MARIQUINHA FEUSER - QUASE UM CENTENÁRIO DE AMOR E DEDICAÇÃO

(22/12/2025) Ei-la diante do presépio, na matriz quase centenária, sentada em sua cadeira de rodas, a contemplar as luzinhas dos piscas-piscas tremulando festivamente. Aproximei-me para cumprimentá-la e abaixei-me, como sempre fazia, peguei as suas duas mãos macias que estendia na minha direção e, sorrindo, por detrás das lentes de seus óculos, vislumbrei seus olhinhos de matriarca que refletiam o brilho do presépio a iluminar-lhe a face. 

E ela sorriu ternamente e disse-me: “Que lindo está o nosso presépio, né Padre?! Que bonito! Eu gosto muito do Natal!”. Era o Natal de 2024 e estávamos no interior da matriz São Sebastião, em Vargem do Cedro, município de São Martinho (SC).

Todos nós já vivemos momentos de grandes perdas, como quando faleceu alguém que estimávamos muito. O passamento de D. Mariquinha, a Maria Verônica Berkenbrock Feuser, foi um destes episódios que ainda faz o coração doer ao recordar; mas trata-se de uma dor que também é saudade e gratidão ao mesmo tempo.

Estes sentimentos, aparentemente ambíguos, nas verdade, não o são. É que nós, cristãos, olhamos o mundo e tudo o que ele contém sob o crivo da fé, de modo que sabemos da finitude humana, mas também que a vida não se restringe aos dias vividos neste mundo. Ou seja: o cristão lança ao mundo um olhar cheio de esperança, que se fundamenta na mesma promessa de Jesus àquele ladrão arrependido, crucificado ao seu lado: ‘Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!’ (Lc 23,43).

A TRISTE NOTÍCIA

Era noite do dia 23 de agosto deste ano de 2025, um sábado, quando o Pe. Vilmar Vitorino, filho de D. Mariquinha, pelas redes sociais, comunicou que sua mãezinha havia retornado para a Casa Celestial. Como uma fagulha na palha, a notícia logo se espalhou por toda a Vaceda e região. A notícia avançou fronteiras, pois D. Mariquinha era muito conhecida e bem quista por pessoas de todo lugar, de vários municípios e Estados.

E, também, porque ela era um ponto de referência para todos os que visitavam a Fluss Haus e ela fazia questão de cumprimentar a todos, saber de onde vinham, se estavam bem, se haviam sido bem atendidos... e gostava de contar a história da empresa, como tudo começou ali na sua própria casa (a ‘casa do rio’), comercializando pães, bolos e bolachas decoradas. E, sempre que podia, contava-lhes algum episódio vivido com seu marido, do empenho do casal para criar os filhos e manter o patrimônio família.

PARENTE DE UMA ‘SANTINHA’

Mas um grande número de visitantes que a procuravam e a rodeavam, principalmente aos finais de semana, queriam saber um pouco mais sobre sua irmã beata, a Albertina, apelidada pelos seus contemporâneos de ‘Nossa Santinha’. E ela lhes contava a história, da forma como compreendia.

A jovenzinha foi martirizada lá nos idos de 1931, aos doze anos de idade, numa tentativa de estupro, quando resistiu ao seu algoz para não cometer pecado. Devido à forma como viveu e o motivo de sua morte, a Igreja a declarou Virgem e Mártir, Bem-Aventurada.

D. Mariquinha, seus irmãos e familiares não se continham de alegria e emoção quando da Beatificação de Albertina, em Tubarão, no dia 20 de outubro de 2007. Aquele dia ficou marcado no seu coração para sempre. E sua família a auxiliava no cultivo da devoção, tanto levando-a a visitar frequentemente o Santuário (em São Luiz), quanto zelando pela bela Gruta de Albertina erguida nos jardins da Fluss Haus.

A motha gostava de contar tudo o que ouvira de seus pais e familiares a respeito de sua irmãzinha, visto que ela estava no ventre de sua mãe Josephina quando tudo aconteceu. E o seu testemunho era eloquente: 

“eu nasci toda molinha e a família ficou preocupada se eu iria sobreviver. Mamãe, que estava grávida de seis meses, ficou muito triste e parou de alimentar-se depois daquela tragédia, e acabou ficando muito fraca. Papai, coitado, também ele nunca mais foi o mesmo. Mas eu sobrevivi e cresci. Quando crianças, nunca andávamos sozinhas na estrada, nem mesmo para irmos à roça do papai. A figura do Maneco Palhoça (o assassino) nos assombrava. Vivemos sempre com receio e, diante qualquer barulho no caminho, nos escondíamos no mato ou no barranco. Aquilo era muito ruim. Mas a gente era feliz com o papai e com a mamãe. Eles eram muito bons para conosco. E a gente não faltava nada de oração na capelinha. A gente sempre foi muito rezar e participar da igreja”.

UM FILME SOBRE SUA IRMÃ

No final de 2019, quando celebrávamos o Centenário de nascimento de Albertina, falei para a D. Mariquinha que iríamos fazer um filme para contar a história da Beata. Ela ficou muito contente e, por fim, toda a família empenhou-se para viabilizar o projeto que caíra do Céu como um presente aos devotos.

Naquele dezembro, o diretor Luiz Fernando F. Machado e o roteirista Chico Caprario, ambos cineastas, fizeram os primeiros testes de câmera. Mas foi no dia 03 de janeiro de 2020 que houve a rito de ‘abertura de câmera’, em São Luiz, no paiol da residência de Antônio e Marlene Berkenbrock, contíguo à casa de madeira onde D. Mariquinha cresceu, junto com seus irmãos e pais. Acompanhei-a até lá.

A motha estava muito entusiasmada por voltar àquela residência. Mais felizes estavam os atores e a equipe de produção do filme por conhecerem pessoalmente a irmã de Albertina. E ela abraçou cada um, conversando animadamente.

Ao adentrar a velha casa, um turbilhão de lembranças assolou seu coração: “Ah, é a minha casa! Gente, aqui vivi minha infância até o tempo de casar. Ah, como a gente foi feliz aqui!”. E visitando os cômodos, explicou: “Aqui era o nosso quarto, das filhas. Ali, o de hóspedes...especialmente para quando o namorado vinha. Naqueles tempos, era tudo no respeito e nem se cogitava que poderia ser diferente!”.

Depois, fomos todos ao set de filmagem onde ela recebeu homenagens e conheceu as atrizes Suieny e Jhulieny, que interpretariam Albertina menina e adolescente. D. Mariquinha abraçou-as carinhosamente, dizendo: “minhas irmãzinhas!”. E elas lhe ofereceram rosas. Depois, orientada pelo Diretor, ela deu abertura oficial às filmagens: “Câmera, luz...”, e a convidada disse em alta voz: “Ação!”

Naqueles dias, enquanto era filmado o longa-metragem ALBERTINA, como Supervisor de Roteiro e Coordenador da Base Cinematográfica montada em São Luiz, acompanhei os cineastas à residência de D. Mariquinha, em Vargem do Cedro, para entrevistá-la. Ela gostava de receber o pessoal da imprensa e pesquisadores também; e era mesmo muito procurada.

Naquela ocasião, testemunhamos uma narrativa sobre a vida da Beata e sobre a comunidade onde ela vivia que foi fundamental para compreendermos o fenômeno Albertina. 

Emocionamo-nos várias vezes ao longo das quase três horas de entrevista. Num desses momentos, por exemplo, D. Mariquinha contou-nos o episódio da visita das freiras Franciscanas de São José à casa de sua mãe, quando ainda moravam perto da capela. 

“Mamãe sempre contava que Albertina lhe perguntou quem eram aquelas mulheres, ao que mamãe lhe respondeu que eram de Deus. Então, mamãe nos disse que Albertina a abraçou e lhe falou: ‘eu também quero ser de Deus’. Por isso, mamãe sempre achou que, não fosse aquela barbaridade, Albertina teria seguido uma vocação religiosa”.

D. Mariquinha contou esta história em meio a lágrimas e com a voz embargada, mas serenamente. Devido ao que ouvimos, ali mesmo, decidimos acrescentar aquele fato ao filme. 

RELIGIÃO PRATICADA NA VIDA

Eu sempre recebi muitas palavras de afeto de D. Mariquinha. Ficava sempre muito feliz quando lhe levava a Unção dos Enfermos e a Eucaristia. Gostava de se confessar e, depois, ficávamos a conversar longamente sobre tudo. Pe. Vilmar também cuidava para que não faltassem os Sacramentos à sua mãe.

Almoçamos juntos várias vezes na Fluss Haus e ela sempre me falava do carinho especial que nutria pelos sacerdotes, pelos seminaristas e pelas Irmãs. Sim, era muito religiosa. E costumava dizer-me: “os padres precisam de oração. Eu sei como é. Por isso, eu rezo diariamente pelo senhor, pelo Pe. Vilmar e por todos os padres”.

No seu quarto, sobre um aparador, ela guardava carinhosamente a imagens de santos de sua devoção, a Bíblia, o rosário e velinhas. Diariamente, acompanhava a Missa e o terço na televisão: “estou sempre rezando por toda a humanidade”

Como toda boa mãe e avó, amava os seus filhos e netos e, já idosa, continuava a ocupar-se deles, alegrando-se com suas conquistas e preocupando-se quando algo algo os inquietava. Seus afetos eram retribuídos de inúmeras formas pelos familiares, especialmente os que moravam com ela: o seu Lindo e a D. Salete. Ângela e Leandro, com seus filhos, eram igualmente presença constante. E a motha reconhecia, agradecida: “eles não deixam faltar nada para mim e se preocupam muito comigo”. 

AS PEDRAS E AS PERDAS 

D. Mariquinha amava viver e transmitia isso a todas as pessoas. Mas, quando ela e sua família foram surpreendidos por assaltantes que invadiram sua residência, tratando-os com violência e ameaças por várias horas, toda a comunidade temeu pela vida e pela saúde emocional de todos, especialmente da motha (vó) Mariquinha. Com o tempo, a história foi em parte superada.

Ao longo dos dez anos que fui Pároco em Vargem do Cedro e Reitor do Santuário de Albertina, não houve Natal e nem Páscoa sem que ela providenciasse para que eu recebesse um doce como presente. Ela e sua família sempre me dedicaram uma carinhosa distinção; mas sei que não era somente comigo. E não somente por isso, sou-lhes profundamente grato.

D. Mariquinha era muito sensível às perdas que a comunidade sofria. Ela estava sempre muito atenta a tudo o que acontecia na comunidade e chorou cada morte de amigo, de vizinho, de parente... Emocionava-se toda vez que contava o falecimento de seu esposo Sebastião, ainda bem novo. Mas, duro mesmo, foi enfrentar as mortes repentinas do filho Ademar (Ade), da nora Lidvina e do genro Flávio.

Não obstante a dor tremenda, todos ainda encontravam na motha palavras de conforto e esperança. A comunidade consternada admirava-se da fortaleza daquela mulher: “como ela é forte”; e alguém me disse, certa vez: “deve ser porque reza muito”. 

A CHEGADA DO INVERNO

Mas, nos últimos anos, por conta de acidentes domésticos e das consequências naturais da longevidade, a sua saúde foi ficando mais frágil e já nem conseguia caminhar normalmente. A família fez todo esforço para dar-lhe as condições mais dignas para bem viver. E ela era-lhes sempre muito agradecida. 

Mesmo com bengala, depois andador e, por fim, cadeira de rodas, eles a levavam a passear pela Fluss Hauss, sua antiga casa, a fim de conhecer as melhorias e exposições no local; ou para visitar algum parente ou mesmo participar das Missas. Era sempre muito edificante encontrar o Pe. Vilmar acompanhado de sua mamãe nas celebrações; e não raras vezes, com os filhos, noras e a criançada. Ah, esses sempre faziam muita festa com a motha, e até a cadeira de rodas tornava-se alvo de suas peraltices.

Havia entre nós uma jocosa especulação, que era motivo de muitas brincadeiras: a festa do centenário de vida de D. Mariquinha! Entretanto, ainda não foi desta vez que Vargem do Cedro celebrou o centenário de um filho do lugar. Aos 93 anos, Maria Verônica concluiu a sua jornada terrena, rodeada pelo amor dos parentes e de toda a comunidade. 

VELÓRIO E EXÉQUIAS

Uma multidão de pessoas acorreu ao velório realizado na Capela Mortuária da Casa São José, no centro do Distrito, pertencente à Paróquia São Sebastião. Autoridades do município de São Martinho e inúmeros conhecidos passaram pelo local, prestando-lhe suas homenagens e compartilhando lembranças da falecida. Também D. Adilson Pedro Busin/CS, Bispo de Tubarão, que a visitara várias vezes, veio fazer-lhe a visita derradeira e rezar por ela.

No meio da tarde de domingo, bem no dia de se celebrar o mistério pascal, – ou seja, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor – a matriz São Sebastião acolheu muita gente para as Exéquias de D. Mariquinha. Concluídas as orações de despedida na capela, transladou-se o féretro até a matriz, ali ao lado.

D. Mariquinha e o cortejo foram recebidos com o cântico “Grosser Got, loben dich!(Ignaz Franz/Joseph Haydn, 1771), entoado em alemão, emocionando aos presentes e enaltecendo a obra do Criador. 

Grosser Gott, wir loben dich! Herr, wir preisen Deine Stärke!

Vor dir beuget die Erde sich und bewundert deine Werke.

Wie du warst vor aller Zeit, so bleibst du in Ewigkeit”

 

= Deus Eterno, a vós louvor! Glória à vossa majestade!

Anjos e homens com fervor, vos adoram, Deus Trindade...

Santo, Santo é o Senhor!

Pai Eterno, a Criação que tirastes Vós do nada,

repousando em vossa mão, um acorde imenso brada:

quem me fez foi vosso Amor! Glória a Vós, Pai Criador!...

Filho Eterno, nosso Irmão, vossa morte deu-nos Vida;

vosso Sangue, Salvação!

Toda a Igreja, agradecida, louva, exalta a Vós, Jesus!

Glória canta à vossa Cruz!

Deus Espírito, Sol de Amor, procedeis do Pai, do Filho.

Vossos dons sempre mandais à nós, pobres, que cantamos.

O presidente da celebração, Pe. Alessio da Rosa/SCJ, de Curitiba, Diretor da ESIG, representando o Provincial dos Padres do Coração de Jesus, subiu ao presbitério acompanhado de outros sacerdotes: Pe. Vilmar Vitorino Feuser/SCJ, filho da finada, atual Pároco de Armazém; Pe. Nilo Buss, Chanceler da Cúria e Pároco de São Martinho; Pe. Anésio Dalcastagner/SCJ, Vigário Paroquial de Armazém; Pe. André Borges da Silva/SCJ, Pároco/Reitor do Santuário Sagrado Coração de Jesus, de Gravatal; Pe. Vilmar Nazário Vieira/CSJ, Auxiliar Paroquial de Orleans e Pe. Auricélio Costa, Pároco de São Martinho de Tours, em Tubarão.

Na acolhida, o Pároco local, Pe. Ademir Eing, recordou a ligação entre D. Marquinha e Albertina. 

Quando Albertina nasceu para a eternidade, no ventre materno de sua mãe, Maria Verônica preparava-se para iniciar sua longa e abençoada jornada nesta terra. Hoje, no Céu, existe um abraço de eternidade entre essas duas irmãs e os demais familiares que lá já se encontram. E nós ganhamos mais uma intercessora junto de Deus. É com essa esperança, firmes na fé, que nós celebramos a vida desta irmã, uma vida que frutificou muitas vidas. Gratidão ao Senhor por esta existência.” 

HOMENAGEM DA FAMÍLIA

Consternada, a família quis fazer uma homenagem à sua querida matriarca. Através de uma neta, fez-se a leitura de alguns tópicos biográficos de Maria Verônica, que nasceu em 29 de setembro de 1931, na localidade de São Luiz (Imaruí), filha de Henrique Berkenbrock e Josephina Boeing.

Aos 22 anos de idade, ela uniu-se em matrimônio com Sebastião Feuser, mudando-se para Vargem do Cedro, onde construiu sua vida, sua família e sua história. Juntos tiveram cinco filhos: Pe. Vilmar, Ademar (in memória), Itamar, Maria Madalena e Lindomar.

Ao longo de sua caminhada, também cultivou laços de amor e convivência com suas noras Lidvina (in memória), Marina, Maria Salete e com seu genro Flávio (in memória), que fizeram parte de sua vida e de sua família.

Mulher de muitos dons e habilidades. 

“Mulher prendada e generosa, destacou-se nos trabalhos manuais. Costurava roupas e bordava toalhas com delicadeza. Por um período, chegou a ensinar tais artes aos estudantes da Escola Rodolfo Feuser, aqui de Vargem do Cedro. Desde jovem, também foi confeiteira e boleira de mão cheia, preparando os bolos de casamentos que aconteciam na comunidade e para as Festas paroquiais. Foi dela que nasceu o capricho nas decorações de bolachas, tradição que segue viva até hoje na Fluss Haus.”

Inserida na vida comunitária. 

“Profundamente ligada à comunidade e à vida de fé, atuou como catequista, participou do Apostolado da Oração, do Grupo de Famílias, ajudava a decorar a igreja e sempre estava presente nas Festas, contagiando a todos com sua alegria e disposição para servir.”

Sua base era a família. 

“D. Mariquinha tinha um enorme carinho pelas flores e pelos jardins, especialmente pelas rosas que avivavam sua alma e eram seu orgulho. Mas, acima de tudo, como dom de Deus, o seu coração estava voltado para a família, que sempre foi o seu alicerce, sua maior riqueza e o verdadeiro sentido do seu viver.

Vieram os netos Maria, Hairick, Regina, Carina, Suellen, Joel e Edla. E, com o tempo, apareceram também os namorados e, mais tarde, os maridos e as esposas. Para a ‘motha’ Mariquinha, cada novo integrante não era apenas mais um que chegava, e sim mais um neto para o coração.”

Harmonia familiar. 

“Sempre muito acolhedora, recebia a todos com enorme alegria e fazia questão de tratá-los como parte verdadeira da família, com o mesmo amor e carinho que dedicava aos seus.

Mais adiante, chegaram também os seis bisnetos: Thomas, Herbert, Rodolfo, Théo, Sebastian e Augusto, que se transformaram em sua grande realização. Cada sorriso deles, iluminava seu dia; e bastava a presença de um, para que seu coração se enchesse de felicidade.”

A saudade sem fim. 

“Hoje, aos 93 anos, D. Mariquinha despede-se deste mundo, deixando um grande legado de fé, de amor e de alegria. Ela parte, mas permanece viva na lembrança de todos nós que a conhecemos. Deixa amigos, filhos, netos e bisnetos que levam consigo a força de sua história e o exemplo de sua vida. Descanse em paz, ‘motha’ Mariquinha, nos braços de Deus, depois de ter cumprido com amor e fé a sua missão, servindo de inspiração para todos nós. Que a Luz eterna brilhe sempre sobre a senhora.”

Concluído o depoimento, imediatamente a assembleia irrompeu num louvor ao Senhor, cantando: “Então, minh’alma canta a Ti, Senhor: quão grande és Tu!”. 

HOMILIA DO PE. ALESSIO

A cerimônia estava sendo conduzida pelo Pe. Alessio que, após as leituras bíblicas, quis deixar sua mensagem aos presentes.

O despertar vocacional. 

“Desde quando eu tenho consciência de existir, guardo lembranças de ouvir falar a respeito de D. Mariquinha, especialmente porque minha mãe e ela eram muito próximas, pois ambas nasceram em São Luiz. E ela sempre foi alguém que me incentivou a perseverar na vocação presbiteral. 

Aliás, a primeira vez que me senti chamado a ser padre foi por ocasião da Ordenação Presbiteral do Pe. Vilmar Feuser, especialmente naquele momento em que ele prostrou-se ao chão e todos cantamos a Ladainha de Todos os Santos. Ao ver aquela cena, disse comigo mesmo: ‘É isso o que eu quero ser!’.

Quando eu estava na 5ª série, ainda criança, vim estudar aqui em Vargem do Cedro e lembro que, em certas ocasiões, D. Mariquinha vinha até a nossa Escola e, noutras, nós íamos à sua residência. E ela sempre nos acolhia bem, dava-nos conselhos e partilhava conosco suas cobiçadas e deliciosas bolachas.”

Promover uma cultura que valorize o outro. 

“No mundo, ao vermos que a vida parece ter paralisado devido a vários fatores, no âmbito da escola onde atuo, ainda escuto adolescentes e jovens estudantes a dizer-me: ‘Padre, não tenho mais sentido para viver’ ou, simplesmente, ‘eu não quero mais viver’.

Para nós que nascemos aqui neste chão, isso pode parecer estranho, pois sabemos o quanto é importante vivermos todos os momentos da vida, da melhor maneira possível. E esse é um valor que vamos transmitindo aos mais novos, a fim de que encontrem um sentido para as suas vidas. E não nos esquecemos dos cuidados especiais que precisamos ter para com nossos avós, ou seja, com nossos ‘fathas’ e ‘mothas’. E isso faz parte de nossa cultura, de nossa vida familiar! Das pessoas idosas, geralmente, sempre recebemos afetos e palavras de incentivo, que nos servem de impulso para vivermos bem.”

Deus é justo e sabe perdoar. 

“Acabamos de ouvir que ‘a vida dos justos está nas mãos de Deus’ (Sb 3,1). É verdade que o conceito de justiça, por várias situações vividas nesses tempos, pode nos trazer certos questionamentos: o que é mesmo justiça e ela serve à quem? Ainda mais quando vemos que a justiça demora a ser aplicada. Mas, para nós cristãos, é em Deus que vamos buscar aquilo que é justo, porque a Justiça de Deus é cheia de misericórdia para conosco.”

A dúvida de Tomé. 

“No Evangelho proclamado, ouvimos Jesus usar um tom de despedida, pressentindo que sua hora estava chegando. Ele sabe que seus discípulos conhecem o Caminho, mas o apóstolo Tomé tem dúvida: ‘Senhor, nós não sabemos para onde vais’. No pensamento dele, talvez Jesus fosse para um lugar secreto, um esconderijo. Entretanto, Jesus estava lhes revelando um sentido enquanto vivessem neste mundo: conhecer qual ‘a vontade do Pai’, visto que ‘na Casa de meu Pai há muitas moradas’. Por isso, Ele se revelou: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida’ (Jo 14,6)”

Valorizar a família. 

“Como seres humanos, pelo mau uso de nossa liberdade, ao longo da caminhada, erramos os caminhos e escolhemos trilhas diferentes daquelas que nos levariam a vivermos bem em família e a encontrarmos a Deus. Nossa família será a nossa base, caso percebamos que é hora de voltar ao rumo certo. Daí o porque de mantermos sempre nossas famílias unidas, evitando trilhar caminhos paralelos. Em nossos dias, sempre encontramos alguém que se diz portador da verdade, mas nem sempre trata-se da Verdade que é Jesus Cristo.”

Nossa finitude terrena. 

“Hoje celebramos o encerramento do caminho de D. Mariquinha entre nós. Ela viveu quase 94 anos da melhor maneira que pôde, inclusive em meio a dor. Aliás, ainda na gestação, perdeu sua irmã Albertina, de forma violenta. Aqueles que partem, já não nos pertencem mais, pois estão em Deus. Entretanto, podemos ter-lhes veneração. E nós, enquanto caminhantes deste mundo, escolhamos seguir a Jesus. E não nos esqueçamos: nesta existência, temos somente uma oportunidade para fazermos a escolha certa.”

Um legado de bons exemplos. 

“D. Mariquinha soube viver bem a sua vida, sempre sorrindo e incentivando as pessoas a bem viverem também. Ela viveu com leveza, o que é uma arte. Isso nos faz pensar no quanto vivemos arraigados às tarefas do dia-a-dia, mesmo certos de que não levaremos nada de material para o Céu.

O testemunho da ‘motha’ faz-nos repensar como lidamos com nossas famílias, com nossa comunidade de fé e a deixarmo-nos guiar por Jesus. Ele é o Caminho e devemos pensar em quais caminhos temos andado. Cada dia, irmãos, é uma oportunidade para vivermos melhor.

D. Mariquinha, descanse em paz na morada eterna que o Pai lhe preparou.” 

A DESPEDIDA

O ataúde de D. Mariquinha foi colocado diante do altar, em meio a muitas flores e coberto por um tule clarinho, onde foram aplicadas miçangas transparentes que refletiam as cores dos belos vitrais da igreja.

A cerimônia encaminhava-se para o final. O Pe. Vilmar, em nome da família, fez os agradecimentos. 

“Somos muito gratos por todas as orações e pela presença de cada um aqui conosco. Agradecemos aos padres, Bispos e a tantos amigos e familiares que nos enviaram mensagens de condolências, inclusive o D. Adilson Pedro e que esteve rezando conosco no velório. Tudo isso é um reconhecimento à nossa mãe que sempre soube acolher tão bem a todos. Uma menção especial à tia Érika, de Vidal Ramos que, com seus 89 anos, e à tia Berta, de Laguna, com seus 90 anos, quiseram permanecer conosco. Agradeço aos senhores padres que estão concelebrando. Obrigado.”

Então, o coral cantou “Eternos Amigos” (Dalvimar Gallo, Banda Anjos do Resgate) e a assembleia acompanhou emocionada.

“Se eu tentasse definir o quão especial tu és pra mim,

palavras não teriam fim.

Definir o amor não dá. Então, direi apenas ‘obrigado’.

E sei que entenderás. Precioso és para Deus e para mim.

Se acaso precisares, podes contar comigo.

Que a fé de Deus nos faça eternos amigos.” 

Naquele dia, eu não pude acompanhar o cortejo fúnebre, caminhando até o cemitério São Sebastião, como fiz dezenas de vezes nos dez anos que lá vivi como Pároco. É que eu precisava retornar à missão pastoral dominical. No entanto, eu sentia que meu coração estava cheio de gratidão à motha. Dentro de mim, eu nutria uma certeza de fé de que, enfim, ela estava nos braços de Jesus, com sua querida Albertina e seu amado Sebastião.

Um sonho.

Passados alguns dias do ocorrido, no dia 09 de setembro, eu tive um sonho muito especial. Sonhei que eu estava presidindo a Santa Missa. No momento da apresentação das oferendas, pedi que as pessoas oferecessem suas vidas no altar, dizendo seus nomes. E, enquanto falavam, percebi um alvoroço na assembleia. 

Repentinamente, todos ficaram de pé, os jovens aplaudiam alegremente e eu não entendi o que estava acontecendo. Foi quando avistei a D. Mariquinha entrando no recinto, sorrindo, caminhando com facilidade e altivez por entre as pessoas, que lhe davam passagem. Notei que tinha cabelos mais curtos, que vestia uma camisa amarelo e branco, de tecido leve (tipo viscose). Ela agradecia a saudação que lhe faziam... Então, acordei. Era mesmo um sonho.

Descanse em paz, querida motha!



RECEBEU GRAÇA DE ALBERTINA? 

MANDE SUA HISTÓRIA PARA NÓS!

                                                         

Trailer do filme ALBERTINA:  https://www.youtube.com/watch?v=3XggsrQMHbk

Fotos: acervo pessoal, Cia. Boanova Films, Pe. Vilmar B.                                               

CONHEÇA MEU MINISTÉRIO DE MÚSICA

https://www.youtube.com/c/PadreAuricelioCosta

https://padreauricelio.blogspot.com

https://www.facebook.com/padreauriceliooficial

https://www.palcomp3.com.br/padreauriceliooficial/

https://open.spotify.com/artist/5Bn5nqUJghDOJkY76x7nZ9

https://www.deezer.com/br/artist/67334872

Postar um comentário

0 Comentários