(27/06/2025)
Sabe daquelas
casas lá no recanto de um morro qualquer, que costumam constar na paisagem de cartões
postais, e que mais parecem uma visão ou miragem? Pois bem, eu conheço uma
morada assim, encrustada nos montes, no alto do Morro dos Heinzen, no Distrito
de Vargem do Cedro, município de São Martinho.
Há um arvoredo
que rodeia o casarão, em meio a outros pequenos arbustos e flores. Há muitas
árvores frutíferas e, em certas ocasiões, eu pude desfrutar da doçura e da
diversidade de sabores das frutas que se colhem naquele pomar.
E as flores?
Você está brincando? Imagine um jardim de orquídeas e lírios e margaridas e
toda sorte de plantas ornamentais e medicinais. E não é exagero dizer: ‘uma
mais linda do que a outra’, revelando a dificuldade que se tem quando se quer
avaliar qual a mais bela. Talvez fosse mais fácil discernir qual a mais
perfumada, qual a mais florida, qual a maior ou a menor, qual a mais rara e a
mais abundante... Mas todas são igualmente belas, com suas características
peculiares.
Recordo, também, com carinho, de Ema e de Madalena, que moravam com eles e adormeceram: uma há coisa de oito anos e outra há cinco anos. Dos irmãos solteiros, a remanescente é
Clara, que permanece no casarão da família e é assistida pelo irmão Antônio,
sua cunhada Leonete e por seus sobrinhos.
A jornada tem início em Vargem do Cedro. Deixando a estrada geral, calçada com lajotas, o amigo tomará uma estrada de chão batido até o alto do Morro dos Heinzen.
A
subida é uma doce aventura, contendo muitas curvas e alguns aclives bem
acentuados. Há que se dirigir com cuidado e diligência.
É possível
observar que logo ali ao lado, após o frágil cercado de mourão de madeira e
arame farpado, está um precipício. Dali, pelo escarpado, vê-se pasto, plantação
de eucalipto e, perau abaixo, o bosque que se derrama até o vale.
Mas se o amigo
erguer os olhos um pouquinho (o que é impossível não fazê-lo) verá o espetáculo
da paisagem rural de nossa região: morros, pastagens, plantações, sítios,
moradas, paióis e potreiros... entrecortados por algumas ruelas de chão.
Seguindo a viagem, logo à esquerda, diante do quadro que acabei de descrever, está a Gruta de Nossa Senhora das Graças, montada com pedras que os antigos Heinzen trouxeram até ali. Aproveitaram o olho d’água para que houvesse água corrente aos pés da imagem.
Madalena e suas irmãs aprenderam desde cedo a cuidar do
monumento de sua fé mariana, depositando flores e velas junto à pequena imagem.
A família e os vizinhos se reuniam ali para rezar o terço, quase sempre em
alemão e, mais tarde, também em português.
Ainda hoje o
local é ponto de parada para os transeuntes descansarem e beberem daquela água
pura e fresca que brota das pedras. Em tempos de estiagem, é para lá que
estudantes e moradores da comunidade se dirigem para pedir chuva. E são
atendidos (às vezes, ainda antes de chegarem em casa).
A família do seu
Zequinha Heinzen, que faleceu a pouco tempo, ainda reside lá em cima. Vinícius
e Vitória crescem saudáveis naquelas plagas. E o amigo vai passar diante das
residências deles.
Em ambientes assim, cada peça e instrumento faz recordar muitas
histórias vividas pela família. Ali no morro, ao lado da casa, há um roçado
onde a Madalena plantou centenas de ramas de aipim antes de morrer, há alguns
anos. E teria dito, pouco antes de adoecer repentinamente e falecer: “Não se preocupem com a farinha de mandioca;
eu já deixei uma roça cheia de aipim para vocês”
No pasto, além
dos bovinos, patos e marrecos, galinhas e gansos convivem aparentemente em
grande harmonia.
Os cachorros anunciam a chegada de estranhos. Imediatamente percebe-se movimentos dentro da casa. Geralmente era o Bernardo quem vinha por primeiro, sorrindo timidamente, acolher o visitante.
Depois, caminhando com dificuldade, por conta da idade, na
medida do possível, vinham uma a uma: a Emma, a Madalena, a Johana e a Clara.
Queriam cumprimentar a visita.
Algumas vezes
fiz-me acompanhar do professor Luiz Jorge Hellmann, amigos da família que, além
de se interessar por flores, podia conversar com eles em alemão. A conversa
ficavam bem animada e participativa. Quando precisávamos falar apenas em
português, o assunto fluía com menos espontaneidade.
Além das
orações diárias em família, eram assíduos às funções religiosas que os padres
do Coração de Jesus ministravam na matriz São Sebastião (que está para celebrar
100 anos de sua inauguração em 21 de janeiro de 2028).
A terra
providenciou quase tudo que precisavam para sobreviver. Seguiam um sistema de
troca de produtos e comercializavam bens no Mercado da vila. Alguns filhos não
casaram e permaneceram morando na residência, mesmo depois do falecimento dos
patriarcas. Foi o caso do Bernardo e suas quatro irmãs.
Eu gostava de sentar-me na varanda e desfrutar da beleza daqueles jardins. Mas, dentro de casa, também era muito interessante. Os armários de madeira são verdadeiras obras de arte. Exímio artesão, o velho Heinzen esculpiu entalhes nos móveis que não passam despercebidos a ninguém.
Flores de plásticos se misturam às flores naturais expostas nos vasos sobre a mesa, onde sempre há um oratório. Caixas de remédios também ficam por ali, como que formando uma pequena farmácia doméstica; sem comentar nas muitas ervas medicinais e remédios caseiros que a família faz uso.
Nas paredes
brancas há muitos quadros e souvenires que a família foi ganhando, comprando e
guardando por ali. Há várias obras de artesanato que as meninas mesmas fizeram,
especialmente a Johana, que era exímia bordadeira e crocheteira. Também havia
quadros com fotos da família e de padres que passaram pelo lugar. O Venerável
Pe. Aloísio Boeing e a Bem-Aventurada Albertina Berkenbrock tinham lugares de
destaque em meio a tantos objetos.
Através de um pequeno aparelho de TV, eles podiam acompanhar as Missas transmitidas diariamente. Devotos da Senhora Aparecida, era uma alegria especial compartilhar comigo as belezas dessas celebrações, especialmente aquelas Novenas em preparação à Festa da padroeira do Brasil.
A cozinha é grande, e
o fogão à lenha permanece sempre ativado e, ali ao lado, um tanque com água
corrente vinda do morro (um luxo desfrutado por poucos). Certa vez, acompanhado
das Irmãs Bertilda, Lydia e Odete, almocei com os Heinzen.
Nunca saí de lá
sem levar comigo um doce, um pouco de fruta, um pedaço de carne ou uma dúzia de
ovos... Fruto da enorme generosidade e consideração dos irmãos. Mesmo que eu
ficasse constrangido e lhes dissesse que não era necessário, o Bernardo
balançava as sobrancelhas enormes e sorria: “Mas,
por que o seu Vigário fica envergonhado, se nós temos tanto para partilhar?”.
Sem falar, que,
vez por outra, eles providenciavam para que algum parente levasse ‘presentinhos’
para mim e para as Irmãs religiosas, lá na Praça da vila. No Natal e na Páscoa era certo que algum doce chegaria às nossas casas provenientes dos irmãos
Heinzen.
Algumas vezes,
após despedir-me, eu não voltava imediatamente no sentido de retornar para a
planície. Tomava o sentido contrário, pois, se até aqui eu já achava tudo tão
encantador, permitia-me desfrutar uma outra paisagem logo ali adiante, após os
montes.
Tomando a
estrada, logo sentia-me obrigado a parar o automóvel e caminhar em torno do
grande açude. É deveras impressionante sua beleza. Parece um lago natural,
ornado com enormes pedras que nunca foram removidas e alguns arbustos... As
garças e os quero-queros e outras aves sempre estão por lá. Afortunadas elas,
que vivem o tempo todo em meio a tanta beleza. Talvez, por isso, pareçam tão
felizes e faceiras.
Entre
a gente e a Serra há um vale com enormes plantações de eucaliptos, bosques do
que sobrou da mata atlântica, roçados e sítios, açudes, a barragem no Rio
Capivari e duas ou três residências. Uma delas é do Antônio Heinzen, onde moram
sua esposa Leonete e o filho do casal, o artesão Rodrigo que, por sua vez, com
a Julie, tem dois filhos: o Ailton e o André.
Contemplar a
natureza faz bem à alma e ao corpo. O recanto dos Heinzen é bucólico e
paradisíaco. Ninguém passa por lá; é preciso ter a intenção de subir a montanha e chegar lá. Mas vale a
pena. Entretanto, depois da tal experiência, é preciso retornar para o vale.
A descida
exigirá novos cuidados. Chegando em Vargem do Cedro, o amigo poderá escolher
qual sentido tomar e seguir avante aonde seu coração decidiu ir. Mas não se
esqueça de, noutra oportunidade, retornar para visitar os Heinzen.
RECEBEU GRAÇA DE ALBERTINA?
MANDE SUA HISTÓRIA PARA NÓS!
Trailer
do filme ALBERTINA: https://www.youtube.com/watch?v=3XggsrQMHbk
Fotos: acervo do Rodrigo Heinzen
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