08 de fevereiro de
2015. Durante a Missa, com permissão do presidente Pe. Pedro De Biase, Delegado
do Bispo, me dirigi à comunidade com as palavras abaixo.
Noite passada eu vim dormir em Vargem do Cedro. Do trajeto de
Tubarão, onde residem meus pais e familiares e onde me criei, até aqui, em
minha mente, foram passando muitas cenas de minha caminhada existencial e
vocacional. Recordei minha infância junto ao trilho da estrada de Ferro D.
Tereza Cristina e ao rio Tubarão. Naqueles tempos eu, meus irmãos, meus
familiares e amigos construímos inesquecíveis histórias e aventuras.
Nossos pais nos educaram nos valores cristãos e da vera
cidadania. Crescemos nos ambientes abençoados da nossa casa e da capela de
Santa Terezinha do Menino Jesus. Vendo o testemunho de nossos pais, lideranças
comprometidas na vida de fé de nossa comunidade, recebemos a maior herança que
eles poderiam nos legar: a fé em Jesus Cristo.
Foi neste ambiente que, ainda muito criança, descobri um
desejo em meu coração de servir a Deus como padre. Não me faltaram testemunhos
de homens santos e abnegados como o Pe. Érico (do Coração de Jesus), do Pe.
Claudino Biff, do Pe. Angelo Bússulo, do Pe. Silvestre Koepp, do Pe. Raimundo
Ghizoni, de D. Juventino Kestering, de D. Anselmo Pietrulla... e, nos últimos
anos, de nosso Pe. Pedro De Biase. O exemplo das religiosas do Coração de Jesus
e de inúmeros outros leigos e leigas marcaram minha vida de fé.
Assim, em 1977, aos onze anos de idade, ingressei no
Seminário de Tubarão. Aos 24 anos iniciei meus estudos de Teologia e, após dois
anos fazendo missões na África, fui ordenado presbítero na Catedral de Tubarão,
no abençoado dia 29 de julho de 1995. Naquele dia eu acolhi o dom de minha
vocação e prometi a D. Hilário Moser buscar me configurar a Jesus Cristo. Para
tanto escolhi o lema sacerdotal “Tu és o meu Pastor, nada me faltará”. Como
singelo carneirinho me coloquei nos braços do Bom Pastor para que Ele me
ensinasse a ser um bom pastor também.
Minha primeira destinação foi Imaruí, a “terra do Senhor dos
Passos, da Mãe Peregrina, de São João Batista e da Beata Albertina”. Por dez
anos aquele povo amado e religioso me ensinou a dar os primeiros passos como
padre; me impulsionou e me corrigiu. Amei e fui muito amado naquelas 39
comunidades. Ótimos padres caminharam ao meu lado naquela paróquia!
Depois, D. Jacinto me enviou para Jaguaruna, a “terra da
Senhora das Dores, das belas praias, do povo sereno e simples, e da festa do
Divino”. Também lá fui muito amado e amei o povo de Deus!
Passados dois anos apenas, a Igreja pediu que eu assumisse a
coordenação da Pastoral Vocacional, como Promotor Vocacional e fosse formador
dos futuros padres, junto com o Pe. Pedro De Biase e o Conselho de Formação.
Foram anos de dedicação integral, sem férias, 24 horas cada dia e o dia todo,
construindo homens e nos deixando construir também. Quantas histórias, quantas
aventuras, quanta lágrima e gargalhada e preocupação! Experiências assim eu as
vivi também com o Pe. Marcelo Buss, nosso atual reitor do Seminário diocesano.
Ser formador e promotor vocacional é viver sonhando sonhos de Deus para a Igreja,
para os jovens vocacionados... Mas é preciso aprender diariamente de Deus as
virtudes da paciência, da escuta, da interpretação dos sinais e da importância
da Via-crucis, sonhando com o Sol Pascal.
Mas o padre não se pertence; ele é do povo, é da Igreja, é de
Deus! “Onde você gostaria de trabalhar, Pe. Auricélio?”, perguntou-me D. João
Francisco. “Onde o senhor precisar de mim, Excelência!”, lhe respondi. Assim,
sem demora, porque já tinha decidido em seu coração, determinou: “Então, você
vai para Vargem do Cedro, e cuidará do Santuário de Albertina”.
Tenho rezado e pedido orações para esta minha nova missão.
Sei que não estou chegando como dono da paróquia, porque ela pertence à Deus e
ao povo que a constitui. Sei que nestes 115 anos de existência muita história
foi construída nestas comunidades. Sei que aqui viveram e por esta paróquia se
dedicaram muitos santos e abnegados padres, como o Pe. João Batista Steiner (o
primeiro Cura destas paragens), o Pe. Gabriel Lux (que construiu esta matriz),
o Pe. José Mühlhoff (que promoveu inúmeras vocações e a música)... e, nestes
nossos dias, entre tantos, o Pe. Renato José Rohr (que edificou o nosso museu e
impulsionou a gravação do lindo CD do nosso Coral), e o Pe. Sérgio Jeremias de
Souza.
Como não reconhecer toda a dedicação e inteligência deste
sacerdote diocesano na condução da vida eclesial nestes sete anos em que aqui
trabalhou?! Nós lhe somos imensamente gratos pelo esforço na Causa da Beata
Albertina. Nosso Santuário é uma beleza, é inequivocamente um dos mais lindos
pontos turísticos de nossa região, um marco no turismo religioso do sul do
Brasil. Infelizmente muitos irmãos na fé e certas autoridades civis ainda não
despertaram para o fenômeno que está acontecendo nesta paróquia de Vargem do
Cedro em torno da devoção à Bem-aventurada Albertina. E além desta cândida
flor, Deus colheu outro precioso dom destas nossas terras: o Servo de Deus Pe.
Aloisio Boing. Sim, estamos numa terra de “santos”: estes que mencionei e
tantos outros que só Deus conhece.
Amados irmãos e irmãs, vocês que constituem esta matriz, o
Santuário e a querida comunidade da Forquilha: estou chegando para amar muito;
para trabalhar e caminhar com vocês; para aprender a ser um homem e um cristão
melhor; para beber desta cultura germânica (no que ela tem de melhor). Mas sou
fraco e pecador. Na minha mochila eu trago muita vontade de servir e colaborar.
Tenho rezado por todos. Oro pelos irmãos dos municípios de
São Martinho e de Imaruí. Peço que rezem por mim também. Temos muitos desafios:
promover a cultura da Paz neste ano da Paz; promover todas as vocações,
especialmente aquelas de especial consagração, pois estamos no Ano da Vida
Consagrada; a caminhar mais unidos à nossa Diocese, com suas Prioridades e
Metas, neste ano em que celebramos os 60 anos de sua criação; a acolhermos o
desafio de sermos mais servidores, conforme nos inspirarão a Campanha da
Fraternidade e a Quaresma que já vão chegar.
Agradeço toda a dedicação das lideranças das três comunidades
nestes anos todos e das queridas Irmãs Franciscanas de São José que aqui vivem.
Obrigado! Deus sabe! Peço que continuem atuando em suas funções para o bem do
Reino de Deus. Vamos dialogar, caminhar juntos! A todos quantos se dedicaram em
preparar a minha chegada, e todos os que aqui se encontram (inclusive os que
vieram de outras paróquias, os amigos da Pastoral Vocacional, da Mãe Peregrina,
da Congregação Mariana, do Seminário, da minha terra da Passagem, os meus pai,
irmãos e familiares), muito, muito obrigado! Dankchen!
Para terminar, quero repetir aqui o gesto que fiz ontem à
noite, quando cheguei aqui em Vargem do Cedro (ao beijar este chão), em sinal
de respeito, de serviço e de minha pequenez diante de Deus!
Valha-nos as intercessões de São Sebastião, São Luís, da
Senhora de Fátima, da Beata Albertina e do SD Pe. Aloisio!
Rezem por mim, amados! Rezarei por vocês também! Dankchen!
Pe. Auricélio Costa.
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