Ele estava no seu campo de trabalho.
Pedreiro muito conhecido na comunidade, com seu coração e suas rudes mãos erguia
mais uma construção. Desta vez, um muro de pedras brutas para comportar a água
de um lago artificial. É o que chamamos de “taipa”. Percebendo que eu o observava,
me disse: “você percebeu que cada pedra tem o seu lugar certo neste mosaico?”
No cosmos pensado por Deus, cada
criatura tem o seu lugar e nada acontece sem que a Providência tenha ciência. E
Ele tudo providencia para o bem dos seus filhos! A Bíblia canta e exalta os
atributos de Deus que tudo criou por amor. Portanto, o Amor é dinâmico, é
criativo, promove a vida.
É interessante perceber na Criação como
há uma harmonia inegável em todas as coisas. Tudo foi pensado, planejado,
plasmado e colocado no seu devido lugar. Cada ser precisa ser o que realmente
é. Assim, um animal não pode precisa ser humanizado para ser mais valorizado.
Um animal não precisa falar ou dançar ou aprender certas habilidades para que
se torne mais ou menos importante. Ele tem a sua importância em si mesmo, pelo
simples fato de existir e de ser o que é: um animal!
Humanizar um animal pode ser um grande
desrespeito à natureza original da criatura que nem tem consciência do que
estão fazendo com ele. A legislação cuida para coibir maus tratos aos animais.
Por outro lado, enquanto alguns amam
tanto os bichinhos que os cobrem com roupas “de gente”, os treinam para fazerem
uma ou outra ação tipicamente humana, e lhe dispensam tratamentos estéticos que
podem beirar o exagero... há muitos homens e mulheres que, realmente, são
tratados como animais! Isso demonstra uma transgressão da visão antropológica,
isto é, busca-se compreender o ser humano distante do seu Criador.
Afastando-se do projeto que Deus sonhou
para os seus filhos, os homens querem viver como autônomos, deuses de si mesmos
e sem corresponsabilidade com a natureza. Daí advém a degradação do meio
ambiente e estilos de vida que comprometem nossa existência neste planeta.
Essa visão míope do ser humano precisa
ser transformada! Quando o homem e a mulher não são colocados no centro da
Criação, como imagem e semelhança do Criador, outras “coisas” assumem o mais
alto grau de importância: como o lucro, o poder, a ambição, o gozar a vida
(prazer), o racionalismo...
Na Laudato Si, a segunda Carta Encíclica
do Papa Francisco, pode-se ler: “Todavia é possível voltar a ampliar o olhar, e
a liberdade humana é capaz de limitar a técnica, orientá-la e colocá-la a
serviço de outro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social,
mais integral (LS 112)”. E ainda mais: “Se o seu humano não redescobre o seu
verdadeiro lugar, compreende-se mal a si mesmo e acaba por contradizer a sua
própria realidade”. E São João Paulo II ensinou: “Não só a terra foi dada por
Deus ao homem... mas o homem é doado a si mesmo por Deus, devendo por isso
respeitar a estrutura natural e moral de que foi dotado” (CA 38).
É por isso que o Papa Francisco conclui:
“Não haverá uma nova relação com a natureza, sem um ser humano novo. Não há
ecologia sem uma adequada antropologia.” (LS 118) A solução apontada pelo atual
Pontífice é curar as relações humanas fundamentais: “a abertura a um ‘tu’ capaz
de conhecer, amar, dialogar continua a ser a grande nobreza da pessoa
humana...” (LS 119). E esse caminho levará o coração humano a abrir-se ao ‘Tu’
divino, ou seja, o Criador, nosso Deus!
Com Sua imensa Sabedoria, Deus compôs o
grande mosaico da Criação. Cada uma das peças Ele colocou no seu lugar. Era
sobre isso que aquele pedreiro me falava enquanto construía com pedras as
paredes do futuro açude. Eram pedras dos mais variados tamanhos e espessuras...
trazidas do leito do rio... E cada uma delas ia sendo aproveitada pelo
construtor. E a obra formava um conjunto bonito e harmônico. Temos muito que
aprender com a natureza!
Pe. Auricélio Costa - Publicado no Jornal Diocese em Foco - Julho/2017
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