Ele chorava agachado
num canto da casa, gesticulando sua inconformidade pelo fato de, talvez, não
receber o brinquedo que tanto almejava. Foi quando seu pai o chamou, pediu que
sentasse em seu colo e lhe explicou a situação: “meu filho, eu e sua mãe não
queremos privar você de se divertir, de brincar... mas, nós somos pobres e, na
vida, às vezes, é preciso esperar a melhor oportunidade... olhe os seus irmãos
e as outras crianças brincando ali no pátio! Olhe como estão felizes! E você
está aí perdendo tudo isso!...” Após secar suas lágrimas e receber um beijo, o
garoto foi se unir aos demais.
Essa pequena história
doméstica pode nos inspirar a começarmos bem mais um ano pastoral. Diante da
avassaladora crise moral de nossa sociedade, muitos cristãos ficam murmurando
por aí suas tristezas, desilusões e insatisfações. Tal crise descambou para o
mundo da política, da ética, da justiça, da educação... e atingiu a vida
religiosa também. Enfim, vivemos uma crise de esperança!
Como é bom quando
alguém nos ajuda a percebermos que nossa realidade atual não é o fim, e que o
foco deve estar mais adiante, no horizonte a ser desbravado. Bem fez Jesus
quando nos apontava o seu Reino e exortava seus discípulos a buscarem “as
coisas do alto”, a juntarem tesouros “onde a traça e a ferrugem não corroem”.
Enquanto lhes fazia
sonhar com o Céu, também lhes pedia para sentirem os pés tocando o chão: “o
Reino já está entre vós”... “ide até às extremidades da Terra”...
De fato, é muito
importante mantermos ‘o foco’ na nossa missão de batizados: colaborar com
Cristo na construção do seu Reino! Daí a importância de que nossas atitudes e
atividades sejam fundadas na fé que professamos na assembleia dominical e que
testemunhamos em nossa vida pessoal e comunitária.
A realidade é muito
exigente e plural. A vida da gente é tão dinâmica que o tempo parece nos
escapar pelos dedos... e ficamos perdidos diante de tanta coisa a fazer!
Não devemos ficar
parados diante dos desafios. Como na historinha inicial – “olhe as outras
crianças brincando... felizes...” – percebamos que o Reino de Deus está
crescendo ao nosso redor (conosco e apesar de nós!). E que é necessário muito
pouca coisa pra se alcançar a felicidade! Estar ‘no colo do Pai’, isto é,
sentir-se muito amado e enviado por Ele, já é motivação suficiente para não
desanimarmos e ficarmos nos lamentando “num canto da casa”.
O novo ano pastoral se
inicia dentro da dinâmica e da espiritualidade do Ano Mariano. Esta parece ser
“a melhor oportunidade” para aprendermos de Maria a perseverar no cumprimento
da missão. E a permanecermos unidos a Cristo, em todas as situações. Ela nos
ajudará a sermos sinais de esperança neste contexto social tão cruel e
desafiador... como ela mesma foi crucial no episódio da Bodas de Caná e também
na ocasião em que a sua pequena imagem foi encontrada no fundo do rio Paraíba,
lá em 1717.
Envolvidos pela ternura
do Pai e da Mãe querida, sejamos instrumentos eficazes para que o Reino cresça
entre nós!
Pe. Auricélio Costa –
Reitor do Santuário de Albertina
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