IMARUÍ – FESTA DE PASSOS – A PROCISSÃO


10 de abril de 2011 - A praça da matriz, agora remodelada, estava tomada pelos devotos. O sol forte tostava a pele. Muitas pessoas procuravam abrigo nas sombras das casas ou sob as árvores da praça. Ficamos expostos sob o sol. Um padre convidava o povo para a procissão, explicando o real sentido da caminhada. Outro puxava algumas orações e pertinentes refrões de canções antigas.


Por todo lado, víamos pessoas vestidas como o Senhor dos Passos ou como a Senhora das Dores. Eram os pagadores de promessas. Chamou-nos a atenção uma jovem que, ajoelhada, começou a sua procissão, agradecendo alguma graça recebida.


A Banda Municipal Unidos de Imaruí estava à postos, devidamente uniformizada. Repórteres de emissoras de rádio e tv faziam seu trabalho em meio à multidão. Romeiros de todas as idades e de todos os lugares iam buscando um lugar melhor para contemplar as imagens e seguir atrás delas.


O sol continuava intenso. O céu claro, com algumas nuvens brancas e douradas. O verde vivo das árvores da praça dava um fundo para o colorido das vestes da gente reunida na frente da matriz. Aos poucos o cordão de fiéis foi se movimentando. Percebeu-se um pequeno e natural alvoroço na multidão.


A imagem de Passos veio passando pertinho de nós, no alto, sobre os ombros dos carregadores e membros da Irmandade de Passos. Notava-se certa tensão e viva emoção em seus semblantes. Estávamos também nós emocionados.


Parece que estávamos vendo ali junto do andor aqueles entes queridos que já foram para a Casa do Pai, e que, enquanto estavam aqui, celebravam vivamente esta devoção. Lembrei-me dos senhores Vilibaldo, Darci Gonçalves, Nilton Corrêa, Zé Corrêa, Osvaldo Pereira... das senhoras Alaíde, Petronília (Quêta), Tereza (do Dada), Lôra Cardoso...


Lembrei-me dos relatos sobre as antigas procissões, quando o povo acorria à Imaruí em carros-de-boi e carroças; quando o itinerário da procissão contemplava a rua da Praia e o Sermão do Encontro era proferido às margens da pródiga lagoa.


Recordei a correria dos líderes da CAEP quando eu fui pároco de Imaruí (por dez anos): o Arthur da Silva, o seu Bibi (Abílio Alves) e o seu Henrique.


A procissão começou... lentamente a caudalosa multidão ia ganhando forma ao ganhar a rua que desce para a praia. Muitas e muitas pessoas vieram cumprimentar-me, abraçar-me, pedir a bênção, saber de onde tenho andado e falar-me um pouco de si mesmas. Seenti-me no lugar certo: um com elas, junto delas... por causa d’Ele!


A imagem de Passos já ia lá na frente quando encontrei a “tia” Lourdes da Silva Felix; uma santa que tem o poder da oração e que dá um grande testemunho de fé para esta comunidade de Imaruí. Uma de suas filhas é religiosa do Coração de Jesus, a Imã Bernadete, e missionária em Moçambique há vários anos. Tomei-lhe pelo braço e fomos juntos caminhando atrás do Senhor. Rezamos e conversamos sobre a fé e a vida. Que bênção!



A Marli Pereira encenou a Verônica: cantou três vezes, conforme a tradição, na saída da procissão, na frente da Capelinha de Passos e no final da procissão. Sua voz estava um pouco fraca, mas afinada. Para nós que a conhecemos, representava o verdadeiro devoto que, enfrentando na fé as terríveis vicissitudes da vida (e uma lamentável depressão) vem agradecer e cantar a dor e o poder de Deus. Foi emocionante.


Notamos que muitas pessoas apenas caminhavam com a multidão; outras estavam compenetradas em suas orações interiores; outras mais acompanhavam as orações iniciadas pelo pároco. Durante o trajeto, por sete vezes, o cortejo parou para que os cantores e músicos entoassem o tradicional “Miserere” diante dos altares montados em habituais pontos.


Percebemos que, quando se fazia silêncio, um certo barulho vinha da praia onde foram instaladas as barracas de camelôs. Desta vez, felizmente, o barulho era menor e não atrapalhou em nada.


Por fim, após quase 50 minutos, a procissão chegou toda à praça da matriz. O sol estava forte. A igreja pintada de amarelo ocre ficou ainda mais linda!... com suas torres apontando para o céu azul, enfeitado com algumas nuvens brancas e outras escuras que foram se aproximando.


Os corações dos fiéis, contudo, estavam ávidos por uma palavra de fé e ansiosos por ver o principal momento da Festa: o encontro entre as duas imagens.

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