COMUNIDADE DE VARGEM DO CEDRO SE DESPEDE DE RICARDO SEHNEN

 


(Foto: Ricardo, de camisa azul, auxiliando na construção da Gruta da Divina Misericórdia e Rainha das Vocações - Vargem do Cedro - 2016)

(06/01/2022) Ricardo viveu intensamente a sua vida. Desfrutou do que na vida encontrou e entendeu como sendo o melhor. Mas, também, sofreu as consequências de suas escolhas. Na busca de uma vida de liberdade, do jeito como ele a concebia, seguindo o modelo dos movimentos jovens das décadas de 1960 e 1970, viveu suas aventuras deixando atônitos alguns companheiros e fazendo rir a outros. 

Chegando o tempo de casar, os seus caminhos se cruzaram com os de Zuleide Kock. Os dois jovens traziam em seus corações dores e sonhos. Decidiram receber o Sacramento que logo frutificou. Então, vieram os quatro filhos Richard, Gisleide, Ronald e Rudolf. 

As crianças foram criadas no mesmo terreno e na mesma casa em que Ricardo vira o sol nascer e onde, junto com seus avós, pais e irmãos, construíram inúmeras histórias que, ainda hoje, alimentam as rodas de conversas na varanda da velha casa, no final da rua do Canto do Hawerrot. 

Nestas ocasiões, também se partilha memórias das muitas lutas para sobreviver àqueles tempos difíceis, tanto nos rígidos invernos, quanto nas épocas de estiagem ou de calor tórrido. 

O tempo passou muito rápido para Ricardo e Zuleide e, logo-logo, viram os filhos se tornarem homens e mulher, e escolherem seus próprios caminhos. Chegou a primeira nora e, em seguida, a primeira neta Mariana. Com o casamento da filha, surgiu o Matheus. Recentemente chegou ainda a Maria Elisa. 

Grudada nos braços e nas pernas do amado ‘fatha’ (avô), Mariana não se cansava de subir e descer os morros e os cômodos da residência. Até que o ‘fatha’ não pôde mais acompanhá-la. Seus pulmões estavam comprometidos após anos e anos de fumaça tóxica. Nenhum prazer pode justificar tamanho sofrimento. 

A família e os amigos foram acompanhando, nos últimos anos, o quanto seu estado se saúde foi se debilitando. Quando amenizava a depressão – outro tormento que surgiu para lhe imputar enorme tribulação – tinha o maior prazer em receber seus parentes e amigos no seu recanto. 

A cuia de chimarrão passava de mão e mão; enquanto todos sorviam aquela erva, a chaleira chiava sobre a chapa ali ao lado, no fogão à lenha. Mas, em suas confraternizações, não servia apenas o mate quente; sempre havia outras bebidas destiladas e geladas. 

Usando o seu habitual chapéu, emendava uma história na outra e ria dos ‘causos’ trazidos pelos outros. Enquanto isso, ia cuidando e temperando a costela de boi sobre o braseiro. 

Aliás, de assar carne ele entendia. Era um dos melhores da comunidade! Munido do inseparável chapéu e da toalha dependurada no ombro, dirigiu a churrasqueira do Salão muitas vezes. Com sua voz grave, sempre animado, dizia: “já tá saindo mais um churrasco picadinho... e tem linguiça também!” 

Estes tempos passaram. As enfermidades se agravaram a tal ponto que, de uma hora para outra, a família e a comunidade já aguardavam receber uma notícia fatal a qualquer instante. 

As inúmeras idas e vindas aos hospitais e consultórios médicos da região, certamente, por vezes, lhe aliviaram a dor; porém, a causa não recebia solução. Até que, agora, na virada do ano, a sua esposa disse: 

“Ele está nas mãos de Deus! Deus é que sabe. Fizemos tudo o que tinha para ser feito. Ele tanto pode melhorar e retornar pra casa mais alguns dias, quanto pode falecer aqui mesmo, nesta cama de hospital”. 

No Hospital São José, de São Martinho, o médico residente explicou claramente à família que já não havia mais nada a fazer, senão somente esperar. Então, de mãos dadas, junto ao leito em que o enfermo jazia agoniado, Zuleide (esposa sempre presente e forte) sugeriu que todos rezassem de mãos dadas. 


Renato (o irmão), Richard (o filho primogênito) e o padre (Pároco) rezaram algumas orações e entregaram o Ricardo nas mãos de Deus. 

Ficaram ali, sem julgar as escolhas que ele fizera em sua vida de 60 anos; sem querer dar lições de moral; mas, apenas, vivendo o momento existencial definitivo daquela entrega. 

Mais alguns dias se passaram e, hoje, a seis de janeiro de 2022, na Festa dos Santos Reis Gaspar, Melchior e Balthazar, o seu Ricardo partiu deste mundo. Vivo permanecerá na vida de seus descendentes e daqueles que o quiseram bem. 

Assim como os Magos do Oriente seguiram a Estrela até chegarem ao Menino Deus, que o seu Ricardo faça seu encontro com o Deus Criança que, como anunciaram os anjos, é luz para todos os povos: “Hoje, em Belém, nasceu para vós, o Salvador, que é o Messias e Senhor!”.


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1 Comentários

  1. Que lindo texto, uma verdadeira homenagem…
    Nele é possível conhecer Seu Ricardo desde o nascimento até sua morte. Suas escolhas teve consequências e o texto traz isso como alerta.
    Sentimentos a todos os familiares e amigos.

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