Começaram a se
tornar mais comuns as notícias sobre encontros promovidos para reunir todos os
familiares. É encontro da família tal... mais um daquela outra família... E as
pessoas que participam destes eventos quase sempre se surpreendem ao descobrir
tantos parentes desconhecidos... Ficam felizes por rever e conhecer primos ou
tios tão extrovertidos, inteligentes, agradáveis... reconhecem traços físicos e
comportamentais semelhantes... recordam e descobrem ancestrais comuns...
partilham histórias nunca antes contadas... deliciam-se com os pratos típicos
que, por décadas, acompanham a família... e celebram juntos a fé, promovendo um
momento religioso comum que lhes dá profunda identidade...
Infelizmente num
mundo globalizado, informatizado, tornado tão pequeno por inúmeros inventos de
comunicação, ainda tenhamos a tentação de nos fecharmos em nós mesmos, de nos
julgarmos suficientes para nossos interesses egoístas, de nos admirarmos
patologicamente de nossa solidão e de nossas pretensas belezas, qual Narciso
pós-moderno.
Num coração
egoísta e presunçoso não há espaço para a Misericórdia. Como poderia abrir-se
ao outro um coração engessado, congelado e frio? Quão infeliz, esse coração!
Mas Deus nos
criou a todos por puro Amor. Ele nos criou um pouco abaixo dos anjos... e, se
até dentre eles houve quem se rebelasse contra Deus, que dizer de nossa
condição tão frágil e pecadora!? Diante de nossas fraquezas, porém, Ele nos
olha com Misericórdia. Foi assim com Adão e Eva e o será para sempre, pois é
próprio de Deus agir com Amor que perdoa, isto é, agir com Misericórdia. Ele
não pode ser diferente.
Ao pensar em
nós, quis fazer-nos à Sua imagem e semelhança! E nos fez família! Por isso,
quanto mais vivermos unidos aos demais irmãos e irmãs, mais semelhantes a Deus
seremos. Quanto mais promovermos a concórdia e a solidariedade e a
fraternidade, mais parecidos com o Pai seremos. Quanto mais construirmos pontes
entre os corações, entre as nações... mais estaremos promovendo o sonho de Deus
para nós.
São
profundamente ofensivas à Deus as divisões que cultivamos entre nós,
especialmente no seio familiar. Nossa sociedade não vai bem, e isso já é senso
comum. Mas, será que não é porque nossas famílias não vão bem também? E quais
são os fatores que provocam tanta dor, tanta divisão e tanto egoísmo em nossos
lares? O que estamos fazendo e que podemos fazer para retornarmos aos sonho
inicial de Deus?
O Papa Francisco
nos apresenta o caminho da Misericórdia. Neste Ano Santo ele convoca toda a
família humana e cada uma de nossas famílias a fazerem uma experiência de
Misericórdia. Isso pode ser alcançado colocando o coração “em saída”, isto é,
indo ao encontro do outro irmão, aproximando-se mais de Deus. Esse Jubileu seja
marcado pela conversão interior; por isso, o Papa nos convida a nos
aproximarmos do Sacramento da Penitência, buscando viver a Reconciliação a
partir da própria casa. Perdoar é um grande ato de Misericórdia, pois Deus
disse “desejo Misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de
holocaustos” (Oséias 6,6).
Os esposos são
chamados pelo Matrimônio a viverem “a alegria do Amor”, o que significa
buscarem o bem um do outro. No relacionamento familiar o perdão, a correção
fraterna, a exortação amorosa ajudam todos a fazerem a experiência do Deus da
Misericórdia. É o apóstolo São Tiago que nos esclarece: “pensai bem, o
julgamento vai ser sem misericórdia para quem não praticou a misericórdia”... e
garante: “a Misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento!” (cf Tg 2,13).
É ainda na
Palavra de Deus que encontramos uma outra orientação para a vivência familiar
segundo o Plano de Deus. Como diz a canção: “Onde o Amor e a caridade, Deus
presente está”. Amor e caridade... não é exatamente isso a tal Misericórdia?
Deus quer “estar” em nossos relacionamentos familiares e em nossas casas
enchendo-as de Sua Presença Misericordiosa. Portanto, não desistamos de nossas
famílias!
Os eventos que
fomentam a aproximação das pessoas precisam ser incentivados. Sejam nos Grupos
de Famílias ou nas festas comunitárias ou nos grandes Encontros dos
descendentes de uma ou outra Família! Contra o egoísmo, a proposta é abrir-se
para o outro. Contra o orgulho, a Misericórdia!
Pe. Auricélio Costa – Reitor do
Santuário de Albertina
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