Não há quem
não se impressione diante de uma jabuticabeira carregada de frutos. Maduros,
escuros, suculentos, incrivelmente saborosos... e abundantes!... Tornam-se iscas
para as aves, os bugios e os transeuntes humanos igualmente gulosos.
Em
determinadas condições geológicas e climáticas, conheci jabuticabeiras que
produziam até cinco vezes num ano! E os frutos sempre muito deliciosos!
Com a chegada
da primavera, além dos jardins, também os pomares ficam sortidos de formas,
cores e sabores! O litoral catarinense é rico em oferecer essa abundância de
alimentos saudáveis! Como demoramos a perceber o nosso desrespeito para com a
obra criada por Deus para todos nós e para as gerações futuras!
Contemplando
essa realidade, somos convidados a aguçarmos nossa capacidade de perceber os
frutos da presença de Deus em nossas vidas. Assim como a chuva que cai na terra
não volta para o céu sem antes fecundar o chão, também a ação de Deus entre nós
(em nós e através de nós) é fecunda e produz muitos frutos (cf Is 55,10). Dadas
as inúmeras (pre)ocupações do cotidiano, corremos o risco de nos tornarmos
áridos ou cegos. O coração árido é aquele que não consegue permitir que as
sementes de Deus ali pudessem ser acolhidas e germinassem, produzindo, por fim,
abundantes frutos.
Desta forma, a
pessoa passa a viver tão escrava de seus afazeres e pensamentos próprios que
não consegue perceber que sua vida está cada vez mais enfadonha, sem sentido,
sem primavera! Não é tão incomum ouvirmos das pessoas: “vivo para trabalhar!”;
“minha vida é só pagar contas!”; “estou afundado em problemas!”; “o inferno é
aqui”... O coração árido se fechou para as novidades e surpresas de Deus. Um
coração que não ri com as crianças e nem se condoe com a dor alheia, está
morrendo.
Mas, a Palavra
de Deus nos incentiva a deixarmos nosso coração aberto para receber a visita do
“ilustre Hóspede”: Jesus! A Sua chegada é motivo de festa e de transformações.
Assim como a jabuticabeira, cheia de folhas verdejantes vai se preparando por
longos meses para, na época certa, apresentar seus maravilhosos frutos, o
coração humano precisa preparar e acalentar a presença divina. Penso que Deus
olha para nós com o mesmo olhar com que o hortelão contempla as plantas em seu
pomar: com esperança! Ele consegue contemplar os frutos que estão latentes
(“escondidos”) dentro da árvore.
O teólogo suíço
Hans Urs Von Balthasar, falecido há 25 anos, refletiu sobre essa realidade em
que muitos corações não conseguem produzir os frutos da Graça de Deus. Lembrando-se
de São João da Cruz, ele disse que vivemos, hoje, “noites escuras coletivas”. Elas
produzem medo, insegurança e até desespero; mas também expectativa,
perplexidade e esperança. Nossa sociedade talvez esteja passando por essa
experiência. Cabe à Igreja de Jesus lançar luzes sobre os grandes problemas que
enfrentamos. Diante das crises morais, econômicas, sociais, políticas e de fé,
o Espírito Santo está suscitando vozes no seio da Igreja que nos ajudam a
“iluminar” estas realidades. Uma dessas vozes é a do Papa Francisco.
O teólogo
citado escreveu um livro chamado “Só o Amor é digno de fé”. Ele sugere que,
movidos pelo verdadeiro Amor, percebamos as “ilhas de humanidade”, isto é,
sinais de esperança em meio ao caos hodierno. Existem abundantes frutos de amor
em toda a ação da Igreja. É só prestar atenção e o leitor perceberá que aí
mesmo, na sua comunidade, existem muitas destas “ilhas”: expressões de
caridade, de solidariedade, de misericórdia! Isso se expressa em forma de
voluntariado, de dedicação abnegada nos vários organismos religiosos e
pastorais!... Quanta vida doada por amor! Quanto saber compartilhado! Quanta
oração fraterna e fecunda! Enfim, podemos mesmo dizer que o Reino de Deus está
crescendo! Ele vai crescendo apesar de nossa realidade tão pecadora e frágil.
Com a chegada
do final de ano nossas forças parecem ir se extinguindo... Mas o exemplo da
jabuticabeira repleta de frutos deve nos ensinar que é tempo de frutificar.
Nossa energia vital vem do Espírito Santo e não se acabará nunca. Mesmo com o
cansaço físico-emocional, ainda é preciso oferecer o que temos de melhor: os
nossos preciosos frutos da fé cristã!
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