Meu coração rejubilou de alegria! Era ele, sim! Estava sentado sobre a cama, no outro lado do quarto onde eu me encontrava. Com uma perna cruzada sobre a cama, ainda com a colcha branca, e a outra dependurada rente ao chão, ele olhava para mim e sorria. Vestia sua calça branca, que combinava com o tênis. A camisa era de gola polo, vermelha, sob um colete branco. E ele me disse: “a música é nossa”; e repetiu: “sim, é nossa”.
Acordei-me subitamente,
sorrindo, pensando no sonho. E rezei agradecido: “Obrigado, Senhor, por esse sonho!”. Realmente, era um sonho, fruto
de muita saudade e bem-querer, sentimentos que restam após o luto! Ah, como é
bom sonharmos com aquelas pessoas que amamos e que, um dia, fizeram parte de
nossas vidas, mas que já não se encontram mais entre nós e foram morar na
Glória.
“Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, e o teu
aguilhão, com o qual nos feriste?”. Eis o brado do Apóstolo Paulo ao
abordar o mistério pascal de Cristo (1Cor 15,55).
Como é possível
que uma fatalidade venha a nos separar que quem amamos e junto de quem sonhamos
construir muitas histórias de amizade e de fraternidade?! Se para uns é alívio
e descanso, para mim, a morte nunca deixará de ser um absurdo que, somente à
luz da fé, encontra algum sentido.
Certamente,
também você já experimentou algumas ou muitas perdas ao longo de sua existência.
Aqueles que partem de nossa vidas, sempre deixam lacunas que jamais poderão ser
preenchidas. Mesmo que se faça um grande esforço para recuperar-se a lucidez
após o impacto da perda, visando tomar novamente o controle da situação, inevitavelmente
as dores acabam por deixar suas cicatrizes na alma da gente.
Todavia, como
dizia o poeta de além-mar: “navegar, é
preciso”. Realmente, é preciso lutar, viver, sobreviver, não desanimar,
sonhar e crer!
“A música é nossa!” repetiu para
mim aquela imagem etérea de meus sonhos: era o meu irmão Rainério, colhido de
junto de nós naquela onda nefasta da pandemia da COVID-19. Para alguns insanos
da época tão recente, a morte de meu irmão não passou de “mais um número na estatística” que, somente no nosso amado e
sofrido país, somou mais de 750 mil vítimas. No entanto, para nós, seus
familiares e amigos, ele era alguém especial: uma pessoa querida,
insubstituível e inesquecível. Da mesma forma, o nosso pai Sebastião e a nossa
prima Cacilda que foram, igualmente, colhidos na pandemia, após terem sido
surpreendidos pelo vírus SARS-Cov 02.
Bem sei que os sonhos ainda são sinal de saúde mental, psíquica e emocional. O próprio Deus utilizou-se de sonhos para transmitir suas mensagens às pessoas, como no caso de José, o carpinteiro noivo de Maria, a Mãe de Jesus: primeiramente, pedindo que ele acolhesse sua noiva grávida por ação divina (Mt 1,20); e, depois, que protegesse o Menino e sua Mãe fugindo para o Egito (Mt 2,13). Para José (filho de Jacó) e para o profeta Daniel, por exemplo, Deus lhes deu o dom da interpretação de sonho (cf. Gn 40-41; Dn 7,1-7).
É preciso
sonhar! Da mesma forma que é mister viver com os pés bem firmes no chão de
nossa realidade existencial, capazes de sentir o cheiro da mata que sofre sob o
sol escaldante deste verão, ao entardecer; mas, também, aquele odor refrescante
e revitalizante que paira no ar durante a madrugada, quando o novo dia está
para alvorecer.
Sonhos,
certamente, não são meros devaneios e quimeras, tampouco bobagens!... São espasmos
da alma e do inconsciente. Podem revelar temas que estão efervescentes e em
ebulição dentro de nosso ser. Daí poderem ser fontes de autoconhecimento.
Concordo com aqueles que dizem: “os
sonhos são coisas sérias!”.
Acordado e
desvencilhado dos braços do deus grego Morfeu, lanço-me no colo do Deus da Vida,
Javé, como criança que se lança nos braços do seu amado pai. Dentro do peito, aquele
sonho ainda repercute, mas, abrindo a janela, logo recordo que há uma série de
compromissos a serem retomados, pois a vida continua. A realidade nos devolve a
percepção do tempo e do espaço e daqueles compromissos registrados na agenda.
Portanto, há muito o que fazer até a próxima noite... talvez com bons sonhos
quando reclinar a cabeça no travesseiro.
Quanto à música... bem, meu irmão querido, sim, você tem razão: “a música é nossa”. Isto é, a canção da vida se executa no dia a dia, a cada instante, e terá o compasso e o andamento que quisermos lhe dar. Há momentos em que vivemos um ‘allegro’, noutros um ‘moderato’.
A arte de compor uma canção, como você bem sabe, Rainério, é um sopro de criatividade que você pode compartilhar com outras pessoas que se deixam tomar pela arte. E é tão belo quando podemos construir juntos uma canção!
Então, seja obra de todos
nós a nossa existência, pois somos frutos de muitas mãos. Seja fruto de nossa
união, a sociedade que queremos construir, na qual todos vão poder sonhar e
cantar a mesma canção. Seja sempre bem-vindo aos meus sonhos!
(01/03/2025)
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