(24/03/2025) O convite para participar do XVI Seminário – 51 anos da Enchente de 1974 (Memória, Prevenção e Reação eficiente) chegou até mim através do Prof. Maurício da Silva, conhecido e admirável lutador das causas do Comitê da Bacia do Rio Tubarão e Complexo Lagunar.
Nesta manhã, reuni-me com outros concidadãos
para acompanharmos as explanações e reflexões acerca de um tema tão caro a mim,
como um ex-flagelado daquelas cheias e alguém preocupado com a cuidado com a
ecologia integral.
O Auditório da
AMUREL ficou lotado. Muitas autoridades presentes, inclusive conhecidos ex-prefeitos:
João Olávio Falchetti, Nardo Reis e Robson Jean Back, além do atual prefeito de
Tubarão Estener Sorato, seu Vice e alguns vereadores e Secretários, militares e
D. Adilson Pedro Busin, Bispo Diocesano.
Abrindo os
trabalhos, o Prof. Maurício fez uma homenagem aos falecidos nas cheias de 74 e
lembrou o bombeiro 2º sargento Anderson Martins Cardoso, que era companheiro
das causas do Comitê e morreu no ano passado ao socorrer um cidadão caído no
Rio Tubarão. Aos pais e à viúva do Anderson foi entregue um documento
denominando uma rua da cidade com o seu nome.
Depois, o professor fez um apanhado geral sobre conquistas e desafios dos Seminários.
“Aquelas cheias de 1974 foram a maior tragédia do século XX nesta região. Não foi pra menos, pois 65 mil pessoas ficaram desabrigadas, sendo que Tubarão possuía 70 mil habitantes. 199 perderam a vida. Consideremos que no ano passado, no Rio Grande do Sul, daquelas cheias foram confirmadas a morte de 183 pessoas. Este Seminário tem a função de reverenciar os mortos, agradecer aqueles que ajudaram os flagelados, aqueles que se empenharam na reconstrução da cidade, mas, principalmente, envidar esforços para que outras tragédias não aconteçam.”
Maurício comentou sobre o três eixos que deveriam ancorar o Seminário: a Memória, a Prevenção e Reação eficiente. Segundo ele,
“é preciso reviver para não repetir; ressalte-se que, por um bom tempo, não quisemos manter a memória daquele ocorrido, diferentemente de outras nações. No entanto, os Seminários têm o seu valor e, mesmo que não queiramos lembrar, vez por outra o Rio nos recorda: ‘eu estou aqui’. Fala conosco saindo do leito e alagando várias regiões (como em 2010), levando diversas casas, sendo que 50 famílias ainda permanecem sem suas residências (como em 2022) e, recentemente, em 2023, deixando novamente seu leito e causando destruição no barranco próximo ao Angeloni”.
E exortou, com a autoridade de um líder e mestre:
“Estamos em perigo, queiramos ou não, esquecemos ou não, lembremos ou não. O Rio está assoreado. E os eventos climáticos extremos estão cada vez mais constantes e com contornos mais nítidos, como a mudança do regime de chuva (muita chuva em pouco tempo e em determinados locais). O Rio Guaíba, por exemplo, em 115 anos saiu do leito apenas 05 vezes e, nos últimos dez anos, já vazou 04 vezes. Não há mais o que esperar. Precisamos fazer a nossa parte, sim!”.
Então, tratou do segundo pilar do Seminário, a Prevenção.
“Não nos descuidemos dela! Há obras sugeridas pelo DNOS desde 1982; falou-se em barragens e canais extravasores. Todas as obras necessárias são bem-vindas e fundamentais, mas a redragagem é a obra que elegemos como prioridade. Com os nossos Seminários, já obtivemos alguns sucessos e algumas frustrações. Precisamos fazer a atualização dos Projetos, como ficou claro na mega-audiência pública na Assembleia Legislativa em 2023.
Existem recursos para viabilizá-los, como nos confirmou o Coronel Fabiano, então Secretário do Estado, e que a situação de Tubarão é prioridade. Entretanto, nosso Projeto ainda precisa constar entre os demais projetos prioritários estaduais. Desejamos que este Seminário reforce suas forças para que Tubarão seja contemplado com os recursos que almejamos.”
O terceiro ponto a ser abordado no Seminário, segundo o professor, é a reação eficiente,
“pois, se a prevenção for insuficiente, como a população saberá o que fazer, para onde e como deve ir diante de uma catástrofe. O que aconteceu aqui, em 1974, não foi ‘castigo de Deus’, tampouco uma fatalidade. Não queremos nos responsabilizar por uma gravíssima omissão, caso aconteça outra tragédia”.
Carlos Augusto Menezes, Presidente da Área TB, afirmou que “tudo que é feito em favor do rio (ou que não é feito), impacta em toda a região”. Disse que a PROSUL fez um projeto de redragagem do Rio Tubarão; contudo, os anos passaram sem que ele fosse efetivado.
“A dragagem e retificação do Rio começou em 1978 e terminou em 1982. Já se passaram quase 50 anos! Ainda hoje, temeroso, nosso povo acorre para a beira do Rio Tubarão quando as chuvas são intensas. Até quando? As Prefeituras precisam empenhar-se em preparar projetos locais. A morosidade é enorme”. E enfatizou: “Toda a AMUREL é impactada pelas cheias”.
O próximo a falar foi Woimer José Back, presidente do Comitê. Falou que
“há interesse em revitalizar o Porto de Laguna, fazer a remodelagem dos molhes e retirar grandes rochas que estão submersas. Os Projetos que fizemos não foram contratados. Achei que essa luta seria mais fácil. Nossas demandas precisam ser prioridades do Governo Estadual. Sabemos que basta chover ininterruptamente dois dias na região de Braço do Norte para já percebermos problemas por aqui. Tal atenção, nós precisamos e merecemos”.
A fala do prefeito Sorato foi para enaltecer o trabalho do Comitê e apresentar algumas iniciativas no âmbito municipal. O Rafael Marques, Secretário Municipal de Proteção e Defesa Civil e Secretário do Comitê, apresentou um histórico das inundações do Rio Tubarão.
Há um remoto registro de 1884, quando as cheias provocaram, inclusive, o rebaixamento de um pilar da ponte férrea.
“Percebemos que as chuvas mais intensas e as cheias acontecem em períodos do La Niña. Como em maio de 2022, quando o Rio atingiu o nível acima de 6 m de altura. O que devemos esperar do próximo mês de maio, quando estaremos novamente sob o La Niña?”
Um dos pioneiros na formação do Comitê, o Eng.º Claudemir Souza de Matos, iniciou sua alocução dizendo que,
“diante da realidade, temos que ser resilientes. Contudo, trazemos algumas preocupações bem claras: a não conclusão do Projeto, a proteção da comunidade em Vila Vitória (Laguna), a derrocada das pedras no final dos molhes, a elevação das cotas das margens do Rio Tubarão, manter aberto o canal da Barra do Camacho e a revitalização do chamado Rio Seco”.
Ele apresentou
um estudo da FESSC, feito sob a direção do saudoso Prof. José Müller, apontando
os prejuízos econômicos e financeiros, como danos ao patrimônio familiar,
lucros cessantes das empresas e infraestrutura em geral, provocados pelas
cheias de 74. Atualizados em 2023, chegariam a U$ 2,150,000,000,00, ou seja, mais
de R$ 11 bilhões!
Claudemir concluiu:
“são necessárias ações urgentes para a revisão do Projeto executivo, conseguir o licenciamento ambiental, retificação e desassoreamento do Capivari e da Barra do Camacho, além de estudos complementares sobre a bacia. Recentemente, houve um consenso entre as Prefeituras da região e a redragagem acontecerá a partir da ponte férrea, na Passagem, até os molhes, em Laguna. Há uma urgência em tudo isso. Em 1974 perdemos 194 vidas! Não se trata apenas de calcular ou recalcular os valores para o Projeto de redragagem: afinal de contas, uma vida custa quanto? Diante de tudo isso, podemos concluir: a natureza não faz acordo conosco”.
Mário
Hildebrandt, Secretário de Estado da Proteção e da Defesa Civil apresentou
algumas iniciativas de sua pasta.
O Presidente Woimer retomou a palavra e fez uma interessante exposição buscando responder a questão:
“o que fazer para reduzir os efeitos das cheias e a melhoria das águas?”. Primeiramente, ele ponderou que “na verdade, precisamos ter um olhar mais carinhoso para com a nossa natureza. Todos juntos podemos fazer muito mais. É necessário revitalizar campanhas de conscientização, de recomposição e manutenção das áreas de preservação permanente, conservar a biodiversidade, controlar a erosão do solo, o assoreamento e a poluição dos cursos d’água, proporcionar a infiltração e a drenagem pluvial. É necessário a reposição da mata ciliar em todos os cursos de águas, pois ela contribui com a qualidade e a quantidade de água disponível, ajuda na retenção de sedimentos, nutrientes e parte dos poluentes químicos carregados pela chuva, evitando a poluição das águas”.
Comentou a respeito do plano de contingência que deve incluir informações sobre vários aspectos: eventos que colocarão o plano em ação, qual resposta imediata, pessoas a serem envolvidas e informadas e um cronograma de resposta a médio e longo prazo.
“Precisamos pensar no reuso de água para reduzir o consumo de água potável e otimizar o uso dos recursos naturais.”
Coordenador Regional de Proteção e Defesa Civil, Eron Flores comunicou aos presentes que na primeira dragagem para a retificação do leito do Rio Tubarão foram trabalhados 34 km.
“Hoje nós temos alguns projetos em andamento na nossa cidade. O melhoramento pluvial do Rio Tubarão pode seguir o modelo daquele que acontece em Rio do Sul, no Alto Vale, mas ainda não é o ideal para a nossa região”.
Celso Heidemann e Gilsoni Lunardi Albino apresentaram o Projeto AMUREL CONECTADA, que se justifica pela necessidade de integrar e harmonizar os dados hídricos dos 22 municípios da AMUREL.
“Na região, já possuímos 200 câmeras integradas, apontando para pontes e rios, a fim de monitorarem eventos climáticos.”
Nesta manhã, o tempo passou muito rápido. Não houve espaço para questionamentos e nem discussão. Pediram a D. Adilson que encerrasse a sessão. Ele agradeceu e comentou:
“Primeiramente, quero observar que, pensando na palavra água, que é um vocábulo feminino, eu senti a falta de uma voz feminina nestas reflexões. Deixo a sugestão para os próximos Seminários”.
Depois, explicou:
“a Igreja Católica tem no Papa Francisco um grande profeta. Neste final de semana, eu estive em Vila Vitória, Campos Verdes e em toda aquela região de Laguna. Nestes últimos meses, visitei 240 comunidades aqui na AMUREL, e também as de Orleans. Muitas têm nome de rio ou sanga, mas não se vê mais nem rio e nem sanga. Vejam a capilaridade da Igreja nesta região.
Nós nos colocamos a serviço do cuidado com o mundo. Conversei com pescadores lá em Laguna e eles estão preocupados. Também precisamos olhar lá pra cima, para as cidades que ficam nas montanhas, pois as águas trazem muitos elementos de lá, inclusive podem vir metais pesados. Cuidemos das cheias, e não nos descuidemos de proteger toda a realidade da vida, a ecologia integral!”.
Segundo o Bispo, em meio às resistências, é preciso perseverar:
“Como Igreja, especialmente a CNBB, temos sido muito criticados quando trazemos reflexões assim. Mas, visitando as três Paróquias de Laguna, questionei: ‘já se imaginaram vocês sem a laguna; isto é, a Laguna sem a laguna?’. Os frutos são da terra, mas são também das águas. Estamos celebrando 800 anos do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis”.
Antes de conceder a bênção, pediu:
“Lembremo-nos das vítimas e dos seus familiares, tanto nas cheias do Rio Grande, quanto aqueles daqui. Peço a bênção de Deus sobre todos os envolvidos com o cuidado dos diversos aspectos da natureza. Somos cuidadores da natureza! Sejamos sempre mais conscientes da filiação, irmãos na Criação e comprometidos em cuidar desta Casa Comum.”
O último momento
do Seminário foi a cerimônia de reinauguração do monumento em alusão às obras
de dragagem e retificação do Rio Tubarão, realizada pelo Governo Federal.
Situado na Praça Orlando Francalacci, nas margem do Tubarão, foi totalmente
recuperado.
A hora do almoço
estava chegando. Fazia calor, mas o céu permanecia azul em meio a nuvens que
brincavam aqui e ali. Todos procuravam um lugar à sombra. Bem diferente daquele
24 de março de 1974 quando, com nove anos, eu via e sentia a aflição dos meus
pais, enquanto as águas do nosso rio estavam cobrindo a Rua Lauro Müller,
defronte a nossa residência. Mas, quem lembra?
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Trailer
do filme ALBERTINA: https://www.youtube.com/watch?v=3XggsrQMHbk
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