ao lado, um tanque com água corrente vinda do morro (um luxo desfrutado por poucos). Certa vez, acompanhado das Irmãs Bertilda, Lydia e Odete, almocei com os Heinzen.

Nunca saí de lá sem levar comigo um doce, um pouco de fruta, um pedaço de carne ou uma dúzia de ovos... Fruto da enorme generosidade e consideração dos irmãos. Mesmo que eu ficasse constrangido e lhes dissesse que não era necessário, o Bernardo balançava as sobrancelhas enormes e sorria: “Mas, por que o seu Vigário fica envergonhado, se nós temos tanto para partilhar?”.

Sem falar, que, vez por outra, eles providenciavam para que algum parente levasse ‘presentinhos’ para mim e para as Irmãs religiosas, lá na Praça da vila. No Natal e na Páscoa era certo que algum doce chegaria às nossas casas provenientes dos irmãos Heinzen.

Algumas vezes, após despedir-me, eu não voltava imediatamente no sentido de retornar para a planície. Tomava o sentido contrário, pois, se até aqui eu já achava tudo tão encantador, permitia-me desfrutar uma outra paisagem logo ali adiante, após os montes.

Tomando a estrada, logo sentia-me obrigado a parar o automóvel e caminhar em torno do grande açude. É deveras impressionante sua beleza. Parece um lago natural, ornado com enormes pedras que nunca foram removidas e alguns arbustos... As garças e os quero-queros e outras aves sempre estão por lá. Afortunadas elas, que vivem o tempo todo em meio a tanta beleza. Talvez, por isso, pareçam tão felizes e faceiras.

Após outro mata-burros, após uma curva acentuada, o amigo depara-se com uma janela natural feita pelo Criador. Não há como não se emocionar com a beleza das montanhas da Serra Geral logo ali e todo o encanto que elas despertam dentro do nosso coração. 

Entre a gente e a Serra há um vale com enormes plantações de eucaliptos, bosques do que sobrou da mata atlântica, roçados e sítios, açudes, a barragem no Rio Capivari e duas ou três residências. Uma delas é do Antônio Heinzen, onde moram sua esposa Leonete e o filho do casal, o artesão Rodrigo que, por sua vez, com a Julie, tem dois filhos: o Ailton e o André.

Contemplar a natureza faz bem à alma e ao corpo. O recanto dos Heinzen é bucólico e paradisíaco. Ninguém passa por lá; é preciso ter a intenção de subir a montanha e chegar lá. Mas vale a pena. Entretanto, depois da tal experiência, é preciso retornar para o vale.

A descida exigirá novos cuidados. Chegando em Vargem do Cedro, o amigo poderá escolher qual sentido tomar e seguir avante aonde seu coração decidiu ir. Mas não se esqueça de, noutra oportunidade, retornar para visitar os Heinzen.


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Trailer do filme ALBERTINA:  https://www.youtube.com/watch?v=3XggsrQMHbk

                                      

Fotos: acervo do Rodrigo Heinzen

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