(06/12/2024) Ter
os olhos abertos não significa, necessariamente, estar acordado. Esse tema
ajudou a celebrar o passamento de Antônio Henrique Berkenbrock, natural de São
Martinho, no Distrito de Vargem do Cedro, ocorrido ao anoitecer do dia 05 de
dezembro. Entre outras coisas, seus conterrâneos lembrar-se-ão dele com seu
bordão, andando com certa dificuldade, ao atravessar a Rodovia das Vocações
que, após a chegada do asfalto, tornou-se ainda mais veloz para os motorizados.
A enfermidade que levou seu Antônio a ter amputada uma parte do pé nunca foi assimilada por ele; o que é humanamente compreensível. No período crítico da doença, suas muitas lágrimas lavaram sua alma e lhe deram coragem para superar a limitação física e continuar a fazer o que mais gostava: trabalhar.
Todos podiam ver a
dedicação e a cumplicidade da sua esposa Bernadete e dos filhos e, claro, da
presença do neto mais próximo. Nesse período, toda a família se envolveu para que
o patriarca pudesse viver bem.
Nos últimos
dias, os sinais de que algo ruim estava para acontecer não foram suficientes
para aplacar o susto do falecimento do seu Antônio Henrique, aos 73 anos de
idade. A comunidade se condoeu e, enlutada, participou dos breves funerais do
companheiro. A equipe de liturgia caprichou na celebração exequial. Escolhi o
Evangelho de Mateus 9 para nortear a reflexão – “Jesus tocou os olhos deles e lhes disse: ‘faça-se conforme vossa fé’;
e os olhos deles se abriram” (Mt 9,30).
Certamente que
os familiares e amigos teriam testemunhos mais profundos e numerosos do que os meus a respeito
do falecido. Todavia, de minha parte, lembro da primeira vez que eu me
encontrei com o seu Antônio Henrique e com D. Bernadete. Foi na sua residência,
durante a visita aos enfermos. Eu comentei com eles que o nome dele fazia
referência aos nomes dos meus avós Antônio Pedro (da parte de meu pai) e João
Henrique (da parte de minha mãe). Foi o início de nossa primeira conversa;
depois tratamos de sua enfermidade e da história da família.
Noutra visita, quando retornou da cirurgia à qual fora submetido, pudemos conversar e rezar juntos. O Miguelzinho, que na época deveria ter uns três anos, sempre grudado ao avô, na ocasião, estava receoso de aproximar-se do ‘fatha’ enfermo, assustado com os curativos. “Não tenha medo, pode vir aqui no colo do fatha”, dizia o seu Antônio, chamando o menino, que hesitava choroso. Incentivamos a criança a abraçar o vô e, depois disso, foi brincar.
Quando o neto estava longe, o avô se lamentou, chorando: “ele está com medo de mim”. Então, a esposa o consolou, dizendo: “Calma, logo isso vai passar”. E, de fato, ele se recuperou bem e tudo voltou ao normal possível, e o ‘fatha’ pode ver aquele e outros netos crescerem e trilharem seus caminhos.
Antônio Henrique nasceu no dia 11 de setembro de 1951, numa família numerosa: 16 irmãos! Seus pais chamavam-se Salvino e Emília Eller Berkenbrock.
Na juventude, casou-se com Bernadete May, na matriz São Sebastião, em Vargem do Cedro. Era o dia 14 de junho de 1975. Juntos, construíram sua família com cinco filhos e já chegaram os seis primeiros netos do casal.
Antônio Henrique era um homem prestativo com a
comunidade, fazendo parte de várias Diretorias. E sempre trabalhou muito duro na
roça e na lida com animais, a fim de que nunca faltasse nada em sua casa e para
a sua família.
Durante as exéquias, uma amiga da família leu o seguinte testemunho:
“Ele deixou-nos um exemplo de uma vida vivida com determinação e coragem. Foi um avô muito carinhoso para com todos os seus netos. Hoje, despedimo-nos dele fisicamente, certos de que, em todos os momentos de nossas vidas, traremos na memória suas lembranças como marido, pai, avô e amigo. Tais recordações permanecerão vivas em nossos corações. Obrigado por ter dedicado sua vida a todos nós. Descanse em paz!”.
Nesta manhã de
sexta-feira, já bem cedo, o toque fúnebre do sino da matriz confirmou o
ocorrido, visto que quase toda a comunidade já estava sendo informada pelas
redes sociais. À tarde, familiares e amigos se reuniram para entregar nas mãos
de Deus mais um membro de seu convívio que partira.
Nossa história
está marcada por perdas. Nos últimos dois anos, além de Antônio, quantos outros
companheiros partiram? Somente em Vargem do Cedro, seu Antônio Henrique é o
vigésimo, coisa que há muito tempo não se via. Quantos mais perderemos antes
que chegue a hora da nossa própria partida?
O fato é que nós estamos caminhando nesse mundo que é finito, certos de que tudo tem seu fim. Passou a primavera e o verão está chegando, mas logo passará também.
Na Igreja, passou
o Tempo Comum e já estamos no Advento; e ele, da mesma forma, passará. Então,
virá o Natal e, depois... Bem, tudo é passageiro nesta nossa vida transitória.
Já não somos, hoje, o que éramos há 20 anos, nem há 10 anos... aliás, sendo bem
sinceros, já não somos nem o que nós éramos há alguns instantes.
Chamados a
viver, convivemos com a morte, que nos rodeia e ameaça, recordando-nos de nossa conhecida fragilidade. Nunca nos acostumamos com a partida definitiva de alguém. Sentimos
no peito uma aflição natural e certa angústia ao tratarmos disso. É quando
encontramos, então, na fé, um alento: em Jesus está a nossa Esperança de que a
morte não tem a última palavra e, sim, que Ele é ‘o Caminho, a Verdade e a Vida’!
Na Quaresma e,
especialmente, na Semana Santa, celebramos que Jesus permitiu ser levado à
morte na Cruz. Revelou-nos, desta forma, a supremacia do Amor, da oblação:
entrega por amor! Portanto, mirando a Vida eterna, a vida terrena ganha um novo
sentido. Já não se trata de vivermos um dia após o outro, numa rotina sem fim e
enfadonha. Há que se viver bem! Viver deve valer a pena!
O falecimento do
seu Antônio Henrique, despertou alguns questionamentos: por que ele partiu e
nós permanecemos aqui? Por que se foram aqueles outros companheiros nossos? Bem, não existem respostas fáceis. O certo é que foi-nos dada a graça de permanecermos vivos; resta-nos uma
pergunta fundamental: por quais razões vale a pena viver? Ou com outras
palavras: qual o sentido da nossa existência?
Não nos basta podermos
respirar – com todo respeito àqueles que têm ou tiveram tais dificuldades – e,
sim, encontrarmos respostas que nos apontem motivações para essa existência
natural. Que tal vivermos a fim de promover o bem das pessoas, para que se
desenvolvam humanamente e profissionalmente, como sinais do amor de Deus na
sociedade? Que tal amarmos e cuidarmos da Natureza criada por Deus como um
legado às novas gerações? Essas e tantas outras motivações positivas dão sabor
à nossa vida e, quando o nosso tempo passar, permanecerão as marcas do bem que
realizamos.
Durante a
celebração, eu citei São Paulo. Segundo o Apóstolo, nesta vida, o que importa é
Cristo! Interessa-nos o novo horizonte que a fé em Cristo abre diante de nós: leva-nos
a escutarmos coisas nunca dantes ouvidas, e a vislumbrarmos realidades,
tampouco, jamais imaginadas.
No Evangelho,
ouvimos Jesus questionar os dois jovens cegos que O seguiam: ‘vocês creem que Eu posso fazer isso?’; e
eles responderam: ‘sim, Senhor’. Então, o milagre aconteceu! Eles passaram a
ver de um jeito novo! E é essa a graça que nós precisamos buscar: ‘Senhor, queremos ver!’. O amor de Deus
permite que tenhamos um olhar mais profundo e real. Assim, diante de um corpo
sem vida, afirmamos: ‘não é ainda o fim’.
Tudo nos levaria a crermos que sim, mas nós somos movidos por outra força: a fé!
O falecimento do
seu Antônio Henrique ocorreu no período em que nossa Paróquia se prepara para a
celebração do Natal de Jesus e a Festa de São Sebastião. No próximo dia 20 de
janeiro, também comemoraremos os 97 anos da inauguração da matriz. Nossos
antepassados pioneiros, liderados pelo saudoso Pe. Gabriel Lux (falecido há 81
anos, ocorrido no dia 04 de dezembro de 1943, em nossa Casa Paroquial), decidiram construir neste templo
uma bela torre para os sinos. Ela aponta para o alto, como a nos ensinar a todo
instante: ‘estamos aqui trabalhando, lutando
e perseverando na fé para, depois, irmos para junto de Deus’!
Iluminados pela
fé, vamos renovando a Esperança de que seu Antônio Henrique e todos os nossos
entes queridos que faleceram estão nos braços de Deus Pai. E oremos também por
nós ainda viventes, para que vejamos ‘mais
longe’, para além do cemitério, e acreditemos que a morte não terá a última
palavra. Pois, a Palavra de Deus fez-se gente no Natal e veio habitar entre
nós, a fim de levar-nos todos consigo para a Casa Celestial.
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Trailer
do filme ALBERTINA: https://www.youtube.com/watch?v=3XggsrQMHbk
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