THAYS GOULART CORRÊA – QUANDO A ALMA É GRANDE, A TODOS E A TUDO EDIFICA

(06/11/2025) O clima era de serenidade. Não obstante a dor da perda, familiares e uma multidão de amigos de Gilmar e Day foram chegando ao longo de todo o dia para dar-lhes um abraço, tentar dizer alguma palavra de consolo, ou compartilhar alguma recordação comum ou mesmo, apenas para ficarem juntos, mostrarem-se presentes e solidários.

Na Capela Mortuária da matriz São Martinho, em Tubarão, o movimento foi grande desde as primeiras horas da manhã e se intensificou à tarde, antes do sepultamento. Enfim, após uma série de complicações de saúde, Thays Goulart Corrêa, a primogênita do casal, partia de volta à Casa do Pai.

Membros muito ativos na vida social e, sobretudo, religiosa do bairro, Gilmar e Day, acompanhados da caçula Mariele, recebiam os pêsames, mas também sempre tinham palavras de gratidão, enaltecendo os 31 anos que conviveram com sua filha e irmã Thays.

Não reclamaram e nem se lamentaram em nenhum momento. Estavam em paz. Aquela paz que é própria de quem fez o que deveria ter feito e um pouco mais, como aqueles ‘operários da 25ª hora’ enaltecidos pelo saudoso poeta Pe. Claudino Biff, num dos seus livros. Tais pessoas são capazes de se superarem no afã de servir e cuidar dos demais. Gilmar e Day são assim: sempre atentos e dispostos para ajudar.

Mas hoje, chegou a hora de entregarem a Deus a vida da Thays que, necessitada de cuidados especiais ao longo de sua existência, somente chegou à adultícia porque recebeu super afetos e super cuidados; coisas que somente o Amor pode explicar.

Celebração de Exéquias.

Por isso, na Celebração de Exéquias, no entardecer desta quinta-feira, quando o sol se encaminhava para o seu repouso, a comunidade lotou o templo de São Martinho de Tours para louvar e agradecer a Deus, homenageando a Thays e solidarizando-se com a família enlutada. O coral cantou “Tem anjos voando neste lugar” enquanto o féretro adentrava o recinto sagrado. Os textos bíblicos e cânticos ajudaram a celebrar a esperança de ressurreição, conforme a promessa e a revelação do Senhor.

Em sua homilia, o Pároco, Pe. Auricélio, falou: 

“Hoje, na minha oração matinal, um texto de São Pedro me chamou a atenção: ‘Como bons administradores da multiforme graça de Deus, cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu’. E o Apóstolo exemplificou assim: ‘Se alguém tem o dom de falar, proceda como com palavras de Deus. Se alguém tem o dom do serviço, exerça-o como capacidade proporcionada por Deus’. Segundo o ‘grande pescador da Galiléia’, colocar os dons a serviço significa visar ‘que, em todas as coisas, Deus seja glorificado, em virtude de Jesus Cristo’ (1Pedro 4,10-11)”.

Uma questão.

“Então, pensei na Thays, antecipando o momento que estamos vivenciando agora. E me fiz uma pergunta: será que tais palavras de São Pedro têm sentido na vida da Thays, considerando todas as dificuldades físicas que ela trazia em seu corpo?

E a resposta que me gritou no peito, espontaneamente, como um palpitar do coração, foi: ‘Claro que sim! Claro que Sim!’. E eu logo compreendi que, de fato, não obstante suas limitações, Thays compartilhou com a sua família, com a sua comunidade de fé e com a sociedade em geral todos os seus dons, isto é: tudo o que ela possuía e todo o seu ser.”

A vitória do Amor.

“Ela fez uma resiliente e constante doação de si mesma. Até a sua luta por viver, que foi um marco na sua breve existência de quase 32 anos, ela fez dom para nós. A expressão ‘breve existência’ usada aqui, certamente depende de como a entendemos. Não é meramente referência cronológica, pois todos sabemos que a Thays foi um milagre de Deus. E somente o amor de seus pais, como reflexo do Amor de Deus, movidos por uma fé inabalável, com a ajuda de profissionais abençoados, é que permitiu a sobrevida àquela menininha recém-nascida e que já recebera o nefasto veredicto: ‘não viverá mais que 24 horas’.

No caso desta família, ganham pleno sentido aquelas palavras do sagrado escritor poeta do Livro dos Cânticos: ‘o amor é forte, é como a morte’ (Ct 8,7). Contudo, para nós, cristãos, por conta da Ressurreição de Jesus, podemos afirmar: o amor é mais forte do que a morte, porque a morte não tem a última palavra. ‘Ele vive!’ (Jo 14,19).”

Presença angelical.

“Por isso, tem muito sentido a expressão que o Gilmar e a Day sempre usaram para falar de sua filha: ‘é o nosso anjo!’. E os anjos, seres espirituais, vêm de Deus para nos auxiliar em nossa caminhada terrena, porque não somos tão perfeitos quanto eles. E, terminada nossa jornada aqui, eles nos acompanharão até o Céu e nos apresentarão a Deus.

Reconhecer a presença do Anjo numa pessoa é reconhecer a própria presença do Bom Deus. Portanto, essa ‘presença sobrenatural’ nos ajuda a olharmos para além das aparências e a fazermos a experiência do transcendente.

Vimos tudo isso na Thays.”

A superação como mensagem de Amor.

“Não podendo andar, ela nos ofereceu seu esforço e seu desejo de estar presente em todo lugar. E olha que esta menina viajou por aí! E já tinha outras viagens planejadas!

Não podendo fazer discursos bonitos e bem estruturados como os de seu pai, ela usava palavras simples e pequenas frases com a força interior de seu coração, que edificavam a vida daqueles que as ouviam. Assim inspiradas, as pessoas passavam a caminhar nesta vida mais animadas e com maior significado existencial.

Impossibilitada de ser alfabetizada e, portanto, de ler as poesias de seu pai poeta, ela se empenhava em decorá-las fazendo de sua própria vida, uma poesia para os outros.

Com dificuldades para integrar um coral, como tantos de sua família (repleta de músicos e cantores), ela amava música e refletia em seu corpo o prazer de ouvir e cantarolar belas canções, como as do sertanejo Daniel. E pôde conceder ao seu pai a honra de dançar a valsa na festa de seus 15 anos.

Ela não podia ajoelhar-se diante do Altíssimo, mas, durante toda a sua vida, o seu coração permaneceu adorador diante de Deus: cantava os louvores e rezava sempre, com especial carinho pelo mistério da Paixão e Morte de Jesus, celebrado nas Missas.

Incentivada pela família, não perdia a oportunidade de estar num palco e poder falar ou até mesmo declamar uma poesia, como vimos agora em agosto, na festa de inauguração da nova APAE em Gravatal, sua escola, quando declamou uma poesia de seu pai. Diferentemente de sua mãe e de sua irmã Mariele, que são um pouco mais recatadas, a Thaís aproveitava essas oportunidades para espargir sorrisos, afetos e simpatia onde quer que fosse.

Se os nossos adolescentes têm a maior dificuldade para decorar os 07 Sacramentos e os 10 Mandamentos, a Thaís decorava e recitava com fé orações, jaculatórias, novenas e até ladainhas inteiras!”

Um anjo abençoador.

“Day, Gilmar e Mariele, a família de vocês não ficou reduzida com o passamento da Thays. Vejam quanta gente aqui! Aquilo que ‘talvez’ tenha sido dor para vocês, para nós, foi bênção. Vocês foram e são canais de bênçãos para nossa comunidade. A família de vocês ficou ainda mais ampliada: a Thays aproximou-nos uns dos outros, mas também trouxe o Céu mais para perto de nós.”

Ode à Esperança.

A Celebração de Exéquias é, profundamente, uma exaltação da Esperança. Pois não há nada que possa confortar quem perde um ente querido, a não ser crer que ele está vivo no Reino de Deus e que, um dia, no tempo de Deus, haveremos de nos reencontrar. Esta certeza de fé move os corações de Day, Gilmar, Mariele e toda a comunidade que a eles se uniu para rezar.

Deus escolheu nossa família.

Dirigindo-se aos presentes, ladeado pelo ataúde que guardava o corpo de Thays e, do outro lado, pela sua filha caçula, o pai compartilhou algumas de suas lembranças e, cheio de amor, também um pouco de sua dor.

“Quando a Day estava grávida, no segundo mês de gestação de nossa primeira filha, eu já gostava de ajudar a APAE, sem imaginar que um dia uma de nossas crianças haveria de precisar daquela instituição. Deus já me preparava, de todas as formas, para o que estava por vir. Fomos convidados a participar de um jantar beneficente promovido pela APAE, aqui em Tubarão. No Salão, sobre a mesa, havia uma lembrancinha onde se podia ler uma poesia (que, depois colocamos na abertura do álbum de fotos da Thays).”

Então, o Gilmar recitou o seguinte texto poético.

“Uma reunião aconteceu muito longe da terra. Está na hora de mais uma criança nascer. Assim fala aos anjos a voz do Senhor lá de cima: ‘esta criança é especial. Muito carinho precisará ter. Ela poderá não correr, nem rir, nem inventar. Seu pensamento poderá parecer muito ausente. De muitos modos, vão conciliar, mas sempre será conhecida como deficiente. Vamos ter muito cuidado para onde iremos mandá-la, porque queremos sua vida repleta de alegria. Por favor, obreiros, ide àqueles pais encontrar, que possam executar essa tarefa especial para nós. Não irão dar-se conta deste fato de imediato e nem do papel destacado que lhes permito exercerem: o bem dessa criança que de Cima lhes mandam. A fé será mais forte. O amor vai florescer. Logo compreenderão o privilégio que lhes foi dado de cuidar com desvelo de um presente do Céu, desta casa preciosa tão humilde e tão frágil, a criança tão especial, que é do Céu.”

O amor superará tudo.

“Continuando o seu depoimento, Gilmar disse que “a Day leu a poesia e começou a chorar, emocionada. Olhou para mim e perguntou: ‘e se a nossa criança nascer assim?’. Para tranquilizá-la, eu lhe disse: ‘isso não acontecerá; mas, se o bebê nascer assim, não haverá problema. Vamos procurar amá-lo desse jeito’. Então, Deus viu que nós estávamos preparados. E, de fato, não somente, nós, mas os parentes e amigos, todos amaram muito a Thays. Cremos que Deus prepara tudo no momento certo.”

A gratidão fortalece o coração e se reflete no abraço. 

“Estou olhando a quantidade de flores que vocês nos ofereceram e as inúmeras mensagens pelo ‘whatsapp’ e telefonemas... a nossa única palavra é gratidão! Queremos agradecer cada abraço que nós recebemos. E destacamos dois abraços que representam a todos vocês. O primeiro abraço é o da professora Téa, lá no hospital. Foi um abraço tão forte que me senti abraçado pelo próprio Cristo. Obrigado a todas as mulheres que se solidarizaram conosco.

O segundo abraço, o do padrinho da Mariele, que a Thays adotou como seu padrinho também. Não podendo estar conosco por conta do trabalho, viajou durante a noite, de Florianópolis até aqui, apenas para nos dar o seu abraço e retornou em seguida. Eles nos mostraram o que é solidariedade.”

Quando o filho educa os pais.

“Esta nossa filha veio ao mundo somente para nos trazer alegria e nos ensinar o que é empatia, o que é colocar-se no lugar do outro, o que é amar mais, escutar mais, acreditar mais! Não podendo estudar, ela aprendeu a rezar e a agradecer. Ela não sabia reclamar.”

Jesus e Thays: seus calvários!

“Tenho pensado sobre o calvário da Thays, fazendo uma analogia com o Calvário de Jesus. Ambos viveram quase o mesmo número de anos aqui. No primeiro dia de vida, ela já foi submetida a uma delicada cirurgia (que não foi bem executada) e adquiriu uma enfermidade que lhe comprometeu o crânio. Faz-me lembrar a ‘primeira queda’ de Jesus rumo ao Calvário (‘Lugar do Crânio’). Mas, assim como o Mestre, também ela se reegueu e mostrou para todo nós o seu vigor, confirmando para nós a certeza de que ela queria viver.”

O segundo Calvário.

“Quando ela tinha 19 anos de idade, precisou ser entubada por conta de uma forte pneumonia, correndo sério risco de morte. Então, em meio aquilo tudo, surgiu um problema neurológico e ela, sendo destra, acabou perdendo a agilidade de sua mão direita, precisando reaprender a fazer tudo com a mão esquerda. Foi a sua segunda queda, como aquela de Jesus. Da mesma forma que Ele precisou do auxílio do Simão Cireneu, ela recebeu a ajuda de vários Cirineus.”

A terceira e derradeira queda.

“Agora, nestes dias, submetida a um simples procedimento odontológico, acompanhada por profissionais, ela precisou receber anestesia geral. Infelizmente, ela entrou em coma e foi imediatamente entubada. Thays estava muito animada e decorando um poema para apresentar na escola. Entretanto, foram 37 dias hospitalizada, dos quais 22 na UTI, sendo 18 dias entubada e mais os 17 dias no quarto.”

A Páscoa definitiva. 

“Temos certeza de que ela, agora, já está na glória do Pai e que está diante de Jesus, ressuscitada assim como Ele ressuscitou. Nestes dias, nós fizemos a entrega de nossa filha ao Pai, porque Ele sempre sabe o que é o melhor para nós. Obrigado a todos que rezaram por nós. Valeu muito a pena. Nada foi em vão. Quando a gente ganha um presente, a gente não pode dar para outra pessoa, porque é nosso. Quando a gente toma algo emprestado, a gente tem a obrigação de devolver. A nossa Thays foi um presente de Deus para nós, mas foi um presente ‘emprestado’. Por isso, Senhor, agora, nós o devolvemos a Ti. Recebe-a na felicidade eterna. Ela veio apenas para nos mostrar o quanto é importante amar. Desta forma, ela fez a diferença. Até o sol, nesta tarde, pela janela da matriz, incidiu sobre o corpo dela enchendo-o de luz. Sim, ela foi um anjo, um anjo de luz! Até no momento de escolher um caixão para depositar o corpinho dela, trouxeram-me um que trazia a imagem de um anjo estampada na tampa. Eu logo percebi o sinal e disse: ‘é este mesmo!’.”

Lições que a Thays deixou.

A Mariela, irmã caçula de Thays, também deixou sua mensagem.

“Entre tantas coisas que guardo de minha irmã, uma delas é a superação. Por exemplo, ela tinha dificuldade de assimilar o som da sineta no momento da Consagração, na Missa. Levamos uma sineta para casa, a fim de que ela se acostumasse com aquele som. E ela superou tal dificuldade. Outra coisa que admiro nela é a sua capacidade de decorar orações e ladainhas. Rezava o terço diário, tanto em casa, quanto nas novenas dos Grupos de Famílias e costumava sempre perguntar: ‘por quem que nós iremos rezar hoje? Quem é que está precisando de oração?’. E, assim, ela tinha conhecimento e rezava pelas necessidades de muitas pessoas. Às vezes, ela até enviava mensagem de áudio rezando por aquelas pessoas. Eu creio que ela está, agora, lá no Céu e balançando as suas duas asas como um anjo de verdade.”

A Páscoa da Thays aconteceu na semana da Festa do nosso padroeiro São Martinho. No dia seguinte ao sepultamento, D. Adilson visitou a comunidade para presidir a Missa da Crisma e de abertura da festividade. Por isso, eu expliquei ao Senhor Bispo: “D. Adilson, a nossa comunidade chegou a este dia com o coração alegre, sim, por conta de toda a preparação que foi feita; mas, também, tocado e mexido, visto que, ontem mesmo, depois de muitas semanas de sofrimento, sepultamos a Thays, um dos nossos membros mais queridos. Voltou, como anjo que foi na Terra, para junto de Deus no Céu. Ontem, não estávamos somente tristes, como é natural, estávamos, também, agradecidos pelo testemunho que ela nos deixou. Nós a víamos sempre aqui na igreja, na sua cadeira de rodas, junto de seus pais. E, não obstante sua condição, ao longo de sua vida, ela conseguiu ofertar tudo que possuía a fim de servir e edificar nossa comunidade. Todos aprendemos e crescemos com o seu exemplo. Portanto, D. Adilson, a nossa Festa está começando muito bem!”.

No luto, a Luz.

Na semana seguinte, a comunidade voltou a reunir-se em oração. Era o dia 11 de novembro e o Pe. Paulo Rodrigues presidia a Missa de São Martinho, que marcava os 1628 anos de seu passamento. Celebrava-se, também, o Sétimo Dia da Páscoa de Thays. 

Aos seus pais e familiares, o sacerdote falou: 

“A gente aprende com o sofrimento: com o sofrimento próprio ou o de alguém. Eu creio na Bíblia que diz que o sofrimento visa salvar uma alma, para que alguém se converta. A Thays foi uma alma preparada por Deus, provada como o ouro no fogo. Vocês são pessoas de fé. A lágrima e a saudade fazem parte do tempo de luto. Mas encham o coração de vocês com a certeza da fé e da oração”.

Na ocasião, mais um vez, o Gilmar rasgou seu coração: “Nós sempre aprendemos muito com ela; desde o seu nascimento. A Thays veio para fazer a diferença na nossa vida. Hoje, nós pedimos que, lá do Céu, ela olhe por nós aqui na terra e nos dê a sustentação na fé para que continuemos firmes, acreditando na ressurreição do Senhor, e fortes para suportar a falta dela. Nós estamos bem porque cremos que ela está bem, porque acreditamos que ela está com Deus”. 

Neste período litúrgico, a Igreja celebrará a Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo e iniciará sua caminhada para comemorar mais um Natal de Jesus. Os mistérios da Vida e da Morte vão perpassando toda a nossa existência. Iluminados pela fé e pela misericórdia de Deus, haveremos de triunfar na Glória e, unidos ao anjo Thays, viveremos para sempre com e em Deus. 


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