SERMÃO DA PRIMEIRA MISSA EM CAPIVARI



21 de abril de 2013. 19:15h. Eis as palavras que dirigi ao neo-sacerdote Pe. Rodrigo José da Silva e à comunidade por ocasião de sua Primeira Missa em Capivari de Baixo (SC).
Amados irmãos e irmãs, é no Cristo Ressuscitado e Bom Pastor que hoje quero cumprimentá-los. Saúdo fraternalmente meus irmãos presbíteros (Pe. Adelino...), diácono Marcelo, seminaristas e demais vocacionados e vocacionadas, religiosas e todos os demais animadores vocacionais. Especialmente neste dia em que celebramos, também, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
            A emoção vivida com tanta intensidade lá em Imaruí na tarde de ontem, não é algo inusitado ocorrido em nossa vida, como se fosse uma surpresa do acaso. Ao contrário, esta Ordenação Presbiteral veio sendo preparada e acalentada no Coração de Jesus desde toda a eternidade. Pois Deus tem um propósito de amor para cada filho seu. E, cheio de amor, Ele plasmou o Rodrigo em seu coração e o plasmou com tanto carinho que lhe deu uma vocação tão especial. Ao falar assim, de modo algum penso em diminuir as demais vocações. Pois todas as vocações brotam do coração de Deus! Por outro lado, todos sabemos também o quanto a presença de um padre é especial em nossas vidas e em nossas comunidades!
Quero saudar com muito afeto o nosso Pe. Rodrigo. Como eu estou feliz e agradecido de poder chamar você, agora, de PADRE... Padre Rodrigo!
Permitam-me ler algumas frases de um livro que escrevi no qual conto a história de Imaruí. “Certa tarde de domingo, um grupo de senhores se refrescava à sombra de uma árvore no alto do Morro da Piteira (lá em Cangueri de Fora, onde o Pe. Rodrigo nasceu gente e cresceu cristão). Comentavam que o vigário (saudoso Pe. Dr. Itamar Luís da Costa) estava visitando a comunidade vizinha de Cangueri. Ali, naquela tarde, surgiu a idéia de construir uma igreja na vila, pois somente assim o vigário poderia vir ali também. Mas construir onde? Olharam ao seu redor (montanhas, floresta e a maravilhosa Lagoa de Imaruí) e viram que aquele morro era o melhor lugar. (...) Pouco tempo depois já construíram a bela capela de N. Sra. Mãe dos Homens.”
Irmãos e irmãs, aqueles homens nem sonharam com os dias lindos que estamos vivendo com esta Ordenação, mas eles já acalentavam dentro de si o mesmo desejo dos apóstolos Paulo e Barnabé, da Primeira Leitura de hoje: trazer Jesus mais presente na vida de todos. São Lucas, nos Atos dos Apóstolos, registrou que toda a cidade de Antioquia se reuniu na sinagoga para ouvir o Evangelho anunciado pelos apóstolos (At 13,44).
Queridos irmãos, os tempos passaram rapidamente, mas o ser humano continua sedento desta Água Viva que é Jesus!... deste Pão da Vida que é o Senhor! Na vida daqueles que buscam viver unidos a Jesus se cumpre a profecia que ouvíamos no texto do Apocalipse (a Segunda Leitura de hoje): “nunca mais terão fome nem sede... porque o Senhor-Cordeiro será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida; e enxugará as lágrimas de seus olhos” (Ap 7,16-17).
Caro Pe. Rodrigo, com a sensibilidade missionária que lhe é peculiar, você sabe como hoje multidões de pessoas continuam buscando um sentido para suas existências, para suas lutas e anseios. Povos inteiros ainda não conhecem o Senhor Jesus! Quantos jovens, até entre nossas comunidades, ainda não receberam devidamente o anúncio do Evangelho (o querigma). Gerações vêm se formando distantes da mensagem explícita de Jesus. Se os pais não são evangelizados, não optaram ser discípulos de Jesus, como evangelizarão seus filhos? Aqui volta aquela pergunta de São Paulo: “como acreditarão se ninguém lhes anunciar” que Jesus é o Bom Pastor?... que Ele é o Caminho a Verdade e a Vida?
Vivemos tempos muito exigentes em nossa Igreja, Pe. Rodrigo. Talvez estejamos gastando muito tempo e muita energia e muitos bens em tarefas pouco produtivas. Bento XVI com os Bispos em Aparecida nos ajudou a entender que é necessário buscar o essencial de nossa fé – isto é: a pessoa de Jesus – para sermos discípulos-missionários. O Papa Francisco tem continuamente falado e, através de seus gestos, (até) gritado para que nós cristãos busquemos a centralidade de Cristo em nossa vida, em nossas comunidades.
Onde estão os pastores que, à semelhança de Cristo, são capazes de dar a própria vida por amor às ovelhas? Lobos ferozes se lançam sobre o rebanho de Jesus, devoram ovelhas mais fracas, dispersam aquelas que se afastam do rebanho, enchem os corações delas de medo, pavor e ideologias vãs. Todavia, caro Pe. Rodrigo (e amados irmãos), o rebanho não está perdido. Há um Pastor que está disposto a enfrentar qualquer lobo para defender a sua grei: é Jesus! É Ele, Pe. Rodrigo, o Modelo ideal e definitivo de Pastor, de Presbítero!... pois Ele é o Sumo-Sacerdote! Nós padres somos apenas “sombra” d’Ele. Contudo, apesar de sermos humanos e fadados aos erros e aos pecados, Ele nos coloca no meio do Seu rebanho como “luz para as nações”; para que levemos “a Salvação aos confins da Terra” (como ouvimos hoje) (At 13,47).
Ah, querido Pe. Rodrigo, como eu gostaria que os jovens olhassem para o seu exemplo e se encorajassem em servir a Jesus! E como seria maravilhoso se o Senhor Deus despertasse aqui muitas vocações sacerdotais e religiosas! Sim, talvez aqui, nesta noite (e eu rezo do fundo do meu coração), algum jovem aqui vai sentir o seu coração arder e desejar ser padre ou religiosa!
Querido Pe. Rodrigo, posso testemunhar que o meu coração está profundamente grato a Deus por ter lhe chamado para o sacerdócio. Ainda recordo aquela manhã (sábado, talvez) lá na Casa Paroquial de Imaruí, quando o seu saudoso pai, o seu Zé Siáco, acompanhado de você, me indagou com aquela voz forte e sonora: “Padre, este rapaz aqui está dizendo que quer ser padre. Lá no Seminário tem campo de futebol?”. Envergonhado, você abaixou a cabeça, aguardando minha resposta e já antevendo que teria que escalar uma pedreira pela frente. E eu respondi que “sim, e até mais de um campo para jogar bola”. Espirituoso, mas sentindo aquela emoção que sentem os pais quando devem decidir deixar um filho entrar no Seminário ou não, me disse logo: “Ah, então ele vai gostar, pois é louco por futebol”. E você ingressou no Seminário, em Tubarão.
Foi uma caminhada longa!... Doze anos, Pe. Rodrigo! Na verdade, na escola de Jesus e Maria a gente nunca está devidamente formado! O seu jeito espontâneo de ser lhe ajudou a fazer muitos amigos, a ser uma referência de alegria para todos. E, é claro, no Seminário você também pôde jogar muito futebol. Mas foi exatamente numa partida de futebol que você começou a participar mais diretamente da cruz de Cristo. Ao se contundir gravemente e contrair uma rara bactéria hospitalar, quando os médicos já falavam da necessidade de amputar sua perna, foi por um milagre alcançado pela Beata Albertina que não aconteceu um desfecho mais triste. Meses no hospital, dor e desespero (também solidariedade, fé e capacidade de superação)... e você foi aprendendo a ficar mais forte para as outras adversidades que viriam bater em sua porta.
Não foi fácil a sua caminhada vocacional. Nosso povo de Imaruí e o povo de Deus de todo lugar lhe sustentavam na vocação. O seu sorriso sempre presente iluminava seu rosto e nos fazia crer naquilo que estava mais profundamente guardado em seu coração. No final da caminhada formativa, como se fosse numa corrida rústica, o Senhor Deus lhe reservou subir uma ladeira morro acima: doença na família! Mas você já não era o moleque que outrora havia me visitado na Casa paroquial em Imaruí. Você já era um jovem maduro, decidido a servir o Reino de Deus. Meses de hospital cuidando do pai, da mãe, da irmã (que também já mora no Céu). Como você é forte, meu irmão! Olhe que você me disse tantas vezes: “padre, eu sou fraco, nem tenho jeito pra isso”.
Depois de tantas lutas, conhecedor de sua realidade humana, calejado com os solavancos da caminhada, mas sempre com um sorriso contagiante no rosto, você e o Marcelo foram ordenados Diáconos lá na querida Jaguaruna. Deus permitiu que seus pais, o seu Zé Ciáco e a D. Ni, se rejubilassem de alegria naquela tarde de domingo.
Mas, depois, sem que a gente pudesse acreditar, Deus providenciou que o seu amado pai fosse contemplar do Céu o que ele tanto ajudou a construir: um homem de Deus no altar! O moleque que adorava futebol agora é um “louco por Jesus Cristo” (como você disse nestes dias)! “Louco por Jesus Cristo!”. E esta “loucura” que brota de uma fé viva e de uma generosidade gigante de coração é que faz você querer ser um verdadeiro PASTOR, como Jesus “o Bom Pastor”. 
Pe. Rodrigo este povo todo quer ser amado!... e deseja amá-lo muito! Prossiga confiando em Deus que lhe vocacionou. Ele “estendeu a Sua mão e lhe tocou na boca” (Jr 1,9). Ele está colocando em sua boca de presbítero, Pe. Rodrigo, as Palavras da Vida! Anuncie-as, em todo lugar onde a Igreja lhe enviar. Continue a sorrir; continue a nos amar! Fale dos segredos e dos sonhos de Deus pra nós!
Rejubilem Olaria e Prainha; Vila Rica e Vila Mineira! Rejubilem Praia Vermelha e Vargem; Toca da Lontra e Morro da Ponta! Rejubile Cangueri de Fora!... Imaruí e Capivari também! Rejubile Igreja do Senhor, pois Jesus nos envia mais um bom pastor! Seja feliz, meu querido! Deus lhe abençoe, Pe. Rodrigo!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!                            

 (Pe. Auricélio Costa)

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