Aqui
onde moro, a igreja matriz é rodeada por lindos jardins. Tem até um açude,
sobre o qual construíram uma pequena ponte de madeira. Ela conduz os
transeuntes de um jardim a outro, permitindo, inclusive, que se visite uma
Gruta de um lado e outra Gruta na extremidade oposta. Diariamente um senhor vem
varrer o pontilhão para que as pessoas se sintam bem ao passarem por ali.
Limpeza
rima bem com natureza, que, por sua vez, também rima com beleza. Os místicos
são muito bons em juntar esses elementos para descortinar a essência de Deus.
Não basta que se tenha construído uma ponte; é preciso conservá-la limpa!
Ainda
estamos vivendo aqueles festivos e profundos dias da Páscoa do Senhor. Nós que
já superamos o apego aos doces e à lenda do Coelhinho, sabemos que o mistério
pascal é o que nos mantém firmes na caminhada. A certeza que sustenta a fé nos
garante que Jesus está vivo entre nós e nos conduz, por seu Espírito Santo,
para a Casa do Pai. Nessa caminhada muitas vezes nos deparamos com novas
exigências, com dificuldades a serem superadas, com surpresas que precisam ser
depuradas, com caminhos a serem desbravados...
A
missão do cristão, portanto, é de “construir pontes”!... E isso já foi
apregoado por aí muitas vezes. E é verdade! Nossa fé nos leva a aproximar
corações, congregar pessoas, grupos e instituições, a trabalhar pela construção
de novo mundo possível marcado pela justiça social, fraternidade universal,
misericórdia!... Enfim, a Civilização do Amor tão sonhada pelo querido Papa
Paulo VI.
Mas
também é preciso cuidar para que as pontes funcionem bem e permaneçam bem limpas.
Há muitos empecilhos que vão corroendo as estruturas que nos unem, ameaçando
nossas comunidades e nossa vida de fé. O Cristo ressuscitou, mas há muitos
sinais de que o “espírito da sexta-feira santa” ainda perdura dentro e entre
nós. Com sua Ressurreição, Jesus nos aproximou do seu Amor e nos incentivou a
caminharmos juntos: “vão pelo mundo inteiro e façam discípulos”... E mais: “Não
tenham medo. Eu venci o mundo!”...
Diariamente
é preciso “limpar a ponte” de nossos relacionamentos. Neste campo afetivo, há
muitos bloqueios e traumas que nos fazem acreditar que o ser humano é mal, que
o amor fraterno é um engodo, que não há mais nada a fazer para construir um
futuro melhor, que esta história de Reino de Deus é balela para ser contada
intra-templo e que não influi em nada no nosso jeito de viver.
A
indiferença pode nos adormecer o coração e diminuir (e até apagar) nossa
sensibilidade. Muitos poderiam passar pela tal “ponte” encantados com as
belezas ao seu redor: arvoredo, peixes, águas... E sem perceberem que a ponte
está bem construída e limpa... e que ela realiza um papel essencial... (Poderia
até dizer “papel crucial”, de cruz mesmo; pois, as pontes “sofrem” ao realizar
a sua missão!).
Aquele
homem que varre a ponte diariamente, talvez, não receberá a gratidão de
ninguém; seu serviço é anônimo. Mas, de fato, não é reconhecimento o que ele
busca. E sim, dar boas condições para que os viandantes possam ir e vir, com
segurança, por entre os jardins, apreciando a beleza do lugar.
Com a
sua Encíclica Laudato Sì (Louvado Sejas) o Papa Francisco nos convidou a
deixarmo-nos encantar pela Criação. “Se nos
aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração
e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na
nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do
consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um
limite aos seus interesses imediatos”, assinala Francisco (LS 11). É nossa
missão apresentar condições para que as pessoas possam fazer a experiência do
encontro com Deus presente na Criação. E cuidar destes “instrumentos de
salvação”.
Portanto, é preciso construir pontes! Mas, sem dúvida alguma,
é preciso conservá-las limpas! Que a intercessão de Maria – que neste mês
recebe nossas homenagens filiais, dentro do Ano Mariano – nos ajude a zelar
pelas “pontes” que unem corações e comunidades e, inclusive, que nos unem a
Deus!
Bendito o zelador que cuida de nossos jardins! Bendito quem
zela pelas “pontes” que aproximam pessoas!
Pe. Auricélio Costa – Pároco e Reitor
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