ARTIGOS









O QUE CARREGAR NA MOCHILA


Havia um movimento inusitado na rua onde moro. Os cachorros latiam. Da varanda de casa percebi que um pelotão de soldados passava por ali. Tinham deixado o quartel ali perto. Eles não olhavam para os lados. Estavam focados em permanecer unidos à tropa.
O típico som dos coturnos socando os paralelepípedos marcava o ritmo da marcha. Percebi que todos carregavam às costas mochila, cantil e cobertor... e tinham seus rostos pintados com tinta escura.
Certamente aqueles jovens soldados estavam realizando mais uma de suas incursões nas matas para aprenderem técnicas de sobrevivência e de defesa em caso de eventuais necessidades.  Observei em respeitoso silêncio aquele desfile. E pus-me a refletir.
O que mais me chamou a atenção foi a mochila que carregavam. É provável que ali devesse estar tudo o que poderiam precisar. Eu achei que era tão pouca coisa. Então, me questionei sobre as mochilas que costumamos carregar ao longo de nossa caminhada. E percebi quanta coisa supérflua vamos guardando e arrastando conosco ao longo da vida
Às vezes, realmente, torna-se um verdadeiro desafio o simples fato de arrumar as bolsas ou malas para um passeio ou viagem de poucos dias! Vivemos tão presos às nossas coisinhas que acabamos nos tornando dependentes disto ou daquilo. Na lista de prioridades elencamos: nossos bens materiais, animais de estimação, grupinhos de amigos virtuais, nossos vícios... até mesmo o nosso travesseiro!
Mas, o que trazemos dentro de nossas mochilas? Muitas vezes elas podem estar repletas de nossas escravidões pessoais. E passamos uma vida toda carregando mágoas, remorsos, pesares, sonhos não realizados, amores não vividos, amizades não cultivadas, perdões não consentidos, gratidão nunca manifestada...
Todo ano, na época do Natal, celebramos a vinda de Jesus até nós. Ele veio com total desprendimento. Sendo Deus (e não deixando de sua condição divina), nasceu numa manjedoura, cresceu numa aldeia simples no interior do país, aprendeu uma profissão, trabalhou para manter a sua casa e viveu inserido na realidade social e de fé de sua gente.
Em sua simplicidade, não exigiu ser tratado como Rei do Céu; ao contrário, revelou que o seu Reino já estava presente no meio do povo. E que se tornava visível e sensível a cada gesto de amor, de justiça, de acolhimento... e de conversão!
Jesus não portava mochila às costas. Todavia, não é difícil de imaginarmos que tudo o que Ele necessitava estava ali dentro do seu coração: o amor do Pai!
Seus discípulos aprenderam isso d’Ele e diziam: “dize uma palavra, Senhor, e eu serei salvo” (Mt 8,8). Aquela hemorroíssa do Evangelho percebeu isso e dizia consigo: “se eu tocar ao menos a barra de sua túnica...” (Mc 5,28). São Paulo, em meio às suas lutas internas, sentiu o Senhor lhe dizer: “para ti, basta-te a minha Graça” (2Cor 12,9). Santa Terezinha rezava: “É a tua face que eu procuro; mostra-me a tua face, Senhor, e isto me basta!”  
Ao longo da vida, nós vamos acumulando uma série de coisas que não nos permitem caminhar com desenvoltura e sermos felizes. Ter um coração desapegado é virtude. Saber dar o devido valor aos bens materiais também. É necessário termos bom senso diante dos dons que devemos guardar dentro da nossa mochila. Existem muitas coisas, de fato, que são importantes. Mas, será que são essenciais?
A cada final de ano e início de ano novo costumamos fazer uma arrumação nas nossas coisas, na nossa casa... e na nossa mochila. O sábio é aquele que sabe tirar de dentro do seu baú coisas “novas” e coisas “velhas” (Mt 13,52). Tudo, certamente, tem o seu valor. Mas, o que temos carregado sobre nossos ombros? O que ainda precisamos tirar de dentro de nosso coração? Quais “coisas” podem nos tornar pessoas melhores e mais santas?
Na estrada, os soldados marchavam focados, com o mesmo objetivo, e no mesmo ritmo. Suas expressões faciais revelavam sua determinação. Nem os latidos dos cães lhes desviavam a atenção do caminho.
Isso me fez lembrar Jesus caminhando na direção de Jerusalém. Ele sabia que o Calvário de cruz O aguardava. No entanto, Ele estava decidido a redimir a humanidade pelo seu santo martírio (Cf. Lc 9,51).
Que o Senhor nos auxilie a caminharmos sempre com decisão e, na mochila do coração, levarmos somente aquilo que é, realmente, essencial: o Amor!

Pe. Auricélio



MARCADOS PARA VIVER


Sempre foi bom caminhar sob as copas das árvores que adornam as margens do Rio Tubarão. Carregando sua história e a história de toda uma população que o ama, o rio vai descendo das montanhas da Serra Geral e se realiza ao abraçar o mar, depois de desembocar no Balneário Camacho e na Lagoa Santo Antônio.
Noutro dia, passando pela marginal do rio, percebi que algumas árvores estavam marcadas com tinta branca. Alguém desenhou um X nelas. Havia algo de macabro naquele sinal, pois, ele indicava que aquelas árvores, nossas companheiras e testemunhas, estavam condenadas à morte. Elas deveriam ser extirpadas para não colocar em risco a vida dos transeuntes.
Muitas vozes se levantaram para impedir o sacrifício das pobrezinhas, mas as autoridades já tinham decidido o destino de dezenas de árvores.
Acabei de plantar duas mudas de pau-brasil na Praça da Matriz. Mas ainda trago aqueles X gravados na minha mente.
Um dia Javé-Deus decidiu colocar uma marca na testa de Caim. Deus o repreendera por causa do assassinato de seu irmão Abel. Mas, para que não fosse molestado por outras pessoas, o tal sinal na fronte impediria que sofresse alguma brutalidade. Portanto, aquele era um sinal de proteção.
Muito se especulou sobre o que seria mesmo esta marca: um chifre? ...uma inscrição acusatória? ...uma coloração de pele diferente dos demais? ...uma certa luz?... Não faz muita diferença. O fato é que todos na família de Adão e Eva traziam a marca de serem filhos de Deus: viviam em plena harmonia. Depois do seu triste ato fratricida, Caim ainda continuou marcado (Cf. Gn 4,8-15).
Há um midrash (jeito dos antigos judeus interpretarem os fatos bíblicos) em que Deus teria dito a Caim: “Vou protegê-lo, colocarei em sua testa O Meu Nome. Quando os animais o virem, ficarão com medo e não o atacarão.” Para mim, aqui se evidencia a Misericórdia de Deus, que não abandona um filho que cometeu um erro tão grave. Deus não lhe dá a pena de morte; nem, tampouco, um castigo de exclusão eterna. Deus dá a Caim a oportunidade de ser um sinal de que longe de Deus a morte é certa; ele poderá andar pelo mundo e construir sua história.
Na Sagrada Escritura o termo “sinal” (‘oth) aparece 79 vezes. No caso de Caim, ele pode não ter sido “colocado” na fronte, mas, sim, “mostrado, revelado”.
Abraão Ibn Ezra (ou simplesmente Aben Ezra) foi um escritor e rabino judeu-espanhol da Idade Média, nascido em Navarra no ano de 1089. Segundo ele, “Deus operou um sinal diante de Caim para lhe demonstrar que a Palavra do Senhor se cumpriria e que ele poderia confiar em Deus”.
No Livro do Êxodo também encontramos Moisés descendo da montanha. Ele estava tão reluzente que as pessoas viram sua face brilhar. Alguns interpretaram o sinal do encontro com Deus como um “chifre de luz” (Ex 34,29). Moisés estava marcado por Deus! Deus é esplendor!
No Livro do Gênesis encontramos outro amigo de Deus, o Noé. Também este recebeu um sinal especial da fidelidade de Deus: o arco-íris no céu. Representava a fidelidade de Deus no cumprimento da promessa ao seu povo (Cf. Gn 9,12ss). Aqui encontramos, ainda, outro sinal importante: a circuncisão. “Serão circuncidados na carne; terão que fazer essa marca, que será o sinal da aliança entre Mim e vocês” (Gn 17,9-13).
No Novo Testamento Jesus é apresentado como um “sinal de contradição”. No episódio da Apresentação de Jesus no Templo, o profeta Simeão acolheu a sagrada família de Nazaré. E disse a Maria: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel; Ele será um sinal de contradição” (Cf. Lc 2,22-40).
O próprio Jesus irá confirmar a profecia: “... a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3,19). E São João conclui: “estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu; veio para o que era seu, e os seus não O receberam” (Jo 1,10-11).
Sabemos, pelo Evangelho, que Jesus não moldou sua vida de acordo com os seus interesses pessoais; nem buscou atender aos gostos das multidões, às indicações dos líderes ou às exigências da moda da época. Aliás, Ele nunca se preocupou em resguardar-Se, em não escandalizar, nem em correr o risco de perder seguidores. Chegou a questionar seus Apóstolos: “vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67). O que Ele pretendia era oferecer aos homens a Verdade... que era Ele mesmo: “e a Verdade vos libertará” (Jo 8,32).
Hoje, em nossa sociedade, Jesus ainda continua sendo um Sinal de contradição no meio de nós. Ele permanece vivo conosco, mas incompreendido em seu agir, no seu silêncio e contradizendo a lei dos homens.
No Batismo, o cristão recebeu uma marca ou caráter indelével, isto é, que nunca mais será retirado. E pelo Sacramento da Crisma ele foi confirmado na fé. Tal marca é um sinal de pertença a Cristo. Sim, pertencemos a Ele e fomos comprados por um preço altíssimo: o sangue de Cristo! “Porquanto, estais cientes de que não foi mediante valores perecíveis como a prata e o ouro que fostes resgatados do vosso modo de vida vazio e sem sentido, legado por vossos antepassados; mas fostes resgatados pelo precioso sangue de Cristo...” (1Pd 1,18-19).
São Paulo dizia: “que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17). E acrescentava: “as marcas de um Apóstolo são paciência à toda prova, sinais, milagres e prodígios” (2Cor 12,12). E, se a cruz nos parecer muito pesada, podemos dizer como o Apóstolo dos gentios: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).
Em meio às adversidades da atual sociedade, é preciso cada vez mais que o cristão se sinta “marcado”, “selado” e “ungido” para continuar a mesma missão de Jesus. A marca da Cruz do Senhor não é mais sinal de desgraça, nem tampouco de vergonha. É sinal de Salvação! Mas ela precisa ser acompanhada de nossos gestos e atitudes de crentes fiéis.
Viver como quem foi marcado por Deus é sempre um desafio diário. No Apocalipse de São João encontramos um alento para não desanimarmos: o Anjo que vinha do Oriente gritou aos outros Anjos: “não danifiquem nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até que marquemos as frontes dos servos do nosso Deus”. O texto continua: “então ouvi o número dos que foram selados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel” (Ap 7,3-4). E nós fazemos parte deste novo povo de Israel, resgatado pelo Cordeiro Jesus!
Todos os dias, ao nos levantarmos e ao nos deitarmos, costumamos fazer o sinal da cruz (persignar-nos). Talvez repitamos o gesto outras vezes ao longo do dia. É a marca da nossa Salvação! E a nossa vida diária, no compromisso comunitário ou no envolvimento social, deve revelar essa nossa pertença total a Jesus Cristo e nossa adesão ao seu Evangelho.
Hoje voltei a caminhar nas margens do Tubarão. O belo rio ainda está lá. Capivaras voltaram a povoar os barrancos da beira-rio. Muitas daquelas árvores enormes e antigas já não estão mais lá. Foram cortadas. Mas outras árvores estão crescendo. Oxalá consigam amadurecer e realizar sua missão, crescendo, florescendo, enfeitando, frutificando... Não trazem o X da morte. Mas as ameaças estão sempre a rondá-las...

Pe. Auricélio – 16/10/19




OS CÃES, O HOMEM, OS SONHOS E A NOTÍCIA

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Os cães aqui de casa começaram a latir. Os dos vizinhos também. Logo ouvi a voz de alguém que passava na estrada cantando “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Eu reconheci esta canção que embalou meus sonhos de jovem universitário. Era Raul Seixas que vinha à minha mente com suas propostas de “Sociedade Alternativa”.
Então, corri até a janela e vi o homem que passava: de altura mediana, pele clara, cabelos escuros e longos, calça cinza e blusão preto... carregava nas costas um saco com produtos recicláveis, que provavelmente achara nos lixeiros colocados diante das residências... e vociferava: “seus covardes... seus m*... vocês são todos uns covardes...” E os cachorros ladravam alvoroçados.
Prestei atenção naquela cena. Eu não sei quais as bandeiras que aquele cidadão defendia e nem contra quem ele estava vociferando. Tampouco sei o porquê de sua revolta, mas percebi que era um homem livre... livre para gritar sua indignação!

Todos nós, nas várias fases da vida, alimentamos um ou outro sonho. Com o tempo, vamos nos conformando com o status quo e nos adequando aos padrões sociais. E a vida se vai revelando do jeito como é: uma sucessão de escolhas realizadas dentro de certo espaço de tempo. Nossas escolhas podem nos fazer pessoas mais realizadas ou eternamente insatisfeitas.
Mas, segundo a Antropologia Teológica, o homem foi criado por um Deus amoroso com a missão, justamente, de amar. Então, o sonho mais profundo do ser humano e ser amado, acolhido, aceito, integrado no meio social...
Aqueles primeiros sonhos que sonhamos, não são de todo tolos e inocentes. Eles revelam muito de nosso interior. Eles têm grande importância porque nos ajudam a colocarmos metas (focos) para nossas escolhas. “É preciso sonhar para não enlouquecer”, dizia alguém.
Mesmo que o tempo vá passando, não podemos deixar de vislumbrar aquilo que é a nossa essência. Crianças sonham. Jovens, adultos e idosos também. Os sonhos nos mantêm vivos e não nos deixam cair no desânimo (sentir-se “sem alma”) e nem na monotonia (perceber a vida com uma “cor única”). Então, quais sonhos têm alimentado a nossa vida?
Quando se deixa de contemplar o futuro com otimismo, vem o comodismo, que pode levar à tristeza interior. A fé, que nos leva à oração e à prática do bem, sempre é o remédio para a saúde da alma!
Na vida, vamos passando por muitas transformações, isto é, “metamorfoses”. Não apenas fisicamente vamos mudando, mas, também, na nossa compreensão da vida e da nossa missão neste mundo.
Filhos e filhas de Deus (que é o Imutável), devemos pedir a Graça de mudarmos sempre para melhor. Isto é, para sermos mais amorosos, mais justos, mais sinceros, mais solidários, mais comprometidos com o Reino de Deus... e, enfim, mais Santos! Sim, a santidade deve ser um dos nossos sonhos... o mais essencial! Pois estamos caminhando em direção ao Céu, onde nos lançaremos no seio divinal do Pai.
O Papa Francisco falou que é hora de promovermos a “cultura do Encontro”. Pois o nosso mundo vive um período de profundas mudanças e fechamentos. É urgente fomentar sonhos e ações que aproximem as pessoas umas das outras. Afinal, o outro não é meu inimigo, mas companheiro. Certamente também tem seus sonhos! Podemos sonhar juntos!...
Lembro-me daquele homem que foi passando ali na rua. Não imagino o que ele trazia em seu coração e nem quais os sonhos dele. Mas, com seu canto, seus gritos e seu jeitão, ele comunicava suas verdades.
Ele me fez pensar naquelas palavras de Jesus: “O que vos é dito ao ouvido, proclamai-o de cima dos telhados” (Mt 10,27). Há uma Boa Notícia que precisa ser comunicada, cantada, proclamada! Até nas “ilhas distantes e povos longínquos” (Is 49,1) e “nos confins da terra” (At 1,8).
Na parábola do Banquete do Reino, o Rei diz: “Saiam pelas estradas e atalhos e obriguem as pessoas a virem aqui... para que a minha casa fique cheia” (Lc 14,21). A doce obrigação é fruto da “revolução da ternura”, pois Deus quer “cuidar” de cada um de nós.  Quando nos afastamos dos sonhos de Deus e de nossos sonhos mais profundos, nos desfiguramos. Por isso, Jesus exortou: “olhai os lírios do campo...” (Mt 6,28).
Os cachorros se acalmaram. Mas há muitos movimentos dentro de mim: o que fiz de meus sonhos e dos sonhos de Deus para mim?


Pe. Auricélio Costa – Setembro/2019




AS PERDAS DE NOSSAS VIDAS

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Ainda havia pequenas poças de sangue no asfalto quando lá passei. Eu era criança de 10 anos de idade, mas jamais esqueci daquela cena. E me vem à mente até hoje, quase todas as vezes que passo naquele lugar. Ali tombou o seu Raimundo Vargas, atropelado por um automóvel, por volta do meio-dia. Era nosso parente e pai de vários filhos, alguns de nossa idade. Ficamos muito tristes com o ocorrido, solidários com a Mara, a Nanci e o Nevinho.
O luto nunca nos cai bem, mas é necessário. É uma experiência existencial e muito comum. Ajuda-nos a reorganizar nossos sentimentos, afetos, atividades e relacionamentos após perdas marcantes.
Lembro que nunca gostei de ir a velórios, embora, de longe, ficava espreitando o que acontecia, com certa curiosidade pueril. Ainda era muito novinho, talvez lá pelos 5 anos de idade, quando fui acompanhar meus pai no velório de uma adolescente morta alí próximo de casa, visinha do Quartel do Exército, na beira do trilho. Havia pessoas sentadas ao longo da via férrea, conversando; outras mais ali adiante, em pé, no pasto. O terreno onde estava a casa da família enlutada ficou tomado de pessoas. De longe eu vi o caixão branco, com uma espécie de tule a recobrir o corpo. Não me aproximei. Minha mãe me disse que se eu colocasse a mão na falecida, eu perderia o medo. Não arrisquei. E havia quem ensinasse que a solução poderia ser beijar os pés da defunta! Gelei.
Quando o seu Raimundo estava sendo velado, à noite, em sua residência, na beira do Rio Tubarão, vi meus pais pegarem seus terços para fazerem as orações legionárias com a família enlutada. Minha mãe havia dito que, para perder o medo de defunto, bastaria que o rosário tocasse os pés do defunto. Nos dias que se seguiram, nunca toquei e sequer me aproximei dos rosários de meus pais. A morte será sempre um mistério. E não há beleza alguma em cadáveres e nem glamour em velórios.
(Pe. Auricélio, 02/05/19)




SAUDADES, SOMENTE DO QUE É BOM


Tenho escutado muita gente dizer que sente saudades... que “naqueles tempos” é que era bom de se viver. Bem, saudades só se sente daquilo que foi bom. Ninguém sente saudade daquela topada, ou daquela dor de dente! Eu também sinto saudades! 

E não sou um saudosista, que está preso ao passado e desconectado com o mundo presente. Eu não sinto saudades daquele dia que meu irmão mais novo se acidentou gravemente no parquinho do Jardim de Infância. E nem de ver minha cidade tomada pelas águas de março de 1974. Nem sinto saudade daquelas tardes sombrias quando sepultamos pessoas queridas. 

Mas eu sinto saudades das brincadeiras de Zorro e futebol no campinho com os primos. E de quando o pai nos levava pra tomarmos banho no Rio Tubarão. Sinto o aroma do bolo de milho enrolada na folha de bananeira que a mãe assava no fogão à lenha.

Mas compreendo que haja pessoas que ficam reclamando do passado ou até desconsiderando a história que já viveu. Negar os anos vividos é um grande prejuízo para se ter a noção exata do valor do presente. 

Nossos fundamentos estão no passado. E pra ser bem sincero, deveríamos, inclusive, valorizar mais nossos antepassados, mesmo aqueles que não conhecemos pessoalmente. Somos homens constituídos por passado, presente e possibilidade de futuro.

Eu recordo com carinho das nossas antigas festas da padroeira do bairro; e das celebrações ricas em símbolos do dia-a-dia trazidos durante a Apresentação das Oferendas; e de cantar junto com a comunidade “O sol se põe”. Lá estão os fundamentos do meu ser e os de minha comunidade. Mas isso não significa que não vivo intensamente os festejos de nossos dias, e nem que eu não aprecie as músicas que hoje animam nossas celebrações.
O Espírito Santo faz novas todas as coisas.

Papa Francisco: valor da tradição, mas olhar e encarar os desafios atuais e projetar o futuro.

Perceber Deus presente nas ações da Igreja hoje.
Ser sinais de esperança, de amor, de misericórdia!...


(Pe. Auricélio, 30/04/19)




CHAMADOS A ESCREVER PÁGINAS DE AMOR


A multidão acorreu a uma secção do Shopping Center mais famoso da cidade. Ali aconteceria a aguardada sessão de lançamento do mais novo livro de certo escritor, muito badalado nas rodas sociais. O título do livro: PÁGINAS ABERTAS.

Uma legião de fãs e profissionais da imprensa estava presente. Muitos curiosos também. Para surpresa de todos os que adquiriram o livro, não havia sequer uma frase escrita em suas alvas páginas. Inacreditavelmente, todas elas estavam em branco!

Imediata e impulsivamente, algumas pessoas passaram a reclamar que seus livros estavam com defeito. E que isso não devia ter acontecido. Houve quem filmou a reação dos participantes e postou na internet a sua indignação. E, por sua vez, muitos internautas compartilharam e criaram posts de repúdio e até difamando os organizadores do evento. Alguém quis apelar para o Diretor do Shopping; e outro ligou para o pessoal do PROCON. Houve, ainda, quem em meio aquela balbúrdia, silenciosamente tentava compreender a situação. Um fã aproveitou a muvuca para pedir autógrafo.

O escritor, calado, acompanhava as reações do público. Por fim, pediu a palavra e explicou que não havia erro algum. E que, propositalmente, a obra não continha nada escrito.

Ao ouvirem essas palavras, uns se revoltaram e até exigiram seu dinheiro de volta, acusando-o de charlatão. Mas, diversamente destes, outros leitores começaram a aplaudir o autor... e isso durou alguns minutos. Aos poucos, mais pessoas foram tendo a mesma atitude, percebendo a profundidade da mensagem.

Então, alguns passaram a comentar que se tratava, de fato, de uma obra magnífica. E que a ousadia do autor permitiria aos “leitores” se aventurarem por caminhos profundos dentro de si mesmos; e que ele tinha sido muito sábio e original ao propor uma reflexão a partir daquelas páginas em branco...

Então, os jornalistas começaram a disputar entrevistas com o famoso escritor. Houve até quem sugeriu que ele devesse receber prêmios literários!... O escritor, no entanto, limitou-se a sorrir, serenamente. Por fim, disse: “agora é com vocês”!

Nossa vida é um dom precioso. Desde sempre, Deus pensou em nós e sonhou sonhos de felicidade para cada ser humano. E nos consagrou como seus filhos amados. O profeta Jeremias recebeu esta revelação de Deus: “Antes mesmo de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que viesses ao mundo, Eu te separei e te designei para a missão de profeta para as nações!” (Jer 1,15).

Também Isaías recebeu igual vocação: “Javé-Deus pronunciou o meu nome; Ele que me formou desde o ventre como seu servo, para que torne a reunir Israel a Ele! Meu Deus é a minha força.” (Is 49,1-5). E Deus lhe disse ainda mais: “Isso é muito pouco. Além de servo, farei de ti LUZ para as nações, para que a minha salvação chegue aos confins da terra” (v.06).

Ao longo de nossa jornada, vamos construindo histórias e vivências. Em outras palavras, vamos escrevendo páginas do livro de nossa vida. É verdade que podemos preencher muitas páginas com histórias de dramas, tragédias, dores, murmurações, remorsos, sentimentos de vingança e de autodestruição, de revolta até com o próprio Deus ou com a Sua Igreja. Porém, não há como deixar de registrar os momentos de superação, as histórias de abnegação, amor ágape, de solidariedade e de afeto sincero. Quantas histórias de fé poderíamos narrar?

É pura gratuidade de Deus que estejamos aqui. Como atestou São Paulo: “Deus me separou desde o ventre de minha mãe e me chamou por Sua graça” (Gál 1,15). E ainda: “Eu, Paulo, chamado para ser Apóstolo, separado para o Evangelho de Deus” (Rm 1,1). O próprio Senhor explicou para Ananias: “Paulo é, para Mim, um instrumento escolhido” (Atos 9,15).

É com esta consciência de vocacionados de Cristo que somos enviados à messe. Há um mundo inteiro que precisa conhecer Jesus e sua Mensagem. Os desafios são inúmeros; e, às vezes, parecem intransponíveis. Contudo, é preciso redescobrir-se AMADO, CHAMADO, VOCACIONADO e ENVIADO como MISSIONÁRIO! Afinal de contas, “Aquele que nos chamou é Fiel” (1Tes 5,4). E “mantém a Aliança e o Amor por mil gerações, em favor dos que O amam e observam Seus Mandamentos” (Dt 7,9).

Retomando aquela metáfora inicial, a nossa vida é como um livro de um Autor famoso que, por tanto nos amar, nos permite escrevermos nossas próprias histórias. Não deixemos páginas “em branco”. Não vivamos em vão! Deus tem um propósito de Amor para todos nós! Este Autor merece os nossos aplausos! E, lá no Céu, quando chegarmos, os Anjos farão festa conosco, porque nossos nomes estarão escritos no Livro da Vida (Lc 10,20)!


Pe. Auricélio




AS CRIANÇAS AINDA BRINCAM
ONDE ALBERTINA BRINCOU


Há um belo jardim ao lado da casa dos Berkenbrock Rosa. Ali reside o casal Antônio e Delza. Hoje, além das filhas e de amigos, também os netos vieram tomar o café da tarde, depois da visita à avô que está enferma. Até o Vigário passou por ali.
No gramado, após o lanche, as crianças brincavam de bola e de correr! A atual residência foi construída sobre o terreno que abrigava a casa onde Henrique e Josephina criaram seus filhos. Dentre eles, a querida Albertina Berkenbrock!
Ali, onde está o gramado, era o quintal em que Albertina se divertia com seus irmãozinhos e os dois meninos do empregado da família, o Maneco Palhoça. Como naquela tarde de quinze de junho de 1931. Tinha passado das 15h quando ela saiu à procura do boi Pintado, à pedido de sua mãe. Depois de perceber que o animal não estava nas proximidades da casa, decidiu procurá-lo no morro, nos fundos da propriedade. Lá encontrou o Maneco trabalhando na roça. O homem se ofereceu para acompanhar a moça na procura pelo Pintado lá no grotão.
Foi naquele lugar ermo que ele tentou violentá-la e a degolou, pois ela, por princípios religiosos, não se entregou aos caprichos do insano. E lhe disse: “Não! É pecado! Deus não quer!”.
A vida vai passando. O tempo não para! As nossas histórias vão sendo construídas sobre o mesmo chão onde tantas outras vidas se desenvolveram. Todavia, não somos pessoas desconectadas com aquilo que as gerações passadas viveram. Pois trazemos em nós um pouco de tudo o que eles foram e vivenciaram.
Nossa carga hereditária ultrapassa as questões meramente genéticas e biológicas. Recebemos informações, experiências, vivências e saberes daqueles que nos antecederam. Portanto, há uma certa “ponte” que nos mantém unidos ao passado. E seria um ledo engano querer começar tudo a partir do “zero”. Pois, nós não somos a primeira criatura a pisar neste planeta e nem somos o Adão da pós-modernidade.
Países desenvolvidos – como o Japão, China, Espanha, Itália, Alemanha... – sabem manter um equilíbrio entre o antigo e o moderno. Essa sabedoria lhes permite manterem-se arraigados às vivências de seus antepassados, sem que deixem de deslumbrar o porvir. Desta forma, o amor e respeito às tradições lhes dá grande saúde mental, psicológica e social.
Dentre nós, vez por outra, surgem movimentos sociais e eclesiais de “retorno”. É importante “voltar às fontes” ou “retornar ao primeiro amor”. Em Apocalipse 2,3-4, o Senhor fala à Igreja de Éfeso: “Você é perseverante. Sofreu por causa do meu nome e não desanimou. Mas há uma coisa que Eu reprovo: você abandonou seu primeiro amor”.
Olhar com gratidão aqueles que construíram os primórdios de nossas nações e cidades pode nos tornar mais comprometidos a fazermos a nossa parte, hoje, para que o processo de crescimento não se degenere.
Museus e monumentos históricos têm um importante papel pedagógico. Não são coisas simplesmente obsoletas e ultrapassadas. Na dimensão religiosa é importante retornar às fontes bíblicas e apostólicas, visando sempre querer acertar os passos que precisam ser dados nestes nossos novos e tão exigentes tempos.
É sábio quem sabe respeitar a sua história e a história de sua família e de sua nação. Isso dá solidez e embasamento para uma autêntica visão de mundo e tomadas de decisões mais coerentes e frutuosas. Não precisa ser antiquado, nem retrógrado e, tampouco, negar os valores do presente. E nem se pode ser anacrônico, avaliando com critérios atuais os fatos do passado. Porque sempre é tempo de aprender!
Enquanto estamos neste mundo, há uma missão a ser cumprida por cada pessoa. Não estamos aqui sem propósitos. Deus, que é o Senhor de tudo, pensou em cada um de nós... e “desde toda a eternidade”! Eis a nossa vez! Eis o nosso tempo! É hora de fazermos todos os esforços para ajudarmos o mundo a ser um lugar bom de se viver, a progredir em todas as dimensões: humana, social, afetiva, espiritual...
Afinal de contas, qual o legado que deixaremos para as futuras gerações? Em quais aspectos podemos contribuir para que elas sejam mais felizes e plenas?
Ainda agora, as crianças estão brincando lá no gramado da casa dos avós. Elas ainda não compreendem que ali, naquele chão, também brincou uma santa. E que, talvez, daqui alguns anos, os descendentes deles também poderão estar se divertindo sob o sol da tarde, correndo pelo gramado verdejante.
Albertina não morreu, apesar de ter sido martirizada lá nos idos de 1931. Ela continua “viva” nas pessoas que buscam seguir seu exemplo de fé, caridade, dedicação, obediência... Bastaram-lhe apenas doze anos de vida para que ela pudesse viver intensamente o amor a Deus, à Igreja e às pessoas!
Brinquem crianças! Na casa dos avós é bom brincar! O tempo está passando... e logo irá anoitecer.


Pe. Auricélio – 05/07/2019




IARA – UMA EXPERIÊNCIA DE FRATERNIDADE

Não houve ninguém em toda a região que não ficasse sabendo do desaparecimento da Iara. O nome pode nos remeter a uma imemorial lenda dos povos que vivem à beira dos rios amazônicos.
Conta-se que uma linda moça sofreu muito nas mãos de seus irmãos que, por inveja, decidiram matá-la. Mas, sábia e guerreira, ela os liquidou antes. Raivoso, seu pai a jogou no rio. Os peixes a protegeram e a transformaram numa sereia muito bela que seduzia homens...
A nossa Iara não é uma sereia, evidentemente. Tem apenas dois anos de idade. Mas se tornou motivo de grande consternação, aflição e solidariedade pela experiência que viveu. Naquela tarde de junho, num átimo de tempo, a criança de dois anos saiu de dentro do caro da família, acompanhada de dois cãezinhos, enquanto a mãe recolhia para a cozinha algumas mercadorias trazidas do mercado. Em minutos, a criança e animais haviam desparecido.
Mais de uma centena de profissionais e voluntários fizeram buscas pela menina. Sua residência situa-se no interior de Imaruí, entre córregos, barrancos, montes e floresta. A imprensa e as redes sociais logo chamaram a atenção da comunidade para o ocorrido. Rapidamente uma rede de solidariedade foi se formando por todo lado: pessoas querendo ajudar, deslocando-se até o local; outras promovendo corrente de orações e promessas; outros tentando entender o que tinha acontecido...
As horas foram passando rapidamente, sem que alguma pista do paradeiro de Iara. Os pais da criança estavam desesperados. A noite chegou. A mais fria do ano até então. Tudo ficou escuro... um breu só! Alguns corações mergulharam nas sombras do desespero; enquanto outros se enchiam da luz da esperança. Muita gente rezando, suplicando, torcendo... aguardando por uma boa notícia. Mas ela não chegava nunca!
O que aconteceu com a criança? E com os animais? Policiais, bombeiros, voluntários, parentes, cães farejadores... Nada! Amanheceu, enfim, o dia. A mãe publicou um áudio: “Minha menina ainda a não foi encontrada. Por favor, rezem”. Finalmente, pelas 10:45h, gritos e choros irrompem o silêncio lá nos morros de São Tomás: “Encontraram a criança; e ela está bem!”.
Foi muito emocionante. Muitas lágrimas lavaram o sufoco que angustiava toda a população. Iara foi entregue aos abraços e beijos aliviados dos pais e do seu irmãozinho. Glórias a Deus, Ave-Marias e aplausos se puderam ouvir.
A recordação deste fato tem um objetivo: engendrar dentro de nosso coração a consciência de que somos dotados de uma enorme capacidade de solidariedade. Somos seres sociais. E somos capazes de gestos e atitudes gigantescas para defender uma vida.
Como temos visto por aí, as pessoas podem se solidarizar com os sofredores por motivos vários. Mas os cristãos, não. É da natureza cristã ver o outro como companheiro de caminhada, como irmão e habitação de Deus. É o amor que move os cristãos em direção dos outros. Para que? Para servi-los, ajudá-los, amá-los, acolhê-los, promovê-los...
Foi assim que Jesus nos ensinou: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Este foi o lema da Campanha da Fraternidade de 2018, convidando-nos à superação de todo tipo de violência.
E o Papa Francisco, antes, em 2014, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, explicava que “a fraternidade é uma espiritualidade vivida em dinâmicas e práticas... dá sentido e dignidade ao dom da vida. A fraternidade não é simples questão de lógica. É uma espiritualidade cuja raiz tem seu nascedouro na compreensão e vivência da paternidade de Deus”.
Compreender assim a importância dos outros ao nosso redor é força transformadora das relações entre os seres humanos. Francisco diz: “Não se imagina mais que a construção da sociedade aconteça ou possa depender simplesmente de articulações político-partidárias, de logística ou simplesmente de investimentos”. É preciso promover a humanização das dinâmicas da sociedade para superar as distâncias criadas entre os corações. Eis o anseio de fraternidade a ser cultivado, aprendido, exercitado!
O Cristianismo continua a apontar para caminhos diversos dos que são apresentados pela sociedade de consumo, de individualismo, de materialismo, de exclusão.
Ser “Igreja em saída”, como tem nos exortado o mesmo Papa, é ir em direção não de desconhecidos, mas de irmãos e irmãs para compartilhar um pouco de amor, de fé, de ternura... enfim, da misericórdia de Deus!
É preciso construir redes para a promoção do bem e da fraternidade. À luz da fé podemos somar saberes, vivências, ideias!... Não devemos nos unir somente em ocasiões especiais de tragédias e dor. É preciso estarmos sempre dispostos a colaborar com o outro, a proteger e promover a vida, a amenizar a dor. Jesus nos ensina a estarmos sempre a serviço do próximo. Isso é ser Igreja! Isso é ser cristão! Isso é ser humano! Essa é a nossa missão!
A Iara que, segundo a lenda, vive nas profundezas dos rios amazônicos brasileiros, usa de seus atributos para seduzir e matar pessoas. A nossa pequena Iara, lá de Imaruí, trouxe para todos nós um sabor sublime do quanto é bom sermos solidários e fraternos, rezarmos juntos e confiarmos em Deus!

Pe. Auricélio Costa


O AMOR É O CAMINHO MAIS CURTO
PARA O CORAÇÃO DO JOVEM


(20/07/18)
Dá gosto de vê-los chegar! Como são barulhentos! Jesus! Mas, como fazem falta quando não estão! Hoje eles estão aqui. E vieram das redondezas do Santuário Diocesano da Beata Albertina, de várias cidades e Paróquias. Depois serão enviados de volta.
De certo modo podemos afirmar que os jovens não precisam de Deus. E isso não é uma heresia, não! Pois, explico: eles precisam é de AMOR. E quando os acolhemos, os amamos, os tratamos como gente,  escutamos suas histórias, partilhamos nossas canções e nossos sonhos... então eles se sentem amados e descobrem que “Amor” e “Deus” são a mesma “coisa”... Vamos dizer de outra forma: que são a mesma “Pessoa”!
E nunca mais abandonam esse Amor! E são capazes de ir longe, fazer loucuras, consagrar seu tempo e sua vida... por conta deste precioso e inegociável Amor-Deus! O amor é sempre o caminho mais curto e mais certo para o Céu.
É por isso que Jesus foi imperativo: “Amai-vos!... Nisso reconhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes...” (Jo 13,34-35). E São Pedro ensina: “o Amor paga um montão de pecados” (1Pd 4,8). 
Facilmente os jovens se cansam de muitas das nossas pregações, teorias, argumentações... Talvez percebam que, às vezes, não passam de mero intelectualismo religioso... (o Papa Bento dizia que isso é sintoma do tal “mundanismo religioso”).
O jovem é observador: percebe se somos coerentes com nossa teoria e nossa prática. Eles são capazes de perdoar nossas falhas e limitações quando se sentem amados por nós. Compreendem nossa humanidade e intuem que somos verdadeiros em nossos sentimentos e vivências.
Nossas iniciativas de apresentar Jesus Cristo aos jovens não podem obedecer a estreitas estratégias pastorais. Elas se apresentam quase sempre falidas.  Encontros de evangelização ou “inculcação” na mente dos jovens têm êxito questionável quando não se apresenta o Jesus dos Evangelhos... que é o Jesus Cristo da Igreja.
Gosto de ouvir os jovens bradarem: “a Igreja é viva! A Igreja é jovem!”. Evidentemente, que a Igreja não pertence somente aos jovens. Igreja é comunidade, é família, é nossa casa, é nossa “mãe”, é corpo místico!... Então, esta realidade de fé diz respeito a todas as pessoas, não importando a sua idade cronológica. E o desafio da nossa ação evangelizadora ou ação missionária está em todas as faixas etárias. Enfim, há uma sociedade inteira a ser tocada por Jesus!
No entanto, o jovem como lugar teológico, isto é, lugar onde Deus habita e se manifesta, deve sempre nos inquietar e fazer sonhar. No Plano Diocesano de Pastoral de nossa Diocese (que está sendo revisto) lê-se: “a situação dos jovens se apresenta com muitas variações e problematizações, mas a Igreja os olha com carinho” (PDP/TB, p.88).
A juventude continua a ser alvo do mercado de consumo. E tudo é feito para atraí-los e cooptá-los. E, é preciso reconhecer, o mundo do marketing prospera em todas as suas investidas!
Como cristãos, é preciso ouvirmos o Papa Francisco. Ele promoveu um Sínodo sobre a evangelização dos jovens e tem “saído” ao encontro deles através das Jornadas Mundiais da Juventude. E eles parecem compreender o seu “amigo” Papa Francisco. E eles bradam: “Nós somos a juventude do Papa!”. E Francisco lhes diz: “Jovens, façam florescer a Civilização do Amor!... sejam revolucionários... peço que se rebelem contra esta cultura do provisório... Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês...” (JMJ-Rio, 28/07/2013).
Os jovens querem amar! Estão despertando para o amor, nas mais variadas formas! E se decepcionam muito com os adultos que se acham experientes na arte de amar. Mas eles querem amar de verdade! Não é questão de sexualismo ou hedonismo. Não! É questão de amar uma “causa”, à qual poderão se entregar de corpo e alma. É preciso apresentar Jesus aos jovens! Tem “causa” melhor e mais digna para se entregar a vida? O testemunho da jovenzinha Albertina Berkenbrock, a nossa Beata e Mártir de Imaruí, bem pode nos dizer onde colocarmos o sentido de nossa vida. Somente em Jesus e no seu Reino!
Todavia, ninguém sabe o caminho certo ao coração do jovem. Mas o Amor, ainda parece ser o mais eficaz. Eles são barulhentos, é verdade; mas Deus os ama profundamente. É até hilário quando eles dizem: “vamos fazer um barulho pra Jesus!”. Quando esteve aqui no Brasil pela primeira vez, o Papa Francisco os incentivou: “vão pelo mundo!... Façam barulho e se façam ouvir... quero que a Igreja saia pelas estradas... (JMJ, 25/07/2013).
Sim, o Amor ainda é o caminho mais curto para o coração do jovem! E o Amor é Deus!


Pe. Auricélio – para Diocese em Foco, Junho/19.





RESSURREIÇÃO – FLORIR O MUNDO




O vento leva as sementes das flores que plantei no meu jardim... Certamente, elas irão germinar em outros terrenos... Há pessoas que plantam flores. Há outras que as colhem. Existem, ainda, as que querem mudas e sementes... e aquelas que as plantam, colhem e distribuem mudas e sementes... E, nessa dinâmica, o mundo vai ficando mais florido.

Estou pensando no jardineiro. No fundo, ele não é o dono da flor e nem das sementes... Mas o seu papel é fazer resplandecer a beleza de cada planta e de cada detalhe do jardim. Ele cuidará para que o solo esteja adubado, irrigado, protegido de animais e transeuntes. Ele providenciará para que o sol ilumine todos os lugares, e saberá quais plantas se adaptarão melhor àquele ponto do jardim. Ele organizará canteiros e passeios.

Certa vez, uma mulher se confundiu ao encontrar-se com Jesus no Jardim das Oliveiras, onde Ele havia sido sepultado. “Desculpe-me, pensei que fosse o jardineiro”, disse ao Homem que dela se aproximou. Mas, quando Ele pronunciou o nome dela... “Maria!”, algo se moveu no mais íntimo de seu ser; ela saltou rapidamente do chão onde estava sentada e lançou-se aos pés do tal “jardineiro”: “Raboni, meu mestre amado!”. Ele a saudou, mas lhe deu uma missão: “Acalme-se um pouco, querida Maria. Eu logo voltarei para a Casa do meu Pai, onde Eu prepararei um lugar para você e para todos os outros meus amigos. Mas, antes, vá transmitir aos apóstolos que Eu estou vivo!” (Cf. Jo 20,11-18).

A discípula saiu correndo e foi transmitir a mensagem recebida. De fato, o encontro com aquele “Jardineiro”, lá no Jardim das Oliveiras, fez florir o coração de Maria Madalena e a sua vida se tornou para sempre, uma eterna primavera.

A experiência do encontro com o ressuscitado nunca é em vão. “Assim como a água que cai sobre a terra não volta para o céu sem antes ter fecundado a terra”, assim o toque de Deus sempre produz vida nova naquele que foi tocado (Cf. Is 55,10-11).

Pelo Batismo, mesmo que não tenhamos nenhuma recordação pessoal, pois, talvez, éramos criancinhas, nós fomos tocados e marcados sobrenaturalmente. Algo maravilhoso aconteceu em nós naquela ocasião! Deus veio habitar nossa vida! Fazendo de nós seu templo, Ele ali permanece cuidando zelosamente de nossa história. E se o deixarmos agir, Ele transformará nossa vida num belo jardim. Ele saberá limpar nossas mazelas, podar nossas vaidades, semear a divina Palavra e cuidar para que cada semente produza o cêntuplo (Cf. Mt 13,23).

A vida do cristão é marcada pela certeza da Ressurreição, mas também pelo esforço diário para carregar a própria cruz. Quem não tem cruz? Quem não tem nenhum problema a ser enfrentado? Quem não experimenta a dor própria ou alheia? Quem consegue viver sem envolver-se (mesmo que indiretamente) com os dramas alheios, com os anseios da sociedade, sem ouvir os clamores dos mais pobres... apesar do desrespeito à dignidade humana?

Aqui, vale a pena recordar uma Catequese do Papa Francisco, numa Audiência Geral, na Sala Paulo VI, no Vaticano (23/08/2017). Ele explicou que nós, cristãos, “acreditamos que no horizonte do homem existe um Sol que ilumina para sempre. Acreditamos que os nossos dias mais belos estão ainda por vir”. De fato, fundados em nossa fé cristã, somos pessoas de/da esperança!

O Papa ainda nos ensina: “Somos gente mais de primavera do que de outono: vemos os brotos de um mundo novo antes que as folhas amareladas nos ramos. Não nos refugiamos em nostalgias, arrependimentos e lamentações: sabemos que Deus nos quer herdeiros de uma promessa e incansáveis cultivadores de sonhos”.

Francisco ainda conclui: “A esperança cristã é baseada na fé em Deus que sempre cria novidades na vida do homem, na história e no cosmos. Novidades e surpresas! Nosso Deus é o Deus das novidades e das surpresas!”.

Seja qual for a estação em nossa vida, será sempre necessário plantar flores! Assim como naquela conhecida parábola de Jesus, hoje o “semeador” precisa sair a semear... É preciso espalhar as sementes do Amor, do bem, da concórdia, da fé cristã... sementes de Ressurreição (Mt 13,1-9)!

É preciso florir os caminhos da humanidade! Eis a nossa missão: “anunciar Jesus”! Ele é o Jardineiro! Por onde Ele passou, transformou vidas, realidades... A Igreja é chamada a fazer as vezes de Jesus (Jo 13,15). E deixemos que o vento forte do Espírito Santo continue a levar as sementes produzidas no jardim de nossa vida para fazê-las germinar em outros campos e corações. “O Espírito sopra onde quer...” (Jo 3,8). E o mundo vai ficando mais florido!


Pe. Auricélio Costa  – Pároco/Reitor – Maiol/2019




LEMBRA-TE QUE HAVERÁS DE MORRER!

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No litoral da África Ocidental sub-saariana, no interior da Guiné-Bissau, encontra-se um pequeno vilarejo, que é um verdadeiro oásis: Mansôa. O povo mansuanca que habita aquelas plagas arenosas constrói histórias de amor, de superação, de sobrevivência e de profunda religiosidade.
No centro da vila se encontra a pequena igreja e, logo ali adiante, a Missão Católica onde vivem os padres missionários. Quem adentra a pobre e acolhedora residência logo se depara com uma plaqueta de madeira pendurada na parede onde escreveram em italiano: “Lembra-te que haverás de morrer!” (“ricordate che devi morire”). É coisa do Pe. Davide Sciocco, que não a deixa passar despercebida: “todos os dias, quando me levanto, leio esta frase; e ela me faz muito bem”!
A morte faz parte da vida, tanto quanto o viver. Sim, a gente tem consciência de que nossa peregrinação por esta existência é passageira e é única, por mais intensa e instigante que seja a aventura de viver. O tempo de vida também é relativo. Bom seria vivermos como Matusalém, o personagem bíblico com maior longevidade: 969 anos (cf. Gn 5,27). Mas não é Kronos (o deus grego do Tempo) quem nos governa e, sim, Javé, o nosso Verdadeiro, Único e Eterno Deus. Fundados na fé podemos afirmar que fomos feitos para a eternidade. E é com esta certeza que devemos caminhar nestes dias de finitude aqui na Terra.
“Lembra-te que haverás de morrer!” é uma frase do filme italiano de comédia “Só nos resta chorar”, de 1984. É proferida por um religioso ao abordar as pessoas. Porém, a frase não termina aí; há uma segunda sentença: “... mas não te esqueças de viver” (“... ma nom scordati di vivere”).
O cristão, por graça batismal, é chamado a viver não apenas para não morrer; mas para viver pra sempre. O mergulho na água do Batismo nos marcou indelevelmente para a Vida. São Paulo explica: “se com Cristo morremos, com Ele ressuscitaremos” (Rm 6,8). Portanto, pelo Batismo fomos gerados novas criaturas: “... se alguém está em Cristo, nova criatura é. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2Cor 5,17).
Todos os anos, na noite do Sábado Santo, a escuridão é rompida pela luz do Círio Pascal. O rito belíssimo põe o fiel de encontro com sua realidade mais profunda, tanto natural quanto sobrenatural. De fato, a morte é uma realidade inquestionável, mas a vida nova é o nosso futuro mais seguro.
Por isso, com a velinha acesa na mão, junto ao tanque (ou outro recipiente) com água benta, o crente renova o seu compromisso batismal. Agora, como discípulo-missionário, ele deverá testemunhar sua mais nobre vocação: anunciar Jesus Ressuscitado e presente entre nós!
A morte está no nosso horizonte, mas é para a vida que nós fomos criados amorosamente. É preciso viver! E viver não apenas “gastando os dias”, nem se ocupando com atividades vãs quaisquer.
Viver é “dar sentido” a tudo o que se faz e a tudo o que se vivencia. Então, trabalhar e se divertir, lutar e descansar, perder e encontrar... isso é viver! Também conviver e partilhar, doar-se e amar, sofrer e morrer... tudo será “viver”!... viver com um sentido!
Assim como o salmista podemos rezar sempre: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90,12). Viver para estar em comunhão com Deus, a suprema Sabedoria, é um belo sentido de vida. Mas é no testemunho de São Paulo que encontramos uma razão para nossa existência: “Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fil 1,21).
No dia-a-dia o cristão se depara a todo instante com a fragilidade de sua existência. A possibilidade de morrer sempre parece tão óbvia e cristalina, que muitos vivem sempre em uma espécie de paranoia. De fato, a vida é muito frágil e a morte fica sempre a nos rondar.
Esta consciência deveria nos levar a querermos aproveitar melhor cada instante de vida. Assim, poderíamos viver mais intensamente nossos afetos e afeições, nossos projetos e expectativas, nossas verdades e buscas.
Talvez possa nos ajudar o famoso poema “Desiderata” (“as coisas desejadas”), do filósofo e advogado norte-americano Max Ehrmann (1927). “Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto quanto possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam. Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também têm sua própria história. Se você se comparar com os outros, você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar. Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.” 
Chamados a viver cada dia a experiência pascal, não podemos deixar de pensar sobre nossa finitude; porém, sem nos esquecermos de viver o momento presente, já vislumbrando tudo o que Deus preparou pra nós em Sua Casa.
“Lembra-te que haverás de morrer!... mas não te esqueças de viver!” E Jesus nos ajuda a vivermos bem através da “regra de ouro”: “façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam” (Mt 7,12).
Bem, eu já nem sei se aquela plaquinha ainda continua exortando as pessoas lá em Mansôa. O que sei é que ela sempre nos ajuda a aproveitarmos bem cada instante de nossa existência!


Pe. Auricélio Costa  – Pároco/Reitor – Abril/2019



VIVO MINHA FÉ EM COMUNIDADE

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Olá, caros pais e/ou responsáveis pelos catequizandos! Hoje vocês estão recebendo mais uma Cartinha. E isso faz a gente recordar que, há não muito tempo atrás, antes da revolução da internet, a Carta era um meio de comunicação muito usado pelas pessoas. E quando uma carta chegava, toda a família e a vizinhança ficava agitada para saber das novidades.

Hoje, esta Carta quer convidar vocês a refletirem sobre a importância da vida em comunidade para quem tem fé em Deus. Sim, quando Deus escreveu a Carta de Amor, que é a Bíblia, Ele quis fazê-lo através da comunidade. Foram inúmeros homens e mulheres, durante 1200 anos, que colaboraram com Deus para escrever Carta tão Sagrada.

E a comunidade logo percebeu que o conteúdo de tal Carta não podia ficar reservado só pra uma família, também chamada de Povo de Deus. Guardando-a com tanto zelo e veneração, proporcionou que outras comunidades “ouvissem” a Palavra. Desta forma, a mensagem de Amor de Deus para a humanidade foi passando de geração em geração (Dt 6,1-15).

O Livro é repleto de ensinamentos e vivências. Uma das suas preciosas revelações é que Deus também é comunidade! Como assim? Calma. A gente explica: a Palavra diz que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo; ambas as Pessoas vivendo em harmonia perfeita (cf. Jo 1,1ss; 2Cor 13,13). Vejamos!

O Pai é o Criador. E tão maravilhoso Criador que até hoje, ainda não se descobriu tudo o que Ele fez. E não tem como a gente não se maravilhar cada dia diante natureza, não é mesmo?! É só levantar os olhos, e a gente pode ver os pássaros, o céu e as nuvens, as estrelas... Se a gente olha pro horizonte, percebe logo os morros, as árvores, os mananciais de água, as pessoas, os animais... Até mesmo quando a gente olha pra baixo pode descobrir uma infinidade de maravilhas (cf. Gn 1,31).

Mas, quais belezas a gente consegue contemplar quando olha pra dentro da gente mesmo? Bem, certamente que vocês dirão: “um montão de coisas boas!”. Sim, porém, a mais surpreendente de todas é que em tudo o que Deus criou, Ele deixou a sua “assinatura”. Nós, seres humanos, fomos feitos à Sua imagem e semelhança (Gn 1,26). E isso é maravilhoso!

Jesus é o Filho! E o Filho sempre existiu; e participou, inclusive, da Criação. Mas, “quando chegou o tempo”, Ele foi enviado pelo Pai até nós e se tornou o Emanuel: “Deus conosco”. Durante toda a sua vida Ele somente fez o bem e andou sempre unido ao Pai. Em cada pessoa Ele percebia os traços do Pai e a amava totalmente. Foi por amor que Ele nos ensinou o caminho para o Céu, que nos revelou o Evangelho, que curou pessoas e transformou a vida de tanta gente. Foi por puro Amor que Ele se deixou pregar na Cruz. E ressuscitou!

A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é o Espírito Santo de Deus! Ele sempre existiu e é o Amor que une o Pai e o Filho. Foi enviado por Jesus na Festa de Pentecostes. Ele arrancou o medo do peito dos Apóstolos e, até hoje, é Ele quem encoraja e sustenta a Igreja na sua missão neste mundo (cf. At 2,1ss).

Estamos falando desta comunidade magnífica, a Trindade, para que vocês agradeçam a Deus por serem uma comunidade: no âmbito familiar e no âmbito eclesial (a Igreja).

Se Deus é comunidade de Amor, porque que a gente não iria participar da vida da comunidade? Ninguém é uma “ilha”... Fomos feitos para amar, para nos solidarizarmos, para crescermos juntamente com os outros!... Quando Deus disse, lá no Paraíso: “não é bom que o homem fique só” (Gn 2,18), Ele estava nos ensinando que não podemos ser felizes se nos isolamos, se nos fechamos, se nos escondemos ou se nos enganamos, dizendo: “ninguém tem nada a ver comigo! Eu me basto!”. Seria muito ruim.

Um dia, lá no Éden, Deus perguntou pro Caim, depois que este matou o seu irmão Abel: “onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Talvez, também nós tenhamos que nos perguntar a respeito de nossos filhos, de nossos parentes, de nossos vizinhos, de nossos companheiros do dia-a-dia... Não apenas “onde” estão, mas “como” estão, em quê eu posso ajudá-los, ou “há quanto tempo que a gente não se vê mais!”...

A vida de fé não pode ficar restrita apenas ao âmbito pessoal. Talvez vocês conheçam pessoas que dizem; “eu faço minhas orações, e não preciso ir à igreja”; ou “eu me acerto com Deus, e não preciso de religião”; ou coisas semelhantes. Com todo respeito, há um equívoco aqui. Se Deus tivesse ficado lá “no cantinho” d’Ele, nós nem estaríamos aqui. Mas Ele veio até nós e nos revelou o Caminho para o Céu. Ele não quis viver sozinho e nasceu numa família. Junto com José e Maria, Ele cumpria os preceitos religiosos, indo ao Templo e frequentando assiduamente a sinagoga (Mt 4,23; Lc 4,16). Depois formou uma comunidade de discípulos e Apóstolos e os enviou ao mundo inteiro. E garantiu que estaria com Eles: “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles” (Mt 18,20).

A vida na comunidade de fé faz a gente crescer em todos os aspectos: espiritualmente, afetivamente, socialmente... e até intelectualmente. E nos conscientiza de que fazemos parte de um povo maior do que o nosso próprio país: o Povo de Deus!

É por isso que o Papa Francisco tem razão quando afirma que não existem cristãos sem Igreja.

Não se pode entender um cristão sozinho, como não se pode entender Jesus Cristo sozinho. Jesus Cristo não caiu do céu como um herói que nos vem salvar. Não! Jesus Cristo tem história. E podemos dizer e é verdade isto: Deus tem história, porque quis caminhar conosco. E não se pode entender Jesus Cristo sem história. Assim um cristão sem história, um cristão sem povo, um cristão sem Igreja não se pode entender. Seria uma coisa de laboratório, uma coisa artificial, uma coisa que não pode dar vida” (Homilia, 15/05/2014).

Caros pais, vamos chegando ao final desta Carta. Ela foi escrita com muito amor. Que tal vocês conversarem um pouco e verem um jeito de participar mais ativamente da vida da sua comunidade? Inspirados na Santíssima Trindade, que tal se envolverem na vida da comunidade e ajudá-la a ser uma “Comunidade de Amor”? Pensando na Sagrada Família de Nazaré, que tal trabalharmos juntos para santificar nossas famílias?
Juntamente com seu filho ou neto, vamos caminhar juntos! Vocês são muito especiais para todos nós! Jesus os chama, porque os ama!!!


(Pe. Auricélio Costa – Para Projeto Diocesano de Catequese)



NÃO HÁ DISPUTAS ENTRE AMIGOS
       
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Crianças lindas “pra mais de metro”. Não há quem não se encante com os dois pequenos Miguel e Vinícius. Têm a mesma idade (cinco anos) e quase o mesmo tamanho! Um é galeguinho e o outro ruivinho.
A comunidade toda está em festa! Festa do padroeiro! Uma das principais “atrações”, depois da Missa de São Sebastião e da parada na barraquinha do sorvete, é a tal Loteria de Pedestres. Uma brincadeira que envolve pessoas de todas as idades, uma disputando contra a outra nas corridas de campo. Todo mundo compra as cartelas onde estão as duplas que irão correr e fazem suas apostas: coluna um ou coluna dois. Não existe a possibilidade de dar empate.
Mas a nossa lógica de adultos tem por base um coração por demais racional. Entramos no jogo, assimilamos as regras do “quem pode mais, chora menos” e vamos vivendo obedientes a normas (status quo) que parecem ser as mais normais do mundo. Disputamos, concorremos uns contra os outros, até nos digladiamos e nos machucamos... E ainda justificamos: “tudo bem... é a vida!”. “C’és la vie!”
Vez por outra, porém, somos obrigados a ceder diante dos “toques de Deus”. E eles chegam até nós de muitas formas. Hoje eu percebi o “toque de Deus” através dos olhinhos de dois meninos. Perguntei ao Vinícius: “você vai correr contra o Miguel, né? Posso apostar em você?”. A mãe, ali do lado, meio aflita, logo interrompeu: “Padre, ele não quer disputar. E disse que o Miguel vai ganhar”. O pai ficou quieto e olhou pra mim com um jeito questionador, observando minha reação. Havia ali uma tensão, algo parecia estar errado. E o problema era a decisão da criança.
Abaixei-me. Olhei carinhosamente pro menino e perguntei: “E daí?”. Ele olhou pra mim, daquele jeito trigueiro, lambuzando-se com o sorvete, e me disse: “O Miguel vai ganhar. Ele é meu amigo!”.
Todos sorrimos um pouco desconcertados e envergonhados. Ao contrário do que pensávamos, o problema não era a criança; o problema éramos nós. Há muito que perdêramos a pureza infantil de uma sincera amizade.
Bem, chegou o momento da corrida. Toda a comunidade se reuniu em torno da pista gramada onde aconteceriam as disputas. O locutor anunciou a próxima dupla e perguntou: “onde está a torcida do Miguel? E a torcida do Vinícius?”. E anunciou: “vai ser dada a largada... já!”. Sorridentes, os pequenos saíram correndo, se divertindo... O povo gritava palavras de incentivo! Muita alegria!
De fato, o Miguel chegou primeiro... um pouquinho à frente do amigo. Os dois pequenos corredores se abraçaram e festejaram juntos. Todos os presentes ficaram contentes também!
No momento da premiação, um ganhou a medalha dourada e o outro, a medalha prateada. Detalhe: as medalhas eram bolachas confeitadas, especialidade das indústrias alimentícias do lugar.
Sorridentes, as duas crianças admiravam suas medalhas. Mas o Miguel não quis ficar sozinho no pódio de campeão; puxou logo o amigo pela mão e, abraçados, festejaram juntos no mais alto posto.
Bem que Jesus havia ensinado: “entre vocês não deve ser assim” (Mt 20,26). As nações se tornam adversárias, alimentam conflitos, disputas e contendas. Mas o modelo cristão não coaduna com isso: “amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34); “em tudo procurai o bem do próximo...” (1Cor 10,24); “Cuidai para não ofenderdes as pessoas...” Rm 12,16-17); “Rivalizai-vos no amor” (Rm 12,10)... Pois, “o que importa é o amor!” (1Cor 13,13)..
Seria muito bom se a gente aprendesse a olhar o outro como companheiro de caminhada; como um semelhante; como um irmão e filho de Deus! Ah! De fato, a nossa sociedade seria diferente se não fomentássemos mais as disputas para proclamar alguém (ou alguns grupos) mais importante do que outros! Pois, de fato, considerando as outras pessoas verdadeiramente seres humanos e com igual dignidade, teceríamos as bases de uma sociedade bem mais feliz!
Parece sonho? Utopia? Ou mero devaneio? Bem, não fui eu quem sonhou isso primeiro. E não sou o único. O Vinícius e o Miguel já descobriram isso ainda crianças. Observe as crianças ao seu redor. O que fazer para que elas continuem acreditando na beleza do ser humano?
Jesus ensinou que “quem não tiver um coração como o de criança, não entrará no Reino de Deus” (Lc 18,17). Ele conheceu as consequências de uma sociedade em que governantes, comerciantes, líderes religiosos e cidadãos comuns têm corações enrijecidos. Ele mesmo foi vítima desta sociedade que perdeu a pureza inicial (do Édem): foi rejeitado desde o nascimento em Belém... até ser morto violentamente na cruz do Calvário.
Todavia, em nenhum momento perdeu a serenidade interior. Ele continuou a sorrir para as pessoas, a acolhê-las como “imagem e semelhança” do Pai. Ele as escutava com amor e sofria as dores delas. Seu coração tinha “cheirinho de Céu”, de onde veio.
Tanta ternura e tanto amor... mexiam com o coração das pessoas; faziam com que elas se encantassem com aquele galileu. Nem diante de seus oponentes, Ele não se conformava à rigidez de seus corações. Acusava-lhes a dureza interior, e até os chamou de “hipócritas e sepulcros caiados” (Mt 23,27). Mas não deixou que de lhes propor: “Convertam-se e creiam no Evangelho” (Mc 1,15).
Aprendamos com os mais simples a termos um coração mais despojado, mais humilde, mais acolhedor!... Um coração mais humano! A vida é dura e há muitas barreiras a serem enfrentadas cada dia. Mas não podemos perder a ternura e a alegria de viver e conviver com as pessoas!
Ainda hoje recordo do brilho nos olhos dos meninos de Vargem do Cedro; e do seus sorrisos contagiantes e do abraço que trocaram em cima do pódio. Não há espaço para disputas entre amigos, só para enriquecimento mútuo. O ruivinho tinha razão; como poderia disputar com o seu companheiro? A sua resposta ainda repercute aqui no meu coração: “Ele é meu amigo!”...
Todos nós somos chamados a ser missionários do Amor!


Pe. Auricélio – 28/01/2019




Xiiiiii, O ANIVERSARIANTE SUMIU!

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Tudo preparado para a festa de aniversário! Não seria uma festa qualquer. Tudo foi ajeitado com muito esmero... e, a cada ano, criam-se expectativas maiores com relação às surpresas da festa... ou melhor, da festança!
Cuidaram de tudo: definiram a data do evento, o horário, a ornamentação, o cardápio e o traje. Fizeram uma lista de convidados e até apresentaram sugestões para presentes. Também se preocuparam com o pessoal da música para que todos ficassem muito animados.
O desfecho deste espetáculo seria a chegada do aniversariante. Sim, ele deveria receber todas as homenagens, muitos beijinhos e abraços e todas as atenções.
Então, na noite de Natal, com seu famoso trenó puxado por renas, acompanhado do seu stafe de duendes... Ele chegou. Ouviu-se sua voz: “ohohohoh!”. Sorridente e bonzinho, com um traje engraçado, atraiu a atenção de todos! Mas não se demorou. Logo retornou para a Lapônia, nas geladas terras da Finlândia. Lá permanecerá até o próximo Natal.
O fato é que, para além da fantasia, a magia do Natal do Papai Noel tem impedido que muitas pessoas conheçam e se envolvam com o verdadeiro Senhor do Natal: Jesus! E até hoje, ano após ano, o real Aniversariante continua à margem de muitos corações.
Parece inusitado celebrar um aniversário sem a presença do aniversariante. Mas a nossa sociedade está se estruturando sobre base materialista e racional, com matiz religioso não-cristão. E nem o brilhantismo das festanças que promovemos conseguem esconder que nossa civilização adoeceu. Pelo contrário: elas são reflexos de que, definitivamente, algo não vai bem.
Celebrar um aniversário sem aniversariante... o Natal sem Jesus... cristãos sem o Cristo da fé... Igreja sem comunidade de fé... cruz sem mártires... batizados sem unção... Outro dia alguém falava em “des-igrejados” e “des-batizados”, isto é, pessoas que se orgulham de dizer que não pertencem a nenhuma Igreja e que renegam completamente o batismo.
Parece ter razão Zygmunt Baumann, um sociólogo polonês que morreu no ano passado, aos 91 anos. Para ele, “vivemos em tempos líquidos; nada foi feito para durar”.  A modernidade “sólida” e segura, com instituições, referências morais e conceitos sacramentados teria dado lugar a uma nova realidade: a valorização do “agora”, do consumo, do gozo e da artificialidade. Na “modernidade líquida” tudo é questionado! 
Também o filósofo alemão Erich Fromm (1900-1980) tratou deste tema. Para ele, o homem moderno está a serviço de uma força de “destruição”, especialmente quando não consegue dar um sentido à sua existência. Então, “essa vida não-vivida é como um pote de água fervendo em nossas mãos que nós corremos pra soltar, e não há tempo para mais nada”.
Segundo Fromm, o homem faz de tudo para “escapar ao adoecimento da alma”. E propõe um remédio: o Amor! Para ele, o Amor é o único caminho, “através do qual é possível unificar-se com o mundo e, concomitantemente, adquirir um sentimento de integridade e individualidade.” Pois, “somente a pessoa que tem fé em si mesma é capaz de ter fé nos outros”.
No seu livro “Deus é Jovem” o Papa Francisco apresenta o roteiro que escreveu para o Exame de Consciência no Retiro da Cúria Romana. Ele apresenta “15 doenças muito perigosas para as pessoas”. Uma delas (a 11ª) é a indiferença com relação aos outros. Pensando em si mesmo, o ser humano perde a sinceridade e o calor das relações.
O quê os pensadores e o Papa querem nos fazer ver é que precisamos aproveitar a nossa vida para fazermos o bem! O Amor é a solução! E o Amor é Deus! Ele veio até nós em forma de criança, lá em Belém. Amou-nos até “descer” à nossa condição. E ensinou-nos a amar sempre!
Foi isso que quis ensinar São Francisco de Assis, no ano 1223, na cidade italiana de Greccio, na noite de Natal. Ele montou o primeiro presépio, juntando pessoas e animais numa representação cênica. Num clima de ternura e fé pura, todos celebraram o aniversário de Jesus. O Aniversariante estava ali, bem presente, dentro de cada coração!
Nestes tempos novos e “líquidos”, seja Jesus a Alegria da nossa vida e da nossa missão!
Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco –Dezembro/2018







UM AMOR QUE ULTRAPASSA
OS LIMITES DA MORTE

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Ele entrou na Casa Mortuária focado no esquife onde jazia o corpo de uma mulher. Andava sozinho, embora carregasse o peso da enfermidade que há anos vem encurvando o seu corpo, e a enorme dor da perda da esposa amada de anos... muitos anos. Ei-la, agora, ali, no caixão, sendo velada. 
Diante da cena, todos os parentes e amigos permaneceram num respeitoso e comovente silêncio. Ele sentou-se junto ao ataúde. Beijou demoradamente sua esposa. E sussurrou: “Amor da minha vida, vá com Deus. Logo estaremos juntos, novamente... e eternamente!”. Então olhou pra mim e disse: “E peço a Deus que não demore muito!”.
A descrição desta cena não é para falar sobre a morte ou a perda. O tema principal é o AMOR. Sim, um Amor verdadeiro e legítimo vivido por certo casal, mas que, graças a Deus, não foi o único que já conheci.
O Amor esponsal é sempre muito presente na Sagrada Escritura. Homens e mulheres são chamados a viverem de tal forma o Amor que ambos estejam intimamente interligados, conectados: é um casamento de corpos, de mentes e de corações. “O homem deixará a casa paterna e se unirá à sua esposa... já não serão dois, mas uma só carne... e o que Deus uniu o homem não separe...” (Mt 19,6; Ef 5,2).
Na sociedade do descartável até os relacionamentos mais puros e sinceros parecem estar correndo o perigo de serem corroídos, corrompidos. Se hoje encontramos tantas dificuldades no relacionamento familiar, talvez a raiz esteja no jeito como vivemos e compreendemos o amor.
O Amor é exigente, já ouvimos falar. E é verdade! Basta analisarmos quantas renúncias precisamos fazer diariamente para mantermos nossos relacionamentos com qualidade! Isto é, para entendermos que o Amor verdadeiro é purificado pelo cadinho da cruz. Sim, a exigência do Amor é superar a paixão, a dor, a angústia, a oblação total. Enfim, renunciar-se a si mesmo!
Deus, como Esposo, é totalmente Amor. Por isso é que São Paulo diz que quem quiser seguir Jesus com maior disponibilidade de coração, não deveria casar-se. Pois o coração do esposo está focado, isto é, preocupado em fazer agrados à sua esposa. Da mesma forma, a esposa deve ocupar-se do bem para o seu esposo. E ambos, pensando no melhor para seus descendentes... (cf 1Cor 7,7.32-35).
Um Amor assim torna-se fecundo. A alegria dos esposos é cercar-se de seus filhos. Portanto, é bênção de Deus que, antes de um útero acolher o novo ser, os corações dos cônjuges já estejam abertos para viverem em comunhão. O Amor gera a vida. Isso poderão atestar todos quantos não puderam gerar os próprios filhos, mas abriram-se para a adoção. E é muito significativo quando eles dizem: “este nasceu do nosso coração”!
Com o passar do tempo, o Amor conjugal tende a amadurecer. Mas jamais deixará de ser fecundo. Absolutamente! Ele gerará mais amizade, mais cumplicidade, mais doação aos descendentes e à comunidade... A vida de oração pode auxiliar a que o Amor de esposos adultos e idosos permaneça muito frutuoso.
O verdadeiro Amor não morre nunca! Nem com a morte. Pois a Palavra de Deus confirma: “o amor é mais forte do que a morte” (Ct 8,6). Há pessoas viúvas que permanecem sozinhas por muitos anos, nutrindo-se do amor que, um dia, as uniu à alguém que faleceu.
Na Exortação Pós Sinodal “Amoris Laetitia” (Sobre o Amor na Família) o Papa Francisco explica: “no Matrimônio, vive-se também o sentido de permanecer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim refletem a fidelidade de Deus”. E diz que “esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é uma exigência interior do pacto de amor conjugal”. E cita São João Paulo II: “porque ‘quem não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia’” (AL 319).
A experiência pascal é o marco da fé cristã: aquele que estava morto, ressuscitou! O ódio dos inimigos não conseguiu matar o Amor encarnado, Jesus. Nos dias de hoje, os cristãos precisam continuar testemunhando o Amor que gera vida, que vence as armadilhas da morte, que supera o caos.
Casados ou solteiros, ordenados ou leigos e leigas, não importa: todos somos chamados a experimentar e proclamar a força do Amor! Portanto, a ordem é: amar mais! Mas amar como Jesus nos amou. “E ninguém tem maior amor do que Aquele que dá a vida!...” (Jo 15,13). Somente quem se sentiu muito amado é capaz de amar e, até mesmo de doar a própria vida.
Quando aquele pobre homem adentrou na Casa Mortuária eu pensei que veríamos mais uma daquelas cenas de desespero, tão comuns em certos velórios. Mas, para surpresa de todos, o que nós testemunhamos foi uma linda cena de Amor.
Pois, de fato, na juventude, os dois sonharam sonhos de Amor. Os dois desejaram acompanhar os filhos até que os netos chegassem. Os dois cresceram na fé e na escuta da Palavra, e na Igreja encontravam o alimento necessário para manter saudável a vida espiritual. Os dois sepultaram juntos dois dos filhos que Deus lhes deu.
Um cuidou do outro. A velhice e a doença chegaram para os dois. Todavia, lá dentro deles, a juventude do verdadeiro Amor permanecia fértil, fecundo, robusto! É o que se percebe nas palavras do meu amigo, agora viúvo: “Amor da minha vida, vá com Deus. Logo estaremos juntos, novamente... e eternamente!”. De fato, o Amor não morre jamais! O Amor é Deus (1Jo 4,8)!


Pe. Auricélio – Diocese em Foco – Outubro/2018





TESTEMUNHAR JESUS
EM TEMPOS SOMBRIOS

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Acho que nunca esquecerei aquele brilho nos negros olhos daquela criança. E nem de seu sorriso casto ao me abraçar com toda a sua força pueril. Mas, sobretudo, não olvidarei suas palavras: “EU TE AMO, JESUS!”. Fiquei tocado interiormente com aquela declaração de afeto, enquanto observava a menina que corria feliz para junto dos seus pais.
Os noticiários estão repletos de reportagens e notas sobre os pecados da Igreja e dos seus filhos e filhas. Diante disso, muitos cristãos se sentem perseguidos ou confusos na própria fé.
Por outro lado, também o sonho patriótico de construirmos um país com “ordem e progresso” – compreendido numa perspectiva para além da filosofia positivista – vai se desmoronando no coração da nação.
Estas são algumas das cenas de nossas vidas enquanto a história se desenrola no palco da existência. A sensação é de que tudo é tão automático, mecânico!... E os dias vão passando... tudo vira rotina!
Mas, como cristãos, marcados com o selo batismal, não podemos nos entregar a esta letargia. É preciso acordar deste sono doentio. Sim, hoje Jesus está nos chamando incansavelmente para que sejamos suas testemunhas. “Vós sois sal da terra... e luz do mundo!” (Mt 5,13-14).
É preciso que todos assumamos a nossa missão cristã. A “Igreja em saída” sonhada e exigida pelo Papa Francisco não é uma invenção de nossos dias. É uma urgência que brotou do coração de Jesus: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho...” (Mc 16,15).
Nossa presença na sociedade precisa ser diferenciada, pois o Senhor “nos chamou e nos dotou com uma vocação santa” (2Tim 1,9). Precisamos retornar ao “primeiro amor” (Apoc 2,4) e “reavivar o dom da graça de Deus em nós” (2Tim 1,6).
O cristão é chamado a ser “outro Cristo” em meio à dinâmica da história. Isso é, realmente, muito exigente. Mas não podemos renunciar à missão que nos foi confiada. O anúncio do Reino de justiça, de esperança, de fraternidade... não pode esperar. Podemos ajudar as pessoas a perceberem os sinais do Reino já em nossas famílias, em nossos organismos pastorais, em nossas comunidades... E rezar para que aconteça na Terra, como é no Céu (Mt 6,10).
Todavia, em primeiro lugar, eu e você devemos nos deixar envolver por Ele, Jesus, que nunca se afasta de nós. Tão perto de nós Ele está, que chegou ao ponto de vir habitar em nosso coração. Somos morada do Senhor! Então, Ele nos acompanha não somente ao lado, mas interiormente. De modo que podemos citar São Paulo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gál 2,20).
Foi nisso que pensei quando aquela menininha veio me segredar no ouvido: “EU TE AMO, JESUS!”. Eu represento Jesus! As pessoas podem “ver” Jesus em mim! Isso é ser cristão! Isso é tremendo!
Diante dos desafios contemporâneos que nos desafiam e ameaçam nos intimidar, permaneçamos firmes na fé. Afinal de contas, “nada pode nos separar do amor de Cristo” (Rom 8,35-39). Às vezes “somos afligidos, mas não aniquilados” (2Cor 4,9).
Sintamo-nos abraçados por Jesus que nos diz: “EU TAMBÉM TE AMO. DOU-TE A MINHA VIDA POR AMOR!” (cf Jo 10,15).


Pe. Auricélio


UM PRESENTE MUITO ESPECIAL



Em casa, os avós e tios esperavam ansiosos a chegada do netinho e sobrinho amado. Era o aniversário do Pedro Antônio. Quatro anos! Ele chegou ainda agitado depois de uma tarde toda junto dos coleguinhas no Jardim de Infância, que ele chama de “minha escola”.

O garoto logo percebeu que havia um embrulho todo enfeitado no chão, sobre o tapete da sala. Conteve-se um pouco e, com seu jeito maroto, perguntou (como se não soubesse): “o que é isto? Um presente? É pra mim?” Todos o incentivaram: “abre-o; é seu!”. Avidamente ele passou a retirar o embrulho e exclamou, logo que percebeu do que se tratava: “um caminhão! Vamos pra praia!” E todos ficaram contagiados pela felicidade da criança com o presente que recebia. Mas, embora o menino ainda não compreenda, na verdade, ele é que é um grande presente que Deus deu à família!

As experiências familiares revelam muito do sonho que Deus acalenta no seu Coração a nosso respeito. Enquanto plasmava a Criação, cuidou de todos os detalhes pensando unicamente no bem das suas criaturas.

O ser humano não pára de se encantar com cada uma das novas descobertas, seja no campo da Física Quântica e demais ciências, ou naquelas que tratam do ente humano. Ainda nos impressionam as notícias que resultam das pesquisas realizadas nas mais longínquas e quase imaginárias galáxias do cosmos; bem como aquelas que nos chegam das investidas nas profundezas abissais dos oceanos.

O Livro do Gênesis atesta: “essa é a história da Criação do céu e da terra... ainda não havia na terra nenhuma planta do campo... ainda não havia feito chover sobre a terra e não havia homem que cultivasse o solo... Então, Javé Deus modelou/plasmou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,2,4ª-7). 

Emocionante e plasticamente belo é o relato da criação da mulher! Assim lemos: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma companheira que lhe seja semelhante. (...) Então Javé Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu... Da costela que havia tirado do homem, Javé Deus modelou/plasmou uma mulher... O homem exclamou: ‘esta, sim!’” (Gn 2,18-23).

Ao nos conscientizarmos do zelo paternal com que Deus nos fez, algo em nós deve nos tornar mais responsáveis uns com os outros. Não é aceitável, portanto, nenhum sentimento tolo de supremacia que pudesse depreciar ou colocar em risco a existência do conjunto criacional.

Pelo contrário, a nossa existência é uma riqueza para tornar ainda mais significativo tudo o que Deus, amorosamente, criou. Pois somente nós sabemos que existimos. E somente nós somos capazes de nos questionarmos: de onde viemos, qual a nossa missão existencial e para onde iremos. Existe uma simbiose na natureza, sem a qual nós não poderíamos viver saudavelmente neste mundo.

O Papa Francisco refletiu sobre isso na sua Carta Encíclica Laudato Sì (“sobre o cuidado com a casa comum” - 2015). Ensina o Pontífice: “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus” (nº 08).

E, a fim de superarmos as agressões à obra do Criador, em conjunto com o Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla desde 1991, Francisco propõe algumas atitudes: “passar do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à capacidade de partilha, numa ascese (renúncia) que significa aprender a dar, e não simplesmente renunciar. É um modo de amar, de passar pouco a pouco do que eu quero àquilo de que o mundo de Deus precisa (nº 09)”.

Sim, o Criador cuidou de tudo, sempre pensando na nossa felicidade. E criou-nos livres. O bom uso desta liberdade pode fazer com que vivamos prosperamente nossos dias nesta vida. Assim, podemos ajudar os que caminham ao nosso lado a serem mais felizes, colaborando na construção de uma sociedade justa, fraterna, digna... Foi Deus Quem colocou estes sonhos dentro do nosso coração.

Criança não faz muita distinção entre sonho e realidade. O jovem ainda sonha, mas a fuga da realidade pode levá-lo ao mundo dos devaneios. O adulto, também sonha, mas já não tem tempo para perder com “essas bobagens”. O idoso, igualmente, sonha; mas sonha saudoso dos dias que viveu na realidade.

Vale a pena recordar a poesia “Não sei” de Anna Lins, a nossa Cora Coralina. A grande e famosa escritora brasileira, nascida em Goiás, teve a sua primeira obra publicada somente aos 75 anos de idade. Ela faleceu aos 95 anos e seus ensinamentos em prosa e versos são imortais. Escreveu: “Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

O filósofo francês Voltaire (1964-1778) escreveu que “Deus concedeu-nos o dom de viver; compete-nos a nós viver bem”. Vivemos bem quando cultivamos gratidão a Deus pelo presente da vida. E quando nos tornamos um presente para os irmãos.

Pedro Antônio brinca feliz com seu novo presente, enquanto não chega o verão. Brrummm Brrummm segue o menino imitando o som do motor do seu caminhão. Lá em casa se aprendeu desde cedo que cada criança que nasce é Deus nos presenteando com Amor. Viver é ser dom!... é ser presente! É preciso festejar a vida, dom maior do Criador que, um dia, em Belém, se fez Presente também!

Pe. Auricélio Costa – Novembro de 2018




CORAÇÃO-REPOLHO OU 
CORAÇÃO-ROSA

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Que tal contemplar um pé de repolho? Talvez você nunca se deu conta de como aquela cabeça de repolho foi parar na quitanda do verdureiro, ou mesmo lá na sessão de hortifrúti do supermercado, ou em algum lugar da cozinha de sua casa.  Tudo bem. Vejamos o pé-de-repolho. Ele tem família: os Brassicaceae (cujos parentes próximos são o nabo e a couve-flor)!
O agricultor prepara bem a sementeira. Trata-se de um lugar especial da horta, onde as sementes são cuidadosamente semeadas e acompanhadas nos primeiros dias. Elas brotam de dentro da terra fofa, irrigada e adubada. Quando a plantinha chegar a determinado tamanho (uns 12 cm) já poderá ser transplantada para um lugar definitivo. Ela crescerá, terá muitas folhas abertas o mais possível para absorver a luz solar e o orvalho. Torna-se uma bela planta!
De repente, de dentro dela, se inicia um movimento ao contrário: ela começa a se fechar... vai formando uma espécie de bola ou cabeça... suas novas folhas nunca verão o sol e ficarão muito claras. Diferentemente daquelas folhas que apanharam o sol e são verdes e fortes, cheias de clorofila. No entanto, estas mais escuras acabarão descartadas quando chegar a hora da colheita.
A dona de casa poderá abrir uma cabeça-de-repolho. Parece que cada unidade contém uma promessa de algo especial lá dentro. Mas, a senhora vai retirando uma folha, logo encontrará outra... e mais outra... até o miolo, que também é um aglomerado de pequenas folhas... Nada mais que isso... e folhas que não viram o sol! Será que podemos aprender algo com o repolho?
Existe uma planta que parece trilhar outro caminho: a rosa. E qual é, então, o processo da rosa, daquela que cresce ali no jardim de sua casa?... Ela também possui família: a Rosaceae (com mais de 100 espécies e milhares de variedades)! É muito apreciada e valorizada em todas as culturas. São muito usadas em momentos de alegria e, também, nos momentos de tristeza. Ela possui perfumes e cores muito apreciados. Se receber a devida atenção, produzirá rosas maravilhosas.
Ao contrário do repolho, ela nasce como botão, isto é, um aglomerado de folhas em forma de flor que vão se abrindo aos poucos. O tempo que viver, ela estará se abrindo mais e mais, sempre em busca do sol. E, enquanto ela caminha para o seu fim, vai enfeitando o jardim e exalando seu inconfundível perfume. Será que podemos aprender algo com a rosa?
Bem, o coração humano foi feito para amar. E enquanto o tempo vai passando, o coração vai querendo descobrir qual a sua vocação e a resposta necessária que precisa dar ao chamado.
Na Palavra de Deus encontramos umas 300 vezes o termo “coração”. Mais do que um órgão físico do nosso corpo, o vemos como a morada dos nossos sonhos, sentimentos, desejos, segredos, frustrações... 
Feitos à imagem de Deus, podemos facilmente entender que Ele também tem um coração.  Como lemos em Oséias: “Quando Israel era pequenino, Eu o amei... como poderia abandoná-lo? O meu coração se contorce dentro do meu peito...” E promete: “vou amá-lo de todo o meu coração” (Os 11,1.8;14,5).
Mas o nosso coração é perverso, traiçoeiro e enganador (Jer 17,9) e nem sempre agimos “segundo o coração de Deus” (Atos 13,22).  Como o repolho, fechamo-nos em nosso ostracismo, em nosso mundinho e não permitimos nem ser amados, tampouco amar.  E essa dinâmica é mortal: cada vez nos fechamos mais e mais até à morte.
No entanto, cremos que Deus entende o nosso coração. E “conhece os segredos” guardados aqui dentro (Sl 44,22) e tudo o que ele contém (Jo 2,25). Jesus alertou que um coração “enrepolhado” torna-se um obstáculo para o amor. Do seu interior “procedem os maus pensamentos como a imoralidade, roubos, crimes, adultérios, ambições sem limite, maldade... todas estas coisas más saem de dentro e contaminam o homem" (Mc 7,21-23).
E a rosa? Poderíamos aprender com a sua disponibilidade. Ela se abre para receber a luz do sol e o orvalho, mas também oferece sua beleza e seu perfume. Por isso percebemos que nosso coração precisa mudar, se abrir e se converter. Peçamos a ajuda de Deus. Ele disse “Eu esquadrinho a mente e provo o coração” (Jer 17,10). Rezemos como o salmista: “Ó Deus, cria em mim um coração puro, e renova no meu peito um espírito puro” (Sl 51,12).
A Igreja tem sido desafiada constantemente ao longo dos séculos. Ela não pode se fechar. Aberta ao Espírito Santo ela vai percebendo sempre mais que precisa ser “uma Igreja em saída”. O Papa Francisco tem falado deste seu sonho de uma Igreja “não auto-referencial”, voltada para seu umbigo (como um repolho); mas aberta aos desafios missionários (como uma rosa)!
Evidentemente que cada planta tem o seu valor. Mas, nós, cristãos, sabemos que Deus pode falar ao nosso coração através dos elementos da natureza. Que cada vez mais o nosso coração seja semelhante ao coração de Deus!


Pe. Auricélio – Diocese em Foco – Agosto/2018





URGE CANTAR COM O CORAÇÃO ARDENTE



No meio da gravação de uma canção, ele me interrompeu e explicou: “Padre, você quer que eu acredite nisto que o senhor está cantando? Então, cante com o coração e não apenas tecnicamente seguindo a melodia”. Era o Diretor Artístico quem falava. Naquela ocasião, no estúdio, enquanto eu preparava um novo CD, sentamos juntos e o ouvi falar sobre a importância de deixar o coração “cantar”.
Certamente que não foi a primeira vez que eu lidava com este tema. Mas, vez por outra, é importante refletir sobre a caminhada da gente. Pois, dotados com uma “vocação santa” (2Tim1,9) e tornados “discípulos missionários” de Jesus Cristo, cada batizado tem uma razão para sua existência: viver para Cristo, para instaurar o Seu Reino de Amor e de Justiça.
Sabemos que existem professores e professores, médicos e médicos, padres e padres... e assim por diante. Tecnicamente o professor precisa ter alguns atributos para bem exercer a sua bela profissão. Mas ele se torna uma referência para os demais quando sabe aliar aos seus conhecimentos científicos outros dados muito importantes: sua experiência de vida, seus valores, sua dedicação integral, quando se sente educador não apenas na sala de aula, seu compromisso social, quando busca novos métodos e conhecimentos... Existem muitos professores assim!
Em cada profissão encontraremos pessoas que conseguem “fazer a diferença” e se sobressair do parâmetro mínimo exigido.
Transpondo para a vida cristã, também haveremos que encontrar batizados que vivem sua fé com grande comprometimento, permitindo que ela permeie todos os meandros da sua vida. Para estes fiéis, religião não é apenas um conjunto de ritos, normas e obrigações... tampouco algo meramente tradicional, sem envolvimento pessoal e emocional.
Quando penso no esforço que certas pessoas fazem para poder participar de uma Santa Missa, ou para adorar o Cristo num dia de Corpus Christi... e no quanto se dedicam no cuidado amoroso de enfermos ou de idosos... concluo que a fé é mesmo um dom que “remove montanhas”.
É preciso que vivamos nossa fé com renovado ardor! É o apóstolo Pedro quem nos exorta: “Sobretudo, cultivai o amor mútuo, com todo o ardor!...” (1Pd 4,8). O adjetivo qualitativo “com todo o ardor” não é apenas uma ilustração literária. É um indicativo de que o cristão deve viver plenamente o Amor. O amor não pode ser “pequeno” ou “insuficiente” ou “comedido”. O amor é Amor e pronto. Por isso, no mesmo versículo lemos: “porque o amor perdoa uma multidão de pecados”! Ele provoca um novo jeito de lidar com as coisas do dia-a-dia, a forma de perceber os relacionamentos... O amor provoca conversão!
Podemos recordar São João: “Foi Deus quem nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Sim, pois “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele” (v.16).E o apóstolo Pedro ensina que o cristão é marcado pelo amor: “com ardor e de coração sincero amem-se uns aos outros” (1Pd1,22b). Portanto, ser cristão é ser morada de Cristo, testemunha d’Ele, íntimo do coração d’Ele... vocacionado para amar “como Jesus nos amou” (cf Jo 13,34).
A nossa sociedade duvida de nossa fé, suspeita de nossa doutrina, descrê de nossas verdades e desdenha a nossa religião. O poeta alemão Bertolt Brecht (+1956) assim olhava para este mundo: “Realmente, vivemos tempos sombrios! A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas denota insensibilidade. Aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar.” E o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (+2017) explicava que “vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar!... A modernidade líquida é um mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível”.
Em meio a tantos desafios, talvez necessitemos deixar que o Cristo que habita nosso ser fale mais “pra nós” (e não apenas para os outros); que Ele aja através de “nossas mãos” para acolher e abraçar e acalentar os que de nós se aproximam; que Ele mova “nossos pés” em direção às realidades desafiadoras que existem aqui no nosso bairro, ou na nossa família... que Ele abra “nossos olhos” para percebermos além das aparências, além do horizonte, além do óbvio e presumível.
Certa vez um homem de Deus, o profeta Elias, juntamente com o seu povo, teve que enfrentar uma grande miséria por conta da prolongada estiagem. O trabalho do campo, plantações e animais... tudo foi comprometido. Mas um dia, no terraço, ele disse ao servo: “olha no horizonte para ver se há nuvens se formando”. A resposta foi negativa por seis vezes. Elias mandou o servo observar o horizonte pela sétima vez; aí, sim, o servo disse: “há uma nuvenzinha, mas muito pequenina”. Foi o suficiente para que o homem de Deus mandasse avisar o rei Acab que a chuva estava chegando (1Rs 18,41-46).
Para o homem de fé bastou um pequeno sinal, que foi buscado com perseverança e confiança, para contemplar uma realidade que ainda não era perceptível para as demais pessoas. A fé verdadeira faz a diferença na vida do cristão. Ela é capaz de iluminar a vida do crente de dentro para fora.
Jamais esquecerei aquela experiência vivida no estúdio. “Cantar com o coração!..” para que ou outro acredite e acolha a mensagem. Movidos pela fé, com todo o ardor que o Espírito Santo suscita em nós, sejamos testemunhas do Amor!... Cristãos que fazem a diferença. E a diferença é amar como Jesus!

(Diocese em Foco – Julho/2018)






MISSIONÁRIOS SABEM ESPERAR 
E SABEM AGIR


Geralmente não gostamos de ter que esperar algo ou alguém em filas... às vezes, filas intermináveis! Pois bem, depois de termos pego filas em três lojas e repartições públicas, meu pai me disse: “o segredo de vir à cidade é ter paciência... é só saber esperar a sua vez... ela vai chegar... tudo se resolve com calma!” Na altura dos seus 80 e tantos anos de vida, ele aprendeu que não se pode fazer tudo de uma vez e que o tempo precisa ser respeitado.
Neste mundo de tanta correria, vivemos presos a horários e compromissos e agendas... Através das mídias sociais (especialmente de aplicativos como Facebook e WhatsApp) encurtamos distâncias e nos conectamos com muita gente ao mesmo tempo. Mesmo assim, reclamamos por não conseguirmos fazer tudo o que gostaríamos ou precisaríamos realizar numa jornada de 24 horas. O dia ficou curto! Vivemos angustiados!
Os trabalhos se acumulam sobre nossas mesas e estantes... Quantas tarefas de ontem ficaram para amanhã? E aquela visita a um parente doente? E aquela questão que precisa ser resolvida no Banco? E a conversa com aquela certa pessoa? E aquele momento em família? E aquele passeio? ... O tempo não dá tréguas! Como naquela propaganda de anos passados: “A vida passa... O tempo voa...!”
É necessário ter bom senso para saber qual o momento em que é preciso esperar e qual a ocasião certa em que se deve agir. Irresponsavelmente, há quem deixe tudo para “quando der” ou se conformando resignadamente ao “Deus dará”. E, geralmente, esse tempo nunca chega.
Acomodar-se diante dos compromissos não revela que alguém tem sabedoria e tampouco paciência. Pode ser, sim, a evidência de indiferença, imaturidade ou irresponsabilidade. Não é a toa que em pleno Golpe de 64  Geraldo Vandré cantava em coro com a nação brasileira: “Vem, vamos embora que esperar não é saber.... quem sabe faz a hora não espera acontecer!”. Perceber a hora de agir é sabedoria, é virtude. Não dá pra ficar parado, esperando tudo acontecer como que “num passe de mágica”. A vida não é questão de “abra-cadabra” ou “pirlim-pimpim”.
É preciso recordar aquela passagem da Ascensão de Jesus ao Céu diante de cerca de quinhentas testemunhas. Foi lá na Galiléia. Enquanto Jesus subia todos ficaram absortos, olhando para as alturas, impactados com a manifestação da glória de Deus (teofania). Então, dois anjos apareceram e lhes chamaram a atenção: “Homens, o que estais fazendo aí parados olhando para o Céu? Este Jesus que vistes subir, virá...” (Atos 1,10-11).  “Ide, pois, anunciar o Evangelho a toda a humanidade” (Mc 16,15).
Uma “Igreja em saída” é a grande moção que o Espírito Santo tem suscitado no coração do Papa e de tantos cristãos. Por muito tempo a dimensão missionária ficou relegada aos típicos missionários de Congregações Religiosas. Enquanto eles faziam a Igreja crescer lá longe, noutros continentes, nós nos habituamos a viver nossa religião no dia a dia, buscando os Sacramentos, fazendo uma ou outra desobriga... enquanto o mundo foi se tornando pagão bem debaixo do nosso nariz. Muitas de nossas festas cristãs perderam o viço da fé; muitos dos nossos sermões se converteram em palestras motivacionais; vários organismos eclesiásticos se transformaram em ONGs ou grupos de autoajuda. E o tal “Anúncio”?
Nesta época de grandes transformações, já não dá mais para cruzar os braços ou erguer as mãos para os Céus à espera de milagres. Eles existem, sim; e acontecem no seio de nossa Igreja.
Todavia, já não é mais tempo de ficarmos parados. A “espera” precisa ser fruto da “esperança”!... Isto é: uma esperança que já é uma certeza de que se alcançará a meta almejada! Esta é a esperança que queremos! É preciso colocarmo-nos à servido da vida, em dinâmica para o bem! Somos trabalhadores da Messe de Cristo! Operários que sabem que é Deus Quem abençoa e opera para que a obra chegue a bom termo (Sl 127,1; 138,8).
“Anunciai Jesus!” é o convite e ordenamento que o Espírito Santo dá à toda a Igreja! Não dá mais para esperar! É a nossa vez! Nossa ação missionária é a melhor forma de colaborarmos para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Nosso Brasil precisa da Igreja! O mundo precisa da Igreja! Mesmo que muitas pessoas e instituições não o saibam e até se riem de nós... Mas, eles precisam do Evangelho do qual somos portadores e despenseiros/administradores (1Pd 4,10)!
Visto que não queremos ser “tarefeiros” do Reino, mas discípulos missionários de Cristo, é preciso que nos deixemos mover pelo Espírito Santo. Ouçamos Sua voz através da Sagrada Escritura, do Magistério da Igreja e dos desafios sociais. Aprendamos a ser pacientes, mas sem ser acomodados; a termos esperança, mas sem deixar de firmar os pés no chão da vida; a aguardarmos a vitória, mas sem abdicarmos da “cruz-nossa” de cada dia.
Não nos esqueçamos de cultivar a ternura; porém, sem deixarmos de ser verdadeiros. Tampouco nos esqueçamos de ser alegres, misericordiosos e pacíficos, como é próprio dos filhos de Deus! Em nossa ação missionária, apesar da urgência da tarefa que nos foi confiada, não nos descuidemos de contemplar o pôr-do-sol e nem de escutar o barulho da chuva no telhado e nem de sorrir pras pessoas ao nosso derredor. Pois cremos que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,26-28).
De fato, meu pai tem razão: a nossa vida exige muita paciência... e sabedoria para se esperar a hora certa... e perceber os “sinais dos tempos”. Pois bem, essa é a hora! É a nossa vez! Somos uma Igreja em missão!... Em Santas Missões Populares!


Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco – Junho/2018






FESTEJANDO OS SANTOS ... 
... CELEBRANDO A VIDA

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Naquelas tardes de outono-inverno, lá na Passagem, em Tubarão, a gente se divertia muito. Meu tio Marfiso “Margulha” Costa, depois da oração do Pe. Vitor, direto de Aparecida pela Rádio Tubá, pegava a sanfona e... era só festa! A criançada e os jovens se juntavam no terreiro da casa e a gente dançava quadrilha de São João! “Anarriê!”... “Balancê!”...
Estamos vivendo dias de outono-inverno: clima mais fresco e também frio. Roupas mais pesadas. Dias curtos e noites boas de dormir. Comidas quentes e fortes são bem-vindas! Pinhão, amendoim, paçoca, puxa-puxa, pé-de-moleque, beiju, mané-pança, bijagica, cuscuz e pão de fubá... Sem falar na tainha que vai sendo capturada em nossas águas!
Se socialmente (por conta dos folguedos) ou fisicamente (por causa do clima e da culinária típica), este período é também propício para as manifestações religiosas. As festas se multiplicam por nossas comunidades. O calendário litúrgico prevê a memória de muitos santos neste período. E isso é muito bom!
Junho foi um mês rico de comemorações! Saudamos São Bonifácio (dia 5), Santo Antônio (dia 13), São João Batista (dia 24) e São Pedro e São Paulo (dia 29)! Mas também a Beata Albertina (dia 15) e São Luiz Gonzaga (dia 21)! Sem falar na devoção ao Sagrado Coração de Jesus (dia 08) e do Imaculado Coração de Maria (dia 09)!
E Julho não é menos favorecido nos festejos religiosos, não! Por serem colunas da Igreja, celebramos a solenidade de Pedro e Paulo no domingo, dia 01. Depois comemoraremos São Tomé (dia 03) e Santa Isabel de Portugal (que inventou a Festa do Divino – dia 04), Santa Paulina (dia 09), Nossa Senhora do Carmo (dia 16), São Tiago Maior (dia 25) e São Joaquim e Santa Ana (avós maternos de Jesus, dia 26).
A festas e solenidades religiosas têm um propósito: ajudar-nos a recordar nossos irmãos na fé que testemunharam seu amor incondicional a Jesus e à Igreja. Por isso, nossas Festas não podem se reduzir a folguedos, danças, procissões, foguetes e enfeites, tampouco em comilanças e brincadeiras. Tudo tem o seu valor, evidentemente. Mas, será que os Santos e Santas não têm mais nada a nos ensinar?
Bem, no Antigo Testamento Deus já havia revelado seu desejo: “Sede santos, porque Eu sou Santo” (Lv 11,44). Ao que Jesus confirmou: “Sede santos como o vosso Pai do Céu é Santo” (Mt 5,48). Já que fomos criados à Sua “imagem e semelhança” (Gn 1,26), trazemos em nosso DNA a semente da santidade!
S. Pedro, por exemplo, exorta os cristãos: “aproximem-se do Senhor, a ‘pedra viva’ rejeitada pelos homens... Vocês também, como ‘pedras vivas’ vão entrando na construção do templo espiritual e formando um sacerdócio santo!... Vocês são uma raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas d’Aquele que chamou vocês das trevas para a luz maravilhosa... agora vocês são o povo de Deus!... e alcançaram misericórdia!” (1Pd 2,4-10).
Jesus nos dá um caminho para a santidade no dia-a-dia, chamada Regra de Ouro: “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” (Mt 7,12).  E nos apresenta o resumo dos Mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas... e ao próximo como a si mesmo” (Mt 22,37-40). E tem ainda o caminho das Bem-aventuranças (Mt 5,1ss)!
Os Santos e Santas festejados nestes meses nos convidam a olharmos para Jesus e aprendermos d’Ele o caminho de santidade. Mesmo vivendo na terra, busquemos as “coisas do alto” (Col 3,1) e ajuntemos “riquezas no Céu” (Mt 6,20).
As festanças nos arraiais de nossas comunidades sejam fecundas em promover a fraternidade e cultivar o compromisso pela construção de um mundo mais justo e pacífico.
Naquelas tardes festivas lá na casa do tio Marfiso, sem que a gente soubesse, a gente estava celebrando a vida. E a vida é dom de Deus! Sempre é tempo de louvar a Deus, como bem o fizeram nossos Santos e Santas! “Rasgue a sanfona, seu gaiteiro! É tempo de festejar!”


Pe. Auricélio Costa – Para a Revista São Pedro Apóstolo – Cabeçuda, LG. Julho/2018.






TESTEMUNHAR JESUS
ENTRE LAGARTAS E BORBOLETAS


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Incomodam uma barbaridade. Não há hortelão que não se irrite com elas. E elas surgem inesperadamente... primeiro uma, depois duas... e logo são dezenas, centenas... incontáveis! Parecem estar brincando em meio aos canteiros com verduras no quintal de nossa casa.
Eu gosto de borboletas! Elas são lindas, têm tamanhos variados, são multicolores e silenciosas... Sobrevoam saltitantes de planta em planta. No entanto, passados alguns dias, o resultado daquela dança se revelará nefasta, destruidora, invasiva: uma multidão de lagartas de todos os tamanhos a devorar as folhas mais tenras das plantinhas. É a chegada do caos... e quase sempre é, realmente, o fim. As lagartas peçonhentas provocam ânsias e até repulsa no observador mal acostumado.
Porém, a mãe natureza preparou uma surpresa. Quando ninguém poderia imaginar, aquelas repugnantes lagartas vão se protegendo dentro de casulos. E, numa bela manhã ensolarada, elas eclodem do seu esconderijo e já não lembram mais (nem de longe) as lagartas que eram: agora têm asas, multiformes e com cores variadas... Aos poucos vão se acostumando com a nova condição até começarem a voar.
As borboletas parecem frágeis, mas elas suportam temperaturas hostis e conseguem viajar milhares de quilômetros sem um pouso de descanso sequer.
Elas podem nos ensinar muitas coisas. Somente os simples de coração são capazes de contemplar a natureza e perceber como Deus, o Criador, vai se comunicando conosco através de suas criaturas; inclusive através de um punhado de borboletas. Jesus já nos exortava: “Olhai as aves do céu... as flores dos campos...” (Mt 6,26-28)!
Há momentos na nossa história pessoal em que queremos um lugar ao sol, ser reconhecidos, ser respeitados em nossa condição humana e por nossas habilidades. Gostamos que valorizem nossa presença, nossas opiniões e as escolhas que fazemos. Buscamos, quase que mecanicamente, ser enturmados, acolhidos no grupo e, muitas vezes, colocados no centro das atenções. Parecemos aquelas borboletas irrequietas que se fazem notar, pois saltitam, nos seus voos tresloucados, entre a ramagem.
Nossa sociedade tem incentivado a vaidade, o narcisismo e o “sobre-si-mesmar-se” (isto é, o endeusamento de si mesmo). No mundo artístico e desportivo isso parece natural; e vale tudo para permanecer nas listas dos “mais famosos”, “mais comentados”, com maior quantidade de “likes” (joinhas nas redes sociais), os mais badalados, os mais premiados... Há empresários que lucram fortunas promovendo pessoas; tudo em nome do dinheiro! 
Passado algum tempo, percebe-se o resultado de tanta vaidade: as “lagartas” surgem devorando tudo!... Absolutamente, tudo! Em outras palavras: vale tudo pelo sucesso! Assim, os valores da religião, da família, das Instituições... tudo fica relegado ao segundo plano. A herança recebida e transmitida como valor, de geração em geração, agora é questionada, menosprezada, abandonada.
Não é isso o que percebemos, por exemplo, com o advento das ideologias que promovem a descriminalização do aborto e das drogas?! A destruição dos princípios vitais desnorteia a sociedade. Quais “lagartas” no quintal, tais ideologias causam repulsa e desprezo.
Porém, assim como acontece na natureza, o ser humano tem percebido que o mal pode ser superado, que o tempo pode resolver muitos problemas, que a paciência profética também pode ajudar a construir o bem!... Sábias as pessoas que não se desesperam porque a noite tornou-se de um breu tão espesso e sem luar. Elas sabem que o sol tornará a raiar na manhã seguinte; é preciso esperar o alvorecer!
Vivemos tempos sombrios em nossa sociedade. No mundo da política, por exemplo, quase já não vemos luz... às vezes, nem no fim do túnel. Nossos relacionamentos têm revelado que precisamos nos amar mais, nos valorizar mais, nos respeitar mais!
Assassinatos, roubos, corrupção, mentiras... tudo contribui para que desanimemos na caminhada. É quando a luz da fé vem nos iluminar: “Vós sois todos irmãos”, disse Jesus, como lembramos na Campanha da Fraternidade (Mt 23,8). É como costumamos cantar: “Onde o amor e a caridade, Deus aí está” (cf 1Cor 13).
Nós, cristãos, já sabemos que a vida pode renascer do nada, “das cinzas”. Jesus rompeu o lacre que o prendia no túmulo funerário. O sepulcro está vazio! “Ele não está aqui; ressuscitou!” (Mt 28,6). Nós somos testemunhas d’Ele, do Cristo vivo, o Ressurreto, o que vive para sempre!
São Paulo escreveu: “agora vemos tudo como que por um espelho, de maneira confusa... mas, depois, veremos face a face..” (1Cor 13,12).  Nós conhecemos as “lagartas” do dia-a-dia, mas também lembramos das promessas de Jesus: “No terceiro dia, Eu ressuscitarei” (cf Lc 18,33)! Nem para os Apóstolos foi fácil “ficar sem Jesus”!
Mas, naquele Domingo, “o primeiro dia da semana”, uma alegria tomou conta do coração de todos, e eles saíram a anunciar o Evangelho, animados pelo Espírito Santo. Pentecostes! Passou o tempo do medo, da desesperança, das inverdades recobertas com “pele de cordeiro”. As “lagartas” se tornaram borboletas muito lindas e divertidas, voando e sobrevoando toda a verdura do quintal.
Eis uma singela metáfora da Ressurreição do Senhor. É preciso que percebamos o sentido das várias fases da vida e dos acontecimentos. Jesus compartilhará sua vitória com os seus amigos (cf Ap 3,20-21).
Esse mesmo exemplo nos faz pensar sobre tantos irmãos que deixamos à margem de nossa história, quais lagartas desprezíveis. É tempo de acolher, de bendizer! Deus está agindo em nossas vidas. Ele pode transformar meras lagartas em borboletas. E saberá nos ajudar a superar nossas cadeias e prisões. Enfim, o desespero do hortelão será transformado em espetáculo da Criação!

Pe. Auricélio Costa – DF, Maio/2018





A NECESSIDADE DE CONTEMPLAR O CRIADOR

 

Quem passa pelo Posto da Polícia Rodoviária Estadual em Pouso Alto, no município de Gravatal (SC-438) pode acompanhar o número de dias sem acidentes fatais naquele trecho da rodovia. Um painel foi colocado há alguns anos bem à vista dos motoristas e demais transeuntes. Nos últimos tempos temos observado que o número dificilmente chegava à casa dos três dígitos. Mas, felizmente, nos meses de novembro de 2017 a fevereiro de 2018 chegamos a ter mais de 150 dias sem acidentes fatais naquela via!
Não é sobre os desafios do trânsito em nosso país que eu gostaria de refletir. Embora não se possa fechar os olhos às mais de 47 mil mortes no trânsito no último ano, além das mais de 400 mil pessoas que ficaram com sequelas... e um ônus pro Brasil na casa dos 56 bilhões de reais.
Os carros com motores cada vez mais potentes e velozes, os celulares com Operadoras que oferecem serviços instantâneos, as enxurradas de informações que são despejadas sobre nós cada dia... são reflexos de uma realidade que tem mexido com nossas vidas. O que eu proponho é uma reflexão sobre o tempo de viver e sobre como viver (ou sobreviver) neste tempo!
Esta tal velocidade é uma metáfora da necessidade que o ser humano tem de querer viver todas as emoções e sensações possíveis, de tudo desfrutar e gozar ao seu bel prazer... Em meio a tudo isso há um grande perigo: perder completamente o sentido de sua existência, afastando-se da sua essência, isto é, do seu Criador.
A maioria de nós ainda é daqueles que não conseguem acompanhar as inúmeras revoluções que acontecem em todas as áreas da Ciência e da vida humana. Temos a impressão de que o tempo vai passando cada vez mais rápido e sentimo-nos cobrados em dar respostas às exigências que nos vêm de todos os lados. Viver tornou-se um dilema... um desafio... um fardo. Muitos desistem de lutar e tentam passar os dias à margem de tudo; enquanto outros desistem de viver, fazendo aumentar o número de suicídios ano após ano.
O ser humano vai se afastando do essencial, e perde o gosto de sua existência. O que fazer? É urgente aprendermos (ou reaprendermos) a contemplar a Criação.
Numa de suas famosas Catequeses (09/11/2015), o Papa Bento XVI explicou que “todo ser humano é capaz de encontrar a Deus através da Criação, cuja grandeza e beleza leva a pessoa a contemplá-Lo”. E citava o Salmo 135/136, o “Grande Hallel” dos judeus entoado durante a Páscoa. Nele Deus se apresenta “como uma Pessoa que ama as suas criaturas, vela sobre elas, as segue no caminho da história e sofre pela infidelidade do povo a seu Amor misericordioso e paterno”.
Diante de tanta correria e incertezas, ensinava o atual Papa emérito, que o homem precisa aprender “a dar graças a Deus pelo esplendor e (pela) beleza das maravilhas que (Ele) nos deu para contemplar na Criação e nas obras dos homens”.
Mais tarde, em 19 de Outubro de 2011, noutra Catequese vespertina, Bento XVI retorna ao tema e diz que o Grande Hallel “provavelmente foi rezado também por Jesus na última Páscoa, celebrada com os discípulos”. Os evangelistas assim registraram: “Depois de cantar os Salmos, saíram para o horto das Oliveiras” (Mt 26,30; Mc 14,26). É muito bom imaginarmos Jesus cantando o refrão do referido Salmo: “porque o Seu amor é para sempre”; ou noutra versão: “porque a Sua misericórdia é eterna”. Certamente este louvor deve ter iluminado o coração de Jesus no caminho difícil do Gólgota.
Jesus e os apóstolos cantaram os numerosos prodígios de Deus na história dos homens e as suas intervenções contínuas a favor do seu povo! O Papa explicou que precisamos proclamar o Amor de Deus em todas as situações: “um amor eterno... um amor que, segundo o termo hebraico utilizado (‘hesed’), exige fidelidade, misericórdia, bondade, graça e ternura”.
Não podemos perder a certeza de que Deus, o Senhor do tempo, caminha ao nosso lado. E que, com Ele, nós somos fortes! Diante do turbilhão de sentimentos que perpassam nosso interior, cabe-nos fazer a “memória” da bondade do Senhor, do Seu poder, de que a Sua misericórdia é válida e dura para sempre! Esta memória torna-se força da nossa esperança.
Recordarmos que Deus existe e que tudo providencia para o bem de Seus filhos e filhas pode nos ajudar a termos equilíbrio diante dos apelos da vida cotidiana. Na prática, é salutar tirar um tempo para caminhar despreocupadamente na praça, ou na praia, ou no interior... respirar conscientemente... deliciar um alimento calmamente... ler um bom livro... ouvir com prazer algumas canções... sentir o silêncio, o vento, o sol... encontrar pessoas... rezar o terço... Bem, a lista é longa! É preciso reservar tempo para contemplar!
Nas nossas rodovias os veículos continuam a transitar velozmente... E o painel contabilizando os dias sem mortes no trânsito continua sendo atualizado diariamente pelos policiais rodoviários.
De modo geral, a sociedade continua a exigir que sejamos “velozes” nas decisões a tomar, nos modismos a assimilar, nas tarefas a serem feitas... Mas não podemos perder a noção de que somos de Deus, fazemos parte da Criação, fomos criados para viver em comunidade! E que Deus é o sentido da nossa vida! Ele é Amor e Misericórdia!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina – Abril/18




SOMENTE EM JESUS
O MARTÍRIO TEM PLENO SENTIDO


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Eles vão entrando curiosos e silenciosos no Santuário. Persignam-se com água benta, andam pelos corredores da nave central, ajoelham-se, alguns rezam por uns instantes no banco... e dirigem-se para o altar onde está a imagem de Albertina. São os romeiros e devotos... atraídos pelo martírio da jovenzinha de Imaruí... impressionados com a coragem da “santinha” e com a maldade do seu algoz.
Os mártires são tesouros de nossa Igreja! Em todos os tempos a Igreja tem colhido seus mártires. Mas nunca como nos últimos séculos! Nem no tempo das “grandes perseguições” romanas! Os mártires mexem com nossa coerência religiosa, com nossa fé batismal, às vezes tão inexpressiva e estéril.
Como não se deixar comover pelo exemplo dos apóstolos Pedro, Paulo, Bartolomeu...? E a tenacidade dos jovens Sebastião, Cecília e Luzia? Soa e ecoa em nossos ouvidos o exemplo dos mártires dos primórdios do Cristianismo sendo entregues ao fogo, às caldeiras de água ou óleo ferventes, pregados em cruzes, decapitados, esfolados vivos, esquartejados, lançados às feras nas arenas esportivas... S. Policarpo, Bispo de Esmirna, condenado por Marco Aurélio no ano 155, antes de ser queimado vivo proclamou: “Sede bendito para sempre, ó Senhor; que o Vosso Nome adorável seja glorificado por todos os séculos”. 
O quê pensar dos mártires do último milênio, desbravando continentes e os mais diversos perigos!... enfrentando poderosos e perseguições e doenças!... Abandonando seus torrões-natais e familiares eles empreenderam viagens para lugares desconhecidos... e lá amaram outros povos, absorveram outras culturas... e permaneceram fiéis ao ideal que moveu seus corações: Jesus Cristo e o Seu Reino!
Nos nossos dias continuamos a receber notícias de homens e mulheres capazes de sofrer toda perseguição e até a morte por causa de Jesus! A Igreja continua a colher essas belas flores no jardim da humanidade. E não há como ficar insensível diante do testemunho de agentes de pastoral, leigos ou consagrados, que desbravam as terras de missões (como a Amazônia e países da Ásia e da África) e as periferias existenciais de nossas cidades, com suas favelas e edifícios e a complexidade de nosso mundo hodierno!
Inflamam amor nos corações das pessoas, promovem a defesa da vida e semeiam a justiça e a paz! Estão ali por inteiro e dispostos a derramar seu sangue pela Causa do Reino, isto é, por Jesus Cristo!
É Ele o grande referencial, o sentido mais profundo da entrega da vida. Pois Ele mesmo, sendo Deus, fez-se oblação, vítima pascal, oferecendo-se no altar da última Ceia, bem como no altar do Gólgota. A vida toda de Jesus foi uma entrega ao Pai por causa do Reino. Foi um martírio que culminou com a entrega no Getsêmani e, por fim, no Calvário. Ele foi abandonado pelos amigos, caluniado, flagelado, coroado de espinhos, humilhado, crucificado e morto entre dois ladrões. É o “servo sofredor” de Isaías (Is 52,13-53,12).
Eis Seu segredo: o Amor! Amou plenamente o Pai: “Seja feita a tua vontade!” (Mt 6,10). E amou plenamente a humanidade: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos! E eu chamo vocês de amigos!” (Jo 15,13).
Há pessoas dispostas a morrerem pelas mais diversas “causas”. O mártir cristão tem seu coração voltado para a Vida: quer viver, promove a vida, crê na Vida eterna e, por tudo isso, compreende que a sua morte pode gerar mais vida. Foi esse o argumento do escritor cristão do século II, Tertuliano, na sua missiva ao mesmo imperador Marco Aurélio, que não adiantava perseguir e matar mais cristãos porque “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.
Certamente não é em vão que estão sendo derramados rios de sangue de cristãos nas perseguições religiosas, especialmente de extremistas muçulmanos. Como se esquecer do recente martírio dos 21 cristãos coptas egípcios decapitados vivos na Líbia, em 2015, pelo Estado Islâmico, diante das câmeras de TV?!
O testemunho dos mártires de todos os tempos deve nos animar a vivermos nossa fé batismal cada vez mais intensamente. Neste ano dos Leigos e Leigas temos a oportunidade de nos valorizarmos, cultivarmos nossa pertença eclesial, nos aproximarmos mais de Jesus e dos irmãos! Através da Igreja (que somos nós!) Cristo continua se imolando e se martirizando nos altares de nossa existência.  Como São Paulo, podemos dizer: “Completo na minha carne o que falta a paixão de Cristo, no seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24).
Diariamente o Santuário de Albertina recebe romeiros da região e de outros municípios. O testemunho daquela que disse: “Não, é pecado! Deus não quer” continua tocando corações e aproximando as pessoas do Mestre Jesus; Ele que deu a Sua própria vida a fim de alcançar para nós a Vida verdadeira! Aleluia!


Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina






NOSSO VIVER É DEIXAR RASTROS DE AMOR Resultado de imagem para marcas de amor

Em pé, na porta da casa, ele acenava e sorria para nós, enquanto estávamos indo embora. Parecia alto. Estava vestido de seu pijama azul claro, listrado. Eis a única memória que guardo de meu querido avô. Não lembro mais nada. Mas posso afirmar que era um bom homem, que eu gostava dele e que me sentia acolhido por ele. Logo em seguida ele voltou pro Céu. Esta lembrança faz parte do meu acervo histórico pessoal.
Uma singela recordação como esta pode parecer algo insignificante. Mas, não é. A construção de nossa personalidade, daquilo que somos hoje, comporta inúmeras experiências e vivências que temos com as pessoas que passaram e passam por nossa vida. Cada uma vai deixando um pouco delas em nós. Sejam experiências boas ou negativas, somos tocados pela presença de tanta gente, desde a mais tenra idade... – e, pasmem, mesmo no ventre materno!... e há sérios estudos sobre as heranças genéticas e “afetivas” que recebemos dos antepassados mais remotos!
É bom saber que não somos “independentes” das influências externas, pois, de fato, ao longo da vida, vamos edificando a nossa história pessoal num contexto de muitas outras histórias que se fundem, se confundem e se somam às nossas. São histórias de saberes e afetos adquiridos, recebidos e compartilhados. Experiências de acolhimento e de rejeição, de descobertas e de superações, de sonhos socializados e decepções guardadas...
Enfim, pela vida não vamos passando incólumes, sem que nada nos atinja, nos toque, nos provoque, nos transforme. Da mesma forma, também nós vamos deixando as nossas marcas pelo caminho. Importa pensar que podemos deixar marcas positivas naqueles companheiros de jornada. É tremendo podermos ajudar alguém a ser uma pessoa melhor, mais completa e feliz. É uma graça especial que, com nossas ações e atitudes, podemos influenciar de alguma forma na vida de alguém, mesmo que ela não o saiba.
Enquanto trilhava os caminhos da Palestina, Jesus ia sendo marcado e marcava a vida das pessoas. Ele se permitia tocar pela gente, pela realidade das pessoas e do seu povo... e deixava em todos as suas marcas também. Seu olhar, suas palavras, seus gestos, seus sonhos, seu sorriso, sua austeridade... tudo em Jesus era marcante! A ponto dos soldados do Templo, quando foram mandados pelos sumos-sacerdotes prender Jesus, voltaram de mãos vazias e justificaram: “Ninguém jamais falou como este homem!” (Jo 7,46). Até na vila onde se criou, em Nazaré, seus conterrâneos ficavam perplexos diante d’Ele: “De onde lhe vem toda essa sabedoria?” (Mt 13,54). E ficavam perturbados: “Não é ele o filho do carpinteiro?...” (v.55).
Por onde Jesus passava, de alguma forma, todos eram atingidos. E vidas eram transformadas! Como a de Bartimeu, o cego de Jericó, cujos olhos foram abertos pela fé (cf Mc 10,48). E o cobrador de impostos Mateus, no encontro com Jesus, teve uma reação imediata: “se levantou e seguiu Jesus” (Mt 9,9). Zaqueu, outro cobrador, após o encontro com Jesus, decidiu mudar de vida: “se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais” (Lc 19,8). Até os estrangeiros eram marcados com a passagem do Mestre em suas vidas; como o centurião de Mt 8,8: “Senhor, dize uma só palavra e o meu servo será curado”.
Nos Evangelhos são muitas as evidências do quanto Jesus marcou a vida das pessoas em seu tempo. E marcou toda a humanidade! E se Ele encontrar espaço em nossos corações, então, hoje, seremos tocados profundamente também. Pois Ele mesmo disse: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
A cada dia que passa, nós estamos mais perto do dia de deixarmos este mundo e nos apresentarmos diante de Deus. Que de nossa passagem por este mundo – não importando quantos aniversários tenhamos comemorado – restem muitas marcas positivas na vida dos que se aproximaram de nós!
Portanto, deixemos rastros de amor e de santidade por onde estamos passando! Deixemos sinais de alegria e de esperança naqueles que caminham ao nosso lado! Que nossa vida valha a pena não por conta das muitas aventuras que fazemos e das loucuras que cometemos e dos troféus materiais que conquistamos; mas por termos nos deixado amar e tenhamos amado imensa e sinceramente!
Temos uma grande responsabilidade enquanto estamos trilhando os caminhos deste mundo. O nosso ideal será sempre Jesus: “Ele fez bem todas as coisas” (Mc 7,37).
Eu não tenho outras recordações do meu avô João Henrique. Mas, dentro de mim, gosto de lembrar daquele homem grandão acenando serenamente para mim... No rastro de minha vida trago as marcas daquele homem que sorriu pra mim com amor.



(Pe. Auricélio Costa - Diocese em Foco – Dez. 2017)






A URGÊNCIA DE CANTAR JESUS CRISTO

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É nos ministros de música religiosa que estou pensando neste momento. É a pergunta de Jesus aos seus discípulos que também me questiona a mim. Mc 8,27-30: “quem dizem as pessoas que Eu sou?”.
As respostas dos discípulos dão claramente a noção de que havia uma grande confusão na cabeça da comunidade sobre quem era mesmo esse tal Jesus. Um novo profeta, mais um pregador, a reencarnação de um dos antigos profetas do judaísmo, etc? O que sentiu Jesus ao ouvir tais respostas estapafúrdias e superficiais? Não sei.
Então Jesus inverteu e aprofundou a questão: “mas, e para vocês, quem Eu realmente sou?”. Movido pelo Espírito Santo Pedro, aquele pescador de cabeça dura, a Pedra, respondeu: “Tu és o Cristo!”.
Hoje não dá pra gente pensar que todos são cristãos, que todos já conhecem Jesus Cristo, que todos têm o mesmo entendimento sobre Sua missão e Sua natureza divina. Em nossa missão, como nos tem recordado o Papa Francisco, não podemos supor que nossa sociedade seja cristã. Não! É preciso anunciar, é preciso testemunhar, é preciso cantar a nossa fé!
Não podemos nos furtar de nosso compromisso batismal de anunciar Jesus: sua Pessoa e seu Reino! Até mesmo dentro de nossa Igreja! Daí a importância de buscarmos conhecer mais sobre Ele, fazermos uma experiência de intimidade com Ele através da oração, buscarmos encontrá-Lo nos mais pobres, e também na Palavra de Deus e nos Sacramentos, na vida eclesial...
O músico religioso – e aqui podemos incluir os cantores, os compositores, os arranjadores, os técnicos, os colaboradores – precisa cantar mais e com maior convicção a sua fé... a fé anunciada pela Igreja. Mais claramente: é preciso cantar a Pessoa de Jesus e o Seu Reino de Amor!
Podemos cantar aquelas lindas canções que falam de natureza (a nossa casa Comum!), das montanhas, das flores, da paz, da misericórdia, da amizade... Mas é cada vez mais urgente cantar o “querigma”, isto é, a proclamação da fé na Pessoa de Jesus.
O Creio que recitamos nas Missas dominicais pode ser a base do conteúdo: “Creio em Jesus, seu Único Filho Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos e ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus e está sentado à direita de Deus Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”!

Jesus exortou: “como crerão se não houver quem lhes anuncie?” Todavia, somente a pregação não basta. É necessário o testemunho fiel. O músico cristão canta o que acredita e o que experimenta. Ele não é um mero intérprete, um artista convencional. Ele é um discípulo-missionário! Portanto, um servidor, um ministro, um apóstolo do Reino! O mundo precisa de nossa canção! 

(Pe. Auricélio Costa - 2017)






CRIANÇAS PRECISAM VIVER

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Há um clima de festa no ar. O quarto dos jovens pais está mais colorido, alegre e, além dos móveis tradicionais deste ambiente, encerra, mais ao lado, uma caminha de bebê. A sensação de expectativa alimentada por anos faz aumentar a ansiedade da espera de alguém muito importante: mais um filho para o casal! Armários guardam montanhas de fraudas descartáveis e outros produtos que ajudarão a cuidar e a lidar com o novo habitante. Em tudo se percebe muito carinho e ternura.
Tenho visto muitas vezes essa cena... em minha própria família, sendo o primeiro de sete filhos e tio de muitos sobrinhos! Gostaria de ter visto somente isso, cenas de tanta beleza. Mas, infelizmente, não.
Diariamente, os noticiários testam nossa resistência humana e nossa fé ao nos apresentarem uma enxurrada de notícias em que as crianças são desprezadas pela sociedade e vítimas de inúmeros descasos.
Criança precisa nascer... precisa viver... e crescer cercada de cuidados e afetos. Criança precisa sentir o calor do colo do pai e da mãe e dos demais familiares... Criança precisa ser tocada... instigada a rir, a se manifestar, a se relacionar, a interagir... Criança precisa que lhe façamos “cosquinhas”, que lhe façamos “caras e bocas”, que se cante pra ela, que se “converse” com ela... precisa ouvir “meu amorzinho”, “lindinha”, “fofinha”, “anjinho”, “coisinha do pai e da mãe”... Criança precisa de total atenção e cuidado, de que se tente aprender sua linguagem, que haja silêncio e respeito... Criança precisa da bênção dos pais e dos avós e dos padrinhos... precisa de amor!
Criança não deveria morrer! É vida em plenitude! Cercada de sonhos, esperanças, possibilidades, promessas!... É por isso que o Mestre de Nazaré quis também ser criança, nascendo em Belém. Não dispensou a presença de um pai humano, mesmo que adotivo. Até nisso Ele quis revelar a necessidade de o pai tenha um amor maior para poder cuidar de uma criança. E quando, ao seu redor, a força da morte derramava sangue pueril de tantos outros inocentes (Mt 2,16), é nos braços dos pais que Ele se refugia no Egito, onde outrora seus antepassados haviam penado a escravidão. Mas Ele é livre... e se revelará o verdadeiro Libertador (Lc 4,18-19).
Educado com esmero pela “maior educadora do mundo” – pois fora escolhida para educar o Rei dos Reis (o Messias e Filho do Homem), e por um carpinteiro “bom e justo”, Jesus aprendeu no seio familiar a importância da religião e da pertença a um povo escolhido por Deus. Assim descobriu que era filho do Pai do Céu e com o Qual deveria estar sempre “ocupado” (Lc 2,49).
Quando percebeu que os apóstolos estavam impedindo que as crianças se aproximassem d’Ele, repreendeu-os: “deixem que venham a mim as crianças, porque delas é o Reino dos Céus” (Mt 19,14). Que festa devem ter feito aqueles pequeninos, desfrutando da atenção exclusiva do Mestre que, certamente, lhes contou algumas histórias fascinantes!
Criança precisa ser amada, ouvida, educada no amor, com amor e para o amor. Isso me faz lembrar certo padre formador de nosso Seminário. Ele gostava de deixar sempre à mostra sobre a sua escrivaninha a seguinte frase: “quem ama educa”. Sim, educar, mas como gesto de amor.
No afã de preparar seus discípulos para serem testemunhas do Amor maior em todos os recantos do mundo, Jesus lhes deu o exemplo: “amou-os até o fim” (Jo 13,1). Mas quando percebeu que estavam se enciumando, discutindo sobre quem deles seria o mais importante e outras mesquinharias, o Mestre tomou novamente uma criança no colo e a colocou no meio deles. O ensinamento é direto e comprometedor: “quem quiser ser o maior e entrar no Reino seja como esta criança” (Mt 18,1-5). Jesus coloca a criança no centro e põe de lado outras intenções mundanas.
Criança não pode morrer nem padecer nas grandes guerras lá fora e nem naquelas guerras do nosso cotidiano. Nem sob a ação de milícias que causam terror nas cidades e bairros; tampouco por causa dos desmandos governamentais que cortam políticas públicas que deveriam proteger os “pequenos filhos da pátria, mãe gentil”.
Somente uma sociedade doente pode conviver normalmente com ondas e propagandas pró-aborto, achar normal que crianças cresçam sem pais ou com protótipos de pais, criminalizar a mãe que abandona um rebento na lata de lixo, continuando a incentivar a promiscuidade sexual cada vez mais em tenra idade...
Criança precisa conhecer limites, normas, direitos e deveres... Mas, sobretudo, criança precisa viver para crescer e ocupar seu lugar no mundo. Pois, como acreditamos, Deus tem um projeto de amor para cada pessoa. E ninguém vem ao mundo (mesmo que por alguns segundos) sem que haja uma razão divina.
Toda criança deveria ser recebida neste mundo com muito amor. Uma família, um berço... uma festa! Pois, cada criança, é um sorriso de Deus para nós! Precisamos deixar Deus sorrir mais!


Pe. Auricélio Costa - Diocese em Foco - Set. 2017






COMUNIDADE DA PASSAGEM 
SE DESPEDE DE SUA IGREJA MATRIZ 

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Não foi sem grande emoção que o povo da Passagem, em Tubarão, nestes dias está se despedindo de sua igreja. É que o atual prédio já não comporta mais as necessidades da comunidade. 

Por isso, ele dará lugar um templo novo, moderno, mais amplo, com estacionamento subterrâneo. Será o Santuário de Santa Terezinha. À frente estão o Pe. Edison Müller e grande equipe de fiéis. 

Eu vivenciei muitos momentos importantes no antigo local de culto da comunidade, o Salão Pio XII, na Rua Lauro Müller. Acompanhei a preparação do terreno para a construção da atual igreja, nas margens da Estrada de Ferro (depois Avenida Marcolino Martins Cabral). 

Era criança, mas guardo muitas boas lembranças deste espaço: tanto na experiência pessoal, quanto na vivência em comunidade. A Igreja de Santa Terezinha é símbolo de muito crescimento em minha caminhada vocacional e religiosa. 

Nossas festas, nossos Grupos de Jovens, nossos presépios gigantes, os encontros de catequese e da Legião de Maria, as noites da Penitência, os encontros de formação como a EFAPA, atividades de tantas pastorais, os programas de rádio através dos auto-falantes, as campanhas de solidariedade, a preparação das Ordenações, a presença das Irmãs, os padres que por ali passaram (desde o Pe. Érico), o testemunho de D. Ana, D. Dorinha, D. Alita, Seu Argemiro, Seu Manequinha Fermiano, Seu Anibal Rosa, Seu Valmor Orige... O desmembramento da Paróquia da Catedral, a tão esperada instalação da nova Paróquia... a chegada dos padres... a capela foi elevada à Matriz... tempos novos!


Foi ali que presidi a minha Primeira Missa! A padroeira foi uma grande referência em meus anos juvenis! 

Agora receberá um Santuário! Embora a comunidade não tenha sonhado ter um Santuário, o empenho de todos ajudará a comunidade a ser uma Igreja mais viva, mais orante, mais missionária, mais solidária ainda... um sinal de Deus nesta paróquia tão populosa e socialmente desafiadora. Não somente terá, mas será um Santuário! E o Santuário é a morada do Santíssimo Deus!
(01/10/2017 - Pe. Auricélio) 






É PRECISO TESTEMUNHAR A LUZ

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As tardes eram sempre mais longas na infância. Juntamente com irmãos e primos, passávamos um tempão deitados na varanda ou no gramado olhando para o céu azul. Ali nos divertíamos imaginando formas nos desenhos que as nuvens lá no alto desenhavam. Quantas vezes olhávamos para as árvores lá no alto dos morros e observávamos seus contornos; podíamos jurar ter visto elefantes, girafas... e dinossauros. Nossas tardes eram iluminadas! Há lembranças que a gente não esquece nunca mais! Como é bom aprender!
Certa vez, ao anoitecer, nosso pai nos ensinou, apontando para o morro: “estão vendo aquela luz acesa lá na escuridão da mata? Lá mora um amigo”. Anos mais tarde eu pude compreender o que o pai estava nos ensinando: é que, se porventura, algum de nós se perdesse de casa, deveria buscar socorro caminhando na direção da primeira lâmpada; pois lá, talvez, alguém poderia nos socorrer.
O tempo foi passando e, ainda hoje, deliberadamente, muitas vezes escolhemos andar longe da luz. E nos aventuramos em tantos caminhos e descaminhos que, quase sempre, nos levam ao desânimo, à descrença e a ficarmos com receio da luz.
Como é bom quando, em meio ao desalento, alguém nos aponta um caminho certo, nos estende a mão, se interessa por nós e nos ajuda a voltarmos para a luz. Pois, a luz elimina a escuridão, desfaz o medo, torna tudo visível e nos permite ver o caminho. Jesus ilumina nossos corações e nos revela o caminho para o Pai.
Ele mesmo se apresentou como luz: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (João 8,12). E São Paulo ensinou: “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas” (1Tes 5,5). A missão dos seguidores de Cristo é ser “sal da terra e luz do mundo” (cf Mt 5,13-14).
Neste Advento, nossas cidades e casas e igrejas estão enfeitadas com muitas pequenas lâmpadas. Como são lindas nossas árvores de Natal! Mas, em meio a tanto colorido e ostentação, corre-se o risco de não perceber que a verdadeira luz emana d’Aquele Menino-Deus que nasceu numa noite escura, lá em Belém.  Ofuscados e distraídos com os enfeites do Natal, não contemplamos Jesus-Deus, que, no presépio pobre e despojado, vem trazer o alento para a humanidade.
Os séculos vão passando, o ser humano continua prodigioso em suas invenções e descobertas, mas ainda caminha na escuridão. Como marionete nas mãos das ideologias e filosofias e teologias e teorias mil, o homem hodierno vai caminhando em busca de sentido para sua existência.
Talvez devesse escutar a Deus que, no seu coração, está lhe convidando a buscar a Luz. Pois, “a luz veio ao mundo, mas o mundo preferiu as trevas à Luz” (cf Jo 3,19).
É missão de todo cristão ser portador desta Luz do Natal. E apontar para o Menino do presépio. Somente o encontro com Jesus pode iluminar um coração escurecido e obscurecido pela descrença, pelo fechamento, pela indiferença...
Pelo batismo fomos salvos, para indicarmos o caminho da Salvação; fomos iluminados para nos tornarmos iluminadores e refletores da Luz do Senhor; fomos chamados pelo nome, para que, através de nós, outros pudessem ouvir a voz d’Aquele que chama; fomos feitos filhos e membros do Corpo Místico, para congregarmos os demais irmãos...
Enfim, é necessário apontarmos para Belém... para o presépio... para o Menino Deus! Como nos ensinava o nosso pai: “lá mora um amigo”, “lá se encontrará abrigo”, “lá a vida estará protegida”, “lá naquela lâmpada acesa da montanha, na escuridão da noite”!
Será que toda casa é casa de acolhida, morada de amigos? O nosso coração é lugar de abrigo e de aconchego? Qual luz emana o nosso coração? Uma parca luz, tímida, artificial e mero enfeite?

Quando se é criança, a fantasia é capaz de nos envolver por horas a fio. Quando a gente cresce, é uma pena que se perca tanto daquela capacidade de sonhar, de imaginar, de transcender! O mundo precisa da Luz!... necessita do Natal!... tem fome de Jesus!

Pe. Auricélio Costa - Diocese em Foco - Dez.2017 






A JABUTICABEIRA E SEUS PRECIOSOS FRUTOS

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Não há quem não se impressione diante de uma jabuticabeira carregada de frutos. Maduros, escuros, suculentos, incrivelmente saborosos... e abundantes!... Tornam-se iscas para as aves, os bugios e os transeuntes humanos igualmente gulosos.
Em determinadas condições geológicas e climáticas, conheci jabuticabeiras que produziam até cinco vezes num ano! E os frutos sempre muito deliciosos!
Com a chegada da primavera, além dos jardins, também os pomares ficam sortidos de formas, cores e sabores! O litoral catarinense é rico em oferecer essa abundância de alimentos saudáveis! Como demoramos a perceber o nosso desrespeito para com a obra criada por Deus para todos nós e para as gerações futuras!
Contemplando essa realidade, somos convidados a aguçarmos nossa capacidade de perceber os frutos da presença de Deus em nossas vidas. Assim como a chuva que cai na terra não volta para o céu sem antes fecundar o chão, também a ação de Deus entre nós (em nós e através de nós) é fecunda e produz muitos frutos (cf Is 55,10). Dadas as inúmeras (pre)ocupações do cotidiano, corremos o risco de nos tornarmos áridos ou cegos. O coração árido é aquele que não consegue permitir que as sementes de Deus ali pudessem ser acolhidas e germinassem, produzindo, por fim, abundantes frutos.
Desta forma, a pessoa passa a viver tão escrava de seus afazeres e pensamentos próprios que não consegue perceber que sua vida está cada vez mais enfadonha, sem sentido, sem primavera! Não é tão incomum ouvirmos das pessoas: “vivo para trabalhar!”; “minha vida é só pagar contas!”; “estou afundado em problemas!”; “o inferno é aqui”... O coração árido se fechou para as novidades e surpresas de Deus. Um coração que não ri com as crianças e nem se condoe com a dor alheia, está morrendo.
Mas, a Palavra de Deus nos incentiva a deixarmos nosso coração aberto para receber a visita do “ilustre Hóspede”: Jesus! A Sua chegada é motivo de festa e de transformações. Assim como a jabuticabeira, cheia de folhas verdejantes vai se preparando por longos meses para, na época certa, apresentar seus maravilhosos frutos, o coração humano precisa preparar e acalentar a presença divina. Penso que Deus olha para nós com o mesmo olhar com que o hortelão contempla as plantas em seu pomar: com esperança! Ele consegue contemplar os frutos que estão latentes (“escondidos”) dentro da árvore.
O teólogo suíço Hans Urs Von Balthasar, falecido há 25 anos, refletiu sobre essa realidade em que muitos corações não conseguem produzir os frutos da Graça de Deus. Lembrando-se de São João da Cruz, ele disse que vivemos, hoje, “noites escuras coletivas”. Elas produzem medo, insegurança e até desespero; mas também expectativa, perplexidade e esperança. Nossa sociedade talvez esteja passando por essa experiência. Cabe à Igreja de Jesus lançar luzes sobre os grandes problemas que enfrentamos. Diante das crises morais, econômicas, sociais, políticas e de fé, o Espírito Santo está suscitando vozes no seio da Igreja que nos ajudam a “iluminar” estas realidades. Uma dessas vozes é a do Papa Francisco.
O teólogo citado escreveu um livro chamado “Só o Amor é digno de fé”. Ele sugere que, movidos pelo verdadeiro Amor, percebamos as “ilhas de humanidade”, isto é, sinais de esperança em meio ao caos hodierno. Existem abundantes frutos de amor em toda a ação da Igreja. É só prestar atenção e o leitor perceberá que aí mesmo, na sua comunidade, existem muitas destas “ilhas”: expressões de caridade, de solidariedade, de misericórdia! Isso se expressa em forma de voluntariado, de dedicação abnegada nos vários organismos religiosos e pastorais!... Quanta vida doada por amor! Quanto saber compartilhado! Quanta oração fraterna e fecunda! Enfim, podemos mesmo dizer que o Reino de Deus está crescendo! Ele vai crescendo apesar de nossa realidade tão pecadora e frágil.

Com a chegada do final de ano nossas forças parecem ir se extinguindo... Mas o exemplo da jabuticabeira repleta de frutos deve nos ensinar que é tempo de frutificar. Nossa energia vital vem do Espírito Santo e não se acabará nunca. Mesmo com o cansaço físico-emocional, ainda é preciso oferecer o que temos de melhor: os nossos preciosos frutos da fé cristã! 
Pe. Auricélio Costa – Vargem do Cedro - 2017






 – ALBERTINA – 
SEMPRE ATENTA AO CHAMADO DE DEUS

       Quando Albertina decidiu atender um pedido de sua mãe, na verdade, ela estava sendo fiel ao um outro movimento interior em seu coração: agradar a Deus!
De fato, D. Josefina percebera que certo boi, o Pintado, não tinha se recolhido ao piquete como fazia todas as tardes. No dia seguinte, a mãe pediu ao filho mais novo, o Emílio, que fosse procurar o animal. O menino choramingou, pois não queria interromper a brincadeira no terreiro, junto com as crianças dos empregados, sob o olhar da mana Albertina.
Sabendo que a mãe encontrava-se no sexto mês de gestação, não querendo que ela se incomodasse, a jovenzinha ofereceu-se para procurar o Pintado. A partir daí dar-se-á o episódio que é conhecido de muita gente: ela encontrará o Maneca Palhoça trabalhando no morro e ele, perversamente, a conduzirá para um bosque onde tentará estuprá-la e, por fim, diante da negativa da moça que não queria ofender a Jesus, ele a matará.
Albertina sempre prestou muita atenção aos seus movimentos interiores. Queria colocar em prática tudo o que aprendia sobre Jesus e sobre a Igreja. Por isso, ela absorvia com grande entusiasmo os ensinamentos dos pais, do Vigário e do catequista. Era notório o quanto ela buscava viver como boa seguidora de Cristo a tal ponto que todos a chamavam de “Santinha”. E não era de uma maneira jocosa ou desrespeitosa! De fato, admiravam o estilo de vida da adolescente: solidária, obediente, atenciosa, recatada, bem educada, com atitudes orantes, preocupada com os mais carentes, acolhedora, humilde...
É por isso que, no entendimento de Albertina, acolher um pedido de sua mãe era mesmo agradar a Deus. No fundo, todo ato bom é inspiração do Espírito Santo. E Albertina era muito dada a buscar fazer o bem. No seu coração havia espaço para Deus e para as demais pessoas. Mesmo tímida, ela demonstrava serenidade e decisão em fazer o bem.
Mais e mais ela foi cultivando o desejo de jamais ofender o seu Amado Jesus. A educação religiosa transmitida pelos pais, especialmente com a reza diária do terço em família, era acolhida pela jovenzinha como forma de agradar a Deus.
Quando o ser humano abre espaços no seu coração para acolher a Graça divina, Deus se move em direção daquele coração para tomar conta dele e fazer dele Sua morada. No livro do Apocalipse lemos: “Eis que estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entro em sua casa e janto com ele e ele comigo” (Ap 3,20). E diz mais: “ao vencedor (que se manter fiel) darei um prêmio: vai sentar-se Comigo no meu trono, como também Eu venci, e estou sentado com meu Pai no trono d’Ele” (v.21).
Podemos aprender com “a nossa Albertina” (como sempre se referia nosso Bispo D. Jacinto Bergmann) a estarmos atentos aos chamados de Deus em nosso coração. Esses “chamados” podem ser compreendidos através do desejo de viver bem a fé recebida no Batismo, através da vida de oração, da participação compromissada na comunidade, da acolhida da Palavra de Deus em nossas vidas, da convivência com pessoas que amam a Deus e Sua Igreja...
Enfim, Albertina permaneceu fiel ao chamado de Deus que sentia em seu coração. Fazia o bem. E foi assim, atendendo a um apelo de sua mãe, que acabou dando um SIM definitivo à Deus, entregando a própria vida para não ofender o seu Amado Jesus!


Pe. Auricélio – Reitor do Santuário de Albertina – Imaruí – SC





CONSCIÊNCIA FRATERNA 
– CONTRA O ESFRIAMENTO INTERIOR – 


Toda estação do inverno é assim: muitas pessoas ficam ouriçadas para ver a neve cair nas cidades mais altas da nossa região. Caravanas de todos os lugares se dirigem para a Serra almejando ver a neve, brincar de construir bonecos de gelo, bebericar o chocolate quente e a preciosa aguardente... É uma festa em meio ao frio intenso que parece fazer parar a respiração. Quem consegue se fotografar em meio à neve ostenta suas fotos nas redes sociais como troféus. Mas ninguém vai sozinho apreciar o fenômeno invernal. Grupos grandes ou pequenos de pessoas se reúnem, se congregam e festejam as baixas temperaturas. O que as aquece? O fato de estarem juntas, a emoção de ver os flocos de neve... a alegria as mantém aquecidas!
Neste tempo em que muita gente – até intelectuais e religiosos – fala de esfriamento espiritual é importante perceber como, na essência, o ser humano permanece uma criatura social, dado à vida em grupo e carente de encontrar-se com os demais semelhantes.
Em si, estar sozinho não significa estar isolado, indiferente e auto-excluído. Pois o ser humano também precisa de se encontrar consigo mesmo, de escutar suas vozes interiores, de olhar para dentro do seu coração, de perceber seus movimentos interiores, de conhecer-se melhor, de identificar e curar suas machucaduras... enfim, tempo para estar consigo e amar-se mais e mais.
Também andamos carentes de elevar nossa auto-estima e de “recordar” o sonho de Deus ao nos criar como filhos: a nossa felicidade. Ao longo da jornada neste mundo, acumulando anos de vida, vamos nos ocupando com tantas coisas que acabam sugando de nós tamanha energia vital que já não nos conhecemos direito. Somos capazes de buscar “sinais ou indícios” de vida em outras galáxias, mas não conseguimos penetrar no nosso coração. Tampouco conseguimos resolver nossas dificuldades de relacionamento inter-pessoal.
As verdadeiras guerras entre países (mesmo que apenas no nível das ameaças e da ostentação de poder bélico) indicam que o ser humano ainda não se descobriu como filho de Deus. E, consequentemente, não consegue perceber que também o outro “brotou” do mesmo e único Coração Divino. Essa consciência fraterna poderia evitar inúmeras guerras fratricidas, étnicas, religiosas...!
Nossas “guerras” interiores têm trazido muita tragédia para nossas famílias, nossas comunidades e para toda a sociedade. As pesquisas constatam o aumento da violência contra os outros e contra si mesmo (suicídio, auto-mutilações, drogadição...) que têm a sua raiz neste descalabro interior. Daí o descaso com a pessoa alheia, o indiferentismo religioso (e ateísmo), a apatia política, o egocentrismo autodestrutivo e a fuga da realidade. As campanhas de valorização da família, da vida comunitária, da vivência dos valores religiosos... têm aqui grande importância para ajudar o ser humano a redescobrir-se filho amado de Deus e irmão dos demais seres humanos.
Quando lemos nos Atos dos Apóstolos a descrição das primeiras comunidades ficamos impressionados com o ideal que cultivavam e que nos deixaram como legado: “tinham os mesmos sentimentos...”, “um só coração e uma só alma” (cf At 1,14; 4,32). Em meio às dificuldades e contradições que obviamente enfrentavam, a fé no Cristo Ressuscitado presente as impulsionava para continuarem unidas e congregadas. Os séculos passaram e, nestes nossos tempos, ainda somos desafiados a construir comunidades unidas no Cristo vivo!
A fé nos aproxima de Deus, de nós mesmos e dos irmãos e irmãs! A fé é dom de Deus que pode nos aquecer neste “inverno”. Precisamos suplicar que o Senhor nos cumule deste dom divino como fizeram os apóstolos ao ouvirem Jesus ensinando sobre a vida fraterna: “aumentai a nossa fé!” (Lc 17,5). E insistir como Ele mesmo nos exortou: “pedi e recebereis” (Mt 7,7). E, com humildade, reconhecer: “Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé” (Mc 9,24).
Que nesta estação – a mais fria do ano – o Senhor nos aqueça com seu Amor e possamos ver em nós e nos outros a Sua Presença. Que o sol da fé não permita que fiquemos congelados e estáticos diante dos desafios missionários de nosso tempo. Aqueçamo-nos uns aos outros, uns com os outros... e todos juntos no Amor de Deus!

Pe. Auricélio Costa - Texto publicado Jornal Diocese em Foco - Agosto/17












CADA PEDRINHA NO SEU LUGAR
– LIÇÃO DE HARMONIA –

Ele estava no seu campo de trabalho. Pedreiro muito conhecido na comunidade, com seu coração e suas rudes mãos erguia mais uma construção. Desta vez, um muro de pedras brutas para comportar a água de um lago artificial. É o que chamamos de “taipa”. Percebendo que eu o observava, me disse: “você percebeu que cada pedra tem o seu lugar certo neste mosaico?”

No cosmos pensado por Deus, cada criatura tem o seu lugar e nada acontece sem que a Providência tenha ciência. E Ele tudo providencia para o bem dos seus filhos! A Bíblia canta e exalta os atributos de Deus que tudo criou por amor. Portanto, o Amor é dinâmico, é criativo, promove a vida.

É interessante perceber na Criação como há uma harmonia inegável em todas as coisas. Tudo foi pensado, planejado, plasmado e colocado no seu devido lugar. Cada ser precisa ser o que realmente é. Assim, um animal não pode precisa ser humanizado para ser mais valorizado. Um animal não precisa falar ou dançar ou aprender certas habilidades para que se torne mais ou menos importante. Ele tem a sua importância em si mesmo, pelo simples fato de existir e de ser o que é: um animal!

Humanizar um animal pode ser um grande desrespeito à natureza original da criatura que nem tem consciência do que estão fazendo com ele. A legislação cuida para coibir maus tratos aos animais.

Por outro lado, enquanto alguns amam tanto os bichinhos que os cobrem com roupas “de gente”, os treinam para fazerem uma ou outra ação tipicamente humana, e lhe dispensam tratamentos estéticos que podem beirar o exagero... há muitos homens e mulheres que, realmente, são tratados como animais! Isso demonstra uma transgressão da visão antropológica, isto é, busca-se compreender o ser humano distante do seu Criador.

Afastando-se do projeto que Deus sonhou para os seus filhos, os homens querem viver como autônomos, deuses de si mesmos e sem corresponsabilidade com a natureza. Daí advém a degradação do meio ambiente e estilos de vida que comprometem nossa existência neste planeta.

Essa visão míope do ser humano precisa ser transformada! Quando o homem e a mulher não são colocados no centro da Criação, como imagem e semelhança do Criador, outras “coisas” assumem o mais alto grau de importância: como o lucro, o poder, a ambição, o gozar a vida (prazer), o racionalismo...

Na Laudato Si, a segunda Carta Encíclica do Papa Francisco, pode-se ler: “Todavia é possível voltar a ampliar o olhar, e a liberdade humana é capaz de limitar a técnica, orientá-la e colocá-la a serviço de outro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral (LS 112)”. E ainda mais: “Se o seu humano não redescobre o seu verdadeiro lugar, compreende-se mal a si mesmo e acaba por contradizer a sua própria realidade”. E São João Paulo II ensinou: “Não só a terra foi dada por Deus ao homem... mas o homem é doado a si mesmo por Deus, devendo por isso respeitar a estrutura natural e moral de que foi dotado” (CA 38).

É por isso que o Papa Francisco conclui: “Não haverá uma nova relação com a natureza, sem um ser humano novo. Não há ecologia sem uma adequada antropologia.” (LS 118) A solução apontada pelo atual Pontífice é curar as relações humanas fundamentais: “a abertura a um ‘tu’ capaz de conhecer, amar, dialogar continua a ser a grande nobreza da pessoa humana...” (LS 119). E esse caminho levará o coração humano a abrir-se ao ‘Tu’ divino, ou seja, o Criador, nosso Deus!

Com Sua imensa Sabedoria, Deus compôs o grande mosaico da Criação. Cada uma das peças Ele colocou no seu lugar. Era sobre isso que aquele pedreiro me falava enquanto construía com pedras as paredes do futuro açude. Eram pedras dos mais variados tamanhos e espessuras... trazidas do leito do rio... E cada uma delas ia sendo aproveitada pelo construtor. E a obra formava um conjunto bonito e harmônico. Temos muito que aprender com a natureza!


Pe. Auricélio Costa – Pároco e Reitor
Diocese em Foco - Julho/2017










AS ATITUDES DE JESUS
ILUMINAM NOSSAS LUTAS DE HOJE

No início da década de 60 o Brasil inteiro cantarolou o jingle da campanha eleitoral que elegeu Jânio da Silva Quadros o 22º Presidente do país. O mote dizia “Varre, varre vassourinha! Varre, varre a bandalheira! Que o  povo já tá cansado de sofrer dessa maneira!”. Ele governou nossa nação por oito meses em 1961, quando renunciou.

Nestes tempos sombrios pelos quais vai atravessando nosso país, as notícias de corrupção e desmandos vão tomando conta de nossos noticiários diuturnamente, e em todas as formas midiáticas. O sentimento de impotência se mistura ao de indignação ética. Sentindo-nos roubados e abandonados o tempo todo pelas instituições, vamos mergulhando num ostracismo ou pessimismo que gera desesperança.

Como rezar, como fazer um louvor, como anunciar o Evangelho, o quê apresentar diante do altar... diante desta realidade social tão caótica e desafiadora?

Pois bem, o Cristo de nossa fé é o mesmo Jesus histórico que viveu num contexto social talvez ainda pior do que o nosso. Israel era vassalo cego de Roma e subserviente aos poderosos de toda a região. Os bens da nação ficavam concentrados nas mãos de um grupelho que governava as regiões, sob a bênção do Imperador romano. Fome, desemprego, violência, imoralidades, perseguições e desalento também apontavam para um futuro tenebroso.

Foi neste contexto que Jesus surgiu falando do Reino do Céu e dos sonhos de Deus para seus filhos e filhas na Terra. Dizia-lhes: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Ensinava o caminho do amor ao próximo: “amai-vos uns aos outros... perdoai quem vos ofendeu... orai uns pelos outros...”; e garantia: “recebereis um grande tesouro no céu”. E exortava: “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça... Mas todo poder Me foi dado do alto... Quem cumpre as minhas palavras, esse é meu amigo”.

Jesus ajudava seus discípulos a perceberem como Deus cuida das plantinhas, dos passarinhos, das sementinhas... e como em toda a natureza está presente a mão do Pai. Seus ensinamentos e seus gestos ajudavam os seus seguidores a olharem ao seu derredor com um novo olhar... um olhar de encantamento!

E eles foram observando: os lírios do campo, o orvalho da manhã, a galinha com seus pintinhos, as nuvens no horizonte, os rebentos da plantação, os passarinhos do céu, os rebanhos de ovelhas nas montanhas, a mãe que acabou de dar à luz, o andarilho que é abraçado, o coxo que agora pula e corre, a mulher que louva a Deus por ter sido curada e libertada dos maus espíritos... Assim, Jesus ajuda seus discípulos a perceberem que o Reino de Deus já está presente – e ao mesmo tempo escondido – em todo o contexto do dia-a-dia.

Nós, cristãos, precisamos retomar o Evangelho, aproximando-nos da Pessoa de Jesus, para podermos atravessar o atual período histórico nacional. Caso contrário, seremos mais um a reclamar, a se revoltar contra os desafios da realidade, mas não conseguiremos propor nada de novo. E o novo é a vida!... a vida fundada na fé!

Isso significa redescobrir a beleza de viver cada dia, de estar com as pessoas, de poder respirar e tomar um copo de água fresca! É preciso sorrir, ouvir e cantar! É preciso fazer um carinho no filho, rir com as suas peripécias e até rir-se de si mesmo! Deus está caminhando conosco! Ele não nos abandonará! “Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até os confins dos tempos!”, assegurou-nos Jesus.

É preciso atravessar esse mar agitado como homens de fé, certos de que estão como o Senhor, mesmo que Ele pareça estar “dormindo” ali no convés. Isto é, mesmo quando Sua ação não parece tão evidente e cristalina. Ele que cuida dos pardais (“que são vendidos por duas moedas”), que conta os fios de cabelo de nossa cabeça e “veste” com esplendor as florzinhas silvestres... Certamente, não abandonaria um filho amado, criado à Sua imagem e semelhança.

Sim, é preciso “varrer” toda “bandalheira”, como rezava aquela cançoneta do Jânio Quadros. É preciso fazer valer a Justiça, com ética, com respeito ao ser humano em toda a sua integralidade! É necessário que cada brasileiro faça a sua parte, “varrendo” o pessimismo do seu coração; mas também seus interesses gananciosos, atitudes de espertalhões e sangue-sugas, desejo de enriquecimento a todo custo e maquiavélico!... É preciso “varrer” toda a sujeira que desfigura o rosto do ser humano.

Temos andado muito longe dos planos de Deus e o resultado está aí, diante de nossos olhos. A limpeza que precisa ser feita pode começar a partir de nós mesmos: contemplando os dons de Deus em nossa vida e na vida dos irmãos, buscando a sobriedade e a beleza da simplicidade, recuperando o bem-querer aos outros!... A palavra de Jesus é a certeza que acompanha o cristão em sua caminhada: “Coragem! Eu venci o mundo!”.

Pe. Auricélio Costa – Pároco e Reitor
Diocese em Foco - Junho/2017








EXPERIÊNCIA PASCAL – CONSTRUIR E CUIDAR DAS PONTES

Aqui onde moro, a igreja matriz é rodeada por lindos jardins. Tem até um açude, sobre o qual construíram uma pequena ponte de madeira. Ela conduz os transeuntes de um jardim a outro, permitindo, inclusive, que se visite uma Gruta de um lado e outra Gruta na extremidade oposta. Diariamente um senhor vem varrer o pontilhão para que as pessoas se sintam bem ao passarem por ali.
Limpeza rima bem com natureza, que, por sua vez, também rima com beleza. Os místicos são muito bons em juntar esses elementos para descortinar a essência de Deus. Não basta que se tenha construído uma ponte; é preciso conservá-la limpa!
Ainda estamos vivendo aqueles festivos e profundos dias da Páscoa do Senhor. Nós que já superamos o apego aos doces e à lenda do Coelhinho, sabemos que o mistério pascal é o que nos mantém firmes na caminhada. A certeza que sustenta a fé nos garante que Jesus está vivo entre nós e nos conduz, por seu Espírito Santo, para a Casa do Pai. Nessa caminhada muitas vezes nos deparamos com novas exigências, com dificuldades a serem superadas, com surpresas que precisam ser depuradas, com caminhos a serem desbravados...
A missão do cristão, portanto, é de “construir pontes”!... E isso já foi apregoado por aí muitas vezes. E é verdade! Nossa fé nos leva a aproximar corações, congregar pessoas, grupos e instituições, a trabalhar pela construção de novo mundo possível marcado pela justiça social, fraternidade universal, misericórdia!... Enfim, a Civilização do Amor tão sonhada pelo querido Papa Paulo VI.
Mas também é preciso cuidar para que as pontes funcionem bem e permaneçam bem limpas. Há muitos empecilhos que vão corroendo as estruturas que nos unem, ameaçando nossas comunidades e nossa vida de fé. O Cristo ressuscitou, mas há muitos sinais de que o “espírito da sexta-feira santa” ainda perdura dentro e entre nós. Com sua Ressurreição, Jesus nos aproximou do seu Amor e nos incentivou a caminharmos juntos: “vão pelo mundo inteiro e façam discípulos”... E mais: “Não tenham medo. Eu venci o mundo!”...
Diariamente é preciso “limpar a ponte” de nossos relacionamentos. Neste campo afetivo, há muitos bloqueios e traumas que nos fazem acreditar que o ser humano é mal, que o amor fraterno é um engodo, que não há mais nada a fazer para construir um futuro melhor, que esta história de Reino de Deus é balela para ser contada intra-templo e que não influi em nada no nosso jeito de viver.
A indiferença pode nos adormecer o coração e diminuir (e até apagar) nossa sensibilidade. Muitos poderiam passar pela tal “ponte” encantados com as belezas ao seu redor: arvoredo, peixes, águas... E sem perceberem que a ponte está bem construída e limpa... e que ela realiza um papel essencial... (Poderia até dizer “papel crucial”, de cruz mesmo; pois, as pontes “sofrem” ao realizar a sua missão!).
Aquele homem que varre a ponte diariamente, talvez, não receberá a gratidão de ninguém; seu serviço é anônimo. Mas, de fato, não é reconhecimento o que ele busca. E sim, dar boas condições para que os viandantes possam ir e vir, com segurança, por entre os jardins, apreciando a beleza do lugar.
Com a sua Encíclica Laudato Sì (Louvado Sejas) o Papa Francisco nos convidou a deixarmo-nos encantar pela Criação. “Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos”, assinala Francisco (LS 11). É nossa missão apresentar condições para que as pessoas possam fazer a experiência do encontro com Deus presente na Criação. E cuidar destes “instrumentos de salvação”.
Portanto, é preciso construir pontes! Mas, sem dúvida alguma, é preciso conservá-las limpas! Que a intercessão de Maria – que neste mês recebe nossas homenagens filiais, dentro do Ano Mariano – nos ajude a zelar pelas “pontes” que unem corações e comunidades e, inclusive, que nos unem a Deus!
Bendito o zelador que cuida de nossos jardins! Bendito quem zela pelas “pontes” que aproximam pessoas!


Pe. Auricélio Costa – Pároco e Reitor
Diocese em Foco - Maio/2017







COMO ALBERTINA,
TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO


Na primeira “carta” que o Papa Francisco escreveu à Igreja, chamada “Alegria do Evangelho”, ele recordou um pequeno fato. Aconteceu quando o Santo Papa João XXIII estava para começar o Concílio Vaticano II. Muitos Bispos e Cardeais vinham se queixar ao Pontífice sobre as dificuldades da caminhada.
Então lhes disse mais ou menos assim: “Estão chegando aos nossos ouvidos insinuações de almas muito zelosas, sem dúvida, mas que não possuem muita discrição e nem moderação. Nos tempos atuais, elas somente veem prevaricações e destruições... Acho que devemos discordar destes ‘profetas de desgraças’, que apenas anunciam acontecimentos infelizes, como se estivesse chegando o fim do mundo. Eu penso diferente. Penso que a misericordiosa Providência está nos levantando para um novo jeito de nos relacionarmos uns com os outros... tudo se encaminha para o cumprimento do desejo de Deus, também as dificuldades, e para o bem da Igreja” (EG 84).
Da mesma forma hoje nós estamos vivendo tempos difíceis em vários aspectos: na convivência familiar, nos relacionamentos sociais, na questão da economia, da violência e do desemprego, no descaso com a vida humana e com toda a Criação... Porém, há um anúncio que não pode ser calado: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu único Filho para que todo o que n’Ele crer não morra, mas tenha a vida eterna (João 3,16).
Neste tempo de Quaresma e de preparação para a grande celebração da Páscoa do Senhor, precisamos tomar uma decisão fundamental em nossa vida: queremos ser “profetas de desgraças” ou “testemunhas da Ressurreição”!
Sim, é urgente anunciar o amor, a paz, a esperança, o otimismo, a solidariedade, a misericórdia... porque tudo isso brota do Coração de Deus! O mundo tem caminhado por vias equivocadas e danosas. Talvez por que tenha se afastado dos sonhos de Deus. E quando o homem se “endeusa a si mesmo”, num eterno narcisismo, encontra o caos e a morte. Daí advêm a destruição da natureza, a defesa do aborto, a ideologia de gêneros, a destruição da família, os contra-valores...
Podemos aprender com Albertina Berkenbrock, a Mártir de Imaruí. A Igreja a declarou Bem-Aventurada porque reconheceu que ela viveu os valores do Evangelho até ao ponto de defendê-los com a própria vida. Foi assassinada cruelmente antes de completar treze anos de idade em 1931. Sua breve história, porém, é cheia de testemunhos de alguém que amava Jesus e amava as pessoas. A sua fé na ressurreição de Cristo deu-lhe força gigantesca para que encarasse o seu algoz. Aos olhos da fé, ela não morreu! Por sua morte, ela “nasceu” para a Vida Eterna! Por isso, até hoje, muitas pessoas vêm ao seu Santuário, em São Luiz (Imaruí), para vivenciar a fé da Beata.
As celebrações da Quaresma, da Semana Santa e da Páscoa logo passarão. Todavia, não pode passar o nosso compromisso de testemunhar a Ressurreição, quebrando as correntes do pessimismo. Somos gente da esperança! Somos testemunhas da Ressurreição!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
17/02/2016 – para Revista S. Pedro Apóstolo – Cabeçuda









CHUVA NÃO IMPEDE 
QUE MILHARES DE FIÉIS PARTICIPEM 
DA FESTA DE PASSOS EM IMARUÍ

A tradicional Festa de Imaruí deste ano precisou superar muitas dificuldades para que pudesse acontecer. Uma série de dúvidas rondavam as lideranças paroquiais, depois de alguns problemas que envolveram o pároco e algumas lideranças. Todavia, o sacerdote encaminhou as principais atividades da Festa e formou algumas equipes de trabalho. 

A Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, presidida pelo Sr. Abílio “Bibi” Alves, promoveu a visitação das imagens peregrinas às comunidades do interior da Paróquia. Devido a problemas de saúde, uma semana antes da realização da Festa, o pároco precisou ausentar-se. 

A tarefa de conduzir a realização do evento coube ao Pe. Pedro de Biasi, que estava cooperando com o pároco. A força das lideranças se fez notar neste momento delicado da vida eclesial e, junto com o Pe. Pedro, ultimaram todos os trabalhos. A chuva, porém, mesmo não convidada, veio participar da Festa. 

Durante a semana, nas Missas noturnas, ela se fez presente. Inclusive no sábado, dando uma trégua exatamente na hora da procissão. No dia seguinte, o grande dia da Festa, amanheceu chovendo. Poucas pessoas se aventuraram andar por entre as barracas dos vendedores na Rua da Praia. Também nas celebrações, não se viu a tradicional superlotação da matriz e os devotos sentados sobre as árvores da Praça. 

Mas, à tarde, o tempo foi melhorando e parou de chover. Rapidamente as ruas da cidade se encheram de pessoas andando de um lado para o outro. Grande barulho e movimentação na zona das barracas e stands. A lagoa de Imaruí estava serena e maravilhosa como sempre. 

A Missa dos Romeiros, às 13h, reuniu milhares de pessoas na matriz e no seu exterior. A Praça foi sendo tomada pelos fieis e ficou repleta de pessoas que aguardavam o início da procissão de Passos. A Banda Unidos de Imaruí se colocara a postos. De repente a preciosa imagem apareceu no átrio da matriz e os fieis ficaram emocionados. 

O céu ainda estava nublado, mas sem chuva, quando o Pe. Pedro anunciou o início da procissão. Os Irmãos de Passos acompanhavam o andor do Senhor, enquanto os membros da Irmandade de N. Sra. das Dores acompanhavam a imagem da Mãe do Senhor. 

O cortejo, lentamente, se arrastou pelo tradicional trajeto da procissão e parou diante das Estações da Via-sacra montadas em algumas residências da comunidade. Nestes momentos cantores e músicos entoavam “Miserere” e rezavam. 

O Canto de Verônica foi entoado em três momentos distintos: no início da procissão, diante da Capelinha de Passos e no final da cerimônia. Coube à jovem imaruiense Amábile Corrêa interpretar Verônica, honrando a tradicional linhagem de Verônicas de sua família. 

Quando a imagem de Passos estava chegando na Praça da Matriz, voltou a chover na cidade. Imediatamente os Irmãos de Passos cobriram a imagem com uma capa plástica. O povo armou seus guarda-chuvas e sombrinhas, dando um colorido especial à procissão. Depois de alguns minutos, voltou a estiagem, para tranquilidade de todos. O grande momento da Festa sempre é o Sermão do Encontro. 

Neste ano, de maneira inédita, Pe. Antônio Rech convidou dois sacerdotes da Diocese de Joinville, irmãos gêmeos: Ivan e Ivanor Macieski. Auxiliados por uma dupla de cantores, eles foram fazendo suas reflexões sobre as várias estações da Via-sacra, buscando atualizar os ensinamentos à luz das lutas e esperanças do homem de hoje. 

Ao final, coube ao Pe. Pedro fazer os agradecimentos e convocar os fiéis para a próxima Festa de Passos, dia 18 de março de 2018. As imagens foram levadas para o interior da matriz, onde o povo continuou a manifestar sua devoção. 

De maneira particular, os Irmãos estavam emocionados. Vestindo suas opas roxas, rodearam o andor com a imagem, muito emocionados, deram-se as mãos e rezaram e se abraçaram agradecidos uns aos outros. Rapidamente o povo se dispersou pelas ruas de Imaruí, visto que um chuvisco voltou a cair sobre a cidade Joia do Sul catarinense.

 Pe. Auricélio Costa – Pároco e Reitor
02/Abril/2017







CRISTO VIVO - A NOSSA MELHOR NOTÍCIA

Em um panegírico de Santa Terezinha do Menino Jesus conta-se que, no Carmelo de Lisieux, na França, uma religiosa decidiu provar a fé da mais nova integrante da comunidade. Terezinha tinha acabado de completar 16 anos. A tarefa consistia em plantar galhos secos de roseira que ela deveria regar todos os dias até que florescessem. A jovem aspirante obedeceu à ordem insana daquela religiosa, enquanto suas colegas se dividiam entre ter compaixão da moça ou rir da cena tosca. O fato é que, passados alguns dias, conta-se que os galhos secos brotaram e produziram as mais belas e perfumadas flores do Carmelo.

Não há porque duvidar de que “a fé remove montanhas” (cf Mt 17,20) e que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). O Livro Santo está repleto de fatos maravilhosos marcados pela fé genuína. A fé é a maior força dos seres humanos!

Foi pela fé que uma arca foi construída no deserto até que chegou o dilúvio. Foi pela fé que Abraão deixou sua terra e partiu sem rumo obediente à voz de Deus em seu coração. Foi pela fé que Moisés enfrentou o poderio do Faraó e da religião vigente empunhando apenas um cajado de madeira. Foi pela fé que mãe e filhos suportaram heroicamente o martírio quando da chamada revolta dos Macabeus.

Foi pela fé que uma jovem do interior, lá de Nazaré, acolheu a mensagem de um ser espiritual que lhe comunicou uma boa nova. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!” (Jo 1,14). E foi pela mesma fé que ela acompanhou o fruto do seu ventre até o Calvário e lá, junto à cruz, permaneceu em pé; mostrava assim, ao filho crucificado e moribundo, como é que encara a morte um Filho de Deus. E mais: fortalecida pela graça da fé, ela viu o seu Amado aparecer ressuscitado, bem vivo, outra vez no meio da comunidade que fundara.

Juntamente com o escritor sagrado da Carta aos Hebreus podemos proclamar: “Estes, pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, foram contemplados com promessas, amordaçaram a boca dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram os exércitos estrangeiros... (cf Hb 11,27-40).

Os tempos vão passando, e cada vez mais a humanidade sente a necessidade de pessoas que ajam movidas pela verdadeira fé. Uma fé coerente, comprometida com a vida e a justiça, que se traduz em atitudes que renovam e inquietam as demais pessoas... Uma fé que torna o crente mais terno, mais amoroso e um ser humano melhor... Uma fé que faz vislumbrar o horizonte da esperança, a luz em meio às trevas, o sorriso sereno em meio à dor, a presença solidária e fraterna em meio ao caos social...

Portanto, não obstante os desafios, nós contamos “com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós”. E eles nos incentivam a estarmos cada vez mais unidos a Jesus. “Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos n’Ele, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,1-2).

Nós, Igreja santa e pecadora, anunciamos que Jesus ressuscitou e que vivo está entre nós! O mundo pode achar essa proclamação de fé interessante, ou fantasiosa ou mesmo folclórica... Para nós, porém, é ela que dá sentido a tudo o que somos, fazemos, pregamos, buscamos e esperamos... já para este mundo e também após findarem nossos dias aqui.

As roseiras florescerão... mesmo secas, elas voltarão à vida! Quem crê em Cristo, como a apaixonada Santinha de Lisieux, testemunhará a ressurreição em todas as situações. Que o Senhor nos ajude a perseverarmos na fé, como Maria de Nazaré e Santa Terezinha! E que nossa fé no Cristo Vivo seja a nossa melhor Notícia!

Pe. Auricélio Costa – Pároco e reitor
Publicado Diocese em Foco - Abril/2017








SONHAR COM O CÉU PISANDO FIRME O CHÃO

Ele chorava agachado num canto da casa, gesticulando sua inconformidade pelo fato de, talvez, não receber o brinquedo que tanto almejava. Foi quando seu pai o chamou, pediu que sentasse em seu colo e lhe explicou a situação: “meu filho, eu e sua mãe não queremos privar você de se divertir, de brincar... mas, nós somos pobres e, na vida, às vezes, é preciso esperar a melhor oportunidade... olhe os seus irmãos e as outras crianças brincando ali no pátio! Olhe como estão felizes! E você está aí perdendo tudo isso!...” Após secar suas lágrimas e receber um beijo, o garoto foi se unir aos demais.

Essa pequena história doméstica pode nos inspirar a começarmos bem mais um ano pastoral. Diante da avassaladora crise moral de nossa sociedade, muitos cristãos ficam murmurando por aí suas tristezas, desilusões e insatisfações. Tal crise descambou para o mundo da política, da ética, da justiça, da educação... e atingiu a vida religiosa também. Enfim, vivemos uma crise de esperança!

Como é bom quando alguém nos ajuda a percebermos que nossa realidade atual não é o fim, e que o foco deve estar mais adiante, no horizonte a ser desbravado. Bem fez Jesus quando nos apontava o seu Reino e exortava seus discípulos a buscarem “as coisas do alto”, a juntarem tesouros “onde a traça e a ferrugem não corroem”.

Enquanto lhes fazia sonhar com o Céu, também lhes pedia para sentirem os pés tocando o chão: “o Reino já está entre vós”... “ide até às extremidades da Terra”...

De fato, é muito importante mantermos ‘o foco’ na nossa missão de batizados: colaborar com Cristo na construção do seu Reino! Daí a importância de que nossas atitudes e atividades sejam fundadas na fé que professamos na assembleia dominical e que testemunhamos em nossa vida pessoal e comunitária.

A realidade é muito exigente e plural. A vida da gente é tão dinâmica que o tempo parece nos escapar pelos dedos... e ficamos perdidos diante de tanta coisa a fazer!

Não devemos ficar parados diante dos desafios. Como na historinha inicial – “olhe as outras crianças brincando... felizes...” – percebamos que o Reino de Deus está crescendo ao nosso redor (conosco e apesar de nós!). E que é necessário muito pouca coisa pra se alcançar a felicidade! Estar ‘no colo do Pai’, isto é, sentir-se muito amado e enviado por Ele, já é motivação suficiente para não desanimarmos e ficarmos nos lamentando “num canto da casa”.

O novo ano pastoral se inicia dentro da dinâmica e da espiritualidade do Ano Mariano. Esta parece ser “a melhor oportunidade” para aprendermos de Maria a perseverar no cumprimento da missão. E a permanecermos unidos a Cristo, em todas as situações. Ela nos ajudará a sermos sinais de esperança neste contexto social tão cruel e desafiador... como ela mesma foi crucial no episódio da Bodas de Caná e também na ocasião em que a sua pequena imagem foi encontrada no fundo do rio Paraíba, lá em 1717.

Envolvidos pela ternura do Pai e da Mãe querida, sejamos instrumentos eficazes para que o Reino cresça entre nós!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Publicado no Diocese em Foco, Março/2017









MENSAGEIROS DE CRISTO
20 ANOS TESTEMUNHANDO A FÉ CRISTà
E A ESPERANÇA DE UM NOVO MUNDO POSSÍVEL

Setembro de 1996. Araranguá, no Sul de Santa Catarina. 

A Paróquia Mãe dos Homens e o COMIDI (Comissão Missionária Diocesana) promovem uma Missão Bíblica. Algumas equipes de missionários (padres e leigos) são enviadas para as comunidades. Pe. Auricélio, Coordenador do COMIDI, vai para a comunidade de Coloninha, juntamente com uma religiosa. 

Durante uma semana, durante o dia visitava doentes e, à noite, estudava a Palavra de Deus com a comunidade. De posse de seu violão, convidou todos os músicos da comunidade para participarem da segunda noite. Poderiam trazer todos os tipos de instrumentos. 

Qual não foi sua surpresa, quando, na noite seguinte, dezenas de pessoas trouxeram violões, sanfonas, gaitas de boca, tambores, chocalhos, pandeiros... Ali nasceu o desejo e a possibilidade evidentes de formarem um Grupo Musical. Ali nasceu o Grupo Mensageiros de Cristo! 

Transcorridos 20 anos de caminhada, o Grupo teve várias formações, momentos de grandes alegrias e grandes desafios. Nascido no fogo da Teologia da Libertação, o Grupo assimilou o sentido de Igreja do Povo de Deus, voltada para a construção do Reino de Deus e de um mundo novo possível. 

As canções escolhidas para compor seus shows são nesta linha, favorecendo o convívio comunitário, a valorização dos pobres e das famílias, a luta contra o empobrecimento, o anúncio de Jesus presente na vida das pessoas... a alegria de viver movido pela fé em Cristo! 

O Grupo se apresentou em várias cidades do Estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Animou eventos das CEB’s, das PJ’s, da Diocese de Criciúma... Não obstante a grande experiência, o Grupo ainda deseja atingir muitos outros corações, em todos os lugares, pois compreende que um missionário não pode parar... está sempre “em saída”, como bem tem frisado o Papa Francisco. 

11 de dezembro de 2016. Araranguá. Praiano. O Show está apenas começando...

Publicado neste Blog - 11/12/2016 (Pe. Auricélio) 








LIÇÕES DA TRAGÉDIA 
COM A EQUIPE DA CHAPECOENSE

Que a vida é cheia de surpresas, todos já sabemos; e que nem sempre as surpresas são agradáveis, também já estamos calejados de o saber. Todavia, o sofrimento sempre nos desinstala de nossa zona de conforto, mexe com nossas convicções e sentimentos; nos ajuda a atermos nossos pés no chão. 

A gente não se acostuma com a dor. Mas ela é fato, é natural, é existencial... e nos ensina o quanto é bom vivermos sem dor. A tragédia que assolou nosso Estado e, daqui, todo o mundo, nos ajudou a abrirmos nossos corações para o grande dom da vida! A morte está ali, tão perto, na esquina... sempre a nos rondar. 

O time da Chapecoense foi quase todo dizimado quando aquele avião caiu lá em Medellín, na Colômbia. Foram dias de sofrimento que todos vivenciamos e testemunhamos. 

São muitas as lições podemos apreender de tudo isso: sobre o sentido do esporte em nossa sociedade, sobre como nos relacionarmos com as pessoas, mesmo quando torcem para outras equipes desportivas; sobre o valor da vida humana, quando o lucro e a fama fazem calar os sonhos do coração; sobre a caridade e a solidariedade que independem de prerrogativas... 

É tempo de recomeçar! É tempo de aprender! É tempo de viver!


Publicado neste Blog - 27/11/2016 (Pe. Auricélio) 







 DE MÃOS DADAS COM O SENHOR!

Segurando firme na grande mão do avô lá vão os dois, caminhando à beira da estrada, cuidar dos animais no campo. O menino caminha seguro e ávido por novas experiências junto da natureza; está certo de que o seu avô sabe tudo e lhe protegerá em qualquer situação. O homem maduro, acompanhado do neto de cinco anos, sente-se o homem mais feliz e o mais amado do mundo!
Na rotineira visita ao campo o homem ajudará a criança a desvendar os mistérios do solo, da água, das pastagens, dos pequenos e grandes animais... Mas o menino sapeca e curioso também partilhará suas riquezas: devolverá ao coração do avô mais jovialidade, disposição, alegria, esperança e capacidade de sonhar mais e mais! Além de lhe permitir colocar aquele sorrisão no rosto!
Um dia Deus pegou cada ser humano pela mão e caminhou com ele e lhe disse: “És meu! És meu filho amado! Eu que te gerei!”... e lhe prometeu: “Estarei contigo todos os dias de tua vida... em qualquer situação!” (cf Sl 2,7; Hb 1,5 e Mt 28,20).
Com a chegada da pós-modernidade o ser humano tem vivido mais fechado em seu próprio mundo interior. Não que essa viagem de retorno para dentro de si signifique que a pessoa deseja conhecer-se mais para poder ser mais feliz! Não que ela queira envidar esforços interiores para poder renascer, renovar sua maneira de encarar as diversas situações existenciais! Não que o ser humano deseje perscrutar a Deus que habita no âmago do seu coração! Não! Infelizmente, não!
Em nossa civilização hodierna as pessoas têm se fechado em seus medos e inseguranças, em seus saberes medíocres, endeusando-se a si mesmas!... Há uma resistência à abertura para os outros, para as novidades e desafios da vida, por um real conhecimento de si mesmo.
O ser humano parece não precisar mais de ninguém, nem de Deus! Percebemos isso nas dificuldades em formar e despertar novas lideranças, em reunir os Grupos de Famílias, em encampar novas tarefas missionárias... Todos parecem andar muito ocupados com suas próprias coisas.
Todavia, nem tudo está perdido! Ainda encontramos muitas pessoas dispostas à aventura da vida fraterna: que se abrem para fazer a experiência de caminhar juntas, de desvendar os mistérios da vida em comunidade, de “saborear” a solidariedade, o amor e a misericórdia! Há muita gente que sabe silenciar seu próprio coração para escutar a Deus e para ouvir o coração do outro ser humano. Assim, elas mesmas, de mãos dadas com Deus e com os irmãos, acabam por se autoconhecerem mais profundamente.
Neste Ano da Misericórdia o Papa Francisco nos desafiou a sonharmos com um mundo de irmãos, já que todos habitamos a mesma Casa Comum. Convocou-nos para fundarmos uma nova sociedade baseada no respeito mútuo, como grande “obra de misericórdia”. Sim, o Jubileu passou!... mas as moções que o Espírito suscitou dentro de nós precisam continuar frutificando e gerando vida! Seremos sempre testemunhas da Misericórdia!
Chegou o Ano Mariano e, com ele, o convite para aprendermos com Maria a segurarmos nas mãos de Deus. Do jeito como cantamos naquela antiga canção: “Segura na mão de Deus... pois ela te sustentará! Não temas, segue adiante... e vai!” As estações litúrgicas do Advento e do Natal nos recordam que Deus veio caminhar no meio da humanidade... veio caminhar conosco... segurando firme a nossa mão!
Alegres e decididos como aquele menino que caminha de mãos dadas com o seu avô por essas estradas da vida, deixemo-nos conduzir por Deus! Há muito o quê aprender com Ele! Ele olha para nós com Amor Misericordioso e compreende que, muitas vezes, não passamos de crianças pueris e travessas. Mas Ele sabe que cresceremos. Na verdade, é Ele que vai crescendo dentro de nós! Como ensinou São Paulo: “Já não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim!” (Gál 2,20).

Pe. Auricélio Costa
Pároco e Reitor do Santuário
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Dezembro/2016













EXPERIÊNCIA DE MISERICÓRDIA
- UMA PORTA QUE NUNCA SE FECHARÁ -

Ela chegou até mim e foi logo intimando: “preciso conversar com o senhor”. Fomos até um lugar mais apropriado da nave da igreja e pus-me a ouvir sua história. Contou-me que os graves e constantes desentendimentos fizeram sua família adoecer... Então ela desabafou: “Eu já disse pro meu pai que o perdoava; mas, na verdade, eu não o perdoei aqui dentro de mim e estou morrendo”!

Famílias feridas e corações moribundos existem aos montes. Situações similares à historinha podem ser encontradas em qualquer lugar. Vivemos num mundo em que as pessoas se fecham em si mesmas (“ensimesmando-se”), se colidem umas com outras (machucando-se), criam barreiras afetivas (quando não também físicas e estruturais) que as distanciam, criam mundos fictícios (surreais) para fingirem ser felizes... e acabam perdendo o sentido real da sua existência.

Se o quadro lhe parece por demais pessimista é porque você sabe (e sente!) que o projeto de Deus para o ser humano é bem outro. Fomos criados para viver em comunhão! A discórdia e o ódio fazem mal ao nosso coração! O egoísmo e o materialismo não respondem às nossas questões existenciais mais genuínas. Nosso ‘DNA espiritual’ nos leva à busca da felicidade, da boa convivência, da vida digna... Viemos de Deus!... e Ele nos fez “à Sua imagem e semelhança”! Ficamos fatalmente doentes quando nos afastamos d’Ele e dos seus caminhos. E se nos conformamos com o estado doentio (e nos resignamos) é porque, realmente, de fato, estamos muito doentes.

Este Ano Jubilar da Misericórdia está chegando ao seu ocaso. As Portas Santas espalhadas pelo mundo serão cerradas. Milhares de pessoas “passaram” pelas quatro Portas abertas em nossa Diocese. Catedral, Laguna, Rio Fortuna e o Santuário de Albertina (São Luiz) foram símbolos eloquentes de que Deus continua a nos atrair para junto de Si, a fim de nos restaurar, de nos refazer... E também de que há muita gente precisando de “mudar” sua maneira de viver, ou de como encarar as dificuldades...

Em Lucas 8,1-11 encontramos o episódio daquela mulher condenada à lapidação (morrer à pedradas) depois de ter sido surpreendida em adultério.  Ela foi levada até Jesus. Queriam que Ele desse um parecer sobre a determinação da Lei mosaica. “Quem não tiver pecados atire a primeira pedra”, disse. Já sabemos o que aconteceu. E à mulher livre da condenação Ele disse: “Tampouco Eu te condeno. Vai, e de hoje em diante, não peques mais”!
A cena é tensa... e a fala de Jesus é desconcertante. Atualizando o texto, sabemos que somos todos testemunhas vivenciais das escolhas que nossa sociedade hodierna tem feito. Talvez, testemunhas e cúmplices. Temos responsabilidade, por exemplo, pela devastação da nossa Casa Comum, achando que os recursos naturais nunca se extinguirão. Tornamo-nos coniventes com um estilo de vida consumista e injusto. E pensamos que os conflitos bélicos e genocidas do planeta pouco têm a ver conosco.

Mas, há outra maneira de viver! O estilo de Jesus: a misericórdia! É o amor que nos capacita para perdoar, buscando compreender as muitas facetas da mesma realidade. É ele que nos permite ver um irmão, onde todos enxergam “um monstro”.

O Ano Santo terminará, mas permanecerá o compromisso de “santificar todos os anos”. A Porta Santa será fechada, mas “as portas” de nossa Igreja e as de nossos corações precisarão permanecer escancaradas para acolher quem chegar, quem voltar, quem precisar!
Aquela pessoa que me procurou lá na igreja, ao “passar” pela Porta Santa percebeu que precisava abrir mais espaço dentro dela mesma para que pudesse perdoar seu pai. A falta de perdão a sufocava. Para ela, a Porta Santa não foi apenas um símbolo. E, com a graça da Misericórdia de Deus, ela trilhará caminhos que a farão ser misericordiosa também. E, então, ela terá paz, será feliz e o Reino de Deus estará crescendo naquele lar.

Pe. Auricélio Costa
Pároco e Reitor do Santuário
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Novembro/2016







Vivenciar e anunciar 
a Misericórdia que restaura

Um conhecido meu levou seu carro ao chapeador para fazer umas “coisinhas” na lataria. Chapeador é aquele profissional que resolve problemas na lataria do automóvel. Lá chegando, o homem observou o veículo do cliente e disse “aqui há muito o quê fazer: há sinais de ferrugem e amassados em vários lugares do carro: no assoalho, na lataria, nos para-lamas, no capô... você vai querer fazer tudo ou dar uma ‘tapeada’ ou deixar como está?”.
Essa situação é muito mais comum do que se pensa. Mas não é sobre reforma de automóveis que iremos tratar aqui. Em muitos aspectos da vida da gente, vez por outra, se apresentam situações em que precisamos decidir: ou resolvemos ou enrolamos ou ficamos indiferentes.
Neste Ano da Misericórdia, que já expirará no próximo dia 20 de novembro, de muitas formas Deus tem nos convidado a nos permitirmos uma “restauração geral”. E é somente Deus Misericordioso Quem pode fazer esta empreitada: pois Ele conhece plenamente o coração humano, sabe de suas possibilidades e tendências, e não se cansa de propor um ‘reparo transformador’.
Não dá pra negar que o homem moderno tem encontrado soluções para muitos problemas: máquinas automotoras e informatizadas que o ajudam nos trabalhos mais pesados e nos de maior precisão; descobertas de novas enfermidades e algumas soluções para elas; avanços tecnológicos em todos os setores da cadeia produtiva...
Também é óbvio que o advento do Terceiro Milênio ainda não trouxe a solução para problemas muitos corriqueiros: doenças antigas que ainda matam (gripe, sarampo, malária, câncer...); desafios da desigualdade social (exclusão, novos párias, refugiados, fome...)...
Mas a grande dor que vem fazendo o homem sofrer é a perda do sentido de viver! Cada vez mais aumenta o número das pessoas que procuram abreviar ou antecipar o fim de suas vidas, ou que vegetam mergulhadas em suas tristezas patológicas. Um desalento tem tomado conta de muitos corações.
Diante desta realidade o Papa Francisco clama e grita: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixar salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus renasce sem cessar a alegria!” (Evangelli Gaudium 01). E insiste no convite: “convido todo cristão, em qualquer lugar ou situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo... já que da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído” (EG 03).
É muito fácil perceber que o ser humano está precisando urgentemente de uma “restauração”. Ele anda triste, violento, acuado, pessimista e depositando suas esperanças em futilidades. Tem inventado deuses e religiões que não podem salvá-lo. Tem rejeitado seus filhos e “não chora, nem guarda luto” quando estes morrem. O homem e a mulher hodiernos andam “enferrujados”... morrendo tristemente aos poucos.
Ainda é Francisco quem nos mostra uma luz: “Fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, (cita Bento XVI) ‘cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um de nós é necessário’” (Laudato Si’ 65). E explica: “a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra. (...) estas relações romperam-se não só exteriormente, mas dentro de nós... é o pecado” (LS 66).
Diante desta realidade, inspirados pelo Jubileu da Misericórdia, podemos acolher este dom maravilhoso que Deus nos oferece: restauração! É por pura Misericórdia que Ele restaurou inúmeros pecadores das Escrituras: Moisés, Abraão, Jacó, Salomão, Davi, Jonas, os apóstolos, Madalena, o bom ladrão... e toda a humanidade, inclusive eu e você!
Deixemos o Espírito Santo agir em nós! É como cantam nossos jovens naquela canção da Banda Vida Reluz: “Cristo quer fazer em mim uma obra nova e o meu coração quer modificar”! Portanto, com relação à sua vida e ao mundo, como responder à pergunta do chapeador: “vai querer ‘restaurar’ tudo ou dar uma ‘tapeada’ ou deixar como está”?

 Pe. Auricélio Costa
Pároco e Reitor do Santuário
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Outubro/2016










PORTA SANTA

A MISERICÓRDIA DE DEUS NÃO TEM LIMITES


Eles saíram cedo de casa naquele domingo. Deveriam acompanhar outras pessoas da comunidade numa excursão ao Santuário de Albertina, em São Luiz, Imaruí. Ao lhe questionar do por quê terem vindo de tão longe e trazendo criança pequena, me responderam: “queríamos ‘aproveitar’ a oportunidade de ‘passar’ pela Porta Santa”! Esta pequena história de uma família do interior de Grão Pará é apenas mais uma entre tantas que se escuta no Santuário.
De fato, este Ano Extraordinário da Misericórdia, Ano Santo, é uma ocasião também “extraordinária” para mergulharmos no coração do Papa Francisco e no coração de Deus. O Papa explicou a convocação do Ano Santo dizendo que “há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixarmos o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. (...) [Este] jubileu... tempo favorável para a Igreja, a fim de tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes” (MV 03).
D. João Francisco autorizou a abertura de quatro Portas Santas em nossa Diocese: Catedral (Tubarão), Santo Antônio dos Anjos (Laguna), São Marcos (Rio Fortuna) e no Santuário da Beata Albertina (Imaruí).
No Santuário, portanto, muitos romeiros têm buscado fazer a experiência da Misericórdia de Deus! Visitando a terra onde nasceu, cresceu e foi martirizada Albertina, os romeiros percebem que a fé precisa ser vivida intensamente e testemunhada com destemor. O que parecia o fim, na verdade, se tornou o começo de um grande movimento de fé e devoção popular que atrai muitas pessoas. O Papa reconhece que os Santuários são “meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão” (idem).
Muitos vêm a São Luiz para conhecer o lugar e o templo, mas a maioria dos romeiros vem fazer uma experiência de fé. Vêm pedir a intercessão da Beata porque sabem que o coração de Deus é acessível; desta forma sentem-se amparados fraternalmente pela “santinha” que já está no Céu. Vêm chorar e rezar e se reconstruir pessoalmente diante do testemunho da Beata. Mas sabem que tudo vem de Deus, e que Ele é Quem sabe o melhor para nós.
Quem vem ao Santuário movido pela fé retorna ainda mais edificado para suas lutar diárias. Muitos vêm ao Santuário para agradecer as mais diversas graças que receberam. “Padre, estou aqui porque fui curada de câncer!” me interrompeu uma senhora durante uma pregação que eu fazia. “E nós, porque não aceitamos a orientação médica para tirarmos nosso nenê e arriscamos tudo confiando na intercessão da Beata; hoje estamos aqui com a nossa Paula Albertina!”, emendou outra devota.
O que o Papa falou sobre a Quaresma deste Ano Santo vale para todos os demais meses deste Jubileu: “... tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia... redescobrir o rosto misericordioso do Pai” (MV 17). E cita o profeta Miqueias: “Vós, Senhor, sois o Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não se obstina na ira, mas se compraz em usar de misericórdia” (Mq 7,18-19). E Isaías: “Então, a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se... Invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxilio e te dirá: ‘Estou aqui!’” (Is 58-6-11).
Evidentemente que a Porta Santa não é um amuleto, um objeto mágico e dotado de poderes sobrenaturais... Mas, sim, ela é um sinal eloquente de que Deus está querendo acolher a todos, para acarinhá-los, acalentá-los, protegê-los, curá-los... A Porta Santa não se encerra em si mesma: ela permite que o fiel se adiante até o altar, onde está o Senhor Misericordioso presente na Palavra e na Eucaristia. E ela se abre para fora, recordando que a missão de quem experimentou a misericórdia é ser testemunha deste amor sem fim de Deus!
Em novembro próximo as Portas Santas serão encerradas novamente. Os frutos da experiência amorosa de Deus, certamente, continuarão a animar a vida de fé de muitos romeiros. O Ano Santo terá um fim, mas “a misericórdia de Deus dura para sempre”!
Aquela família que veio em romaria ao Santuário de Albertina, ao final da Missa me procurou e alguém disse: “Padre, podemos fazer uma foto juntos com o senhor? Pois não queremos esquecer este dia!”. Fizemos juntos o tal registro. E rezei para que voltassem pra sua casa certos de que Aquele que disse “Eu sou a Porta” os acompanhasse por toda a vida!

Pe. Auricélio – Pároco/Reitor
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Setembro/2016







Ano da Misericórdia - Só o Amor constrói!

             Certa vez encontrei um jovem senhor que me comunicava da morte de seu pai: “Padre, meu pai, enfim, após tanto sofrimento, partiu para o Céu”. Perguntei-lhe como era o seu relacionamento com ele. Foi aí que eu recebi uma grande lição. Confidenciou-me que por muitos anos foi vítima de estupro pelo pai, que amargou esta dor interiormente, e que a sua vida foi marcada por muitos sentimentos de incompreensão e raiva e medo. Após sua denúncia, o pai foi preso. Por muitos anos ficaram separados. O homem adoeceu e foi abandonado. Então, em meio à grave enfermidade do pai, os dois de reconciliaram.
Ouvindo seu relato eu já não percebia rancor em sua voz, nem em sua feição. Perguntei-lhe porque parecia tão sereno. Ele me disse: “porque eu o amava. Por justiça, o denunciei; por amor, eu o perdoei. Agora eu vivo em paz”!
São muitos os casos de superação de dor e de traumas. A solução para tais sofrimentos pode estar em alguma técnica de terapia... mas, neste Ano Santo do Jubileu da Misericórdia, o Papa Francisco nos recorda um remédio infalível: o amor que perdoa!
Na Bula “Rosto da Misericórdia”, nº 04, ele recorda as palavras de São João XXIII na abertura do Concílio: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo (Igreja) prefere usar mais o remédio da MISERICÓRDIA que o da severidade. (...) A Igreja Católica... deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade... (11/101/1962)”. 
Na conclusão de tal evento, o Beato Paulo VI falou: “... a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a CARIDADE... aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma... para que... se dessem remédios cheios de esperança... e palavras de confiança” (07/12/1965). Assim, Francisco convida todos nós – tanto individualmente, quanto como instituição Igreja – a contemplarmos Jesus, o rosto misericordioso do Pai. O “Jesus histórico” que conhecia o coração humano e acolhia todas as pessoas, é o mesmo “Cristo da fé” que reconciliava e perdoava e curava! As atitudes de Jesus comprovam Seu ensinamento e nos revelam como é o coração de Deus, que Ele é Amor!
Ser misericordioso não significa compactuar com aquilo que é pecaminoso, que ameaça a vida, que nos afasta de Deus e da comunidade. O mal sempre será mal. Mas Jesus nos mostra que é possível trilhar um caminho diverso daquele da vingança, do revidar o mal feito, do desprezo pela vida, do fechamento para Deus, do mundanismo religioso...
O Amor misericordioso de Deus nos aproxima de nós mesmos, para que tenhamos Misericórdia de nossa própria história, de nossas realidades pessoais mais íntimas que podem nos trazer fechamentos e sofrimentos. Assim, compreendendo que somos infinitamente amados por Deus, podemos construir uma história de vida mais altruísta, mais evangélica, mais livre e mais santa!
Neste Ano Santo está em voga a “Apóstola da Misericórdia” Santa Faustina, a freira polonesa que divulgou a devoção à Divina Misericórdia. Numa de suas locuções interiores, ela “ouviu” Jesus lhe dizer: “Coloquem a esperança na Minha Misericórdia os maiores pecadores. Eles têm mais direito do que os outros à confiança no abismo da Minha Misericórdia. (...) Causam-me prazer as almas que recorrem à Minha Misericórdia. (...) Antes de vir como Justo Juiz, abro de par em par as portas da Minha Misericórdia!” (Diário, nº 1146, p. 304). É bem assim o coração de Deus!
Nosso mundo e, particularmente nosso país, precisa promover a justiça, respeitar os Direitos Humanos, aprender a viver na pluralidade, globalizar a esperança e o pão, defender a família e a nossa Casa Comum!... Mas necessita, sobretudo, do REMÉDIO DA MISERICÓRIA. Pois é a Misericórdia que nos permite olhar o outro não como inimigo, não como adversário... mas, como filho e filha de Deus, nosso irmão e nossa irmã!
Aquele homem que perdoou o seu pai e o acolheu até à morte me ensinou que a Misericórdia transforma vidas, constrói novas possibilidades de amar e nos aproxima do Céu. De fato, “somente o amor misericordioso constrói”!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Agosto/2016
Misericórdia na vivência familiar

Começaram a se tornar mais comuns as notícias sobre encontros promovidos para reunir todos os familiares. É encontro da família tal... mais um daquela outra família... E as pessoas que participam destes eventos quase sempre se surpreendem ao descobrir tantos parentes desconhecidos... Ficam felizes por rever e conhecer primos ou tios tão extrovertidos, inteligentes, agradáveis... reconhecem traços físicos e comportamentais semelhantes... recordam e descobrem ancestrais comuns... partilham histórias nunca antes contadas... deliciam-se com os pratos típicos que, por décadas, acompanham a família... e celebram juntos a fé, promovendo um momento religioso comum que lhes dá profunda identidade...
Infelizmente num mundo globalizado, informatizado, tornado tão pequeno por inúmeros inventos de comunicação, ainda tenhamos a tentação de nos fecharmos em nós mesmos, de nos julgarmos suficientes para nossos interesses egoístas, de nos admirarmos patologicamente de nossa solidão e de nossas pretensas belezas, qual Narciso pós-moderno.
Num coração egoísta e presunçoso não há espaço para a Misericórdia. Como poderia abrir-se ao outro um coração engessado, congelado e frio? Quão infeliz, esse coração!
Mas Deus nos criou a todos por puro Amor. Ele nos criou um pouco abaixo dos anjos... e, se até dentre eles houve quem se rebelasse contra Deus, que dizer de nossa condição tão frágil e pecadora!? Diante de nossas fraquezas, porém, Ele nos olha com Misericórdia. Foi assim com Adão e Eva e o será para sempre, pois é próprio de Deus agir com Amor que perdoa, isto é, agir com Misericórdia. Ele não pode ser diferente.
Ao pensar em nós, quis fazer-nos à Sua imagem e semelhança! E nos fez família! Por isso, quanto mais vivermos unidos aos demais irmãos e irmãs, mais semelhantes a Deus seremos. Quanto mais promovermos a concórdia e a solidariedade e a fraternidade, mais parecidos com o Pai seremos. Quanto mais construirmos pontes entre os corações, entre as nações... mais estaremos promovendo o sonho de Deus para nós.
São profundamente ofensivas à Deus as divisões que cultivamos entre nós, especialmente no seio familiar. Nossa sociedade não vai bem, e isso já é senso comum. Mas, será que não é porque nossas famílias não vão bem também? E quais são os fatores que provocam tanta dor, tanta divisão e tanto egoísmo em nossos lares? O que estamos fazendo e que podemos fazer para retornarmos aos sonho inicial de Deus?
O Papa Francisco nos apresenta o caminho da Misericórdia. Neste Ano Santo ele convoca toda a família humana e cada uma de nossas famílias a fazerem uma experiência de Misericórdia. Isso pode ser alcançado colocando o coração “em saída”, isto é, indo ao encontro do outro irmão, aproximando-se mais de Deus. Esse Jubileu seja marcado pela conversão interior; por isso, o Papa nos convida a nos aproximarmos do Sacramento da Penitência, buscando viver a Reconciliação a partir da própria casa. Perdoar é um grande ato de Misericórdia, pois Deus disse “desejo Misericórdia e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (Oséias 6,6).
Os esposos são chamados pelo Matrimônio a viverem “a alegria do Amor”, o que significa buscarem o bem um do outro. No relacionamento familiar o perdão, a correção fraterna, a exortação amorosa ajudam todos a fazerem a experiência do Deus da Misericórdia. É o apóstolo São Tiago que nos esclarece: “pensai bem, o julgamento vai ser sem misericórdia para quem não praticou a misericórdia”... e garante: “a Misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento!” (cf Tg 2,13).
É ainda na Palavra de Deus que encontramos uma outra orientação para a vivência familiar segundo o Plano de Deus. Como diz a canção: “Onde o Amor e a caridade, Deus presente está”. Amor e caridade... não é exatamente isso a tal Misericórdia? Deus quer “estar” em nossos relacionamentos familiares e em nossas casas enchendo-as de Sua Presença Misericordiosa. Portanto, não desistamos de nossas famílias!
Os eventos que fomentam a aproximação das pessoas precisam ser incentivados. Sejam nos Grupos de Famílias ou nas festas comunitárias ou nos grandes Encontros dos descendentes de uma ou outra Família! Contra o egoísmo, a proposta é abrir-se para o outro. Contra o orgulho, a Misericórdia!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Publicado no Jornal Diocese em Foco - Julho/2017 






UM CORAÇÃO MISERICORDIOSO 
COMO O VOSSO

Ele chegou à sacristia, após a Missa, e foi logo me comunicando: “Ah, Padre. Terei que ser submetido a um novo procedimento cardíaco. Meu médico disse que é necessário!”. Conversamos um pouco sobre o assunto. Ouvi seus anseios e receios... Falou-me que gostaria de ficar bom logo para poder realizar seus projetos pessoais, familiares, ajudar na comunidade...
Depois que nos despedimos, fiquei pensando quantas vezes o nosso coração fica enfermo e é preciso que alguém nos ajude a perceber os efeitos e perigos da doença que chegou. De fato, são tantas as novas e perigosas patologias que vêm colocando nossa vida em risco. Também é verdade que a Medicina tem avançado positivamente e satisfatoriamente em vários campos de sua atuação.
Acabei pensando no Coração de Deus. Ele mesmo nos revelou a intimidade do Seu Sagrado Coração. Os textos bíblicos nos enlevam sobre este tema, pois nos dão conta de que o Divino Coração é puro Amor, Perdoador, Acolhedor, Justo, Manso, Humilde, Generoso... e, sobretudo, Misericordioso!
Quis o Papa Francisco nos convidar para celebrarmos o Jubileu da Misericórdia porque sentiu que era urgente voltarmo-nos para o centro de nossa fé. E convidou-nos a penetrar na intimidade do Coração de Deus, incentivando-nos a aprofundarmos nossa consciência de filhos amados e nosso compromisso de testemunhas da Misericórdia. Aliás, foi Deus mesmo, na pessoa do Filho, quem disse: “Vinde a mim vós todos... pois sou manso e humilde de coração...”.
A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a Misericórdia de Deus. Enquanto anuncia com palavras, exortações, exemplos e espírito de conversão, a Igreja mesma vai se tornando mais misericordiosa. Enfim, mais autêntico ícone e rosto da Misericórdia!
Misericórdia é uma composição de duas palavras latinas. De um lado temos “miserere”, que significa “ter compaixão”. Esta palavrinha, por sua vez, significa “sofrer com”. Do outro lado, temos o verbete “cordis”, isto é, “coração”! Assim, entendemos que Misericórdia é fazer-se próximo de quem sofre, ser solidário, sofrer junto, envidar afetos e atitudes para caminhar com quem padece. Poderão nos ajudar imensamente nisso três “fontes de Misericórdia”: a Palavra de Deus, a Eucaristia e uma boa Confissão!
No Salmo 24/25,6 temos a súplica do salmista: “Lembra-Te, Senhor, da tua Misericórdia e do teu Amor, pois eles existem desde sempre”. Neste estilo literário até podemos permitir que o suplicante imagine que Deus pudesse “se esquecer” de Quem Ele é na realidade. De fato, Deus jamais poderia deixar de ser Misericórdia e Amor, pois aí se encontra a Sua essência. E, por isso, nunca Ele poderia se esquecer dos filhos e filhas que gerou por Amor. Seu Coração é todo voltado para nos amar, nos fazer felizes, nos resgatar de nossas más escolhas e pecados... “Sua Misericórdia dura para sempre!”. Chegou ao ponto de planejar nossa Salvação e enviou o Seu Filho Unigênito para nos redimir.
Neste mês, em todas as comunidades, celebraremos de muitas formas a devoção ao Sagrado Coração. A nossa rica religiosidade popular pode ficar mais enriquecida com a espiritualidade deste Ano Santo. Aproveitemos este tempo especial (kairós) para tornar nosso coração mais semelhante ao de Jesus! Também nós precisamos ser mais acolhedores, perdoadores, amorosos, humildes, samaritanos, servidores, companheiros, compassivos... misericordiosos como Deus!
Talvez nosso coração também esteja precisando de alguns “procedimentos” para “funcionar” melhor. Que tal buscarmos nos aproximar mais de Deus? Que tal praticarmos as Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais?
Eu continuo rezando e torcendo por aquele irmão que sofrerá uma cirurgia cardíaca. Mas também rezo por você, a fim de que este Ano Santo torne o seu coração mais misericordioso!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Jornal Diocese em Foco - Junho/2016







MARIA, ÍCONE DA MISERICÓRDIA


Ela não descansa enquanto não sentir que tudo está bem com os filhos e com a família. Ela não encontra sossego enquanto não arrancar alguma palavra ou um olhar do filho que se fechou em si mesmo. Ela é quem mais se sente tolhida na liberdade quando um filho seu está amarrado às drogas, às más amizades, aos amores insanos... E dela a dor mais profunda quando sente que seus rebentos estão lhe escapando por entre os dedos... perdendo-os...
Todavia, é nela que se pensa quando se quer conceituar o Amor! São seus atributos que reconhecemos no coração de Deus: amoroso, acolhedor, misericordioso, criador, pacificador, paciente... Sim, estamos falando da MÃE! Os poetas e pretensos poetas encontram lindas e profundas palavras e expressões para definirem a pessoa da Mãe. E o fazem muito bem!
Deus, ao criar a humanidade, “criou-os homem e mulher”. E tudo era muito bom! O masculino e o feminino de Deus se manifestam harmonicamente em toda a Criação. No momento crucial do Plano de Salvação da humanidade, o Autor da Vida escolheu uma mãe biológica para seu Filho Amado. E encontrou em Maria de Nazaré o “ninho” perfeito para aconchegar o Unigênito Salvador. Deus não procurava apenas um “ventre”, mas uma “pessoa”... digamos: um CORAÇÃO!
Foi assim que a Igreja ganhou uma MÃE. E, ao longo dos séculos, ela tem sido presença vigorosa para ajudar seus filhos na caminhada cristã. Uma presença catequética, que recorda-nos sempre a necessidade de não esquecermos do Senhor: “façam tudo o que meu Filho lhes disser”! Uma presença encorajadora e ousada que nos permite permanecermos firmes e fortes, mesmo quando as perseguições tentam nos intimidar. Uma presença profética e livre que nos convida a exclamar: “O Poderoso fez por mim maravilhas!... derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou!”.
A Igreja possui uma MÃE que não a abandona, porque a Igreja é o Corpo Místico do seu Filho. Não há Herodes, nem Pilatos, nem dragão, nem nada que pode arrancar seu Jesus (a Igreja!) de seus braços.
É por isso que, neste Ano Santo do Jubileu da Misericórdia, o Papa Francisco a intitula “Mãe da Misericórdia” e nos convida a redescobrirmos “a alegria da ternura de Deus”. E justifica: “ninguém como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor.” Como Arca da Aliança, “guardou, no seu coração, a misericórdia divina” (cf MV 24).
Maria é testemunha da Misericórdia do Filho de Deus: ela o viu acolher tantos pecadores, transformar suas vidas, dizer-lhes “vai em paz, teus pecados estão perdoados” e, por fim, aos pés da cruz ouviu as palavras-testamento do Senhor: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem.”. “Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém” (idem).
Maria, em todas as suas Aparições ou devoções populares é sempre aquela que nos aproxima do Amor Misericordioso de Deus. A Senhora da Piedade, padroeira de nossa Diocese de Tubarão, nos revela que Deus vai até às últimas consequências, até à morte... até ao inferno... por nós!
Na imagem peregrina da Senhora Aparecida, que está visitando nossas paróquias, percebemos a solidariedade amorosa de Deus com o seu povo sofrido e excluído e atribulado. Assim como outrora, lá nas margens do Rio Paraíba, em São Paulo, ela foi sinal de que Deus permanece junto dos seus filhos amados, também hoje, aqui entre nós, ela se revela ÍCONE DA MISERICÓRDIA. E como ícone, não atrai a nossa atenção para si mesma, mas para o seu Jesus! É para Ele que ela quer nos conduzir, pois somente Ele é a própria Misericórdia!
Eis a nossa querida Mãe Maria! Como todas as mães deste mundo, repleta de Amor, com razões que somente o coração materno pode compreender. Incansável em nos levar a Jesus!



Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Jornal Diocese em Foco - Maio/2016








MISERICÓRDIA, IMPERATIVO DO AMOR


As queimadas acontecem por todo o país. Agricultores e pecuaristas se utilizam desta prática para limpar pastagens, eliminar pragas e (até mesmo) fertilizar a terra. Muito se questiona sobre este manejo do solo, mas não há como não perceber quando um campo ou um morro foram queimados. Parece que tudo ficou destruído, devastado e a sensação é de caos. Ledo engano. Passadas algumas semanas, tendo caído chuva, o que era pura cinza, se transforma em um grande tapete verde... tudo se renova... a vida venceu!
Tais queimadas poderiam ser uma metáfora da experiência de quem quer vivenciar a Misericórdia de Deus. Este amor divino e perdoador é capaz de “queimar” toda espécie de pecado, de “erva daninha”, de fechamento para as “coisas do Alto” (Col 3,1). E é muito triste constatar que, na seara do Senhor, o inimigo semeou o pecado. Percebemos o mal crescendo ao nosso redor, perto de nós e dentro de nós. O campo acaba ficando impróprio para o cultivo... parece que não há mais o quê fazer.
Porém, o Dono da seara jamais deixa de sonhar em transformar o seu campo num jardim, ou num pomar, ou numa grande plantação. Por isso, movido pelo mais sincero Amor, através do Espírito Santo (Fogo do Céu), Ele restaura aquilo que parecia condenado, destrói toda resignação, queima as sementes traiçoeiras... e faz a vida vencer!
O Amor de Deus se transforma em Misericórdia! “Sua Misericórdia é para sempre!... por isso, dai graças ao Senhor!” (Sl 136). Ao revelar-nos o rosto misericordioso do Pai, Jesus nos ensina a sermos misericordiosos também. Como quando foi interpelado por Pedro sobre quantas vezes deveríamos perdoar àqueles que nos ofenderam. Na ocasião Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18,22).
Essa dinâmica de Amor promove a restauração do coração. Alguém pode perder o sentido de viver quando o pecado desfigura a sua dignidade de ser humano, filho de Deus. Alguém pode abandonar os seus sonhos, quando se sente enfraquecido por causa dos constantes obstáculos que encontra na caminhada. Mas ninguém fica esquecido por Deus, num determinado canto da existência, abandonado pelo Criador. Jamais! Por ser Amor, Deus lança um olhar de misericórdia justamente para aquele que mais necessita.
Neste Ano Santo da Misericórdia o Papa Francisco nos aponta o Coração de Deus. É ali, neste “ninho sagrado do Amor”, que encontraremos a nossa mais remota e profunda identidade: filhos amados de Deus! Que o seu Espírito Santo venha “queimar” nossos pecados para podermos nos lançar nos braços do Pai Amoroso e Misericordioso!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina










NA CRUZ DO SENHOR,
A OFERTA DA MISERICÓRDIA

Desde que, na hora derradeira, dependurado no madeiro de morte, Jesus pronunciou as palavras “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34), o coração humano pôde sentir um alento especial.
Jesus passou a vida fazendo o bem. Ninguém como Ele apreciava tanto a arte de viver. Percebia a pulsação da vida em seu corpo, nas pessoas de sua comunidade lá em Nazaré, no contato com a natureza. Encantava-se em contemplar a florzinhas do campo, as sementes que o agricultor depositava na terra, o orvalho matinal que refrescava as madrugadas e molhava a relva, com a alvorada e o ocaso de cada dia, com os rebanhos pastoreados por dedicados pastores... Ele amava viver! Não é de se admirar que tenha resumido sua missão nas palavras “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10)!
Pessoas de todos os lados vinham até Jesus para ouvi-Lo, porque suas palavras eram carregadas de amor, lhes dava um sentido para lutarem e viverem e sonharem. Os gestos de Jesus eram de acolhida, de interesse pelo outro. O Deus ao qual buscava e servia era a própria Vida! Daí sua indignação diante das injustiças, da miséria social, da mundanidade religiosa... do “fermento dos fariseus”.
No alto da cruz, porém, suas palavras revelam o segredo do seu coração: Misericórdia! Sim, o amor que perdoa!... o amor que restaura!... o amor que converte!... “Perdoai-lhes!”
Hoje, ao vivenciarmos os dias da Quaresma, dentro do Ano Santo da Misericórdia, sentimos o apelo do Senhor que nos pede: “sejam misericordiosos como o Pai” (Lc 6,36)! Purificando-nos de nossos pecados, de nossos “fechamentos interiores”, da rigidez de nosso coração... um novo jeito de viver se descortina à nossa frente. Trata-se da vida proposta por Jesus! Isso que é a Páscoa!
Somos chamados a ser perdoadores, porque fomos perdoados; acolhedores, porque o Senhor nos abraça a cada dia; amantes da vida, porque Ele partilha sua Vida conosco; promotores do Reino, porque Seu Reino é de amor, de justiça e de paz. O cuidado com a Criação (especialmente com a ecologia humana) seja expressão do acolhimento da Misericórdia que o Senhor nos oferece na cruz.
Obrigado, Senhor Jesus! Carregando o madeiro, carregaste nossos pecados. Erguendo-Te, depois das três quedas, caminhas para o Calvário. E nos ensinas que precisamos perseverar sempre. A recompensa será a Redenção. Tua Divina Misericórdia é a Tua própria vida. Ajuda-nos a sermos misericordiosos e a construirmos relações mais fraternas entre nós. Amém!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário de Albertina
Março - 2016






ALBERTINA – SEU MARTÍRIO É ATUAL

“O Brasil precisa de santos!” Foi o brado de João Paulo II – também ele santo – que se ouviu por toda a Beira-mar Norte, na capital de Santa Catarina, naquele dia 18 de outubro de 1991. Dali, quando foi beatificada Madre Paulina, a exortação do Santo Papa foi escutada também em outras paragens brasileiras!

No bojo destas palavras veio todo o incentivo de D. Eusébio em provocar seu irmão bispo D. Hilário para retomar a Causa de Albertina. Assim, anos depois, com o indiscutível empenho de D. Jacinto Bergmann, vivemos os dias da Beatificação da Serva de Deus. E foi no dia 20 de outubro de 2007, em Tubarão, que testemunhamos o Cardeal Saraiva proclamar a nossa Albertina Bem-Aventurada, Virgem e Mártir.

Mas a história começou muito antes, lá no dia 15 de junho de 1931, no lugarejo chamado São Luiz, no interior de Imaruí. Cego de paixão, o contratado do seu Henrique e da D. Josefina Berkenbrock, pais de Albertina, tirou a vida da adolescente a quem queria possuir. Ela não consentiu neste ato porque não queria pecar, como, mais tarde, o próprio assassino testemunharia.

Lá se vão 84 anos e o exemplo da jovenzinha de traços germânicos continua atraindo milhares de pessoas ao seu santuário. Vem pedir-lhe favores espirituais junto a Jesus: saúde do corpo e do espírito, curas e conversões...

Albertina possuía um coração generoso e buscava praticar todo o ensinamento religioso que recebera dos pais e do catequista. Vivia a santidade do dia-a-dia, das coisas simples, dos gestos de caridade... Alma limpa, pura. Caminhando firme na Terra, mantinha seus olhos fixos no Céu. Querida e admirada por todos, era chamada de “a nossa santinha”.

Enquanto vai correndo o Processo de Canonização em Roma, na Causa dos Santos, o povo vive sua devoção. No próximo dia 07 de junho acontecerá a 10ª Romaria Vocacional Diocesana ao Santuário da Beata, quando um Grande Coro, com quase duzentas vozes, homenageará a “Santinha”. E no dia 15 do corrente mês, celebraremos mais um aniversário de seu martírio. Não há como não se deixar questionar por testemunho tão eloquente!

Pe. Auricélio Costa – Reitor do Santuário









PORQUE ETERNA É A SUA MISERICÓRDIA

         Desde criança, juntamente com as primeiras orações, descobri as tais jaculatórias. Eu gostava delas porque eram curtas, davam ritmo às orações e continham certa melodia. “Jesus, Amigo das crianças, abençoai as crianças do mundo inteiro!”; “Nossa Senhora da Saúde, dai saúde aos doentes!”; “São Cristóvão, protegei os motoristas!”; “Graças e louvores se dêem a todo momento...!”; “Enviai, Senhor, operários à Vossa messe...!”; “Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos...!”
        Entre tantas outras, tínhamos aquelas jaculatórias ao Coração de Jesus: “Sagrado Coração de Jesus, modelo do Coração Sacerdotal, santificai os sacerdotes!”; “Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso!” e “Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em Vós!”
        Essas pequenas orações contêm teologia e devoção popular. E, assim, desde cedo, fomos descobrindo que “conversar” com Deus não é coisa difícil. De fato, a iniciativa de encontrar-se com Deus não partiu do desejo do coração humano. Pelo contrário, foi pura e absoluta vontade do Criador. Ao procurar as criaturas – que criou “à sua imagem e semelhança” – quis revelar-lhes seu coração, seus propósitos, seus sonhos... abrindo seu coração divino. Nem sempre foi fácil aos homens compreenderem a profundidade deste Amor; e quantas vezes a humanidade não correspondeu a este Coração apaixonado e zeloso do Pai!
       A Bíblia, toda ela, está repleta de negativas do homem ao projeto de Deus. E, também, das consequências para a vida pessoal, para a comunidade e para toda a Criação “que geme e chora como em dores de parto”! Por outro lado, a misericórdia de Deus sempre O moveu na direção da acolhida do homem para restaurá-lo, recriá-lo, amá-lo! Esse movimento, que acontece através do Espírito Santo, é ininterrupto.
        Agora, nos encontramos no limiar de um novo Ano Santo, o Jubileu Extraordinário da Misericórdia! E o seu início se dará no dia 08 de dezembro vindouro, na festa da Imaculada Conceição! Sim, sensível aos impulsos do Espírito, o Papa Francisco nos convida a mergulharmos na intimidade do coração de Deus, um coração misericordioso.
Vivemos numa sociedade que não sabe mais ser misericordiosa. Os corações estão se fechando, e este processo desemboca na morte do amor, do altruísmo, da oblação.              Com medo de tudo, dos outros e de si mesmos, tais corações enveredam por um processo suicida, pois somente o Amor pode dar sentido à nossa existência. É o Amor que nos leva a cultivarmos relações sadias que promovem confiança, solidariedade e felicidade!
         Neste mês do Coração de Jesus, deixemos que a Misericórdia divina tome conta de nossa vida. Sejamos misericordiosos também! Com certeza, muita gente, então, fará a experiência de sentir-se amada e acolhida por Deus, através dos nossos gestos de amor!
      Aquelas jaculatórias que a gente aprendeu desde criança ainda permanecem ecoando em nossa dinâmica mental. E com o salmista, podemos recitar-rezar “Eterna é a Sua misericórdia” (Salmo 136). Ou aquela jaculatória que evoca o oferecimento que Jesus Cristo fez de Si mesmo, visando alcançar a misericórdia do Pai para nós: “Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro!” Sim, “porque eterna é a Sua misericórdia”!

                                                                                                       Pe. Auricélio Costa








MÃE-TERRA E TERRA-MÃE

“Um lamento se ouviu por toda Israel. Era Raquel que, desconsolada, chorava a morte de seus filhos.” (cf Mt 2,18).
Hoje as motosserras não deram trégua à floresta da montanha. Árvores caindo, bugios roncando assustados, pássaros em nervosas revoadas.
Se a Terra é nossa mãe, pobres de nós! Como tratamos mal a nossa mãe!... e os nossos irmãos, então!?
Mães são mulheres dotadas da enorme capacidade de doar-se continuamente. Não há limites para seus corações; estão continuamente gerando, gestando e parindo seus filhos. Elas são o nosso chão, a presença necessária em nosso caminhar e na formação de nossa personalidade. Elas são o ideal do ser humano, pois todo homem nasceu para amar, ser altruísta, solidário, generoso, dar vida... Enfim, é próprio do ser humano ser bom!
Todavia, o homem recebeu a capacidade de fazer escolhas. E os critérios que o levam a decidir entre uma coisa e outra, entre um caminho e outro, podem ser os mais variados. Podemos nos deixar levar pela razão, pelos conhecimentos adquiridos, ou pelas outras experiências que fizemos, ou pela opinião de alguém, ou pela intuição... ou mesmo pelo coração.
É comum o ser humano perceber que errou nesta ou naquela escolha. O antigo adágio reza: “errar é humano”! Às vezes é possível voltar atrás e recomeçar; n’outras vezes, tem-se que recolher os cacos pelo chão... mas – nunca! – permanecer no erro!
As mães nos ensinam que sempre é tempo de aprender, de esperar, de relativizar certas coisas. Elas sabem que o tempo é remédio, que o sorriso pode desarmar um coração, e que aquela determinada comida pode trazer alguém de volta. As mães são muito importantes!
Por isso o próprio Deus não quis prescindir de ter mãe! E a escolheu muito bem: uma Amada... Maria significa Amada! “Em toda mulher que a terra gerou um traço de Deus Maria deixou”! Ele se encantou tanto com “Sua Mãe” que nô-la deu para que fosse nossa Mãe também! Que presente! Que dom mais precioso!
As jovens precisam contemplar a figura de Maria para perceberem o que é ser “mulher virtuosa”! À Maria cabe a exortação de Jesus: “Mais felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática” (Lc 11,28). Homens e mulheres precisam aprender com Maria a arte de “servir a Deus” em toda situação!... inclusive no Calvário!
A humanidade caminha, os tempos mudam, mas sempre há tanto o que aprender com elas!
Enquanto escrevo, ainda ouço o barulhão lá na mata. Como filho da Terra, sofro com esta mãe que agoniza e que geme. E me solidarizo com tantas outras mães que padecem esquecidas. Que os filhos valorizem suas mães! Que a Terra tenha mais uma chance! E que, ao invés de um lamento, se ouça uma louvação: “Bendito os seios que Te amamentaram” (Lc 11,27)!

Pe. Auricélio Costa - Dioc. em Foco, Maio/2015










TESTEMUNHAS COERENTES DA RESSURREIÇÃO

Nosso povo possui “saberes” que perpassam as gerações. Desde crianças ouvimos a máxima: “as palavras convencem, mas os exemplos arrastam”. Conheço pessoas que poderiam repetir este provérbio em latim! A sabedoria popular tem fundamento na verdade.
Gostamos de ouvir pessoas que, no dia-a-dia, na convivência social, não se contradizem com seus exemplos e gestos. Cobramos de nós mesmos e dos outros irmãos a coerência de palavras e atitudes. Temos ojeriza a mentirosos e falastrões.
Jesus mesmo já nos exortava acerca do mau exemplo dos fariseus de sua época: “eles têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam” (Mt 23,2-3). De fato, é preciso haver uma certa harmonia em nós que não sobre espaço para que outras pessoas possam duvidar de nossas palavras ou de nossas ações.
Ser cristão é testemunhar Jesus Cristo em todos os ambientes e situações. Nossa sociedade tem se pautado por uma falta de sincronia entre verdade e realidade. Sentimo-nos ofendidos e traídos quando tentam “maquiar” a sociedade, para que não percebamos o quanto as pessoas estão sofrendo. Já se utilizou a religião e já se manipulou a Bíblia para fins ideológicos. Mas, a vontade de Deus é que “a verdade nos liberte” (Jo 8,32), pois “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gál 5,1).
Inspirados pela Páscoa do Senhor, nós, cristãos, precisamos e devemos testemunhar a força da Vida sobre a Morte! A ressurreição de Jesus precisa fazer “renascer” nossa esperança e nosso compromisso na construção do mundo novo, marcado pelo amor e pela justiça!
O Papa Beato Paulo VI, na Exortação Evangelii Nuntiandi (1975), escreveu que “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres...ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN 41). Isto nos leva a uma revisão de vida, especialmente diante da missão que Jesus ressuscitado nos confia: “sereis minhas testemunhas em Jerusalém... e até os confins do mundo” (Atos 1,8). O testemunho, portanto, tem primazia sobre a palavra. E, até mesmo a Palavra de Deus, só poderá frutificar no coração das pessoas se for acompanhada de nosso testemunho coerente, que é fruto da Graça de Deus atuando em nós.
Por ocasião da última Ceia com os apóstolos, Jesus lhes lavou os pés. A cena é chocante e dramática, mas cheia de ensinamentos. O próprio Jesus explicou: “Se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13, 14-15). Não há dúvidas sobre a exigência de ser seguidor de Jesus: é preciso “imitar” o Mestre. Ele também ensinou: “assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros” (Jo 13,34).
Portanto, não basta sairmos pregando por aí a Palavra de Deus. É necessário fazer-nos testemunhas d’Ele, vivendo uma vida de santidade encarnada em nossos dias. “O testemunho de vida é a primeira e insubstituível forma de missão” (DGAE,61).
Em nossas comunidades, certamente, há muitos bons exemplos de pessoas que buscam viver a fé coerentemente. A Igreja nos apresenta muitos santos de ontem e de hoje, para nos animar na vivência diária de nosso Batismo. Todavia, a sociedade ainda “olha” para nós e “nos observa”: assim como o Papa Francisco tem sido “observado” pelo mundo, que se admira com seus gestos que “falam” muito mais do que suas palavras. De fato, “os exemplos arrastam”.

Pe. Auricélio Costa
Publicado Diocese em Foco - Abril/2015








MINISTRAR MÚSICA 
PARA LOUVAR O SENHOR

Músicos, cantores e compositores católicos! Oh, que bênção especial o Senhor nos concedeu: ministrar o louvor! A Palavra de Deus pode muito bem nos ajudar a termos maior entendimento de nossa missão na Igreja.

O que São Pedro escreveu outrora, vale muito também para nós: “Formem um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de poderem oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. E mais: “Proclamem os grandes feitos d’Aquele que chamou vocês das trevas para a luz maravilhosa. Vocês são aqueles que antes não eram povo, agora, porém, são povo de Deus; os que não eram objeto de misericórdia, agora, porém, alcançaram misericórdia. Trabalhem a fim de que se realize a construção de um edifício espiritual.” (I Pedro 2,1-10)

Edifício espiritual – Nós costumamos cantar dentro de templos, em salões e até nas praças. De fato, eis aí os espaços onde realizamos nossa missão. E muitos músicos de nossa Igreja não se cansam de buscar novos lugares para evangelizar através da música. Todavia, devemos cantar e louvar o Senhor envolvendo todo o nosso ser, a nossa alma! Cantamos e tocamos e compomos canções porque dentro de nós há um desejo insaciável de querer louvar sempre mais o Senhor. Nossa vida se expressa no nosso canto! Nosso canto se torna nossa pregação, nosso testemunho, nossa oração! Esta intimidade com Jesus é fruto de uma amizade que vai crescendo entre nós e Ele. Daí a importância da oração, da Adoração, da Palavra de Deus, das boas literaturas, de valorizar os testemunhos dos outros irmãos de caminhada, de estar em comunhão com a Igreja...

Sacerdócio santo – A música na Igreja é um dom para ser partilhado. Nossa alegria é podermos nos colocar a serviço da missão da Igreja. Se tivermos uma banda, um coral ou mesmo um simples violão, o que conta para Deus é o amor em servir. Eis aí nosso sacerdócio santo! Através da nossa música oferecemo-nos a nós mesmos à Deus. E “embalamos” a comunidade para que faça também a oferenda de seus dons. Nossa música ajuda, portanto, a construir “pontes espirituais” que nos unem cada vez mais a Deus.

Sacrifício – Os sacrifícios espirituais são nossas expressões de amor, nosso esforço de conversão, nossas fadigas e buscas e superações para sermos cristãos mais santos, ministros de música mais autênticos!

Agradar a Deus e não aos homens – São Pedro nos exorta a colocarmos Jesus no lugar certo: o centro de nossas vidas. É Ele o ponto de partida e a meta a ser alcançada. Ele é o fim último; nossa vida e nossa música, meros meios para se chegar tal fim. Eis aí uma tentação que sempre se coloca no nosso caminho: agradar as pessoas, sermos bem sucedidos, conhecidos e famosos, elogiados... “Jesus não aceita ser o segundo”, ensinava o saudoso Pe. Claudino Biff, de Tubarão.

Proclamar os grandes feitos – Ao louvarmos o Senhor, nos unimos a toda a Criação para proclamar as Obras de Deus. Deus não para de fazer o bem! Deus é a dinâmica da vida e a Vida em constante dinamismo. Com nossa música queremos ajudar toda criatura humana a reconhecer e “publicar” o que Deus tem feito por nós. A natureza canta! O Universo canta! Como podemos “não cantar”?

Ele nos chamou – Concedendo-nos dons para cantar, tocar ou compor, Deus estava nos “vocacionando” para este ministério tão especial. Nossa resposta ao chamado de Deus precisa ser dada continuamente: nos ensaios, nas construções musicais, no estudo/formação, no relacionamento com os outros músicos, nos momentos de oração e no nosso testemunho de músico cristão! Nossa música religiosa se torna um grande atrativo para trazer as pessoas mais para perto de Deus; ela mexe com os sentimentos e desperta emoções! Ela pode levar muitas pessoas à conversão!

Luz maravilhosa – Por isso, o músico religioso não pode ser uma pessoa triste e sem entusiasmo. Ele, por primeiro, experimentou ficar inundado e transpassado pela “luz” do Amor de Cristo! E assim como o vitral da janela reflete os raios multicoloridos do sol no ambiente, nossa música revela as riquezas espirituais que trazemos dentro de nós. Assim, nossa música pode tocar corações e despertá-los para um amor maior a Deus! Quanto bem nossa música faz!

Ser povo pela misericórdia – O Amor de Deus fez de nós o Seu povo! Ele nos amou com infinito amor, nos deu nova chance fundado em Sua divina misericórdia. Precisamos cantar o amor de Deus! Cantar o Divino perdão! Cantar e tocar para louvá-Lo sempre!

Trabalhar na construção – Portanto, nossa música não tem sentido nela mesma, mas está a serviço da construção do Reino de Deus! Precisamos trabalhar! Colocar nossos dons a favor da construção deste edifício espiritual que é a nossa Igreja!

 Pe. Auricélio Costa - Para o Blog Cantar, Sempre Cantar. Março/2015.










UM OLHAR DE FRATERNIDADE


Você já percebeu como é que os pais olham os seus filhos? Até mesmo o que parecia ser um mero “passar os olhos”, na verdade, é um olhar cheio de procuras, de observações, de descobertas... revelando o desejo de querer servir, puxar conversa, de fazer carinho. Quando duas pessoas estão brigadas, não querem mais se ver; buscam distância uma da outra! Podem até estar fisicamente próximas, mas seus corações estão distantes!

Como é que Deus “olha” a humanidade? A Bíblia nos revela que Deus conhece nossos passos, nossas aspirações e nossas fraquezas; que Ele deseja tanto participar de nossa história que se encarnou e assumiu a nossa condição humana. Ele se interessa por nós, “põe a mão na massa” da nossa história, e suja os divinos pés na poeira de nossas estradas. Tudo isso porque nos ama loucamente! Portanto, é sempre com amor que Ele olha para nós, a quem fez Seus filhos e herdeiros!

Assim, recordando que somos muito amados por Deus, iniciemos este novo Ano Pastoral bem animados! Amados, devemos amar! Animados por este Amor, precisamos espargi-lo para que toda a nossa sociedade possa sentir-se amada e animada no Senhor!

À propósito, vivenciando a caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, somos convidados a refletir sobre a nossa presença cristã na sociedade em que estamos inseridos. “Presença cristã” significa nossa MISSÃO! Pois não estamos no mundo apenas por questão de “destino” ou por “acaso”. A Campanha da Fraternidade deste ano nos desafia a promovermos a fraternidade em todos os âmbitos da sociedade, isto é, dentro da Igreja e fora dela. Os desafios da evangelização não podem nos afastar “do mundo”, e nem levar-nos à busca de refúgio “na sacristia”.

Olhando para Jesus, que veio para servir (cf Mc 10,45), nossa Igreja tem buscado colocar em prática as inspirações do Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário estamos celebrando. Neste grande evento ocorrido há meio século, o Espírito Santo recordava aos cristãos o seu papel no mundo, no meio “das gentes”. Queremos ser uma Igreja renovada no compromisso do Evangelho, sempre atuante e participativa, consoladora, misericordiosa e samaritana, à serviço de todos os filhos e filhas de Deus.

Portanto, a Páscoa do Senhor precisa acontecer em todos os meandros de nossa sociedade. E nós, cristãos, por força de nossa vocação e missão, não podemos cruzar os braços diante dos apelos do Espírito Santo através da Igreja! Pois não queremos apenas “passar os olhos” sobre nossa realidade, mas nos envolvermos com ela.

Este ano começou sob o impulso do Ano da Paz, convocado pelo Papa Francisco. Nossa sociedade continua “a gemer e a chorar” por um novo tempo, tempo de Paz, tempo de Ressurreição!

Que o Espírito Santo nos acompanhe ao longo deste novo ano pastoral, sob os auspícios da Senhora da Piedade, nossa Padroeira, e da Bem-aventurada Albertina, a mártir de nossa Diocese.

Que Ele nos ajude a ver todas as pessoas com aquele olhar de amor, de fraternidade, de acolhimento. Então, todos os dias deste no ano serão dias de Vida Nova, dias de Páscoa!

Pe. Auricélio Costa - Março/2015









ESPIRITUALIZAR A ALMA


Escrever que no verão faz muito calor não é a melhor forma de se começar a um texto. Mas, de fato, hoje a temperatura está bem elevada aos pés das montanhas e colinas de Vargem do Cedro. Bem fez um certo jovem, pouco depois das doze horas, em buscar ar fresco junto às águas cadentes da cachoeira ao lado da Gruta da Senhora de Lourdes. 

Encontrei-o sentado sob a sombra do arvoredo, meio escorado nas enormes peças que sobraram de um velho engenho. Aproximei-me e sorri para ele. Cumprimentei-o cordialmente. Ele foi educado. Perguntei-lhe o que fazia ali e se costumava vir sempre. Respondeu-me que vinha sempre que possível àquele lugar. E mais, o que me surpreendeu: “venho aqui para espiritualizar a alma”!

Nossa conversa foi breve, mas deixou-me com uma forte impressão. Às vésperas do Carnaval, não era a sombra fresca que ele mais buscava, mas “espiritualizar” a sua alma. Recordei-me, prontamente, da exortação de nossos últimos Papas, quando apontaram para o grande drama da humanidade: “a mundanização da espiritualidade”.

A alma, nossa mais profunda identidade espiritual, tem sido abandonada e esquecida. Todavia, não obstante inúmeros “prazeres” materiais que a modernidade e pós-modernidade possam nos oferecer, ainda persiste um enorme “vazio espiritual”. Essa “crise de sentido” faz o homem sentir-se perdido, confuso e sozinho no mundo. Mergulhado numa “depressão existencial”, vai vivendo uma sucessão de dias fazendo coisas que não lhe edificam, cumprindo horários, agendas, planejamentos que ele não escolheu, não decidiu e não construiu. Como um escravo da sociedade, cumprindo papéis sociais, sem se sentir realizado, integrado.

À certa altura da vida, é preciso se questionar sobre a própria existência. Harmonizar-se com a natureza (não necessariamente numa Gruta e junto a uma cachoeira) e consigo mesmo são passos fundamentais para encontrar o “divino” em nós. Assim, sem que percebamos, começamos a “orar”, isto é, a comunicarmo-nos com Deus. E estabelece-se uma comunicação de corações. E a gente sente “saudades do Céu”!

Precisamos aproximar-nos mais e mais de nossa essência espiritual para percebermos o grande dom que é nossa corporeidade. Como nos ensinaram os mestres: sem esquecermos nossa condição humana, corpórea, material, instintiva, terrena... busquemos Aquele de Quem herdamos os dons que nos eternizam: a alma, a fé, a transcendência, o Amor!

Jesus sabia “espiritualizar-se” no encontro com Pai. Buscava-O sempre, como atestam os Evangelhos. Ficava na presença do Pai, conversava com Ele numa comunicação perfeita, e O ouvia com desejo de “agradar-Lhe e Lhe obedecer”. Acho que Jesus iria gostar muito de passar alguns momentos Consigo e com o Pai junto a essa Gruta com cachoeira em Vargem do Cedro.

Talvez, também nós, precisemos imitar aquele jovem que encontrei lá na Gruta: “espiritualizar nossa alma”! Assim seremos mais felizes e melhor cumpriremos nossa missão de “apontar” para o Céu, percebendo os “sinais do Reino” ao longo do caminho e de levar as pessoas até Jesus!


Pe. Auricélio Costa – 12 de fevereiro de 2015








 LIÇÕES DE UM PÔR-DE-SOL

Há pessoas que sentem enorme prazer em levantar-se mais cedo somente para contemplarem o nascer do sol. Outros há que se encantam com a grandeza do mar cujas ondas quebradiças vem tocar praias e rochas. Diante das águas cadentes de uma cachoeira eu já vi gente com os olhos cheios de lágrimas.
Quanto a mim, dentre todas as manifestações da natureza, encanta-me o pôr-do-sol no horizonte ou refletido nas águas da lagoa mansa. Trago esta imagem como uma alegoria de como entendo o que seja o final do ano.
Neste ano, assim como a alvorada, nós vivemos juntos momentos muito intensos e cruciais. Conhecemos novas pessoas, vivemos experiências inusitadas, lutamos para sobreviver cada dia. Também enfrentamos momentos que exigiram de nós astúcia, inteligência, maturidade, reflexão, abnegação e muita fé. Como ondas quebradiças, talvez tenhamos até nos machucado, mas não desistimos. Recompúnhamo-nos a cada golpe. Em muitas ocasiões nossa palavra de ordem foi “superação”... ou “avante”... ou “força e coragem”!
Lá no íntimo de nós uma força misteriosa não permitiu que desistíssemos. Que força é esta? É o poder de Deus que nos brindou cada dia com a graça da VIDA. E não deixou de enviar anjos para que nossos passos fossem firmes diante das escolhas que tivemos que fazer.
Neste ano, assim como pudemos contemplar no final de cada dia, quando tudo sugeria melancolia e mesmice, surgia um lindo sol, maravilhoso e único. De fato, os pôr-de-sóis não são iguais uns aos outros. Eles se refazem a cada entardecer para gestar, durante a noite, o novo dia que vai nascer!
Estamos chegando ao final de mais um ano pastoral. Nestes meses que vivemos juntos, nunca nos faltou a confiança em Deus, nosso Sol Maior... Sol sem ocaso! Portanto, final de ano não é apenas o fim de um tempo marcado no calendário. É a preparação para o Ano Novo (o novo dia!) que está chegando!
O Papa Francisco tem pedido para “exorcizarmos” todo pessimismo, pois Jesus é a nossa mais verdadeira e real ALEGRIA (EG 84)! Nós vivemos um ano intenso e que vai passando muito rápido. Passaram as Ordenações Diaconais e Presbiterais, as festas da Páscoa e dos padroeiros. Até parece que foi ontem que nós torcemos para a esquadra do Brasil durante a Copa do Mundo ou que exercemos o direito-dever de votar e escolher nossos mandatários. Enfim, já é Advento outra vez!... já é Natal do Senhor!
Você já se deu conta de que o tempo está passando rapidamente? É o tempo que passa pela gente, ou é a gente que passa pelo tempo? Na verdade, isso não importa muito! O que vale é que precisamos renovar as nossas forças em Deus, o nosso Sol. E conservarmos a ESPERANÇA! No linguajar do Papa Francisco, nós não podemos ceder aos “profetas da desgraça”, mas, sim, anunciarmos a ALEGRIA em Jesus!
E é esta a minha sensação ao contemplar o pôr-do-sol no final de cada jornada. Pois o sol é lindo e forte! E eu creio que ele irá renascer no alvorecer de cada aurora do novo ano. Não percamos nunca a ESPERANÇA!
Abençoado 2015 para todos!

Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Dez/2014






AMOR E SERVIÇO – FUNDAMENTOS DO REINO DE JESUS

Eu conheci um rei! Quando eu tive a oportunidade de viver junto dos povos de Guiné-Bissau, na África Ocidental, acompanhado do agora Pe. José Eduardo, conheci tribos que tinham reis. Aliás, o continente africano possui muitos reinos! Mais chamou nossa atenção foi o rei dos Balantas. Ele andava à pé, trajando seu manto e gorro vermelhos, que lhe conferiam certa autoridade sagrada. Era reverenciado por onde passava. Estava sempre acompanhado por um séquito de homens e mulheres que o serviam. Além de um cajado, trazia sempre um banquinho de madeira tosca, sobre o qual descansava. Sendo rei, uma “pessoa sagrada”, ele não podia sentar-se em qualquer lugar.
O rei dos Balantas me recorda outro Rei. Sim, Jesus! Ele nasceu da sacra e nobre estirpe do venerável rei Davi, de Belém. E foi adorado por “reis” do Oriente após o seu nascimento, mesmo que tivesse nascido numa gruta que servia de abrigo para os animais, e que tenha tido por bercinho uma manjedoura. A sua encarnação deixou estremecidos e inseguros outros reis e governadores da Terra, como Herodes Antipas e, mais tarde, o Imperador de Roma!
Iniciando sua missão, ao apresentar os valores do seu Reino, deixou claro que o seu Reino não podia compactuar com os poderes deste mundo. E não se esquivou de proclamar: “o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,20-21)! E, justamente por ter se revelado Rei, foi considerado um perigo para Israel e inimigo de Roma. A sua morte de cruz, portanto, não deveria ser tomada como martírio, mas como uma punição Àquele que se rebelou contra os poderes constituídos e “sagrados”. A placa que Herodes mandou fixar no alto do madeiro explica tudo: “Eis o Rei dos Judeus”.
Ao contemplarmos Jesus andando no meio do povo, pelas estradas empoeiradas e perigosas de Israel, vestido ao modo da sua gente, preocupando-se com os mais pobres e esquecidos da sociedade, superando tabus e barreiras sócio-religiosas para estar com as pessoas, ocupando-se com a formação de seus discípulos, “gastando tempo” com as crianças e jovens, doentes e pecadores... não há como não questionarmos: que Rei é este?
As disputas eleitorais deste ano, praticamente, já terminaram. Os tronos de poder já têm seus ocupantes, isto é, os “novos reizinhos”. Segundo o nosso regime democrático, eles foram investidos de poder sagrado pelo sufrágio universal das urnas. Todavia, será que o mundo ainda precisa de reis? Ou de homens e mulheres comprometidos com o bem comum, com a promoção da dignidade humana?!
Nossa “missão de reinar” é estar à serviço do Rei Jesus! Ele será sempre o modelo para nós: quando se esvazia de si mesmo para ser um de nós; quando escolhe pessoas simples do povo e lhes revela o quanto são amadas pelo Pai; quando se preocupa com as multidões que vivem famintas; quando abraça as crianças para ensinar seus discípulos a serem mais simples; quando ensina a partilha do pão; quando lava os pés dos apóstolos e lhes pede que façam o mesmo; quando lhes confia a missão universal e lhes garante que os acompanhará!
Os reis deste mundo nos desiludem. O Rei dos Reis, Jesus Cristo, nos revelou que o verdadeiro poder é servir aos outros, especialmente aos mais necessitados. Por isso, na força do Batismo recebido, todo cristão é vocacionado a ser “rei” também. Sim, é sua missão (múnus) administrar, orientar e ajudar na construção do Reino de Deus. Certamente que não vai sentar-se em tronos de ouro e de poder, como os atuais “donos” do mundo. Nem precisará sentar-se em banquinhos de tronco de árvore, como o rei dos Balantas. O Reino de Jesus é Amor e Justiça! A missão do cristão é amar!

Pe. Auricélio – Publicado no Diocese em Foco - Nov. - 2014







IGREJA “EM SAÍDA” – URGÊNCIA NA MISSÃO

Guiné-Bissau, África Ocidental, região sub-saariana do Sahel. Aí vivem dezenas de povos, contabilizados entre os mais pobres do mundo. Estávamos no país havia algumas semanas, nos adaptando às novas realidades. Ainda não éramos ordenados quando fomos visitar Catió, no sul do país, na fronteira com Guiné Equatorial. Na aldeia de Catón conhecemos a semente de uma comunidade cristã. Lá não havia nenhum cristão, mas os missionários conseguiram a simpatia dos “homens grandes” (os anciãos) e estavam construindo uma pequena escola (duas salas), que também iria servir de enfermaria e capela. Ao lado, sob a copa das gigantes árvores, plantaram uma cruz.
Ali, naquele pedaço de paraíso, fomos muito bem acolhidos pelos jovens e adultos, para desespero das crianças que, diante de presenças tão estranhas (nós!), correram assustadas mata-à-dentro. Tomamos vinho de palmeira com os anciãos, lhes deixamos remédios e prometemos uma nova bola de futebol para os jovens.
Assim, com respeito, partilha, acolhimento, solidariedade, alegria e muito boa vontade fomos apresentando àquela gente o rosto de seu Salvador! E é assim, com passos muito simples, que a Igreja de Jesus vai realizando a sua missão mundo a fora. Sempre obedientes ao mandato do Senhor – “ide para a vinha” (Mt 20,4) e “ide e anunciai o Evangelho ao mundo inteiro... fazei discípulos!” (Mt 28,19) – os cristãos têm levado a Mensagem e a Pessoa de Jesus a todos os povos.
O Papa Francisco tem insistido muito que a Igreja deve estar “em saída”. E que não dá mais para esperar que as pessoas venham buscar a Igreja apenas quando necessitarem de algum sacramento ou orientação na vida. Os filhos da Igreja precisam “ir ao encontro” daqueles seus irmãos que estão precisando e esperando pelo anúncio da Boa Notícia. Já não se pode mais permanecer numa atitude passiva, quando o mundo caminha a passos largos e desenfreados em busca de vida, de prazer, de enriquecimento, de bem-estar... Tais buscas são compreensíveis, pois o ser humano é sempre inquieto. Mas, visto que as ofertas do mundo podem não combinar com o projeto de Deus, é urgente apresentar Jesus! Sim, somente Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”(Jo 14,6)! E nada pode substituí-Lo na vida do homem!
A missão da Igreja nunca termina. O projeto de Jesus não é apenas para este mundo. Além de colaborarmos na construção de uma civilização marcada pelo Amor, não podemos perder o sentido de que apontamos para “mais além”, para o infinito, para o Céu! Essa dimensão escatológica da nossa ação missionária não pode ser esquecida e nem protelada: enquanto propomos e vivemos a fraternidade, desejamos o retorno para a Casa do Pai!
Seja lá na longínqua Guiné-Bissau ou aqui no nosso bairro, há uma necessidade urgente de anunciar e testemunhar Jesus! Lá, a cólera, a fome, a intolerância religiosa e a temível “ebola” desafiam o trabalho missionário da Igreja. Aqui, entre nós, os desafios são outros. Todavia, precisamos nos colocar “em saída”, confiando na promessa de Jesus: “Eis que Eu estarei convosco todos os dias” (Mt 28,20)!

 Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Outubro/14





PELA PALAVRA, CRESCER NAS DIMENSÕES DO AMOR

“Oi, mãezinha!”, “Olá, paizinho!”, “meus amiguinhos”, “uma roupinha”, “um joguinho”, “uma oraçãozinha”, “uma missinha”... Por mais hilário que pareça, tem sido muito comum o uso de expressões desse tipo. Usadas assim no diminutivo, ao contrário de expressar carinho, podem expressar, na verdade, um certo desprezo por aquilo que se quer dizer. É verdade que os afetos mexem com nosso jeito de falar e com nossos gestos também. E que não podemos tratar uma criança e um adulto da mesma forma. Aliás, nem queremos pular etapas do desenvolvimento natural de uma criança; e nem, tampouco, pretendemos infantilizar um adulto.
No campo da vivência da fé esta questão também pode ocorrer. Por isso, é salutar tomarmos um ensinamento (na verdade, trata-se de uma súplica!) de São Paulo na Carta que ele escreveu aos Efésios 3,17-19a: “Que o Pai faça Cristo habitar no coração de vocês pela fé. Enraizados e alicerçados no Amor, vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o cumprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de Cristo...”.
Para sermos verdadeiros discípulos-missionários de Jesus, portanto, não podemos viver uma religião que não nos tome “da cabeça aos pés”, que não penetre nas entranhas de nosso coração e de nossa mente! Não podemos viver nossa fé superficialmente, sem que ela mexa com todo o nosso ser, nos impulsione à santidade, e se torne fundamental em nossa vida.
Neste sentido, citando S. João Paulo II, na Mensagem para o Dia Mundial de Orações pelas Vocações deste ano, o Papa Francisco diz que “viver esta ‘medida alta da vida cristã ordinária’ significa, por vezes, ir contra a corrente e implica encontrar também obstáculos, fora e dentro de nós”.
Nas coisas de Deus não é possível tratar no diminutivo, pois, como São Paulo nos ensina, precisamos crescer em todas as dimensões do Amor! Sim, o Amor! Aqui está o segredo de toda ação do cristão: saber-se fruto amado de um Deus Amor, que assumiu nossa humanidade até o ponto de abraçar a cruz. Morto, Ele destruiu a morte e, por Amor, abriu-nos as portas do Céu para consigo nos levar.
O amor é dinâmico e gera vida! O amor transforma e desacomoda! O amor revela horizontes e destrói fronteiras! O amor dá sentido à história e às nossas lutas! Ele nos incendeia para a possibilidade do Eterno e do Céu! Por isso, o cristão se torna um missionário do Amor! Sabendo-se amado, sente-se comprometido em testemunhar o amor, levá-lo a todas as pessoas!
A Palavra de Deus chama a nossa atenção para não ficarmos estagnados numa fé pueril e desligada de nossa vida. É preciso acolher a Sagrada Escritura como vontade de Deus. É o Espírito Santo quem vai nos ajudar a compreendermos as dimensões do Amor.
No testemunho de Jesus Cristo podemos encontrar indicações de como fazer este caminho para dentro do Coração de Deus. Jesus, desde cedo, está voltado para fazer a vontade do Pai. Ele é obediente e o Pai dá seu testemunho inquestionável: “Este é o meu Filho amado. Escutai-O!” (Mt 17,5). Os gestos de Jesus, desde a escolha dos Doze até a atenção que dava aos mais excluídos da sociedade, nos revelam que o Amor era a base para a edificação do seu Reino. Até no Calvário Ele revelou que seu coração era cheio de misericórdia!
Então, ser seguidor de Jesus é coisa grande, tarefa sublime, missão abençoada, pura gratuidade de Deus! Não se trata de um “agradinho” de Deus e nem de uma “bençãozinha”! A nossa resposta a tanto Amor, também não pode ser uma “respostinha” qualquer e nem um “sim-zinho” sem compromisso. Afinal de contas, como o próprio São Paulo ensina: “Vocês, portanto, já não são estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus!” (Ef 2,19).

Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Setembro/14






UM POUCO DA TRAJETÓRIA DO CASAL JUBILAR
SEBASTIÃO E OSMARINA

Há 50 anos Tubarão não era uma cidade tão grande quanto hoje! O rio majestoso ainda era meio de transporte para muitos moradores. Por ele escoavam seus produtos para o comércio local. Por ele as pessoas podiam chegar até a famosa Laguna de Santo Antônio dos Anjos. Em suas margens as mulheres vinham lavar roupas, pois suas águas ainda eram propícias. O som das lavadeiras batendo roupa e conversando na beira do rio se podia ouvir de longe! Pescar era um passa-tempo e uma necessidade!
Há 50 anos já não se encontrava um carro-de-mola na cidade, mas carroças e aranhas, sim. As famílias mais abastadas podiam adquirir um automóvel e até um televisor (em preto e branco, é claro!). O Hercílio Luz e o Ferroviário faziam ferver o sangue nas veias dos admiradores do bom futebol interiorano. Pela Rádio Tubá o povo se emocionava com as rádio-novelas! A velha matriz de Tubarão tinha sido elevada à condição de catedral. Enquanto o povo se acostumava com o seu primeiro Bispo, D. Anselmo, o Pe. Raimundo e outros ministros religiosos dirigiam a construção da nova catedral.
Enquanto o comércio ia crescendo com a chegada de novas lojas, no interior a vida era tranquila e suada. No Campestre (nas margens do rio) e, depois, no Humaitá, João Henrique e Antunina tinham construído uma grande família, pautada nos fundamentos religiosos e na boa convivência. Na Passagem (na margem do rio e próximo à estrada de ferro), Antônio e Lídia Costa (depois, Angélica) formaram, também, uma família numerosa, marcada pela forte religiosidade e pela presença da música!
Osmarina e Sebastião cresceram nestes ambientes. Há 50 anos, na altura dos seus quase 20 anos de idade, era jovem linda e recatada. Dava catequese desde os 14 anos e ajudava nos trabalhos na capela, especialmente nos tempos das Santas Missões! Um outro jovem do lugar tentara roubar seu coração, mas Deus lhe havia reservado algo melhor: um cantador e seresteiro, que possuía um irmão famoso por tocar acordeom como ninguém, e que também estava procurando um grande amor. Sim, Sebastião também era artista e, na altura dos seus quase 30 anos, já tinha conhecido São Paulo, onde fora trabalhar por um tempo, tinha administrado o comércio do seu pai e já era funcionário da Souza Cruz.
Certo dia correu a notícia de que o famoso Marfiso Costa iria tocar um baile ali no Campestre. Todo mundo ficou alvoroçado! Era diversão na certa! Muita gente se reuniu no lugar. Osmarina colocou seu vestido mais bonito e, juntamente com suas irmãs e amigas, foram para a festança! Lá percebeu que o jovem Sebastião, que acompanhava seu irmão sanfoneiro, tocava violão e cantava o tempo todo olhando pra ela. Achava que o interesse do jovem músico era outra pessoa, talvez uma de suas amigas. Não era. Dias mais tarde, sem esperar, foi acordada, à noite, com uma serenata à frente da janela do quarto onde dormia. Ao ouvir a cantoria apaixonada, não se incomodou, pois ainda achava que era pra outra pessoa.
Naquela noite, através dos acordes do violão de um jovem apaixonado, Osmarina começou a entregar seu coração a um amor de verdade. Desfez um outro compromisso e, juntamente com o Sebastião, iniciou uma caminhada que os conduziria ao altar da capela de Nossa Sra. Aparecida, do Campestre, no dia 04 de setembro de 1964. Ali, diante de familiares e amigos, prometeram juras de amor sem fim e receberam as bênçãos de Deus através do Pe. Raimundo.
Muito trabalhador, o jovem esposo montou o seu primeiro ninho na Passagem, próximo ao trilho da estrada de ferro, perto da casa de seus pais. A jovem esposa cuidava do lar e, ali, nasceram o Auricélio, o Aurélio e o Renato. Os bons vizinhos, como o seu Luiz Bicho e a D. Tereza, a D. Nair, o seu Pedro Rato e a D. Valbi e tantos outros, puderam se reunir na casa do Sebastião e Osmarina para assistirem, no raro televisor, à vitória do Brasil na Copa de Setenta! Já naqueles tempos a família se reunia para rezar, freqüentava as celebrações da comunidade e, através da Tubá, recebia diariamente a visita do Pe. Raimundo através do programa da Ave Maria.
Com muito esforço, anos mais tarde, ficou pronta a nova casa da família, mais próxima da Souza Cruz. Ali nasceram o Rainério e o Bento Rogério. Já dava pra formar um time de futsal. Cinco meninos! Que tempos bons! Como não lembrar das refeições sob a parreira de uva? E do cachorro Danúbio? E do vizinho encrenqueiro? E das santas vizinhas Alzira e Júlia? E das ajudantes da mãe: a tia Betinha, a Eliene, a Adelir? E do dia em que o Aurélio e o Auricélio se encrencaram e por sorte não aconteceu coisa pior? E do dia em que o Renato perdeu um dedinho do pé brincando com a pá? Ou daquele dia que o Rainério, dançando Iê-iê-iê, caiu da cadeira e quebrou o braço? E daquele dia que o Roge caiu do brinquedo no Jardim Pio XII e quase morreu?
Mantendo a casa sempre em ordem, Osmarina deixava os filhos limpinhos e vestidos de pijama (de pelúcia, cada um de uma cor!) para aguardar o pai lá na esquina, quando ele voltasse do trabalho... geralmente trazendo uma rosa que os filhos entregavam pra esposa!
E, assim, a vida ia sendo vivida normalmente às margens do rio Tubarão. Cuidando bem da prole, Sebastião e Osmarina, com enorme sacrifício, conseguiram comprar o terreno onde a família vive até hoje. A enchente de 74 não deu tréguas pra ninguém. Nosso bairro foi inundado e destruído. Quanta lágrima, quanta dor! Mas, também, quanta superação! Quanta solidariedade e amor! Tiveram que começar tudo outra vez!
Uma nova casa foi colocada no lugar da velha! Ali a família aumentou ainda mais: chegaram as tão esperadas meninas: a Rosélia e a Angelita! E os rapazes tiveram que aprender a conviver com coisas estranhas: anéis, tiaras, bonecas, lacinhos e as insuportáveis músicas da Xuxa!
Sete filhos! E a família poderia ter crescido ainda mais, pois Sebastião e Osmarina tinham um projeto de gerar dez filhos. Todavia, os sete rebentos coroam o lar que o casal construiu. Depois chegaram outras bênçãos: as noras e os genros. E, para nunca deixar faltar a alegria na casa dos avós, vieram todos os netos e bisnetos... e que venham muitos mais! Isso sem esquecer-nos da presença amiga de tantos parentes, vizinhos, compadres, irmãos de Igreja e amigos os mais diversos! A casa quase nunca precisou de sala de visitas, pois a cozinha é o coração da casa de Sebastião e Osmarina! Todos são sempre bem-vindos!
Nuvens carregadas também pairaram sobre a casa que Sebastião e Osmarina edificaram. A cruz pesou muitas vezes sobre seus ombros. Ofereceram o melhor que possuíam para seus filhos. Fizeram sacrifício de si mesmos! Lágrimas também molharam o chão sobre o qual a vida corria. Não foi fácil entregar o Bento Rogério tão cedo e tão jovem para Deus. A partida da vó Antunina, que viveu os últimos anos na casa da família, também causou grande consternação. Perdas, dores, doenças, incompreensões... uma certeza: “o Amor é mais forte que a morte”!
A Igreja foi sempre uma extensão da casa de Sebastião e Osmarina. Os cuidados com a filharada e a netarada, com o quintal, a chácara, as vacas e as cabras (agora as galinhas)... nunca impediram o casal de participar dos muitos trabalhos na comunidade. Edifica-nos a sua dedicação à Legião de Maria, a preocupação com os doentes e pobres, com o Grupo de Famílias e com as famílias enlutadas. Isso sem esquecer a vida toda dedicada à Liturgia, à Catequese e à oração pelas vocações! Para poderem servir melhor, mesmo com uma penca de filhos, enfrentaram os estudos, inclusive da Escola de Teologia!
A gente nunca vai se esquecer da caridade da Osmarina: alguém precisou de colchão d’água, roupinhas para bebê, cadeira de rodas, muletas? Ela não dorme enquanto não resolver o problema. O Sebastião foi um dos pioneiros para a formação da capela e um dos sonhadores mais eloqüentes para a formação de uma paróquia no bairro. Quantas Missas nas praças da comunidade e quanta preocupação em formar novos líderes para a capela! Comprou um carro só para buscar o Pe. Érico, do Hospital, para que a comunidade não ficasse sem Missa aos domingos. E ensinou os filhos a tocarem violão para que as celebrações fossem mais animadas!
Hoje, passados 50 anos, o rio Tubarão ainda corre tranqüilo no seu leito! A cidade de Tubarão vai crescendo rapidamente e ganhando novo rosto! Mas, no seio da família Costa, aqueles valores que são duradouros, jamais passarão. Pois, com a graça de Deus, Sebastião e Osmarina souberam construir sua casa familiar sobre a rocha, a rocha do Amor e da Fé! Nossa gratidão a Deus por tudo que realizou na vida do casal jubilar. E, através deles, na vida de todos nós! Parabéns, seu Sebastião! Parabéns, D. Osmarina! Parabéns à toda a família!

Pe. Auricélio Costa - 07 de setembro de 2014








VOCAÇÃO – FAZER O BEM NUM NÍVEL SUPERIOR

Não é difícil encontrarmos pessoas que se revelam insatisfeitas com sua profissão. Algumas trabalham anos a fio desgastando-se num trabalho que não as realiza pessoal e profissionalmente. A troca de emprego e a aposentadoria precoce parecem ser os caminhos mais prováveis, quando não a doença e o abandono do emprego. E, nestes casos, possuir um Diploma de habilitação profissional pouco adianta.
Não é diferente no campo vocacional. Também eu e você conhecemos pessoas que estão insatisfeitas com as escolhas vocacionais que fizeram. Ou porque se deixaram levar por motivações alheias aos reais sentimentos do seu coração, ou porque não estavam suficientemente maduras para fazer aquelas tais opções. Bem, existem muitos fatores que podem levar uma pessoa a não estar satisfeita com o seu matrimônio, com a sua vocação de ser esposo ou esposa, de ser pai ou mãe. Também encontramos religiosos e padres que deram um Sim na vida consagrada, mas que não vivem realizados na sua vocação.
As ciências sociais e antropológicas e psicológicas podem apresentar seus argumentos para explicar tais fenômenos. Todavia, na Exortação Alegria do Evangelho (EG, 9-10), do Papa Francisco, encontramos algumas indicações para compreender tais situações.
Diz o Papa que “o bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza pro­cura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos ou­tros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se”. Para Francisco, o sentido da vida – e, por conseguinte, toda vocação – está em fazer o bem! Pois “quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro cami­nho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem”... Como bem ensinou São Paulo: “O amor de Cristo nos absorve completamente” (2 Cor 5, 14); “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16).
Vocação é o desejo de Deus para cada ser humano. Significa que ninguém é fruto do acaso e nem foi criado por acaso. A pessoa precisa descobrir (discernir) qual o CHAMADO ou “sonho” de Deus para a sua vida. Seja abraçando a vida matrimonial ou a vida consagrada, seja como ordenado ou leigo comprometido, o importante é dar o seu SIM ao chamado de Deus.
A proposta é viver a um nível superior, mas não com menor intensidade, a doação de si mesmo cada dia”. E é o Papa quem explica: “Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais! (Doc. Aparecida, 360)... A vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros”.
Neste Mês Vocacional renovemos nosso SIM generoso ao convite de Deus! Ele nos auxiliará a vencermos as dificuldades na vivência de nossas escolhas profissionais e vocacionais. Por causa de Cristo e do Evangelho, não podemos ser “evangelizadores tristes e desalentados, impacientes ou ansiosos”. Que o Senhor nos ajude a ser “ministros do Evangelho cuja vida ir­radie fervor”... mesmo quando for preciso semear com lágrimas!

Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Agosto/14







19º ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO PRESBITERAL

29 de julho de 2014. Para comemorar o 19º aniversário de minha Ordenação Presbiteral, como costumo fazer a cada ano, escrevi uma Oração Vocacional e mandei imprimir um “santinho” para distribuir aos amigos. Também escolhi uma frase bíblica que me caiu no coração enquanto lia um livro nestes dias: “Os que amam o Senhor são como o sol da manhã” (Juízes 5,31). Ela me trouxe muito alento ao ministério e me despertou maior compromisso vocacional.

BENDITO SEJAS

Bendito sejas, Senhor Jesus,
por tudo o que és e que fazes por nós!
Bendito sejas, Senhor Jesus,
por nos amares até à cruz
e por nos capacitares para amar sem limites!
Sim, Senhor, foi para a aventura do Amor
que nos chamaste desde toda a eternidade!
E partilhaste a tua missão conosco,
enviando-nos para amar-nos uns aos outros
como Tu nos amaste.
Perdoa-nos, ó Bom Pastor,
pela dureza de nosso coração.
E por não conseguirmos trilhar
os caminhos da verdadeira conversão.
Nestes tempos de individualismo e fechamento,
de medo e confusão,
queremos viver nossa vocação cristã
com fidelidade, alegria e coragem.
Mas auxilia-nos com o teu Amor
e ilumina-nos com o teu Espírito.
Nós Te amamos, Senhor Jesus!
E “os que amam o Senhor são como o sol da manhã”.
Ajuda-nos a iluminar o mundo com o teu Amor!
Bendito sejas! Amém!

(Pe. Auricélio)








A CARIDADE COMO FORÇA DO TESTEMUNHO

As pessoas que hoje cedo vieram bater à porta de nossa Casa (o Seminário) reclamavam do frio intenso e pediam-nos – pelo amor de Deus – algo quente para comer e beber. Nós as atendemos e lhes servimos algum alimento. Mas, todavia, sempre no esforço de nos configurarmos a Jesus, nos perguntávamos: há algo mais a ser feito em favor daquelas pessoas?
Sim, sempre há muito mais o quê fazer para promover a caridade, a assistência social aos desfavorecidos e esquecidos da sociedade! Já existem iniciativas para transformar a ordem econômica vigente, a construção de políticas públicas não excludentes e o apoio às instituições que promovem a defesa da vida...
Em tudo isto o cristão precisa estar empenhado e comprometido! Um mundo novo é possível! Dar pão, partilhar um agasalho... enfim, ser caridoso... é praticar o “Amar a Deus e amar ao próximo”!
Todavia, o Papa Francisco tem nos alertado para não nos esquecermos de que nossa missão principal é apresentar às pessoas Aquele que é a razão de nossa vida e de nossa caridade: Jesus Cristo!
Na Exortação Alegria do Evangelho, o Papa afirma que “a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária” (EG, 127). Levar a Pessoa e a Mensagem de Jesus “às nações” é compromisso de todos nós como uma tarefa que nos compete diariamente. E, para isso, não há segredo: “é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos”.
Diz o Papa que esta forma de evangelizar pode acontecer como uma “pregação informal” durante uma conversa ali na praça ou num outro local público, ali no intervalo de uma atividade profissional, ou num momento de lazer, ou numa visita familiar... e até mesmo quando se faz um gesto de caridade. Enfim, sempre é tempo e ocasião de se testemunhar Jesus, mesmo que nem venhamos a pronunciar o nome d’Ele. 
Para Francisco, “ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus” em conseqüência de sermos discípulos missionários por força do nosso Batismo! É o próprio Cristo quem age através de nós em tudo o que fazemos ao longo da nossa jornada diária. Nós somos portadores do Senhor aonde quer que estejamos. Portanto, sempre é tempo e ocasião para testemunhar Jesus!
A nova ordem social que precisamos construir “para que haja vida e vida em abundância” não pode prescindir de Jesus Cristo. Ele é o Senhor da História, “no ontem, no hoje e no amanhã”. E não há outro parâmetro que possa nos ajudar a compreendermos o ser humano em toda a sua totalidade. É por isso que o cristão nunca se conforma com os sinais do anti-Reino, isto é, com a onda crescente da violência e do descaso com a vida (homicídios, tráfico humano, corrupção, politicagem, abuso econômico, poluição, exclusão social...).
A nossa fé cristã não nos permite ficar “entorpecidos” e “cegos” diante da nossa história concreta. É urgente anunciar Jesus, o único que pode transformar o homem a partir de dentro, do seu coração. As pessoas precisam conhecê-Lo para que n’Ele se “aqueçam” neste “inverno social” que estamos atravessando. Isto é, corações fechados, fixados no materialismo, narcisistas e ateus.
Renovemos nossa boa disposição em ser testemunhas de Jesus! Deixemos que o Espírito Santo nos aqueça e nos impulsione para realizarmos a nossa missão no mundo, já a partir daqueles irmãos que encontramos ali dentro de casa, ou na vizinhança...
O caminho é longo! Evangelizar é processo diário e necessário! As pessoas continuarão a apelar para a nossa caridade, nos chamando à porta de nossas residências. Mas, juntamente com o alimento quentinho e o agasalho, podemos partilhar com elas muito mais... sim, muito mais!

Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Julho/14




PRIMEIRA MISSA
DO PE. EDUARDO FERNANDES ROCHA
EM HUMAITÁ – TUBARÃO – 14 de junho de 2014




Louvado seja Nosso Senhor, Jesus Cristo! Salve, Maria!

Caros irmãos no ministério, Padres... Diáconos...
Queridos seminaristas, irmãos no sonho vocacional...
Amados irmãos e irmãs, membros do povo de Deus nesta paróquia dedicada à Senhora de Fátima!...
Estimado irmão, Eduardo Fernandes Rocha... Pe. Eduardo!

(Hoje eu não vou cantar! Tampouco vou me prender às orientações homiléticas.)
Aliás, eu não sei onde você estava com a cabeça quando me convidou para proferir a homilia nestas suas primícias! Fiquei surpreso e titubeei por um átimo, pois, afinal de contas, o quê eu teria a acrescentar sobre você (ou para você) que já não o tenha dito nestas nossas Jornadas Vocacionais!? A surpresa, meu caro, me levou ao louvor! Sim, aceitei o seu convite para poder expressar ainda mais uma vez o louvor ao Bom Deus, Jesus Cristo, pelo dom de sua vocação.  Assim, uno-me à oração do profeta Daniel, no salmo de hoje: “Sede bendito, Senhor! À Vós louvor, honra e glória eternamente!” (Dan 3).

“Pois Deus amou tanto o mundo...”, assim começa o Evangelho de São João de hoje (Jo 3,16-18). E por causa deste Amor que não tem limites e nem conhece fronteiras, o Pai foi capaz de nos dar o Seu maior Bem: Jesus Cristo! Portanto, Jesus não é um Presente qualquer; é um Presente de amor que nos traz a Salvação!

Ao longo dos séculos e milênios Jesus foi sendo anunciado a todos os povos, nas terras mais longínquas, independentemente das diversidades lingüísticas e culturais. Jesus foi levado às pessoas graças ao testemunho de inúmeros discípulos, que se deixaram transformar em suas vidas, e se fizeram missionários do Evangelho! Para que o Evangelho chegasse até nós, homens e mulheres arriscaram e perderam suas vidas, se desgastaram como velas no altar da humanidade.

Com coragem e ousadia desbravaram florestas e desertos, mares e montanhas!... perigos de toda ordem! Mas não desanimaram! Não vacilaram! Fizeram de suas fraquezas e dificuldades, o incentivo para irem mais longe! É que havia dentro deles, caro Pe. Eduardo, uma força... um sonho... um projeto... uma vocação... um chamado irresistível! Havia dentro deles uma PAIXÃO! Sim, uma PAIXÃO!

Permita-me, caro Pe. Eduardo, pronunciar algumas frases que você repetiu tantas vezes nas Jornadas Vocacionais que fizemos. Suas palavras mexeram com nossos corações. Você falava-nos: “Dizem-me que sou um coitadinho porque vou ficar padre. Que não estou bem certo ao desperdiçar com isso minha juventude! Mas, tenham certeza (enfatizava você), eu estou feliz, muito feliz! (Você dizia) Eu sinto uma paixão! Eu estou apaixonado por Jesus Cristo e pelo Evangelho d’Ele”!

Meu irmão, que testemunho lindo! Sim, todo cristão é chamado a deixar-se encantar pela Pessoa de Jesus e pela Sua Mensagem. Jesus causa fascínio nos corações juvenis e deve continuar a tocar também os nossos corações de adultos. Particularmente os nossos corações!... Nós, padres, chamados e ungidos com uma vocação de especial consagração.

Porque nós, Pe. Eduardo, como falou o Papa Francisco, não podemos esquecer que “o verdadeiro poder é o serviço”; e que devemos “entrar cada vez mais nesse serviço que tem seu cume luminoso na cruz” e cuidar dos mais pobres e necessitados. Pois, disse o Papa, “apenas aquele que serve com amor sabe cuidar”.

Daí, meu querido, a importância de a gente ser “como discípulos mais chegados a Jesus... desafiados a ter a mesma espiritualidade de Jesus... chamados à vivência do amor, da misericórdia, do carinho, da ternura com todos... chamados a exercer a coragem de profetas para denunciar” o que não combina com o Reino d’Ele.

Caro Pe. Eduardo, neste domingo em que celebramos também a Santíssima Trindade, certamente que Deus Pai/Filho/Espírito-Santo tem ensinamentos importantes para todos nós. Especialmente para nós, padres, que somos chamados a refletir o rosto do Filho, isto é: humanizar e divinizar tudo o que Deus criou. Configurando-nos a Cristo, nós, padres, somos “chamados a ser como Jesus Cristo: cabeças da Igreja, servos da Igreja, pastores da Igreja, esposos da Igreja, senhores da Igreja”, focando os olhos no Bom Pastor!

Pe. Eduardo, nós também somos chamados a testemunhar o Deus Amor, que é o Espírito Santo. O presbítero é “um homem do Espírito Santo”, que sabe esperar e confiar n’Ele. Assim, o padre “gera o Filho no meio da comunidade, no Espírito Santo, sendo um instrumento de vida e santidade.

E com relação ao Pai, nós, padres, “somos chamados a viver diante do Pai na fidelidade, na obediência, no discernimento, na escuta e na confiança, sobretudo, nas crises da caminhada... nas noites escuras do apostolado” (Pe. Vitor Feller, “Ser Padre Hoje”,  pp.53-69).

Noites escuras, meu irmão! Sim, porque, como ouvíamos na Primeira Leitura de hoje (Êxodo 34), o “povo tem cabeça dura”. Nossa sociedade está vivendo uma época de “cabeça-durice”, o coração enrijeceu e quase não há mais lugar para o amor!

Nós padres também precisamos, novamente, deixarmo-nos apaixonar pelo Senhor Jesus. E, como Moisés, gritar ao Senhor: “Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel... Caminha conosco. Somos teus!” Sim, nas “noites escuras” da caminhada, confie em Jesus; pois Ele “é o Sol que não conhece ocaso”!

Meu querido Eduardo (agora, nosso Padre!), eu louvo a Deus pelo seu Sim à vocação recebida! Eu louvo a Deus pela sua caminhada vocacional e porque você se deixou tocar por Ele nestes anos de formação! Eu louvo a Deus pelos tantos dons que Ele depositou na sua pessoa e por você ter se apaixonado por Cristo e pelo Evangelho!

E eu louvo a Deus por ter me enviado para Imaruí e, apesar de eu ser um torpe instrumento,  ter me usado para lhe cutucar o coração... um coraçãozinho de menino do interior, tímido, mas com um olhar curioso. Foi lá em Aratingaúba! Vocês sabem onde é Aratingaúba? O nome é de origem guarani. “Ara” significa “ave, papagaio”; “Tinga” significa “árvore frutífera”; e “Uba” significa “canoa”. Seria mais ou menos assim: “terra onde a ave cumprida se alimenta” ou, como dizem outros, “terra do papagaio amarelo”. Vocês sabem onde é Aratingaúba? Não importa. Mas, Deus sabe! Deus sabe, com certeza!

E Deus olhou com muito carinho pr’aquela comunidade que também já se chamou “Vila de Santo Antônio”. E que se situa ali, juntinho à terra da Beata Albertina! E o Eduardo também se alimentou com o testemunho daquela jovenzinha que preferiu morrer a ofender o seu amado Jesus! Ela também era APAIXONADA por Jesus! E, hoje, dia 15, a Igreja toda celebra mais um aniversário do seu martírio, ocorrido a 15 de junho de 1931. Não é significativo tudo isso, meu irmãozinho?

Eu era padre jovem, aprendendo a ser padre! (E acho que ainda sou aprendiz!) E estava cheio de segundas intenções quando lhe abordei durante aquela Missa lá em Aratingaúba  (porque um Promotor Vocacional está sempre com segundas intenções!). Você me ajudava como coroinha naquele dia. E eu lhe perguntei se você queria ser padre e conhecer o Seminário. Eu chegara da África havia poucos anos e me consumia pela necessidade sempre urgente de “mais operários para a messe”, de homens e mulheres apaixonados por Jesus Cristo e pelo Seu Evangelho! Eduardo, você disse “Sim” ao meu convite... e teve início toda uma linda história vocacional de amor a Jesus Cristo!

Eu Te louvo, Senhor Jesus, pela minha vocação! (Ajuda-me!) Louvo-Te pela vocação do Pe. Eduardo e pela vocação de cada irmão e irmã que aqui se encontra! (Ajuda-nos! Nós Te louvamos, Senhor Jesus!)

Por fim, meu caro filho, quero repetir a exortação de São Paulo, que ouvimos na Segunda Leitura de hoje (2Cor 13) – serve tanto para você quanto para toda a comunidade: “alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz e o Deus amor estará convosco”.

Pe. Eduardo, parabéns pela sua Ordenação! Nosso presbitério e toda a Igreja se enriquecem com a sua presença entre nós! Obrigado aos seus pais e familiares! Obrigado à comunidade de Aratingaúba e à toda a amada Imaruí!

O seu exemplo desperte nos corações juvenis o desejo de servir totalmente a Jesus Cristo! E que a Mãe de Fátima interceda por você!

Continue APAIXONADO POR ELE, Pe. Eduardo! Por Ele e pelo Seu Evangelho! Amém!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Pe Auricélio Costa.






AMAR COMO JESUS

“Amar como Jesus amou!” A maioria de nós cresceu ou viveu bonitas experiências ao som da melodia que envolve estas palavras. Foi muito feliz o Pe. Zezinho quando compôs aquela canção que permanece em nossa memória afetiva. Isso, realmente, pode acontecer com muitas outras canções, pois a música faz parte de nossa vida e pode nos ajudar a contar muitas histórias.
Ao chegar o mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, como não recordar aquelas cançonetas que os devotos do Apostolado da Oração cantam para homenagear o Bom Deus? E as procissões que promovem? E as cerimônias de Coroação da imagem do Sagrado Coração? “Levantai-vos, soldados de Cristo!” reza um dos verdadeiros hinos do Apostolado. Certamente também você já cantou muitas vezes esta canção.
Quando permitirmos que Jesus entre na nossa vida, Ele vai tomando conta de tudo e nossa alma só pode exultar em prece e em canção. Pela fé somos chamados a dar vida às notas musicais e “encarná-las” no nosso dia-a-dia. “Amar como Jesus” será sempre um ideal a ser buscado com todas as forças do nosso coração. E é bem isso o que o Papa Francisco tem nos inspirado com seus gestos e ensinamentos. A Igreja precisa testemunhar mais fortemente ao mundo o amor de Jesus! Mas não se trata de um amor piegas e sem conseqüências práticas. Trata-se de proclamar com a vida, em cada dia, em toda situação, que cremos no Amor, que vivemos para amar e que amamos de fato.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus move-nos para desejarmos ardentemente ter “um coração semelhante ao Vosso”, como rezamos na jaculatória. E faz bem recordarmos os relatos bíblicos de como se revelou o coração de Jesus: obediente ao Pai, atento às Palavras do Pai, solidário com o sofrimento de todos, especialmente dos mais pobres e esquecidos. Seu coração era amoroso e perdoador, isto é, compassivo e misericordioso. Em seu coração todos poderiam encontrar abrigo, afeto, restauração e alento. Estava comprometido com a verdade e a justiça. Daí que o anúncio do Reino é o anúncio do seu Divino Coração.
Multidões acorriam para ouvir Jesus falar, permanecer um dia inteiro (ou mais!) com Ele, deixar-se tocar por Ele, sonhar com Ele os sonhos de Deus para nós, testemunhar os sinais que Ele promovia, para permitir-se ser transformadas por Suas palavras pronunciadas “com autoridade”. Pode parecer demasiado espiritualista, mas Jesus era todo Coração! Todo o seu ser revelava a riqueza do seu Coração!
Que a nossa devoção ao Sagrado Coração de Jesus faça crescer em nós o desejo de termos um Coração como o d’Ele... o desejo e o compromisso! Que esta espiritualidade perpasse a nossas pastorais e movimentos e associações e organismos eclesiais. Que nós todos, padres e leigos, cada um vivendo a sua vocação, nos tornemos discípulos missionários do Sagrado Coração, revelando ao mundo que o nosso coração é habitado por um Coração Maior, o próprio Jesus Cristo! E é por isso que não deixamos de cantar, como quando crianças: “Amar como Jesus amou! Sonhar como Jesus sonhou! Pensar como Jesus pensou! Viver como Jesus viveu! Sentir o que Jesus sentia! Sorrir como Jesus sorria!...”

Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Junho/14









ESTILO MARIANO DE EVANGELIZAR


O Papa Francisco escreveu na Exortação Alegria do Evangelho que “há um estilo mariano na evangelização da Igreja” (EG, 288). Estilo é uma palavrinha difícil de definir com precisão, mas é inconfundível. Juntando um pouco da história da Igreja, suas doutrinas, suas convicções, sua experiência milenar em meio a diversas culturas... perceberemos um modo particular e especial de ser da Igreja. É o seu estilo. Maria marca profunda e vitalmente o estilo de ser Igreja, segundo o nosso Papa. E nós concordamos com ele: “Salve, Maria”!
Muitas vezes nós “confundimos” a figura de Maria com a imagem de nossa própria mãe. A experiência familiar é marcante e nos acompanha por toda a nossa existência. De certa forma, isso ajuda a compreendermos o nosso estilo mariano de servir a Deus.
O Papa recorda alguns títulos e adjetivos sobre Nossa Senhora. Ele relembra que Maria sempre está no meio do povo (EG, 285) como amiga solícita, compreendendo todas as pessoas. Como Mãe da Igreja evangelizadora, reúne os discípulos para invocarem e receberem o Espírito Santo.
Jesus Cristo desejou que a Sua Igreja não ficasse órfã. Ele lhe doou a própria Mãe. Percebemos neste gesto, segundo o Papa, uma “fórmula de revelação” muito especial que marcou intensamente a Igreja e a sua missão no mundo. Ela tornou-se um “ícone feminino da Igreja” e companheira não somente dos seguidores contemporâneos de Jesus, mas de todos os demais discípulos de todas as gerações e em todos os tempos!
Com sua presença consoladora em meio ao mistério da Paixão, mesmo com o coração traspassado, Maria sabe transbordar de alegria no louvor! Ela sabe transformar dor em alegria, pois transformou “um curral de animais na casa de Jesus” (EG, 286).
Sua presença na ação evangelizadora da Igreja é fortemente missionária. Ela se aproxima das pessoas, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos, assim, do Amor de Deus. Mulher de fé, ela “vive e caminha na fé” (EG, 287), sempre conduzida pelo Espírito Santo, ensinando-nos a reconhecer os vestígios do Espírito ao longo da caminhada. Ela é orante e contemplativa, mas também é trabalhadora e sempre pronta para servir. O Papa a apresenta como “modelo especial para a evangelização”.
Sem dúvida, o nosso povo compreende muito bem o papel de Maria na vida da Igreja. E nem é necessário um tratado de Mariologia para incentivar as pessoas a amarem Nossa Senhora. Já está na alma do batizado amar a Mãe do Deus Amor! Como exclamou aquela mulher no meio do povo: “Bendito os seios que te amamentaram” (Lc 11,27)! Maria nos faz “acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto” (EG, 288). É por isso que Francisco ensina: Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evan­gelização”. Unamo-nos à oração do Papa, dentro do nosso contexto eclesial e social, buscando a intercessão de Maria, e rezemos: “Virgem e Mãe... ajudai-nos a dizer o nosso ‘sim’ perante a urgência, mais imperiosa do que nunca, de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus... Amém!”

Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Maio/14 





“SAIR” PARA TESTEMUNHAR

Conversa vai, conversa vem... e o tema da missionariedade está cada vez mais presente na agenda da Igreja. Na verdade, nunca se deixou de tratar do assunto, mas, agora, o Papa Francisco nos tem provocado efusivamente a buscarmos caminhos mais concretos para promover a construção do Reino. Ter espírito missionário é uma condição fundamental para se responder ao mandato de Jesus “Ide a anunciai”.
Para estarmos em sintonia com o envio de Jesus e o apelo do Papa, precisamos nos colocar “em saída”. Sim, estar “em saída” é atitude essencial para quem se sabe discípulo missionário de Cristo.
Desta forma, as tentações de isolamento e fechamento não nos impedirão de sermos fiéis à nossa vocação cristã. Pois, de fato, a Igreja precisa estar aberta para acolher, para renovar-se e para “sair”.
A Bíblia nos dá muitos modelos de pessoas que se tornaram eficazes instrumentos nas mãos de Deus, porque não se isolaram em si mesmas. O grande “amigo de Deus”, Abraão, por exemplo, tinha um coração aberto. Somente assim ele pôde fazer a experiência de “sair”: sair de sua terra, do meio de sua parentela, do seio de sua cultura... Porém, a “saída” mais exigente de Abraão foi “sair de si mesmo”. Mas ele foi humilde, obediente e confiante no propósito de Deus.
Nestes nossos tempos, quando o medo e o egoísmo querem dominar a nossa vida, precisamos nos desafiar: colocarmo-nos “em saída”... e “sairmos de nós mesmos”! Somente olhando para além de nós (isto é, do nosso mundinho) é que poderemos perceber que há pessoas cruelmente impedidas de ser felizes. Seja pelo flagelo do tráfico humano, ou pelas novas formas de escravidão, como refletimos nesta Quaresma; ou por tantas outras formas de desrespeito à vida humana.
Os Evangelhos nos dão conta que Pedro, João e algumas mulheres discípulas de Jesus correram para junto do túmulo de Jesus, no Horto das Oliveiras. Eles “saíram” de sua condição de luto e de medo, onde se refugiavam e se lamentavam.
Nós também queremos testemunhar que o “sepulcro está vazio”, pois “Ele ressuscitou”! Do embate com as trevas da morte, Jesus “saiu” vencedor! Ele é luz, é vida, é a nossa Páscoa!
Que o Senhor nos ajude a sermos testemunhas da ressurreição. Não há porque celebrarmos sozinhos a Páscoa de todo dia. É preciso “sairmos” para levar a Boa Notícia a todos: Ele está vivo no meio de nós!


Pe. Auricélio Costa – Publicado em Diocese em Foco - Abril/2014






CHAMADOS A SER PES­SOAS-CÂNTARO

No final do ano passado o Papa Francisco nos presenteou com a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Trata-se de um daqueles Documentos que não podem permanecer guardados na estante “para quando der tempo”!
Logo no início do texto o Papa instrui: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus... Quero convidar (os cristãos) para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria...” (EG, 01).
Estamos todos na mesma barca: a barca de Pedro, isto é, a barca de Jesus! O Espírito Santo tem nos impulsionado para sermos no mundo testemunhas da Boa Nova. Há uma “urgência evangelizadora” que precisa ser assumida por cada cristão e por nossos segmentos pastorais. Temos sido chamados e provocados através dos tantos apelos que ecoam de nossa sociedade tão sofrida e fragilizada. É neste mundo dilacerado por tantas dores que nós devemos dar a nossa resposta de fé.
O Papa chama de “desertificação espiritual” este fenômeno de querermos construir uma sociedade sem Deus e sem os valores cristãos. Realidades que antes observávamos apenas lá longe de nós, nos países ricos, já as temos aqui nos bairros de nossas paróquias.
O ser humano continua sedento e caminha a esmo em busca de qualquer fonte d’água. E é nestes momentos de profunda crise existencial que propostas estranhas ao Evangelho encontram guarita no coração dos desalentados. Então, qualquer bebida fresca surge como promessa para saciar as “sedes” profundas do coração humano. É nesta hora que muitas pessoas abandonam a comunidade de fé, esquecem-se dos sacramentos, renegam o Batismo e deixam a Igreja.
Francisco ilumina esta realidade com uma citação de Bento XVI: «é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer... No deserto, é possível re­descobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; ... há inúme­ros sinais da sede de Deus... E, no deserto, existe sobretu­do a necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança».
Se os desafios são inúmeros, forte é a nossa esperança! Sabemos que o Senhor vai caminhando ao nosso lado. Precisamos nos auxiliar uns aos outros no cumprimento de nossa missão batismal. Cremos que, depois da Quaresma e da Semana Santa, teremos a celebração da Páscoa! E nós somos testemunhas da Ressurreição! É como cantaremos na Campanha da Fraternidade: “É para a liberdade que Cristo nos libertou!” (Gl 5,1).
É urgente anunciar Jesus e a sua Boa Nova. Ele é a “água viva” que pode saciar a sede do coração humano; e não há outra! Pelo Batismo que recebemos, tornamo-nos “pessoas-cântaros” para dar de beber aos irmãos. Sim, somos portadores deste precioso tesouro que é Jesus! Que o Espírito nos inunde de Jesus a ponto de transbordarmos Sua presença divina em nós. Que bela figura o Papa foi resgatar para nos recordarmos de nossa missão: “pessoas-cântaros” (EG, 86). Francisco também nos adverte que, “às vezes, o cântaro transforma-se numa pesada cruz”. Todavia, foi na cruz que do coração traspassado de Jesus surgiu uma fonte inesgotável de água viva!
Ao iniciarmos o novo ano pastoral, deixemos o Senhor nos transformar em instrumentos do amor... em “cântaros” transbordante de Jesus!


Pe. Auricélio Costa – Publicado Diocese em Foco Mar/14








VOCAÇÃO – FLORESCER NO MUNDO

Parece-me bem pertinente que, em plena estação da primavera, deixemos a natureza nos auxiliar a compreender o sonho de Deus para cada um de nós. Não há cristão que não se encante diante de um belo jardim ou de um colorido arranjo de flores. Há pessoas que descobriram uma beleza especial escondida em cada flor, com suas cores nas mais diversas nuances, formas e perfumes. São os que possuem um coração contemplativo e conseguem “ouvir” mais nitidamente a “voz de Deus” na Criação.
A nova estação primaveril coincide com momentos muito importantes que estamos vivendo tanto na Igreja universal, quanto nas esferas diocesana e paroquial. Sim, se lá em Roma, o Papa tem surpreendido o mundo com seu jeito arrojado e particular de ser Pontífice, e nos apresentado um programa de ação evangelizadora, cá entre nós, sob a coordenação do nosso Bispo, estamos revendo a caminhada deste ano e planejando os passos que daremos no ano que vai chegar. Sempre é tempo de algo novo acontecer! Entendo que, na Igreja, sempre é tempo de “florescer”, pois, a todo instante, as sementes do Reino são lançadas nos canteiros de nossa existência! E elas precisam germinar... realizar a missão para a qual foram “chamadas”!
“O Semeador saiu a semear”... narram os Evangelhos. “E as sementes deram frutos, cem por um”... atestam. É hora de deixarmos o Espírito Santo agir mais poderosamente em nós, e tornar realidade tudo o que temos sonhado, planejado e rezado. Temos tido esta abertura de coração para que o Espírito Santo realize sua obra em nossa vida? Temos estado atentos aos apelos de nossos irmãos e da comunidade?
Se na década de 60 se falava em canhões que pudessem espalhar flores sobre as cidades, hoje sentimos que é preciso fazer um processo maior: cultivar os jardins. Precisamos cuidar mais da vida!... cuidar mais do ser humano e de toda a obra criadora de Deus! É urgente amar toda pessoa, incluindo-a na vida social e eclesial, ajudando-a a vivenciar o Amor de Deus que nós, batizados, somos chamados a viver!
Nossas famílias, nossas comunidades, o mundo inteiro, enfim, carecem de que abramos caminhos de esperança, de reconciliação. Precisamos superar a máxima “O homem é o lobo do homem” com a verdade evangélica “O homem é irmão do outro homem”.
O anúncio da pessoa de Jesus nunca foi tão necessário quanto hoje. Pois o ser humano está se fechando dentro do seu “eu” mesquinho e ambicioso... está “se ensimesmando”! É aqui que encontro um pleno sentido no que o Papa Francisco tanto chamou a atenção, em sua recente viagem ao nosso país: “fomos chamados por Deus, com nome e sobrenome, cada um de nós, para anunciar o Evangelho e promover com alegria a cultura do encontro”.
Assim, ele nos indicava um caminho para superar a tal “cultura do descartável”. De fato, não podemos continuar suportando uma sociedade em que as pessoas não têm a oportunidade de se realizarem como gente, como filhas de Deus! É uma afronta ao coração de Deus toda situação de exclusão, de violência, de injustiça e de desrespeito à dignidade humana.
O homem brotou do coração de Deus para amar e ser amado!... em outras palavras: para florescer no jardim da humanidade! As flores possuem formas e texturas diversas. Algumas também possuem cores inusitadas e até aromas peculiares. Nós também somos assim, portadores de tanta diversidade e tanta riqueza! Que o Senhor nos inspire a graça de colocarmos nossos dons a serviço do Reino, tornando mais florido o belo jardim de nossas vidas e de nossas comunidades!


Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - Diocese em Foco, Nov./13 





MISSÃO – VOCAÇÃO VITAL DA IGREJA

Era para ser apenas uma conversa informal acerca de uma possível cirurgia. Eu estava preparando um jovem vocacionado para visitar seu médico. Foi quando eu ouvi dele um belo testemunho: “Padre, enquanto converso com o médico, faça-me o favor de rezar para que não seja nada que me impeça de ser padre também, pois quero anunciar a Palavra de Deus!”.
Seria bem outra a história da humanidade se tivéssemos compreendido bem a missão que o Senhor Jesus no confiou antes de “subir” para o Céu. Ele disse: “Ide e fazei discípulos meus entre todas as nações”. Em muitas histórias, essas palavras caíram como boa semente num terreno bem arado e fértil. Tais corações foram tomados de um vigor e um impulso como nunca se vira antes, capazes de levá-los a terras desconhecidas, aprender idiomas complicados e reaprender a viver em culturas bem distintas e diversas. A certeza de que o Senhor nunca os desampararia os fez atravessarem oceanos e enfrentar mil perigos para anunciar a Boa Nova.
É sempre salutar conhecermos testemunhos de missionários do presente e do passado acerca de suas “aventuras” para fazerem crescer o Reino de Deus. E não tem como não nos questionarmos sobre a forma como vivemos a nossa religião diante de exemplos tão fortes. Como ficar insensíveis diante do testemunho de Damião de Molokai ou dos Santos Mártires do Rio Grande – Afonso, João e Roque (veja os filmes “Damião, o Santo de Molokai”, “A Missão”, “Hotel Ruanda”, etc)?
É realmente urgente que nós cristãos assumamos nossa missão batismal! Essa “pressa” nos foi transmitida recentemente pela visita do Papa Francisco ao nosso país. De maneira muito clara e direta, no Encontro com os jovens argentinos, na Catedral São Sebastião do Rio de Janeiro (25/07/13), o Papa abriu seu coração: “Desejo dizer-lhes qual é a conseqüência que eu espero da Jornada da Juventude: espero que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho, farão certamente. Mas eu quero que se façam ouvir também nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair; se não o fizerem, tornam-se uma ONG e a Igreja não pode ser uma ONG... Mas este é o meu conselho. Obrigado pelo que vocês puderem fazer.”
Neste Mês Missionário, o Espírito Santo interpela cada cristão. E as palavras dos Bispos de Guiné Bissau (D. Pedro Zilli e D. José Lampra Cá), durante sua visita à nossa Diocese (13/08/13), nos convidam à uma tomada de atitude concreta. Eis o desafio que eles nos propuseram: assumir uma Paróquia numa das duas Dioceses de lá, enviando um padre por pelo menos seis anos. Com o tempo, leigos também poderiam participar do Projeto Missionário.
E justificaram: “Estamos abertos a todas as parcerias, tanto na evangelização, quanto nas áreas de desenvolvimento social. Sentimos uma grande abertura da Igreja do Brasil para esta nossa realidade. Precisamos ajudar nosso povo a viver mais dignamente e a fazer um encontro com Jesus Cristo. Vivemos sérios problemas advindos da instabilidade político-militar, que compromete nosso desenvolvimento, nossa segurança e nosso trabalho de evangelização também. Diante disto, o quê fazer? Não podemos ficar parados, esperando. Pois somos co-responsáveis pelo destino dos outros irmãos. Não temos direito de sermos felizes sozinhos.”
E os Bispos africanos argumentaram com ousadia profética: “A primeira forma de colaborar para uma transformação é evangelizar. Mas há paróquias sem padres e tantas atividades que precisam ser implantadas. Lá podemos dizer ‘os trabalhadores da messe são poucos’. Sinto que este nosso encontro aqui hoje é também uma oração ao Senhor. Precisamos anunciar Jesus na Guiné, pois quando Ele entra no coração, provoca verdadeiras transformações. Nós não somos um país maldito, onde nada funciona. Cremos que o país é viável e que é querido por Deus. Nossa presença é quase uma intervenção profética para erguer a autoestima do guineense. Vossa Diocese é muito bem-vinda em nossas Dioceses de Guiné-Bissau!"
Vivemos o Ano da Fé e da Juventude! Que o Espírito Santo nos revigore interiormente para assumirmos nossa missão com entusiasmo! Pois a missão é a vocação vital da Igreja; o que significa que é para “missionar” que ela existe! E foi isto que aquele meu irmãozinho vocacionado, lá no hospital, já percebeu tão claramente.


Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional Diocesano - Diocese em Foco, Out./13 






PALAVRA ANUNCIADA E TESTEMUNHADA

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!” (Jo 1,14). O mundo carece de testemunhas coerentes da fé cristã. Há uma fome de sinceridade no tocante ao modo como se anuncia e como se vive a fé.
Ainda estamos tocados pela recente visita do Papa Francisco ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Além de desejar ver (e tocar!) o Papa, as multidões queriam ouvi-lo. Ávida por escutar uma palavra que lhes tocasse o coração, que lhes apresentasse um norte existencial, a platéia constituída por milhões de pessoas, queria ouvir o Pontífice.
Neste mundo tão barulhento e repleto de vozes a falar e a dar razões disso e daquilo, as pessoas queriam alimentar-se com as palavras do Papa! É de se admirar a forma como as pessoas reagiam: “o Papa fala a nossa língua!”, mesmo quando ele usava o seu idioma materno, o espanhol. Percebe-se aqui que há um outro nível para “ouvir” e também para “falar”. Isto me faz lembrar aquela máxima de Jesus: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 13,9). Eu ousaria parafraseá-Lo: “O pior surdo é o que não quer ouvir!”.
Não basta que a palavra seja lançada. Ela precisa ser acompanhada de convicção, de prática. A palavra precisa ser reflexo de uma vivência interior. Parece-me que era isso o que as pessoas viam em Francisco. Seus ensinamentos iam muito além de meras argumentações e formulações teológicas; estavam impregnadas até às entranhas pelos gestos do Papa. Gestos, silêncio, posturas, esforços, presença, olhares, acenos... como falou este Papa!
Neste mês a Igreja reflete sobre o valor da Palavra de Deus em nossa vida. É o Mês da Bíblia! Como temos acolhido esta Palavra em nossa caminhada pessoal e comunitária? Ela tem gerado vida em nós? Como temos transmitido a Palavra de Deus nos vários ambientes onde vivemos?
A cada dia que passa, a Palavra de Deus está mais ao nosso alcance: em forma de livro (brochura), de vídeo, de música... em todas as mídias! Há uma série de programas televisivos, nas emissoras de rádio e na internet que transmitem a Palavra de Deus. Mas isso tudo é muito pouco se a Palavra não for acompanhada de testemunho.
Os cristãos se alimentam da Eucaristia e da Palavra. E quando a gente acolhe a Palavra no coração, inevitavelmente ela se transformará em vida, em gestos fecundos!... Ela iluminará a vida da gente e daqueles que estiverem ao nosso derredor.
Jesus é o grande Comunicador do Pai! Ele, o único Verbo-Palavra do Pai, “se fez Homem e veio habitar entre nós”! Suas palavras eram acompanhadas de gestos coerentes com o que fora ensinado... “Faziam arder o coração” (Lc 24,32). Todos ficavam admirados diante de Jesus, até mesmo seus inimigos: “ninguém falou como este Homem!” (Jo 7,46).
Quando mais de um milhão de brasileiros saíram às ruas para manifestar sua insatisfação quanto aos rumos do nosso país, em síntese, estavam denunciando a incongruência entre o discurso e a prática dos nossos mandatários. Nós, pessoas de fé, precisamos refletir sobre o nosso testemunho cristão. Para o discípulo missionário não basta somente professar a fé com palavras. É preciso comprometimento; é necessário adesão até o mais íntimo do ser ao projeto de Jesus!
“Que arda como brasa tua Palavra. Nos renove esta chama que a boca proclama!” (cf Is 6,6-7).


Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - Diocese em Foco, Set./13 







VAI E FAZE O MESMO!


A chegada do Papa Francisco em nossa pátria foi qualquer coisa de maravilhoso! Gestos e palavras, olhares e sorrisos, acolhimento e recolhimento... tudo no Papa mexia conosco! Os jovens da JMJ e a imprensa sempre tinham muito que falar a cerca deste Pastor.
Impressionou-me, sobremaneira, alguém contar um episódio de Bergóglio: na sua Buenos Aires, certa mãe o procurou para reclamar que seu filho não queria mais freqüentar a igreja. O então cardeal lhe teria questionado: “Mas o seu filho está envolvido com droga ou com outra forma de criminalidade?”. Quando a aflita senhora lhe disse que o filho era um bom moço, que tratava bem todas as pessoas..., o futuro Papa lhe teria dito: “Calma, minha senhora. Agradeça a Deus pelo filho que tem e espere; na hora certa Deus tocará o coração dele!”.
Tudo tem o seu momento certo. A Palavra diz: “Há um tempo para tudo debaixo do céu” (Ecle 3,1-8). Vem-me à mente um outro episódio do Evangelho. Jesus conta a parábola do Bom Samaritano para um homem que queria saber sobre como conquistar o céu. O modelo que Jesus lhe apresenta é o de um estrangeiro, samaritano (na época considerado um desclassificado pelo povo judeu), que se envolve totalmente para ajudar um “alguém” que foi assaltado e ferido, deixado ao largo, na beira da estrada. O desfecho da cena é dito por Jesus: “Vai e faze o mesmo!” (Lc 10,37).
Fazer o bem ao próximo é mandamento do Senhor. Jesus mesmo “passou a vida toda fazendo o bem” (Mc 7,37; At 10,38b). Nosso testemunho de fé é que pode abrir a porta do coração de alguém para que descubra Aquele que manda em nossa vida. Nossas palavras podem ajudar uma pessoa a conhecer melhor o Deus de nossa fé; nossas canções religiosas também são instrumentos para atrair alguém para Jesus; mas será a vivência de tudo o que falamos e cantamos que irá convencer alguém a se aproximar de Cristo e de Sua Igreja.
Nós, que nos sentimos unidos à Cristo no seio da comunidade eclesial, sabemos quão imperfeitos somos, especialmente na vivência da caridade. Conhecemos pessoas que não têm a assiduidade que nós temos, mas que possuem uma sensibilidade extraordinária para ajudar os outros, para ser voluntários, para se engajar em instituições filantrópicas!... Graças a Deus, tanta gente faz o bem onde quer que se encontre. E não é esta a essência de nossa religião, de nossa fé? Não é este o segredo do Cristianismo?
Quando o Papa Francisco, logo em seu primeiro discurso no Brasil, pedia licença para entrar em nosso coração – pois sabia que para chegar aos brasileiros deveria ser pela porta do coração! – logo me lembrei do jeito de Jesus! Era assim mesmo que Ele fazia: olhava fundo, por traz dos olhos, na alma! Era um olhar de amor! Do Deus Amor!
Toda a Igreja é chamada a testemunhar o Amor de Deus: não só através do discurso, da catequese, das canções, dos rituais... sobretudo através do testemunho diário! Que linda vocação: chamados para testemunhar o amor! Casados ou solteiros, religiosos ou presbíteros, homens ou mulheres, em todas as estações da vida: o Senhor nos chama, nos aponta o caminho, nos envia em missão e permanece conosco! “Ide e fazei discípulos entre todas as nações!” (Mt 28,19). E mais: “Eu estarei convosco até os confins do mundo!” (v.20).
A Jornada Mundial da Juventude foi um presente de Deus para nós! A presença de Francisco entre nós foi mais um desses “exageros” de Deus para nos recordar a importância da vivência do amor: “Vai e faze o mesmo!”. Com uma exortação: “Mas não façam como os fariseus” (Mt 23,3). Diante de apelos tão eloqüentes, qual será a nossa resposta?

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - Jornal Diocese em Foco - Ago/13







O JOVEM DE NAIM E NÓS



Impressiona-me sempre aquele episódio do Evangelho quando Jesus revitaliza um jovem lá em Naim. A narração de São Lucas nos revela Jesus decidido a ir àquela cidade, quase uma vila. A catequese é clara: a salvação precisa chegar a todos os cantos e recantos; onde há gente, lá é lugar de missão!

À porta da cidade encontra-se uma multidão de pessoas que caminham rumo ao cemitério: vão sepultar um jovem. Os funerais sempre são dolorosos, provocam reflexões e questionamentos. Tanto lá na cultura dos judeus e dos cananeus, quanto aqui entre nós, a morte é impactante. Todavia, Aquele que disse “Eu sou a porta das ovelhas... Quem entrar por mim será salvo” (Jo 10,7-9), passa pela porta da cidade de Naim e vai transformar aquela tragédia.

Jesus percebe a situação: a mulher chorosa e inconformada que segue amparada pelas amigas atrás do féretro é a mãe do falecido. Em seu rosto está estampada a dor humana: além de viúva, acaba de perder também seu único filho. A descrição da cena nos traz outros detalhes; mas, o que interessa, é o desfecho: Jesus diz ao morto (é surpreendente!): “Jovem, levanta-te”. O que estava morto é revitalizado e devolvido à sua estupefata mãe.

Estamos celebrando o Ano da Fé e da Juventude e vivenciando o clima da Jornada Mundial da Juventude. É um momento histórico para nós. Percebemos no dia-a-dia como há apelos chamando os jovens para este ou aquele caminho. A mídia não dá trégua para o jovem parar e pensar sobre suas escolhas. Ele é bombardeado de informações por todos os lados; e todos se acham no direito de dizer como o jovem deve viver, o quê deve vestir, comer e fazer; como deve falar e pensar e optar!...

Em nossas comunidades eclesiais sentimos a ausência da juventude, conscientes de sua enorme importância, mas parecemos incompetentes para acolher e “segurar” os jovens conosco. Vivemos conflitos de gerações; temos dificuldade com a linguagem; não compreendemos o mundo “virtual” e “internético” em que vivem; tampouco assimilamos seus valores e ideais. Mas quando eles saem às ruas para gritar que querem uma sociedade mais ética, que empunham bandeiras visando a construção de um mundo melhor, então o nosso coração tem que se alegrar e incentivar tais lutas, pois “um novo mundo ainda é possível”! E os jovens têm sonhos!

Jesus – que é a porta da Vida – está passando por nossas comunidades e cidades e tem encontrado muitas situações de morte. Não é tempo de velório, mas de esperança! Não é tempo de abandonar a nossa Naim, resignados e desanimados. É tempo de passarmos pela porta que é Jesus; enchermo-nos da vida que brota do seu Coração. É tempo de solidarizarmo-nos com a dor alheia, mas também de restaurarmos suas vidas, de anunciarmos o Reino de Jesus, de testemunharmos a fé com convicção e alegria, de assumirmos a nossa missão batismal de discípulos-missionários!... Enfim, ajudarmos a Igreja, que é o Corpo místico de Cristo, a fazer ouvir a voz de Jesus: “Jovem, levanta-te!”... “Família, levanta-te!”...  “Paróquia, levanta-te!”... “Brasil, levanta-te!”... Enfim, eu... você... Então, todos vão glorificar a Deus, como em Naim, naquele dia inesquecível: “Um grande profeta surgiu entre nós! Deus visitou o seu povo!” (v.16b).



Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Jul/13







UM GRANDE CORAÇÃO PARA AMAR



Dizer que alguém tem um grande coração, geralmente, é elogiar as qualidades humano-afetivas daquela pessoa. Dizemos que nossas mães – ainda de modo geral – têm “um grande coração”. Por quê? Porque elas são capazes de amar sem limites, de desprender-se de si mesmas, de devotarem aos filhos um abnegado amor, de desgastarem seus anos e saúde em favor da sua família!... Sem dúvida, as mães têm um coração gigante! É o amor genuíno e comprometido que torna um coração assim. É por isso que dizemos que o coração é a morada do amor.

Se falamos assim de nossas amadas mães, o que poderíamos refletir, então,  sobre o coração de Jesus!? Sim, neste mês, em todas as comunidades, serão realizadas homenagens ao Divino Coração, “insondável abismo de amor”!  É o Evangelho, mais que a mera devoção popular, que vem nos dar a resposta. “Ele passou a vida toda fazendo o bem” (Mc 7,37)! Aí está o segredo daquele Homem cujo Coração é “inflamado de Amor”! Multidões de pessoas se reuniam em torno d’Ele para ouvi-Lo, vê-Lo, tocá-Lo... simplesmente “estar com Ele”.

Suas palavras levavam a uma mudança de vida, desinstalavam, inquietavam, irritavam... mas enchiam o coração dos ouvintes de significado, de santa alegria. Jesus dava um sentido às vidas das pessoas. Era muito bom estar com Ele! E Jesus não se cansava de dizer: “vinde a mim vós todos que estais aflitos, sobrecarregados, eu vos aliviarei; pois meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,30).

Jesus sabia acolher, porque amava cada um que dele se aproximava; como no encontro com aquele jovem que O questionou sobre como chegar à Vida Eterna. Segundo o Evangelho, antes de dar a resposta, Jesus o amou (Mc 10,21). Amar! O coração foi feito para amar! Até no corrigir, Jesus corrigia amando, curando, restaurando, salvando! Foi assim no diálogo com a mulher pega em adultério: “ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não tornes a pecar” (Jo 8,11)! E com Pedro, após a ressurreição: “Tu me amas mais que estes?” (Jo 21,15). O experiente pescador compreendeu naquela hora que Jesus o tomava contra o peito e o abraçava outra vez. Tudo em Jesus fala de amor. Sim, Ele tinha – e tem – um Grande Coração!

Vivemos tempos especiais em que o ser humano progride em tantas áreas, especialmente nas técnicas de produção e da informática, mas não consegue superar sua carência afetiva. A cabeça cresce, mas, e o coração? A sensação de bem-estar social aumenta, mas, e a questão dos afetos, da realização humana, da solidariedade? O ser humano está vivendo mais, mas, e depois, a questão da transcendência?

Neste mês do Coração de Jesus, aprendamos com o “Mestre na arte de Amar” o melhor jeito de nos relacionarmos, de evangelizarmos, de acolhermos os outros, de vivermos nossa fé. A velha-nova proposta da Igreja para formarmos paróquias como “comunidade de comunidades” começa pela nossa identificação com o Coração de Jesus. Mais do que uma devoção, este é o jeito de ser cristão: fazer o bem sempre como fruto do amor! Dá-nos, Senhor, um “grande coração” como o teu! Amém!



Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Jun/13








“FAZER O BEM COMO MARIA”



         Nossa Diocese está vivendo dias muito especiais por conta das Ordenações Diaconal e Presbiterais que estão acontecendo nestes meses. Pe. Rodrigo e Pe. Marcelo trazem novo ânimo para nosso presbitério, bem como a Ordenação Diaconal do Rafael que já se aproxima. Enquanto percebemos que alguns jovens estão dispostos a consagrarem todas as suas forças para a construção do Reino de Deus, inevitavelmente, vamos fazendo uma avaliação de nossas opções, de nossas escolhas.

É neste sentido que recordo aquela exortação de São Paulo à Igreja em Tessalônica: “Irmãos, não se cansem de fazer o bem” (2Ts 3,13). Sim, envolvido na animação vocacional nas paróquias em preparação a estas Ordenações, percebo que nossos jovens vocacionados e tantos outros leigos estão mesmo empenhados em fazer o bem! Não estou me referindo apenas aos bons modos no trato com as pessoas, nem ao compromisso dos escoteiros de fazerem, ao menos, duas boas ações cada dia. Reporto-me ao desejo do Senhor Jesus para todos nós: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”!

Fazer o bem deve ser fruto natural-normal de todos os cristãos. Assim como da bananeira, se espera que produza bananas; e da laranjeira, que produza laranjas – espera-se que todo batizado frutifique em muitas ações e atitudes de amor. Há uma frase bíblica que parece ser um epitáfio da vida de Jesus: “Ele passou a vida toda fazendo o bem”! É fácil encontrar no Evangelho Jesus promovendo o bem: lá em Caná, naquela boda; lá em Betânia, na vivência fraternal com Maria, Marta e Lázaro; lá em Naim, solidarizando-se com a pobre viúva que sepultava o único filho; lá em Betesda, quando cura um paralítico superando as leis sabáticas!... Nossa, de fato, a vida de Jesus foi só fazer o bem!

Este mês mariano também nos convida a mirarmos o testemunho de Nossa Senhora. Como primeira discípula do seu Filho amado, Maria é aquela que está docilmente disposta a fazer a vontade de Deus. Porque crê que de Deus só pode vir o melhor para ela e para o seu povo. Porque entende que o mundo dos poderosos é uma afronta à realidade dos oprimidos e amados de Deus.

Ela faz o Bem: aceita a proposta trazida por Gabriel; educa Jesus nos mistérios da fé; provoca Jesus a realizar o primeiro milagre; acompanha o seu Filho e os amigos (Igreja) que Ele cativou; sustenta-O com sua firmeza até no Calvário; reza com a Igreja aguardando o seu Cristo Ressuscitado!...

Todos nós, padres e leigos e leigas, temos a missão de amar muito, fazer o bem sempre e, assim, testemunharmos o Cristo de nossa Fé! O testemunho dos neo-sacerdotes de nossa Diocese deve mexer conosco e nos ajudar a reafirmarmos nossas escolhas: queremos fazer o bem sempre... como Jesus e como Maria!



Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Mai/13






“CONTAGIAR ALEGRIA”

 
 
As doenças sempre nos trazem certa aflição, além da preocupação e do sofrimento. A vida é um dom precioso e, ao mesmo tempo, tão frágil. Não nos acostumamos com a morte; por isso, é instintivo querer viver e evitar todo risco de morte. As doenças contagiosas, especialmente nesta época do ano, são muito comuns. A alternância entre dias quentes e frios cria um clima favorável para que alguns vírus se proliferem. Há doenças que passam de pessoa para pessoa, contagiam multidões e até se tornam pandemia.
Não sou nenhum especialista em saúde pública. A minha proposta é que haja uma “pandemia do bem”. Sim, gostaria que a alegria se tornasse contagiosa; também o amor, a esperança, a solidariedade, o desejo de justiça!... A boa nova de que Jesus é o Senhor foi passando de pessoa para pessoa, de comunidade para comunidade e, ao longo dos séculos, foi ganhando povos inteiros, nações e continentes! Por que não um esforço para que a pessoa de Jesus e os valores do Evangelho cheguem ao coração de todas as pessoas?
Ainda trago bem vivas dentro de mim aquelas imagens da primeira aparição pública do Papa Francisco. Gestos tímidos e profundos, palavras fortes e carinhosas, um rosto sereno com um sorriso cativante. Por causa de Cristo deveríamos todos cultivar esta capacidade de atrair os corações para o Senhor, de motivar as pessoas para desejarem caminhar com Jesus! O novo Papa parece nos ensinar que o caminho para Deus e os homens é o coração.
Percebo que o ser humano está cada vez mais carente de afetos e necessitado de Deus. Mas, onde busca compensar esta falta? Em quais “santuários” encontra Deus ou um deus? Por força do Batismo recebido os cristãos são chamados a testemunhar Jesus, torná-Lo vivo e presente em todas as dimensões da vida do mundo. As pessoas deveriam reconhecer em nós o Cristo da nossa fé. Nossos gestos e atitudes devem revelar a Quem servimos, o que cremos o tudo o que norteia a nossa vida espiritual.
Que o Cristo ressuscitado nos impulsione para vivermos fielmente nossa vocação cristã, contagiando todas as pessoas com a certeza de nossa fé. Somos todos vencedores no Senhor que destruiu a morte! “Alegrêmo-nos e n’Ele exultemos!”

Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Abr/13



JUVENTUDE – “A GLÓRIA DO SENHOR”

Eram quase 600 jovens decididos a viver quatro dias de intensa participação, fraternidade, abertura de si aos outros e a Deus, tudo com muita alegria e música religiosa. Seriam os quatro dias mais especiais de suas vidas! Foi assim que começou e terminou o V Retiro de Carnaval Transfiguração (em Jaguaruna, 9 a 12/02/13). Lembro de um dos jargões que os jovens cunharam naquela ocasião: “A juventude é uma glória! Ô, glória!” E, também: “A minha vida é uma glória! Ô, glória!”
Ainda posso ouvi-los bradando estas palavras! E recordo daqueles dias mais remotos quando, jovem, também eu participava do CONJUSC (Congresso da Juventude de Santa Catarina), dos ENJOCRI’s (Encontros de Jovens Cristãos), dos RACA’s (Retiros de Acampamento de Carnaval), das atividades da PJ, dos Encontros de Formação para Jovens, das Missas da Juventude, do programa “Juventude Alerta” na Rádio Tubá!... Nossa, como aquilo tudo foi importante em minha formação pessoal e cristã! Como tudo foi crucial no meu discernimento vocacional! Por isso, sinto que a tal “renovação da Igreja” tão desejada pelo Papa Bento XVI passa por ajudar nossos jovens a fazerem o encontro pessoal com o “amigo e salvador” Jesus, a se sentirem amados e acolhidos no seio da comunidade eclesial, valorizados em seu ser jovem. “O Senhor é a nossa glória!”, gritavam os jovens; “ô, glória!”.
Estamos vivendo um tempo todo especial! Enquanto se avizinha a Páscoa do Senhor, temos a alegria de viver a Quaresma. É o Senhor nos convidando a todo instante para nos aproximarmos d’Ele, voltarmos pra junto d’Ele de todo coração, vivermos de Sua Graça e nos alimentar-nos de Sua Palavra e da Eucaristia. O perdão que nos oferece é oportunidade para uma vida nova, para colocarmos “vestes de festa” e para sermos um sinal de amor num mundo tão carente de sinais.
A inusitada renúncia ao ministério petrino, levou-nos a olhar o Papa Bento XVI de uma forma mais profunda: alguém tomado de zelo pela Casa do Senhor a ponto de se desprender de tudo, de compreender a Igreja e a sua missão além das fronteiras que costumamos alcançar. Se tanto nos enriqueceu o testemunho do Papa João Paulo II, inclusive até nos últimos instantes de seu calvário, não menos ricos estamos agora como a decisão profética de Bento XVI. Como é crucial descobrirmo-nos servos (“servos inúteis”) de um projeto maior que nós mesmos: o Reino de Deus!
Como discípulos missionários do Senhor, não podemos ficar presos a certos pensamentos mesquinhos que não nos permitem vislumbrar nada além de nossa visão míope de Igreja. Ficamos presos em nosso grupinho, em nossa pastoral, em nossos planos... e a messe continua necessitando de operários.
Precisamos aprender com os jovens a termos mais esperança, mais alegria em nosso ministério e em nossa vivência eclesial. Podemos aprender com eles a arte de comunicar-nos, de nos respeitar-nos, de sermos mais simples. Mas eles também precisam ver em nós pessoas que não se cansam de buscar a Deus, que enfrentam as vicissitudes da vida e da sociedade com as forças da fé vivida e provada. 
Aí está a glória do Senhor: vivermos como família, como filhos de Deus, buscando concretizar os Mandamentos de Deus. Então será Páscoa todos os dias de nossa vida e testemunharemos que nada pode destruir a força do Amor! Amor, esta palavra tão presente nas canções e poesias cantadas e declamadas pela juventude! Amor, este sentimento tão almejado e buscado (às vezes desmedidamente) pelos jovens, sempre carentes de amar e ser amados. O Amor! Sim, o Amor que em Jesus e em seus amigos se transforma numa experiência concreta.
O Senhor nos dá a oportunidade de vivermos estes momentos históricos da renúncia de um Papa, eleição do novo Sucessor de Pedro, celebração do Ano da Fé e do Ano da Juventude, e a preparação para a Jornada Mundial da Juventude. Além disso, aqui em nossa Diocese, percebemos a vivacidade de nossa Igreja Particular através das inúmeras iniciativas de evangelização, da doação de tanto tempo e tanta vida por parte de nosso presbitério e de nossos leigos, das Ordenações Presbiterais dos Diáconos Rodrigo e Marcelo... O Bem vai crescendo entre nós! A “Glória de Deus” vai se manifestando em nossa caminhada eclesial! Ô, glória!
Continuemos firmes no caminho do Senhor Ressuscitado! Não importa qual seja a nossa idade! Pois, como eu tenho cantado: “Ser jovem cristão é ter atitude; promover a paz, a esperança, o amor!... Aproveita bem tua juventude. Acolhe o dom de Deus que vai crescendo em ti. Tua juventude é dom precioso. Não desperdiça, irmão, a juventude em ti. Vai caminhando, semeando sonhos. Olha o horizonte. Celebra o viver! Ser jovem é ser poeta... é ser profeta. Conta a toda gente: ser jovem é viver!... é viver! Deixa a esperança tomar teu coração. Força e coragem, não desanima, não. Ser jovem é lutar, é acreditar. Ser jovem é muito amar!


Pe. Auricélio Costa – Diocese em Foco - Mar/13






TEMPO DE CONSTRUIR NOSSO “SIM”



Outro dia me deparei com um artigo curioso sobre o trabalho de um certo estudioso que teria conseguido explicar o “tempo”. Após a leitura, compreendi que, na realidade, o tal historiador tem mesmo é uma excelente capacidade de compreender e explicar a história da humanidade; sempre segundo o seu modo de interpretar os fatos.
Não sinto a necessidade de explicar “o tempo”, pois sei que o passado, o presente e o futuro pertencem a Deus. Todavia, temos grande responsabilidade sobre este tempo que o Senhor Deus nos permite viver. Esta é a nossa vez!... a nossa hora! O tempo passa, não pára, voa ligeiro! E não há como controlá-lo. Mas é neste espaço temporal cósmico – o tempo da nossa vida – que somos CHAMADOS A CONSTRUIR NOSSA HISTÓRIA VOCACIONAL; isto é, o nosso “sim”!
E neste exato momento histórico que estamos vivendo, mais uma vez nos deparamos com as festividades de fim de ano. As folhinhas do calendário se foram. Nas agendas de 2013 já começamos a registrar compromissos e datas importantes para o ano que está chegando. Nem parece que já vivemos quase todos os 365 dias deste ano!
Conheço pessoas que gostariam de ter nascido em outra época, em outro continente e que tem pesar de não terem vivido naqueles tempos faustosos, como da Roma Antiga ou do iluminismo francês. E sempre há alguém que testemunha: “antes é que era bom de se viver”. Pois bem! Será que Deus errou em trazer-nos para este mundo neste tempo contemporâneo? Será que Ele não tem nenhum propósito para nós?
Chegada a hora, o Verbo de Deus se encarnou e veio morar entre nós. Aquela era a “hora de Deus”, o “kairós”. Da mesma forma, este é o tempo de nossa salvação, tempo de nossa missão, tempo de nossa santificação! Este é o “kairós” de Deus pra nós. Daí a importância de aproveitarmos bem as oportunidades para tecer redes de amor, deixar a fé frutificar e colaborar para que o mundo seja melhor para todas as pessoas.
Não podemos deixar a Graça de Deus passar em vão por nossa vida! Não podemos desperdiçar este precioso dom de vivermos neste tempo, nesta época; apesar de suas exigências e peculiaridades. É para este tempo que o Senhor nos envia em missão! Em qualquer época, sempre haverá desafios para a ação evangelizadora da Igreja. Por mais que o ser humano consiga progredir em tantos campos do conhecimento, sempre haverá horizontes a serem desbravados e conquistados. Mas este é “o nosso” tempo de testemunharmos a nossa fé!
O final do ano civil praticamente coincide com o início do ano litúrgico. Isto é muito significativo: quando pensamos que já fizemos muito, que já “ganhamos” mais um ano, somos convidados a olhar para a gruta de Belém e contemplarmos no presépio o Menino Deus que não nos deixa cair no comodismo.
O Natal do Senhor é prova inequívoca do quanto Deus nos ama e deseja ficar perto de nós. Precisamos alimentar os nossos sonhos no “sonho” do Salvador Emanuel. Ele é o Senhor do ‘tempo”.
Não precisamos “explicar o tempo”, mas viver esta oportunidade rica que o Senhor nos dá de edificarmos o nosso SIM à vida, SIM à Deus. Um dia, terminada nossa trajetória neste mundo temporal, mergulharemos no “tempo” de Deus, no mistério do Eterno! Então compreenderemos que tudo não passou de uma grande prova do Amor de Deus! Feliz Natal de todo dia e abençoado Ano Novo!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - Jornal Diocese em Foco - Dez.2012






REFLETINDO A LUZ DE DEUS 

Terminadas as aulas, no portão do Colégio, um grupo de adolescentes brincava com um caleidoscópio, objeto que capta a luz e a reflete com raios multicoloridos produzindo interessantes imagens. E eles se divertiam procurando diferentes ângulos para observarem as mais inusitadas formas.
Esta brincadeira me veio à mente quando refletia sobre a nossa ação evangelizadora. Obviamente que não queremos brincar com esta missão tão nobre que o Senhor Jesus nos confiou. Mas é importante lembrarmos que todo o serviço de evangelização precisa ser reflexo de uma mesma luz: a pessoa do Senhor Jesus Cristo! Ele é o Sol sem ocaso (cf Mt 17,2; Ap 22,5).
Sob o prisma da fé, através da Igreja, podemos observar os efeitos de nossa ação evangelizadora no mundo. Ora percebemos mais destacada a dimensão pastoral, ora a dimensão vocacional, depois a missionária. Também percebemos a luz da dimensão bíblica, e a catequética e o compromisso com a defesa da vida!... Como é diversificada a nossa ação no mundo! Quanta riqueza! Todavia, é importante ter presente que não possuímos luz própria: apenas refletimos a luz do Senhor! Ele, sim, é a Cabeça. Nós somos os membros que compõe este corpo eclesial.
O Documento de Puebla já lembrava que “todos nós cristãos devemos, conforme o desígnio divino, realizar-nos como homens e como cristãos, vivendo o nosso batismo nos seus traços de chamamento à santidade, a sermos membros ativos da comunidade e a dar testemunho do Reino”. E ensinava que “devemos descobrir a vocação concreta que nos permita trazer a nossa contribuição específica para a construção do Reino. Desta forma – ensinavam os Bispos – cumpriremos plena e organicamente a nossa missão evangelizadora” (nº 854).
De fato, não podemos falar de evangelização sem considerarmos nossa vocação humana e cristã. Pois cada um de nós foi chamado especial e pessoalmente pelo Senhor. A luz da animação vocacional precisa, portanto, perpassar toda a nossa vida cristã. Nossos Movimentos e Pastorais, Associações e Organismos eclesiais precisam deixar-se envolver por esta luz e perceber como ela é bonita e fundamental. Ela reflete o sonho de Deus para a sua Igreja.
Por isso, vocação não é privilégio de uns poucos. Absolutamente, é um dom dado com amor! Todo cristão precisa sentir-se chamado, sentir-se especial, sentir-se amado pessoalmente! Esta consciência leva o batizado a perseverar na realização de sua missão no mundo hodierno, enfrentando os desafios do caminho. Há uma certeza em seu coração: “O Senhor me escolheu e me enviou!” (cf Jo 15,16).
É por isso que, no caleidoscópio da fé, toda a Igreja precisa acolher a linda cor da animação vocacional! Evidentemente, sem diminuir a beleza das demais dimensões, que são reflexos da luz que emana do mesmo Sol.
Há dias em que as nuvens não permitem que o sol incida sobre a terra. Também podem aparecer situações em nossa caminhada eclesial que nos levem a ficar acabrunhados ou desanimados. Especialmente neste tempo em que estamos avaliando nossa caminhada pastoral. É comum nos espantarmos com tanto trabalho que ainda precisamos fazer em vista da construção do Reino. Mas não podemos parar!
Esta também é a hora de PLANEJAR o ano que já está se avizinhando. É o Ano da Fé! “Eis que estou convosco todos os dias!” (Mt 28,20). Animemo-nos uns aos outros no Senhor, Rei do Universo! E alegremo-nos, como aqueles adolescentes se divertindo com o caleidoscópio, pois a LUZ de Jesus continua incidindo sobre a Igreja, produzindo obras maravilhosas!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional
 






MISSÃO QUE TRANSFORMA O MUNDO

Nunca mais o mundo foi o mesmo desde que Jesus Cristo pronunciou aquelas palavras “Ide ao mundo inteiro, anunciai a Boa Nova” (Mc 16,15). Elas soaram com a força de um testamento; e os discípulos as acolheram com amor e fizeram delas o sentido de suas vidas. De Jerusalém eles partiram mundo afora certos de que não estariam nunca sozinhos e que não poderiam deixar de cumprir o mandato do Mestre.
Assim, teve início uma grande transformação no mundo. A primeira grande revolução aconteceu dentro do coração daqueles homens chamados Apóstolos. De origem humilde, gente simples, eles vieram da periferia do Império Romano, da Província da Judéia. Não cursaram faculdades que os capacitassem para enfrentar línguas e culturas diversas. Todavia, além da experiência do encontro com o Cristo Ressuscitado, uma outra FORÇA os impelia a irem adiante: o Espírito Santo.
Jesus lhes apareceu na Festa de Pentecostes, em Jerusalém (At 2). Os apóstolos estavam acuados, escondidos no cenáculo “por medo dos judeus”. Ele renova-lhes a esperança e lhes infunde o Espírito Paráclito. O livro dos Atos dos Apóstolos registra muito bem a tal revolução que ocorreu: eles escancararam as portas do lugar e, diante da multidão que se reuniu, passaram a testemunhar Jesus. Já não tinham mais medo e nem o problema de idiomas diversos impediu que os estrangeiros recebessem o anúncio da Boa Nova.
Os cristãos foram se espalhando pelas redondezas da Palestina e chegaram a Roma, o coração do império. Logo esta presença se fez notar pelas autoridades locais. Mais e mais pessoas aderiam à fé no Senhor, e tornavam-se, também elas, missionárias de Cristo. Na força do Espírito Santo, a corrente missionária tomou conta dos cinco continentes e chegou até nós, aqui no Sul de Santa Catarina.
Passados dois milênios, em 2007, com ares de “novidade”, a Igreja da América Latina e do Caribe convocou todos os cristãos a serem “discípulos missionários”. Confirmando as orientações do Concílio Vaticano II, os bispos ensinavam-nos, assim, que a nossa missão nunca pode cessar. Pelo contrário, mais do que em outros tempos, ela se torna URGENTE.
Sim, há um mundo a ser evangelizado! Há muitos corações que não receberam a luz da fé no Senhor Jesus! Nossa cultura e nossa sociedade precisam de Jesus! No entanto, o mais grave de tudo, é que está acorrendo uma “paganização” crescente de nossas famílias e das estruturas sociais. O que se tem alardeado é uma falsa “libertação” do homem de todas as amarras e ideologias religiosas e políticas. Fazem crer que o “homem novo e moderno” é um “homem sem Deus”. Há uma onda crescente de descristianização de toda a vida social hodierna. Onde nos levarão a exaltação e o endeusamento do homem? A quem interessa a “imposição do silêncio” e a ridicularização da Igreja? Que frutos produzimos com nossa acomodação?
Por isso e por muito mais, é hora de missão! Uma missão capaz de transformar corações, vidas, famílias e toda a sociedade! É hora de tomarmos consciência de que somos “templos do Espírito Santo” e, assim imbuídos, nos lançarmos profética e ousadamente na tarefa missionária. Mais do que garantir a sobrevivência de nossa Igreja, é preciso buscar a construção do Reino de Deus. E foi o próprio Senhor quem nos deu esta missão!
Ao iniciarmos o Ano da Fé, confirmemos nossa confiança de nunca estaremos sozinhos. O Senhor está conosco, pois Ele mesmo garantiu: “Eu estarei convosco todos os dias até os confins do mundo” (At 1,8). Diante deste apelo e desta promessa, não tenhamos medo de “avançar para as águas mais profundas” da fé e de nossa ação evangelizadora. É o próprio Jesus quem nos anima: “No mundo tereis aflições, mas coragem, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - 2012








PALAVRA QUE FORTIFICA A VOCAÇÃO

Naquela tarde de domingo, indiferente a tudo e a todos, ele dormia no chão frio da varanda do bar. Ao seu lado, vez por outra erguendo as orelhas, um cão permanecia deitado. Quem é este homem? Não sei; um mendigo, quem sabe... bêbado, talvez. Percebi que os carros passavam ali perto sem parar. Os transeuntes também. Parecia que ele nem estava alí, ao chão.
Esta indiferença a uma realidade tão gritante e evidente me levou a refletir que isso pode ocorrer conosco com relação à Palavra de Deus. Se conseguimos não ouvir os clamores que vem das ruas, muito mais facilmente deixaremos de ouvir o clamor de Deus.
Desde outrora nosso Deus vem buscando revelar a Si mesmo a nós, criaturas amadas e criadas “à Sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Aqueles e aquelas que O ouviram, experimentaram um Amor sem igual e sentiram-se incumbidos de uma missão especial. Os profetas do AT não somente O ouviam, mas dialogavam com Ele. É clássico o episódio em que Abraão dialoga com Deus e intercede a favor do seu povo  e do seu sobrinho Lot (cf. Gn 18,16ss).
A Sagrada Escritura, como temos hoje, é uma prova de que Deus desejou muito comunicar-Se (comunicar a Si mesmo!) ao povo eleito. Todavia, a Bíblia vai além de ser um livro de histórias de Israel com o seu Deus e dos primeiros passos do Cristianismo. Ela é um Livro vivo! É a própria Palavra do nosso Deus que, sob o impulso do Espírito Santo, fala conosco. É como escreveu o Papa Bento XVI na Verbum Domini: “A Palavra divina exprime-se verdadeiramente em palavras humanas” (12).
Percebemos que, cada vez mais, as pessoas estão “descobrindo” a voz de Deus no Livro Santo. O Sínodo dos Bispos sobre “a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja” (2008), que desembocou na Exortação citada acima, constatou “com alegria e gratidão, que na Igreja há um Pentecostes também hoje... nos variados modos de experiência de Deus e do mundo... manifestando a vastidão da Palavra de Deus” (VD 04).
“O Céu a Terra passarão, mas a minha Palavra não passará” (Mt 24,35). Não obstante a chegada dos “novos tempos”, Deus continua “falando” aos nossos corações. Nosso coração de vocacionado é um coração treinado para ouvir e empenhado para acolher e colocar em prática a Palavra de Deus.
Por fim, renovemos o compromisso de ajudar as pessoas a estarem abertas para acolher esta “comunicação” de Deus! E não nos esqueçamos das palavras de Jesus: “Quem ouve minha palavra e a pratica é minha mãe, meu irmão e minha irmã” (Lc 8,21). Somos da família de Deus! Não podemos deixar a indiferença tapar nossos ouvidos e nem vedar nossos olhos. A Palavra de Deus confirma e fortifica a nossa vocação!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional - 2012












AGOSTO – A VONTADE DE DEUS PARA NÓS

Já é bastante sabido que não somos nós que escolhemos esta ou aquela vocação. Compete a Deus fazer uma VOCAÇÃO e endereçá-la para o coração que Lhe aprouver. É do coração de Deus que brotam todas as vocações. Desde toda a eternidade Ele já planeja uma vida de amor para cada um de nós (cf Jer 1,5). Todavia, Ele nos cumula de liberdade para escolhermos fazer a Sua vontade ou a nossa.
Na Pastoral Vocacional costumamos definir que “VOCAÇÃO é um chamado de Deus à mim para servir os irmãos”. Compreendemos, portanto, que a iniciativa é sempre d’Ele, tendo em vista a construção do Seu Reino entre nós. Daí a importância de estarmos bem atentos para sempre termos maior clareza de qual é mesmo o desejo de Deus para cada um de nós. E brincamos: “Vocação acertada, futuro feliz! Vocação errada, quebra o nariz”.
Os testemunhos bíblicos nos ajudam neste processo de discernimento: “Abrão partiu como o Senhor lhe tinha dito” (Gn 12, 4); “Moisés partiu”, conforme a instrução de Javé (Ex 4,18); “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3,10); “Eis-me aqui, enviai-me” (Is 6,8); “Foi-me dirigida nestes termos a Palavra do Senhor” (Jer 1,4); “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); etc.
Os tempos passaram rapidamente, e nós estamos vivendo já o terceiro milênio da Era Cristã. E Deus continua chamando e tocando os corações com seus apelos de salvação. Se outrora os vocacionados discutiam com Deus e lhe pediam maiores esclarecimentos sobre a Vocação, hoje não é diferente. Mas há um agravante: parece que estamos mais surdos hoje do que antes. Há muitas outras vozes a falar ao mesmo tempo e quase não percebemos mais a voz de Deus. Somos atraídos para tantos outros caminhos e distraídos daquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”.
O Mês Vocacional é uma oportunidade a mais que a Igreja nos oferece para refletirmos sobre nossa VOCAÇÃO. É evidente, que estabelecer um mês para promover as vocações é apenas um álibe pedagógico, pois sempre é tempo para estarmos atentos à vontade de Deus. Assim, podemos dizer que “Agosto é mês do bom gosto de Deus para nós”. Mais do que um trocadilho, esta frase revela que a vocação é um DOM do amor de Deus para conosco.
Foi sobre isto que o Papa Bento refletiu na Mensagem que escreveu à Igreja por ocasião do Dia Mundial de Oração pelas Vocações deste ano. Ele afirmou que “cada criatura, e particularmente cada pessoa humana, é fruto de um pensamento e de um ato de amor de Deus, amor imenso, fiel e eterno (cf. Jer 31, 3). É a descoberta deste fato que muda, verdadeira e profundamente, a nossa vida... Trata-se de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida e que tem a sua raiz na gratuidade absoluta de Deus”.
Por isso, o Papa ensinou que “o amor de Deus permanece para sempre; é fiel a si mesmo... É preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis”.
Todos fomos "Chamados à vida plena em Cristo!", como reza o tema deste Mês Vocacional. Precisamos continuar anunciando a Boa Nova, isto é, Jesus Cristo. Pois Ele é a nossa Esperança e nossa Salvação. Ele nos diz constantemente: "Eis wur faço novas todas as coisas" (Ap 21,15).
Aproveitemos este Mês Vocacional para animarmo-nos mutuamente no seguimento de Jesus e na acolhida da nossa VOCAÇÃO. Como disse o Papa, que as Dioceses “se tornem lugar de vigilante discernimento e de verificação vocacional profunda... Deste modo, a própria comunidade cristã torna-se manifestação do amor de Deus”.

Pe. Auricélio – Promotor Vocacional





CORAÇÃO DE VOCACIONADO

Ninguém entendeu o que se passava no coração daquele homem que, na beira do rio Jordão, conclamava o povo ao batismo e à conversão, apontando o Cordeiro de Deus. E nem quando o talentoso fariseu Saulo, que gozava do direito de ter dupla cidadania (judeu e romano), “mudou de lado” passando a anunciar Aquele a quem ele perseguia.
Ninguém em Assis compreendeu o gesto do filho do nobre Pietro di Bernardone, despindo-se diante dos pais, do Bispo e de todo o povo, afirmando que queria ser o mais pobre dos pobres, abraçando a irmã pobreza. Mais embaraçosa ficou a situação quando, na mesma cidade e na mesma época, a linda e disputada Clara decidia abandonar a nobre casa para desposar Jesus, vivendo em austera pobreza.
E o que dizer da decisão de Karol Wojtyla ao abraçar o sacerdócio, deixando para trás a promissora carreira de professor e ator? Quando Amábile Visintainer, a nossa Santa Paulina, lá em Nova Trento, com apenas 18 anos de idade, despediu-se dos pais para ir morar com uma leprosa a fim de ajudá-la, pensavam que era mero devaneio juvenil.
Os que viveram em São Luís, no interior de Imaruí, no início do século passado, não podiam imaginar que aquela jovenzinha bela e tímida, que lhes chamava a atenção pela delicadeza e devoção, seria apresentada pela Igreja como modelo de santidade para os jovens e adultos do mundo inteiro.
Blaise Pascal disse que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. O cristão, porém, sabe que a sua existência se deve ao desejo de Deus, segundo um determinado plano de amor. É a isso que chamamos VOCAÇÃO. Deus tem um sonho de felicidade para cada um de Seus filhos. Ao longo da existência Ele vai lhes revelando e clareando este “projeto”. Para isso, Ele usa das circunstâncias da vida, da Sagrada Escritura, do testemunho das pessoas, da voz da Igreja... e até do sofrimento dos pobres!
João Batista, Paulo, Francisco, Clara, João Paulo II, Paulina, Albertina... e tantos outros mais, são exemplos de pessoas que se sentiram profundamente tomadas ao ritmo de um Coração Maior. Sentiram-se chamadas a viver uma vida de entrega e doação tais que acabavam negando-se a si mesmas. Desta forma afirmavam o senhorio de Jesus em suas vidas. Seus corações estavam profundamente unidos a um outro Coração!
“Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração” (Mt 6,19-21)! O Coração de Jesus é um Coração inflamado de amor, reza a piedade popular. E é verdade! Jesus viveu para servir ao Pai e ao povo. Seu maior desejo era fazer a vontade do Pai. Ele foi fiel à sua vocação, redimindo a humanidade com a sua morte na cruz. O seu testemunho é tão forte que, passados os anos, ainda continua a tocar mais corações para uma maior entrega para a missão. Ele continua a chamar e enviar pessoas. Ele continua a tocar seus corações, especialmente dos mais jovens, para viverem segundo o Amor.
Eis o segredo dos santos de ontem e de hoje: sentiram-se irresistivelmente amados e chamados! Eis porque suas atitudes nem sempre são compreendidas por nós. É preciso conhecer a linguagem do Reino para compreender o que leva uma pessoa a tomar a decisão por Jesus.
Ainda hoje o Senhor continua a chamar homens e mulheres de nossa Igreja. Você já se sentiu chamado? Já se permitiu questionar o porquê de você estar “trabalhando” neste ou naquele grupo da comunidade? E qual a qualidade da resposta que você tem dado a tal apelo?
Neste mês do Coração de Jesus, quando a Igreja nos apresenta o testemunho de tantos santos, reflita sobre em qual ritmo pulsa o seu coração. E busque tornar o seu coração mais semelhante ao Sagrado Coração. Como? Vivendo o amor!
“Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em Vós!”

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional






MARIA, OBEDIÊNCIA QUE PRO-VOCACIONA

É comum ouvirmos um certo adágio popular que reza assim: “pedido de mãe é ordem”. Neste mês de maio muito refletiremos sobre o papel da mãe em nossa vida e a homenagearemos de inúmeras formas. De fato, por nove longos meses fomos gerados e gestados no ventre de nossa genitora. A partir desta experiência fundante, viveremos cada dia de nossa existência ligados física ou psico-afetivamente àquela mulher que chamaremos de “mãe”. E não há nada de mal nisso, pois tudo foi providenciado pelo Bom Deus!
De nossas mães recebemos tudo que precisamos para crescer: o afeto, o leite materno, as primeiras lições de sociabilidade, de sobrevivência... O seu papel materno nos influenciará profundamente na construção de nossa estrutura psicológica. Isto é, o que somos hoje se deve muito ao que recebemos de nossa mãe!
Ao vir ao mundo, tendo chegado o tempo, o próprio Deus quis fazer a experiência de ter mãe. A jovem Maria, de Nazaré, foi a escolhida. Coube-lhe a missão de gestar em seu ventre o Salvador. Ela lhe deu educação para que se tornasse um homem maduro; ela providenciou todas as necessidades primárias de Jesus!
Realmente, Maria não poderia ser uma “mulher comum”, para que lhe fosse confiada tarefa tão grandiosa: educar “o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Salvador”. E ela teve êxito em sua missão. Defendeu e acompanhou o seu menino em todas as etapas da vida d’Ele. E O seguiu até o Calvário... e mais, até a Ascensão!
Ninguém como Maria para conhecer tão profundamente Jesus! É por isso que coube a ela o papel de instigar Jesus a iniciar a Sua missão, realizando o primeiro sinal. E foi lá em Caná, numa festa de casamento. As presenças de Maria e Jesus encheram de Graça aquela festança. O milagre da transformação da água em vinho encheu de bênção toda aquela família.
Por iniciativa de Maria não somente Jesus é chamado a responder diante de uma necessidade que surgira: a falta de vinho. Ela vai chamar os servidores de bebida:  também eles devem colaborar para que a festa continue. “Façam tudo o que Ele lhes disser” (Jo 2,5). O tom de Maria é imperativo. O pedido da mãe de Jesus soa como uma ordem de alguém que sabe o que é melhor para o seu Filho (e para todos os “demais filhos”).
Hoje, ainda, Maria continua chamando cada um de nós para colaborarmos com o seu Filho e a Igreja d’Ele. Isto significa que nossa vocação passa também pela figura de Maria. Somos chamados a ser obedientes a Jesus e, consequentemente, obedientes à Maria. “Obedecer na fé” é uma resposta que damos a Deus (1Rm 1,5). E Maria é o mais perfeito modelo de realização deste conselho evangélico. Precisamos cultivar em nós este dom para que sejamos sempre mais obedientes e, assim, vivamos na paz. Pois, como diz aquela máxima: “quem obedece não peca”.
Percebemos, hoje, muita dificuldade em obedecer. Os pais reclamam da educação que eles mesmos deram aos seus filhos. Mas, na verdade, o mundo todo passa por profundas transformações e estamos vivendo no império do “eu” narcisista. Há uma grande indiferença para com as questões coletivas, não obstante tantos sinais de solidariedade que brotam pelas nossas comunidades. Maria nos ensina a termos uma atenção redobrada diante dos novos desafios que encontramos: é preciso escutar bem para podermos dar uma resposta coerente. Como ela mesma buscou ter clareza da missão que o Anjo lhe revelara: “Mas como isso vai acontecer?” (Lc 1,34).
Ao homenagearmos nossas mães da Terra, não nos esqueçamos de contemplar a figura de nossa Mãe do Céu. Ela nos ensina a termos sensibilidade e solidariedade para com as necessidades alheias. Ela nos convida (e nos provoca) a envolvermos mais pessoas no processo de construção do Reino de Deus. Ela, primeira discípula-missionária, nos desafia na tarefa missionária, permanecendo sempre perto de nós, como mãe-mestra-intercessora! E nos diz: “Façam tudo o que Ele lhes disser”.

Pe. Auricélio – Promotor Vocacional






MENSAGEM COM ENDEREÇO CERTO

Até bem pouco tempo, escrever cartas era uma forma muito comum de comunicação entre as pessoas. Também era corriqueiro que alguma carta se extraviasse e nunca chegasse ao seu destino. É que, por qualquer descuido ao escrever o endereço no envelope, lá se ia uma carta nossa para o destino desconhecido. Hoje, com as novidades tecnológicas, bem sabemos que se discarmos (ou digitarmos) errado o número do telefone de alguém, jamais conseguiremos o contato desejado. E não é o mesmo que acontece quando digitamos de maneira incerta o endereço de um e-mail?
Na Pastoral Vocacional costumamos refletir que o nosso apelo vocacional tem um endereço certo: o coração do ser humano. E isto serve para toda a ação evangelizadora da Igreja! Aliás, a experiência bíblica confirma este argumento pois Deus sempre “endereçou” a sua mensagem diretamente ao coração do homem.
Foi assim na experiência de Noé: ele possuía uma clareza interior de que era necessário construir uma arca em pleno deserto. Também na saga de Abraão: a mensagem de Deus chegou tão diretamente no âmago do seu coração que lhe tornou capaz de fazer loucuras: sair da sua terra natal (Hur, na Caldéia) e ir atrás das promessas de Deus. Foi assim com Moisés. Na odisséia do Êxodo encontramos este homem tomado por uma certeza: Deus precisava dele para tirar o povo das garras do Faraó e o conduzir à terra prometida. A mensagem de Deus chegava fundo no coração dos Juízes de Israel (Barac, Gedeão, Jefté, Sansão...); bem como no de Seus profetas e profetizas.
Também no Novo Testamento temos personagens que foram alvejados no coração pelas mensagens especiais, com endereço certo: a jovem donzela de Nazaré, Maria, acolheu tão intimamente a mensagem enviada por Deus que se fez Serva, permitindo que o Verbo se tornasse Homem em seu ventre. João Batista não titubeou na hora de apontar quem era “o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”.
Caminhando entre nós, Deus (Jesus) olhava nos olhos dos seus escolhidos. Seu olhar os tangia tão profundamente que provocava uma revolução interior em suas vidas a tal ponto de deixarem as redes e barcos na praia. Tornavam-se “pescadores de gente”!
Os tempos passaram... Lá se vão dois milênios de cristianismo. Em todas as épocas, homens e mulheres tem acolhido em seu coração a mensagem de Deus para suas vidas. Tanto lá longe de nós, quanto aqui na nossa comunidade, a vocação divina encontra o seu endereço certo: o nosso coração!
Deus continua falando diretamente ao nosso coração. Insistentemente, Ele nos convoca, também, para sermos Seus instrumentos a fim de que a Mensagem chegue diretamente aos destinatários. Eis aqui a nobre missão da Igreja de Jesus: ser guardiã e portadora da Boa Nova! E ajudar as pessoas de nosso tempo a acolherem esta Boa Nova em seus corações. Ou seja, esta é a sua e a minha missão!
Precisamos preparar os corações! Precisamos ser instrumentos nas mãos de Deus! Precisamos descobrir as novas formas para atingirmos o alvo. Seja por carta... ou por e-mail... ou pelo anúncio explícito... o que importa é que a Mensagem de Deus tem um destino certo: o coração do ser humano desta época! 


Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional





D. TEREZINHA PRETA – UMA LUZ DE DEUS EM IMARUÍ

02 de março de 2012. 16h. Há muito que D. Terezinha vinha sofrendo por conta de suas muitas enfermidades. Todavia, apesar dos sofrimentos, ela estava sempre animada e preocupada com o bem da família e da Igreja.

Neste dia dois de março ela partiu para a Casa do Pai. Não foi surpresa, mas ela ainda era relativamente jovem (79 anos) e esbanjava vivacidade e lucidez. Alguns dias antes do seu passamento, nós dois conversamos bastante em sua residência, em Imaruí. Na ocasião senti que não a veria mais e, por isso, fiz algumas fotos dela.

Para mim e para todos os que participaram da história de D. Terezinha, ela representava uma bênção de Deus. O que mais se ouviu na Missa de Exéquias, dia 3, às 16h, foi que “ela era uma mãe de todos; sua casa acolhia a todos”! De modo que toda a multidão que acorreu aos funerais, cada um, por sua vez, poderia dizer “ela, em determinado momento da minha vida, me ajudou”.

Movida por uma fé autêntica e comprometida, próprio das pessoas santas, ela iluminava sua vida e toda a comunidade. Especialmente com sua fé no Sagrado Coração de Jesus, no Senhor dos Passos e na Mãe Rainha. Sua fé na Eucaristia era fundamental na sua vida cristã, tanto que tinha uma capelinha particular em sua casa. Ali reunia filhos, netos e seus hóspedes para momentos de oração. Fazia, espontaneamente, horas e horas de jornadas de Adoração ao Santíssimo. Certa vez, objetivando alcançar determinada graça, fez 96 horas de adoração. Era comum vê-la na igreja matriz, sempre em oração.

Com sua liderança indiscutível, apesar dos poucos anos em bancos escolares, idealizava, organizava e realizava festas religiosas, eventos devocionais, retiros... Ninguém ousava dizer não a um pedido seu; não porque era autoritária – pois não era, absolutamente – mas porque ela pedia sempre o que era possível fazer, e sempre algo bom para a comunidade. Para as tradicionais festas do Senhor dos Passos, ela conseguia, anualmente, a doação de mais de 700 bolos para a Barraca do Café. Ninguém vendia mais ingressos para as promoções no Salão que ela; e nem mais cartelas de bingo ou rifa. Para as reformas na Casa Paroquial e na matriz, os padres sempre contaram com ela.

Era prestimosa em trazer alimentos (pratos-feitos) para os padres, chazinhos e outros mimos. Adotava cada padre que chegava na paróquia e, também, cada seminarista. As religiosas que passavam pela cidade, costumavam hospedar-se em sua casa. Liderando o Apostolado da Oração, conduziu-o para os festejos do centenário e, agora, preparava a festa dos 105 anos de existência da Associação. E conseguiu mover sua filha Bel para dar continuidade a este trabalho.

Enquanto teve saúde e apoio das Irmãs de Santa Maria (Shoenstatt), trouxe a primeira imagem Auxiliar da Mãe Rainha para Santa Catarina. Tal graça lhe foi oferecida pelas próprias Irmãs, durante um retiro em Santa Maria, RS. Tornou-se uma grande disseminadora da Campanha da Mãe Peregrina na paróquia de Imaruí, na Diocese de Tubarão e, de resto, em todo o sul do Estado.

Investia suas melhores energias, seu tempo (embora fosse comerciante, dona de uma casa comercial) e seu dinheiro pra esta empreitada. Conseguia congregar pessoas em suas tarefas. De seu grande envolvimento e fé marianas, nasceu o desejo de construirmos um Santuário de Shoenstatt em Santa Catarina, edificado na Colina de Nossa Senhora, em Figueira Grande. Embora as Irmãs tenham abandonado o antigo projeto, até hoje lá existe uma ermida e uma enorme capela da Mãe Rainha e um complexo para bem acolher os peregrinos que vem passar algumas horas naquele Cantinho de Maria.

Particularmente, foi-me deveras especial a sua passagem em minha história. Tanto como padre na cidade por dez anos, quanto como cristão. Além de seu confidente, ela quis tratar-me como filho.

Agradeço a Deus por este presente em nossas vidas, este dom para a Igreja e por ela ter-nos ensinado que vale a pena seguir Jesus sempre! Deus a recompense com um lindo lugar no Céu!

Pe. Auricélio - Março/2012


2012 – TEMPO DE ENGENDRAR VIDA NOVA



No dicionário o verbete “engendrar” é sinônimo de gerar, causar, produzir, conceber, dar à luz, parir... Este termo me veio muito forte na leitura de um livro do Pe. José Luís Martinez (“Sexualidade e crescimento...”, Paulus), ao falar sobre a total entrega ao Reino de Deus através do celibato. O autor reflete que o que dá sentido ao nosso radical seguimento de Jesus é que nos tornamos capazes de “engendrar vida nova e vida em abundância”. E explica: “engendrar vida em si mesmo/a, na comunidade e nas pessoas com as quais e para as quais (se) trabalha”.

Embora nem as férias consigam impedir a caminhada pastoral da Igreja – haja visto uma série de atividades que as comunidades e organismos eclesiais continuam realizando por aí – o fato é que, agora, oficialmente, retomamos nossas ações com toda a força. É o novo ano pastoral que se inicia! Voltamos a pensar e fazer “pastoralmente”! As atividades de evangelização vão se tornando realidade, dando vida aos planos e planejamentos do final do ano que passou.

Com que espírito retomaremos nossa caminhada? Bem, temos que nos confiar ao poder do Espírito Santo, pois “Ele faz novas todas as coisas” (Ap 21,5). É aí que entra a necessidade de que nossas ações evangelizadoras sejam geradoras de Vida. Engendrar a vida nova em nossos segmentos pastorais é tarefa permanente. Podemos nos inspirar nas palavras do próprio Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10). E é para isto que existe a Igreja: engendrar Vida!

Alguém pode se sentir cansado, já agora, só em olhar o cronograma de atividades. Todavia, tudo que nós planejamos realizar este ano no nosso grupo, no nosso movimento, na nossa pastoral, na nossa comunidade... enfim, na nossa Diocese, ainda será pouco! A astúcia dos “filhos das trevas” (Lc 16,8) em afastar nossa sociedade do caminho de Jesus (da Igreja!) é perversa, nefasta e avassaladora. Lutamos contra uma força muito grande e orquestrada para que as pessoas adorem outros deuses. Afinal de contas, pregam que estamos numa “nova Era” que dispensa Jesus Cristo! Contudo, o próprio Jesus nos exorta: “Pedi ao Senhor da Messe que mande operários para a Messe, pois a Messe é grande e poucos são os operários” (Lc 10,2)! E mais: “Eis que vos envio como cordeiros no meio de lobos” (Mt 10,16). E ainda: “Fiquem atentos para que o Senhor lhes encontre trabalhando” (Lc 12,37).

É por isso que, ao longo de todo este ano pastoral, precisaremos estar sempre unidos ao Senhor, certos da presença d’Ele conosco, e unidos entre nós. A ausência de Bispo não nos impedirá e nem deve arrefecer nosso entusiasmo de comprometimento com o Reino de Deus. No fundo, nosso Mestre e Pastor é Jesus! E é por Ele que estamos trabalhando na Messe! Esta disposição em engendrar vida nova brota da nossa vocação batismal; isto é, do mais profundo de nosso ser cristão.

Que o Espírito do Senhor, que carregou fielmente a Sua cruz, assumiu a morte e ressuscitou, nos ajude a também permanecermos fiéis no seguimento dos Seus Passos. Saúde e Vida para todos!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional










JAIME PALADINI – UM PALADINO DO BEM

05 de janeiro de 2012. 10h. Não foi sem tristeza no coração que recebemos a notícia do passamento de Jaime Paladini. Muito jovem, apenas 58 anos de vida, voltou para a Casa do Pai este irmão e amigo. Deixou-nos um enorme legado.

Ao dar-me a notícia, seu único filho, o Rodrigo, se conformava pelo fato saber que seu amado pai não iria mais sofrer. De fato, os últimos anos foram cruéis para o Jaime, pois um câncer na laringe o impediu de realizar plenamente sua missão (talvez esta fosse a sua missão!).

Nascido no interior de Orleans, de uma tradicional família de origem italiana, aprendeu a valorizar a família e a religião. Lá mesmo despertou sua preocupação com o mundo da Educação e da Cultura. Chegou a assumir esta Secretaria naquele município.

Além de ministrar aulas em várias escolas, preocupava-se com o desenvolvimento social do país. Por isso, abraçou a causa partidária desfraldando a bandeira do PCdB. Comunista e cristão.

Vindo trabalhar em Tubarão, em meados da década de 80, lecionou no respeitado Colégio São José (onde grande parte da elite citadina estuda) e no recém-criado Colégio João XXIII, no bairro Passagem. Ali começou nossa história com o Jaime.

Alto e esguio, com o imponente bigode, e sempre sorrindo, aquele novo professor de Física e Química era diferente dos demais. Facilmente fez amizades com todos e se interessava pela vida dos alunos, de suas famílias, de suas localidades... Aos poucos ficou amigo de todos.

Diante dos graves problemas do uso de drogas e do êxodo escolar, ele sugeriu a criação de uma banda de música. Percebera que mais de uma dezena de alunos trazia violões para o colégio e que havia muitos cantores dentre os jovens.

A proposta foi rapidamente aceita e nasceu o Grupo Musical João XXIII que, logo recebeu o nome oficial Grupo Musical Censura Livre. Foi a base de um projeto mais amplo: a Oficinas de Artes Censura Livre, concretizando um desejo da comunidade escolar: Escola Aberta aos finais de semana. O projeto durou dois anos e despertou centenas de talentos artísticos na circunvizinhança em todos os campos das Artes. A banda ainda durou oito anos!

No campo da política, o Jaime foi presidente de seu partido e candidato a prefeito de Tubarão em 1996. Alguns de seus ex-alunos aderiram às causas do partido, embora o Professor jamais tenha obrigado alguém a isto. Como verdadeiro educador, ensinava seus alunos a pensar sobre a realidade em que estavam inseridos.

O Jaime apoiou várias lutas comunitárias e incentivou a organização popular, as associações... Apaixonado pela causa ambiental, com o fim da Oficina de Artes e o falecimento de sua querida esposa Márcia, passou a dedicar-se às lutas ecológicas.

Participou dos movimentos ecológicos e idealizou e dirigiu o projeto Verde é Vida, da Afubra. Também fundou uma ONG para lutar em favor da natureza. Ministrou palestras e cursos sobre o tema, ocupando rotineiramente os espaços na imprensa local.

Em outubro último recebeu uma rara medalha de Honra ao Mérito concedida pelo Governo do Estado de Santa Catarina devido ao seu grande trabalho social, deixando-o muito feliz.

Neste dia 4 de janeiro de 2012, o mundo perdeu um grande educador, homem idealizador e ambientalista. E nós perdemos um amigo. Obrigado, Jaime ... paladino do bem!

Pe. Auricélio - 5 de janeiro de 2012









NATAL - CELEBRAR A ESPERANÇA

Lá na casa de meus pais a vida ficou mais cheia de esperança! Nasceu Rafaela, terceiro rebento do amor de Rafael e Angelita. Foi lá que ela viu, pela primeira vez, a luz do dia, bem na Festa de Cristo Rei, acolhida com o afeto de toda a família. O Natal chegou mais cedo lá em casa!
O lar de José e Maria ficou repleto de luz quando nasceu Jesus, naquela venturosa noite de Natal. Festa em Belém! Deus fez-se Emanuel!... e veio “armar sua tenda” entre nós! Já podemos notar as nossas cidades recebendo novas decorações, que as deixam ainda mais bonitas. Lâmpadas de todos os tamanhos e cores, bonecos que recordam aquela noite em Belém e até outros personagens estranhos, mas mimosos. É Natal!
Para nós cristãos, marcados para ser testemunhas de que Jesus é o Senhor, eis um tempo especial para comemorarmos o Seu aniversário e celebrá-Lo vivo entre nós. Mais do que nunca, somos chamados a celebrar o verdadeiro sentido do Natal, já tão desfigurado pelo consumismo que “endeusou” o Papai Noel. E muitos de nós acabamos confirmando esta degeneração do sentido natalino, reforçando-o em nossas festas.
Já não podemos esperar nada do “bom velhinho”, pois ele nada pode nos dar. Não tem vida em si, não existe, é fantasia. Nossa esperança não é fantasia. A pessoa do Menino Deus (esta, sim!) é apaixonante, encantadora e real! A Sua história pode mudar vidas, revolucionar mentes e corações e toda a sociedade! É uma história de amor que alimenta os sonhos e a vida de seus discípulos.
O Natal está chegando. E com ele a oportunidade de contemplarmos o presépio de Belém; de renovarmos nossas esperanças de que um novo mundo é possível. O nascimento de Jesus é fruto de um SIM maior: do Filho ao projeto do Pai, e de uma jovem, Maria, que acolheu o Espírito Santo.
Também eu e você podemos viver um Santo Natal, acolhendo esta presença divina em nossas vidas. Podemos acolher aquele anúncio dos anjos em Belém: “Hoje nasceu para vocês (para mim!) o Salvador”.
A festa do Natal renova em nós a certeza de que Deus continua a pensar e a confiar em nós. Por isso, somos chamados a envidar todos os esforços para vivermos bem nosso batismo, “para que o mundo creia” em Jesus. Precisamos renovar nossa fé e semear as sementes de esperança nos corações das pessoas. Natal é tempo de esperança! Por isso cantemos alegres: “Natal é vida que nasce! Natal é Cristo que vem! Nós somos o Seu presépio; e a nossa casa é Belém!”.
Nossa Diocese vive um advento especial: aguarda a nomeação e a chegada do novo Bispo! Este é um tempo especial para revermos nossa caminhada eclesial e retomarmos nossos compromissos de evangelização. Não estamos perdidos: contamos com a força do Espírito Santo, com a abnegação dos padres e lideranças leigas e um Plano de Pastoral que nos orienta. E uma certeza: o Senhor Jesus nunca nos desamparou, caminha junto de nós, fazendo Natal todos os dias em nossas famílias e comunidades.
Portanto, assim como em minha família a esperança se renova com a chegada da menina Rafaela, desejo que o Natal de Jesus encha a sua vida (e toda a humanidade) de muita felicidade.
FELIZ E SANTO NATAL DE TODOS OS DIAS!

Pe. Auricélio - dezembro de 2011







PARA QUEM CRÊ A VIDA É BONITA


Fulano sentiu muito a perda de sicrano. Chorou o velório inteirinho. Até passou mal no cemitério!” Este tipo de comentário sobre funerais não é pouco comum em nossa região. Quando alguém morre, temos uma inclinação a fazer um pré-julgamento daquele que partiu e dos que lhe eram mais próximos. É por isso que se diz: “depois que morre todo mundo vira bom” ou “só se reconhece o valor de alguém depois morre”. Trago à tona estes pensamentos da sabedoria popular para refletir sobre o valor da vida. Sim, tinha razão o poeta-cantor quando entoava: “E a vida o que é, meu irmão? É bonita!”.
O mês de novembro se inicia com a efeméride de Finados. Eu e você vamos aos cemitérios (às vezes, mais de um!), para homenagear e recordar nossos entes que lá foram sepultados. Flores, velas, orações, contar histórias... fazem parte de um ritual de culto à memória dos entes queridos. Todavia, se a morte é para nós questão vital e existencial, não seria o caso de termos um dia para celebrarmos o “Dia dos Vivos” ou o “Dia dos Viventes”?
Pode parecer hilário, mas o mês de novembro não é marcado pelo tema da morte. Ao contrário: é a Vida que norteia a nossa jornada neste mês. Vejam, iniciamos novembro celebrando o “Dia de Todos os Santos”, no dia 1º. E, mais para o final do mês, dia 20, celebraremos a solenidade de “Cristo Rei e Senhor”; e começaremos a caminhada em preparação para o Natal! Ou seja, o aspecto da finitude humana não é nada diante da grandiosidade da vida! Vida que começa aqui; vida que se eternizará na Glória do Pai.
Chamados à santidade por uma vocação santa, como nos ensina São Paulo, somos todos comprometidos com a valorização e a defesa da vida. Somos enviados a testemunhar Jesus, que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”! A morte não destroi a graça de Deus em nós. Ela tampouco pode nos separar deste Amor Maior. Mas ela nos assusta e nos inquieta, pois é nossa ilustre desconhecida. Mas será preciso passar por ela, confiando no abraço de Jesus, do outro lado da porta, que nos acolherá e nos dirá: “Vinde benditos de meu Pai”.
Nós cremos que não fomos feitos para a morte; e sim para a vida! Bem sabemos que o cemitério não será a nossa última morada, pois voltaremos para a mansão do Pai, prometida pelo Senhor Jesus, nosso Rei. Nossas vidas estão entregues nas mãos de Jesus e Ele saberá cuidar muito bem deste nosso dom.
Que neste mês de novembro nos inspiremos nas solenidades que iremos celebrar para confirmarmos nossa fé e renovarmos o compromisso com a valorização da vida. Assim, além da natural dor humana pela perda de entes queridos, celebraremos a esperança cristã da verdadeira Vida em Deus! E, na fé, poderemos cantar com Gonzaguinha: “A vida, o que é? É bonita! É bonita!... e é bonita!”.

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional




COROINHAS DE JESUS


Eles chegaram um pouco antes do início da Missa. Dirigiram-se para a sacristia, tomados de pressa e ansiedade pueris. Sorridente e aliviada, D. Maria os acolheu; ela é a responsável pelos coroinhas da comunidade. Abrindo o roupeiro, ela foi retirando as vestes litúrgicas e distribuindo-as para  cada um conforme o seu tamanho.
É bonito vê-los se arrumar. Estão afoitos e ansiosos pela função que irão realizar durante a celebração. Os maiorzinhos – especialmente as meninas – não dispensam um espelho!
Sua missão é auxiliar o padre na presidência da Missa. Estão sempre atentos a alguma necessidade do sacerdote durante o ofício: trazer um copo d’água, um tolha, um folheto, levar um recadinho... Ajudam-no na procissão das oferendas, acompanham os ministros da Comunhão em algumas tarefas, podem fazer a distribuição e o recolhimento de livros de cantos, folhetos e santinhos. Cabe a eles tocar a sineta nos momentos mais especiais da Celebração Eucarística, como antes de cantar o “Sanctus” e durante a “Consagração”. Ajudam o padre nas procissões públicas, especialmente nas festas litúrgicas, tais como da padroeira, Semana Santa, Corpus Christi... e tornam-se sinais eloqüentes para os demais de sua faixa etária.
Como coroinhas eles descobrem o quanto é bom servir à comunidade, ajudar no altar e participar da vida comunitária. Eles se tornam muito próximos do sacerdote e, se forem bem acolhidos pelo reverendo, dirão: “o padre é meu amigo”. Sentindo-se úteis e protagonistas na vida eclesial, eles passarão a ser verdadeiros discípulos missionários de Jesus. Alguns atraem seus pais para a vida de Igreja!
Relembro aqui o ensinamento do Papa João Paulo II na Carta que escreveu aos sacerdotes  por ocasião da Quinta-feira Santa de 2004: “o grupo de acólitos (coroinhas) pode se transformar em pré-seminário”. Isso é, uma verdadeira “escola vocacional”!
Portanto, é muito importante que o pároco e as demais lideranças valorizem a presença e atuação dos coroinhas em suas comunidades. Eles precisam ser motivados. Para isso, promovam-se encontros mensais de formação e articulação dos coroinhas, nos quais se avalia a caminhada, se treina as atividades e se planeja a escala de tarefas para o mês seguinte. Podem ser promovidos Encontros Paroquiais de Coroinhas, mini-retiros e passeios de motivação. Um uniforme próprio (mesmo uma simples camiseta) ajuda muito no senso de pertença ao grupo.
A celebração do Dia dos Coroinhas, 15 de agosto, dentro do Mês Vocacional, quando se celebra a memória do coroinha mártir São Tarcísio, também é muito importante. Todavia, busque-se também o testemunho de outros santos jovens para animar os pequenos “servidores do altar” em sua caminhada cristã. Seria muito bom que eles conhecessem os testemunhos da Beata Albertina, do beato Adílio, da Beata Chiara Luce... além dos mais antigos santos jovens: São Domingos Sávio, São Luís Gonzaga, Santa Terezinha do Menino Jesus, Santa Maria Goreti... A internet está cheia destas biografias.
A maior parte dos padres já foi coroinha quando crianças ou adolescentes! É fácil de constatar que muitos dos nossos padres despertaram vocacionalmente quando descobriram a alegria de servir a comunidade.
Por isso e por tudo o refletimos acima, faz-se urgente promover o ministério dos Coroinhas e daqueles jovens ou adultos que os coordenam. O Reino de Deus só tem a ganhar!
Por sinal, quando termina a missa, a sacristia fica agitada novamente: são os coroinhas que, como um furacão, trocam de roupa e saem apressadamente à procura de seus pais e colegas. Mas, no domingo seguinte, lá os encontraremos outra vez: prontos para realizarem seu ofício.







A MAÇÃ DA LATA DO LIXO, EU COMI


Bom apetite sempre foi uma de minhas virtudes humanas. Nem me lembro se algum dia eu soube o que é fastio. Evidentemente que os excessos à mesa tem me trazido uma série de marcas em meu corpo.
É uma grande chaga social que milhões de pessoas em nosso país não possam se alimentar dignamente. A fome, infelizmente, ainda não foi debelada de nossa sociedade. É um pecado social que nem sempre nos acusa a consciência.
Todavia, todos os anos, a agricultura nacional tem alcançado recordes de produção. Muitas vezes tais números são usados para justificar certas políticas econômicas que nem sempre estão voltadas para o bem comum; mas, ao contrário, beneficiam interesses econômicos.
Para que o alimento chegue às mesas dos brasileiros ainda há muito que fazer. Inclusive uma mudança cultural para o melhor aproveitamento da produção alcançada. Todos concordam que nosso país esbanja muitos alimentos. Os noticiários nos dão conta de que há toneladas e mais toneladas de alimentos apodrecendo nos armazéns e depósitos por aí. Até nos armazéns oficiais do Governo!
E tem ainda a questão do desperdício de alimentos nos restaurantes, nos supermercados e, inclusive, em nossas próprias casas!
Há cursos destinados às donas de casa e cozinheiros sobre o aproveitamento ideal dos alimentos e como conservá-los adequadamente. Quem nunca ouviu (e experimentou) falar da multimistura divulgada pela Pastoral da Criança?! Quem ainda não provou o suco de cascas de abacaxi ou uma fatia de bolo com polpa de frutas? E as sementes de abóbora torradinhas?! Hummm!!!!
O fato é que ainda jogamos no lixo muitos alimentos que poderíamos usar em nossa alimentação. Aqui mesmo em meu bairro, algumas vezes por semana uma enorme quantidade de frutas e verduras e legumes são descartados por certos supermercados locais.  São alimentos em bom estado de conservação, mas que não passam nos critérios de apresentação exigidos nestes estabelecimentos. Não podem mais ficar nas prateleiras e, por isso, devem ser descartados.
Assim, muitas caixas de alimentos são jogadas nos lixões ou utilizadas para alimentar animais. Hoje mesmo eu encontrei um destes caminhões transportando alimentos para o descarte. Eu vi algumas pessoas buscando entre os alimentos algo que pudessem aproveitar. Várias bolsas cheias de toda sorte de produtos foram levadas pelos tais catadores. Um deles me ofereceu uma maçã. Percebi que a fruta estava embalada, inteirinha e continha até uma etiqueta “industria Argentina”. Então, eu a lavei e a degustei com prazer. Enquanto comia, refletia: por que tanto desperdício? Como podemos aproveitar melhor estes alimentos e oportunizar aos mais carentes um melhor destino de tais materiais.
Temos um certo compromisso social de colaborar na erradicação da fome e da miséria em nosso Brasil e no mundo inteiro. Precisamos construir eficazes políticas públicas com esta finalidade.
Nosso povo precisa comer. E eu gostaria que todos tivessem o saudável prazer de saciar seu apetite e, diariamente, ter acesso a uma alimentação digna.
“Senhor, abençoai o alimento que vamos tomar. E na mesa do Céu reservai-nos um lugar!... E ensinai-nos a não desperdiçar!”
Pe. Auricélio Costa – 28-07-2011






 
QUE TODOS PROCLAMEM: “JESUS É O SENHOR”

Ziguinchor é a capital da região de Casamance, no sul do Senegal, na África Ocidental. Deflagrou-se um levante popular para a independência desta região; pretendiam formar um novo país. Era o ano de 1993. Eu e o Pe. Eduardo B. estávamos chegando à Guiné-Bissau havia pouco mais de um mês. Éramos recém-formados em Teologia e buscávamos melhor preparo antes da Ordenação. Meu amigo havia contraído malária (que lá se chama: paludismo) e sua vida estava em perigo, dentro das florestas de Suzana, no norte de Guiné, fronteira com o Senegal.
Da missão, dia e noite, ouvíamos estrondos de bombas e rajadas de metralhadoras nos coqueirais, vindos de Ziguinchor, na outra margem do rio. Mal sabíamos o criol (língua oriunda da mistura de idiomas locais com o português), tampouco o felupe ou djolá (falado pelo povo do lugar).
Mas, todas as manhãs, antes do alvorecer, nos dirigíamos à humilde capela da Missão Católica para a santa Missa. Pe. Giuseppe Fumagali (italiano) e Pe. Pedro Zilli (brasileiro, atual Bispo de Bafatá, na Guiné) concelebravam. As únicas palavras que compreendíamos eram: “kassumai kép” (ao cumprimentar alguém) e “matta Jesus Cristo” (“por Jesus Cristo”, no final das orações). Terminada a celebração, as Irmãs missionárias venezuelanas atendiam o Pe. Eduardo e depois iam para o campo de refugiados ajudar os feridos na tal guerra de Casamance. Os padres combinavam conosco as atividades do dia: escola, catequese, visita às aldeias próximas...
Estou partilhando esta recordação porque este Mês de Outubro nos convida a refletirmos sobre a missão da Igreja no mundo. De fato, quando Jesus ordenou “Ide pelo mundo, anunciai o Evangelho”, Ele não estava apenas indicando uma atividade dentre outras que o cristão poderia realizar. De fato, Ele orientava como gostaria que o cristão vivesse e manifestasse a sua fé.
O cristão é um instrumento de Deus no mundo! É o portador da luz e da Pessoa de Jesus! É por isso que o cristão faz a diferença onde quer que se encontre. Ele não possui luz própria, mas reflete a luz de Cristo ressuscitado. Esta é a causa de sua alegria e a razão de sua fé. Assim sendo, o mundo se torna muito pequeno: é o campo de plantação. É preciso semear a boa semente!
O testemunho de nossos missionários, de todos os tempos, deve interpelar nossa prática atual e nosso jeito de ser Igreja. Jesus se fez missionário do Pai. Na força do Espírito Santo, Ele enviou a Sua Igreja ao mundo. Desde então, milhares de pessoas tocadas pela fé tem deixado suas famílias, seus bens, e até suas culturas, para testemunhar Jesus além fronteiras. Foi assim que o Evangelho de Jesus chegou a estas terras de nossa Diocese. E, como uma graça especial, nosso primeiro Bispo era um frade missionário, que deixou sua Alemanha para dedicar-se ao Reino na região amazônica e no nordeste brasileiro.  O legado de D. Anselmo também deve ser recordado neste Mês Missionário para avaliarmos como anda a missionariedade em nossa Diocese.
O nosso novo Plano Diocesano de Pastoral apresenta como primeira Urgência na Ação Evangelizadora a questão da missionariedade. Pois, “a Igreja é, indispensavelmente, missionária! Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo” (nº 128). Desta forma ecoa entre nós a exortação dos Bispos em Aparecida, em 2007, de que a Igreja em nosso continente fique em “estado permanente de missão”. E também a reflexão dos Bispos do Brasil ao definirem as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora.
Uma Igreja aberta às missões, dentro e fora de suas fronteiras, é uma Igreja viva! É um canteiro propício onde podem germinar as sementes das vocações, inclusive as de especial consagração. Continuemos pedindo a Deus a graça de compreendermos nossa presença neste mundo. Que Ele nos cumule de senso de solidariedade, inquietude e desprendimento cristãos. E que o Reino cresça entre nós e aqui se estabeleça.
Ah! À propósito, Casamance continua integrada ao território senegalês. O Pe. Eduardo, aos poucos, recuperou a saúde e tornou-se um grande e amado missionário na terra dos povos balanta e balanta-máne, em Mansôa (região central da Guiné); enquanto eu fui para a Missão de Fátima, na periferia de Bissau, terra de muitos povos, especialmente dos pepéles. Para que todos proclamem “Jesus Cristo é o Senhor!”, a Boa Nova continua a ser anunciada lá naqueles rincões pela ação de abnegados missionários. E a Igreja na África suplica por mais missionários!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional





A
QUE A PALAVRA SE FAÇA VIDA 

Cada vez tem sido mais comum encontrarmos pessoas que dizem possuir seu próprio exemplar da Bíblia. Também é fácil constatar que o Livro Sagrado tem estado mais presente em nossos encontros, reuniões e eventos religiosos. Aumenta o número de pessoas que dizem ler diariamente alguns versículos ou capítulos da Bíblia.
Este quadro que estou desenhando visa apresentar alguns frutos do imenso trabalho de evangelização que a Igreja vem fazendo nos últimos anos. É alentador ver as lideranças portando suas Bíblias para as reuniões de suas pastorais, movimentos!... Também nós, os padres, temos nos empenhado em fundamentar nossas reflexões na Sagrada Escritura.
A publicação da Carta Encíclica Verbum Domini, de Bento XVI, há um ano (30/09/2010), nos leva a revivermos a experiência de fé do povo de Israel e a deixarmo-nos pautar pelos desígnios de Deus. A leitura da Palavra nos ajuda a iluminarmos nossa ação no mundo, de modo que nos tornemos “fermento na massa” (Lc 13,21), assumindo a nossa vocação de “ser sal e luz” (Mt 5,13s).
No dia-a-dia, em meu ministério presbiteral, percebo como “a Palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4,12). Apesar de começar a ser registrada em tijolinhos e pergaminhos lá por volta de 1100 anos antes de Cristo (data que costuma ser questionada), ela não é antiquada. A novidade permanente da Bíblia é que ela foi “escrita” sob a inspiração de Deus e, portanto, suas letras trazem o frescor do Espírito de Deus “que faz novas todas as coisas” (Ap 21,5)! É a fé que nos garante acolher a Revelação de Deus nas entrelinhas dos 73 livros bíblicos. Sem a fé, teríamos nas mãos apenas mais um livro de histórias antigas. Talvez poucos se interessariam em conhecer fatos sobre povos tão primitivos. Afinal de contas, talvez seja mais interessante e útil conhecermos os fatos históricos contemporâneos.
Surpreendo-me com os enormes esforços de antropólogos e arqueólogos e biblistas e outros cientistas em buscar novos conhecimentos para provar a veracidade da Bíblia ou negá-la absolutamente. Sem desmerecer a valiosa contribuição destas pesquisas e dos seus achados, precisamos ver a Bíblia como ela é: Palavra de Deus!
A Igreja nos ensina a vivenciarmos os textos bíblicos em nossa vida cotidiana, de modo que nela pautemos nossa maneira de viver. Por isso, precisamos imensamente acolher o convite de Deus na boca de seu servidor Moisés: “Shemá, Israel! Adonai elohenu!” – isto é: “Ouve, Israel! Deus é nosso único Senhor” (Dt 6,4)! “Ouvir”, portanto, é muito mais do que o mero ato de escutar. É ter uma atitude de “discípulo” para acolher o que o Senhor está falando. Somente assim poder-se-á proclamar a vontade d’Ele.
Esta abertura para o acolhimento da Palavra precisa ser mais bem compreendida por nós. Até mesmo em nossas liturgias, quando a Palavra é proclamada. Ao concluir a leitura, o leitor   diz: “Palavra do Senhor”; ao que a assembleia responde: “Graças a Deus”. Esta aclamação é muito significativa. Estamos dizendo: “obrigado, Senhor, por falares ao nosso coração através de nossos irmãos que viveram em tempos idos e por nos apontares caminhos de salvação para nós que vivemos nos dias de hoje”. Da mesma forma, quando ao final da proclamação do Evangelho, geralmente feito pelo sacerdote, o leitor diz: “Palavra da Salvação”; nós respondemos “Glória a Vós, Senhor!”. Com esta bonita e apostólica aclamação estamos expressando nosso carinho a Deus que se dignou falar conosco através de seu Filho Jesus (o Verbo de Deus!), manifestando nosso desejo de colocar em prática os ensinamentos recebidos e glorificando a grandeza do Amor de Deus que se comunica (cf. Hb 1,1s).
Sim, nosso Deus se comunica! Comunica-nos o seu Ser, os seus sentimentos, os seus propósitos. Tal comunicação é o que entendemos por VOCAÇÃO. Ele expressa a sua vontade para nossa vida. E, diante de tal chamado, cabe-nos discernir sua Palavra e buscar formas de respondê-la da melhor forma possível.
Bem, sabemos que para ser cristãos de verdade não basta possuirmos um ou mais  exemplares da Sagrada Escritura. Pois, “a letra em si é morta”, já nos ensinava o apóstolo Paulo (cujas Epístolas nos levam ao encontro de Deus). O que a vivifica é o Espírito Santo (2Cor 3,6). Este é um tempo favorável e urgentíssimo para colocarmos a Palavra nas mãos do nosso povo e, evidentemente, ajudá-la a chegar aos seus corações! Que o Senhor, Verbo Divino, não deixe faltar anunciadores da sua Palavra em nossa sociedade e faça de nós suas “cartas vivas” (2Cor 3,3)!
Pe. Auricélio - Setembro de 2011.


URGÊNCIA DA SENSIBILIDADE VOCACIONAL

"É preciso que cada Igreja local se torne cada vez mais sensível e atenta à pastoral vocacional”. Certamente você já leu esta frase em outro lugar ou aqui mesmo neste Jornal. Mas, gostaria que você tomasse consciência do que ela significa para você e para a sua comunidade de fé. Este pensamento do Papa Bento XVI consta na Mensagem que ele nos dirigiu por ocasião do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, no mês passado.

Esta ideia não é novidade no Magistério da Igreja, mas se brota do coração do nosso Papa (e bem sabemos o que representa o Papa para nós!), é porque o Espírito Santo deseja nos falar algo. Penso que Ele queira “cutucar” novamente o nosso coração de batizados para a realidade eclesial que inspirou esta exortação. Basta darmos uma olhadela na vida cristã de nossas comunidades e paróquias: como temos ajudado nossos irmãos a “ouvirem” e a “responderem” aos apelos de Deus? Temos conseguido ajudar Jesus a tocar os corações mais jovens para um enamoramento ou encantamento que os pudesse levar a uma consagração definitiva pelo Reino? Nosso testemunho de vida cristã revela que somos apaixonados por Jesus Cristo e pela sua Igreja?

O fato é que encontramos jovens que são capazes de fazer “loucuras” para assistir um show de seu artista predileto ou do time de futebol do seu coração. São capazes de passar horas se divertindo com os comandos dos jogos virtuais... Por que estes convites do mundo tanto lhes atrai, e nós, portadores do Cristo e Senhor, não conseguimos despertar-lhes a curiosidade por Jesus Cristo? Contudo, nós também já fomos jovens: o quê nos atraiu para Jesus? Quais fatores ou fatos nos levaram a tomar uma decisão de fé?

A verdadeira Pastoral Vocacional reflete sobre estas questões e busca caminhos para ajudar todas as pessoas a descobrirem sua vocação ou a renovarem o seu “sim” diariamente. Faz-se mister ajudar as pessoas a descobrirem que suas vidas não são meros dons para este mundo, para os anos de “desfrute” neste planeta. Mas que fazemos parte de um Plano maior, um Projeto de Amor de Deus para conosco: a salvação!

Então, nossa Igreja precisa ter SENSIBILIDADE para estas questões fundamentais. Acreditamos que quando um cristão se descobre amado e chamado por Deus para uma missão neste mundo,  ele é capaz e fazer as tais “loucuras” pela causa do Reino; até mesmo consagrar a sua vida para viver como Jesus no Sacerdócio (sendo padre) ou na vida religiosa. É capaz destas “loucuras” que levam pessoas a deixar suas terras para semearem o Reino em terras longínquas e culturas diversas. Que encorajam tantos leigos a viverem uma vida de enorme dedicação às pastorais e movimentos de Igreja, além dos compromissos familiares e profissionais.

Continuo pensando naquela frase do nosso Papa. Ele diz que “é preciso” que todas as organizações pastorais tenham uma preocupação “vocacional”. Isso significa algo para você? Você e seu grupo eclesial rezam pelas vocações? Vocês tem a coragem e a ousadia de propor que alguns jovens sejam padres ou religiosos/as? Como vocês reagem diante de alguém que manifesta desejo de viver uma vida consagrada? Sua paróquia possui uma Equipe Vocacional?

Desculpe-me fazer-lhe tantas perguntas assim. Mas é que, neste tempo em que nossa Diocese se prepara para aprovar o novo Plano Pastoral, com orientações para o nosso ser Igreja aqui neste chão, acolho aquelas palavras do Papa como a revelação de um lindo caminho que devemos percorrer. Sim, toda a nossa Diocese (que é a nossa Igreja Local) pode e precisa ser mais sensível à Pastoral Vocacional, tanto no despertar novas vocações, quando na tarefa de cultivá-las. Que tal planejarmos algumas iniciativas para Agosto, o Mês Vocacional? Vamos lá! Que o Espírito Santo nos impulsione para esta sensibilidade vocacional.

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional





HOMEM SALVA BEBÊ NO LIXEIRO - AMBOS PRECISAM DO SALVADOR

Todo mundo ficou surpreso quando, ao assistir um telejornal, pôde acompanhar a agonia de um catador de lixo que encontrou um bebê, ainda vivo, numa lixeira. Tudo foi filmado por uma câmera de segurança de certo edifício ali próximo.

O fato ocorrido em São Paulo mexeu com toda a sociedade. E eu fiquei perplexo. Acompanhei o homem levando um grande susto quando se deparou com o nenê, que chegou a dar um salto pra trás. Sem saber o que fazer, correu até uma escola ali perto, contou do seu achado. Logo duas senhoras vieram verificar o ocorrido.

Passados alguns dias, tudo resolvido: a criança passava bem, sua mãe biológica foi encontrada e responde por crime de abandono de indefeso, entre outros, a criança fora encaminhada para adoção... e a vida prosseguiu naquela metrópole brasileira.

Dias depois deste fato, vários noticiários de bebês abandonados pulularam os noticiários do país, embora nem sempre com finais felizes. Tudo continuou da mesma forma: a vida humana sempre mais desvalorizada.

Mas, e o tal herói da história, aquele catador de lixo? O que aconteceu com ele, o salvador do bebê? Bem, aqui temos o outro lado da moeda. Também ele estava precisando de “salvação”.

Ele tinha saído muito machucado de um casamento infeliz, cuja única alegria foi um filho que lhe era muito precioso e amado. O pai precisou sair pelo mundo, pois não suportava mais a sua tragédia pessoal: sem esposa, sem família, sem o filho... apenas consigo mesmo e com o vício das drogas.

Fugiu para a cidade grande, ilusão de tantos e tantos que buscam entre os prédios a tal vida melhor. Catava no lixo algo que pudesse transformar em dinheiro ou algo que lhe saciasse a fome. Mas, e a sua fome interior?

Ele foi o salvador daquela criança abandonada por uma mãe transtornada, também vítima de tantos outros abandonos na sua vida. Esta sucessão de dramas pessoais vai alimentando uma máquina da morte e arrastando nossa sociedade para uma realidade infernal. Quanto sofrimento, quanta dor!

Na verdade, ao meu ver, tanto o catador-salvador, quanto a criança-renascida precisam ser salvos!

E há um elemento essencial que não apareceu nesta história: há uma nítida distância de Deus nesta realidade. E quando o homem se afasta de Deus, ele perde a noção das coisas, o sentido do seu ser. Eles precisam de Deus!

Nossa sociedade brasileira precisa de Deus! E nós que acreditamos em Deus precisamos ser mais solidários e mais fiéis na vivência de nossa fé, para que o mundo conheça Jesus Cristo e se deixe transformar por Ele, “para que todos tenham vida... e vida em abundância”!

E, diariamente, os noticiários nos fazem ver que não dá para viver longe de Deus! Nesta história em que uma vida foi salva, encontramos o convite de Deus para “procurarmos por aí”, em todos os lugares, realidades que precisam de transformação!




UM CORAÇÃO APAIXONADO

Deus nos capacitou para o amor. De todos os dons que Ele nos deu, este é o mais precioso... mais que a própria vida, pois é o Amor que dá sentido à nossa existência. Quando S. João define Deus como AMOR, está nos revelando algo maravilhoso: que Ele é tudo o que necessitamos. “Meu Deus e meu Tudo!

Olhando para os relatos dos Evangelhos sobre a vida de Jesus, percebemos que suas ações eram permeadas de Amor. No seu relacionamento com o Pai era amoroso, obediente, filial, atento na escuta, dialogante e sem querer impor a sua vontade e a sua condição divina. No seu relacionamento com os discípulos sabia valorizar a humanidade de cada um, amando-os do jeito como eram, despido de preconceitos.

Sempre presente, mas não a ponto de sufocá-los ou impedi-los de serem independentes. Jesus não lhes impôs a sua missão, mas apresentou-lhes a proposta do seu Reino. Amou-os com amor sincero e edificante. Não os tratou como crianças, infantilizando-os. Mas, ao contrário, os educou para a maturidade humana e espiritual. A tal ponto que lhes confiou a missão de ser seus “porta-vozes” (“embaixadores”) no mundo inteiro.
A forma de Jesus se relacionar com as multidões e com cada pessoa do povo que lhe procurava é cheia de Amor. Preocupa-se se estão alimentados, percebe se estão doentes ou desanimados. Seu coração Lhe faz “tremer” e “chorar”, e “compadecer-se” ao ver o povo desorientado “como ovelhas sem pastor”.

Bem, ao contemplarmos a imagem do Sagrado Coração de Jesus, precisamos recordar o Homem que viveu para amar, para fazer o bem, para dar a sua vida por amor de nós.

Neste mês em que se renderão muitas homenagens ao Coração Sagrado, não nos esqueçamos de buscarmos ter um coração configurado com aquele Divino Coração. É por isso que eu gosto daquela jaculatória: “Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso”. Sim, é uma prece muito ousada, pois não somos deuses e tampouco podemos amar “como Ele”. No entanto, criados à imagem e semelhança de Deus, trazemos em nós a “herança” do amor.

Só o ser humano pode amar! Então, por que há tanto desamor, ódio, violência, vingança? Por que o ser humano continua “lobo” do outro ser humano? Talvez tenhamos nos afastado do sentido de nossa existência: o Amor! Quanto mais longe de Deus, mais distantes da felicidade estamos. Quanto menos buscamos o Coração de Deus, mais nos entregamos às paixões meramente humanas de nosso coração de carne. Precisamos voltar para Deus! Precisamos praticar mais o amor, com gestos e atitudes coerentes, testemunhando que somos filhos de Deus Amor e discípulos missionários para amar.

As recentes beatificações do Papa João Paulo II e da Ir. Dulce reacenderam em nós o desejo de querer viver mais fielmente o Evangelho. São duas pessoas que conhecemos e testemunhamos os seus gestos de amor. Santos entre nós! Isso me faz recordar o brado do Papa em Florianópolis, por ocasião da beatificação de outra santa do amor, Santa Paulina. Naquela ocasião (18/10/1991), todo o país ouviu: a Igreja no Brasil “precisa, hoje, mais do que nunca, de santos”!

Viver para amar é a nossa vocação comum. É o amor que abre as portas do céu! Portanto, ser cristão é amar muito a Jesus, deixar-se apaixonar por Ele e pelos que Ele amou.

“Ó doce Jesus que tanto nos amais, fazei que Vos amemos cada vez mais!”

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional







É HORA DE PROPOR AS VOCAÇÕES

Gosto de imaginar o que passa no coração do Papa, quando, da sua janela, lança um olhar sobre todo o planeta (a messe confiada à Igreja) e conversa com Jesus. O jeito como um pai e uma mãe olham sua família, é substancialmente particular e diverso um do outro, como a própria Psicologia Diferencial explica. O Papa, porém, precisa ter um olhar que seja masculino e feminino ao mesmo tempo: razão e paixão, bem estar e estar bem, energia e ternura...

É por isso que o Papa Bento, ao contemplar nossa Igreja no mundo, e conhecendo a realidade das Dioceses, nos vários continentes, mandou um recado muito especial para todos nós: é preciso «Propor as vocações na Igreja local». Este é o tema da sua Mensagem para o 48º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, a ser celebrado dia 15 de maio.

O Papa nos leva a perceber o jeito de Jesus fazer sua Pastoral Vocacional: Ele, primeiramente, dialoga com o Pai, reza, fala e escuta o Pai. Depois disso é que Ele sai a convidar os apóstolos. De fato, temos aqui uma boa indicação para nossas atividades de animação vocacional: promover mais e mais as orações pelas vocações.

Como bem frisou o nosso Bispo D. Wilson por ocasião de sua primeira visita a Tubarão, logo após sua nomeação como Pastor desta diocese, numa visita ao Seminário Nossa Senhora de Fátima: “É preciso que todos se sintam responsáveis pela formação e pela vida do Seminário. A melhor promoção vocacional é ajudar o povo de Deus a rezar pelas vocações. Cada cristão deve rezar diariamente pelas vocações e, especificamente, pedir mais padres para a Igreja”.

Conhecemos muitas e lindas experiências de promoção vocacional em nossas paróquias. E isto não pode parar, pois a messe continua imperiosa a exigir, urgentemente, mais operários. Tal oração, contudo, deve ser fruto de uma consciência maior: criar condições para que as pessoas possam ouvir a voz de Deus e acolher tal vocação em suas vidas.

É por isso que o Papa diz: cada comunidade cristã, cada fiel, deveria assumir, conscientemente, o compromisso de promover as vocações.... À propósito, achei bonita uma expressão que ouvi de alguém: “Vargem do Cedro talvez não seja mais a Capital Mundial das Vocações, mas se tornou a capital mundial dos que rezam pelas vocações”! Este não deveria ser também o ideal de cada paróquia, de cada comunidade?

Precisamos rezar, sim! Mas precisamos, também, nos comprometer em criar condições para que as vocações sejam despertadas no coração de nossas crianças, adolescentes e jovens! Daí a imprescindível tarefa de propor, de convidar, de “lançar a rede”, de desafiar! O Senhor quer valer-se de nossa mediação para que o seu convite (vocação) chegue aos corações.

Melhor ainda se pudermos colaborar com o Senhor de modo mais organizado. Como diz o Papa: "É preciso que cada Igreja local se torne cada vez mais sensível e atenta à pastoral vocacional”. Podemos dizer que a maioria das paróquias até tem alguma atividade de promoção vocacional, mas tal ação se perde em meio a tantas outras iniciativas de evangelização. Daí a necessidade de se ter, em cada paróquia, uma Equipe Vocacional formada por agentes de várias pastorais, interessados em promover e cultivar vocações para o Reino.

Por ocasião deste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, quero deixar uma saudação fraterna a todos os animadores vocacionais que caminham em comunhão com a PV-Diocesana. Toda a Igreja, através do Papa Bento, está rezando e esperando por nós. Vamos ajudar as pessoas a descobrirem qual a vontade de Deus para suas vidas e a responderem generosamente ao chamado. Então, da janela de sua residência, o Papa vislumbrará uma “primavera vocacional” em toda a Igreja: e o nosso outono será mais lindo!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional Diocesano







É TEMPO DE FORMAR UMA TSUNAMI DO AMOR

Não há quem não ficou estarrecido diante das inúmeras imagens que nos chegaram nesses dias do outro lado do planeta, isto é, do Japão. Sim, estou me referindo ao horrendo terremoto, seguido de uma onda marítima gigantesca, a tal tsunami. Esta palavra é mais uma daquelas que começaram a entrar em nosso vocabulário nestes últimos tempos.

Quase em tempo real, pudemos acompanhar a ação da onda gigante avançando contra o continente, deixando impotentes e enlutadas populações inteiras. Montanhas de lixo se formaram a partir dos destroços de casas, fábricas, carros... E ainda tem o alerta sobre a tal usina nuclear japonesa. Isso, sem falar na grande perda de vidas humanas e nas marcas indeléveis que ficarão na mente daqueles povos.

Enfim, toda esta recordação de fatos recentes é para levar-nos à outro tema: a nossa resposta vocacional diante da cruz de Cristo. Neste tempo quaresmal temos buscado cultivar um espírito mais solidário, mais caridoso, mais santo. A consciência sobre nossa responsabilidade em salvar o planeta “que geme como em dores de parto” (Rm 8,22), deve levar-nos a ações concretas que nos auxiliem a apontar para o “sepulcro vazio”.

Pelo batismo fomos chamados a testemunhar Jesus em todas as situações. E a vivência do Amor-ágape (amor-doação) é a nossa grande vocação. Solteiros ou casados, leigos ou ordenados, cabe a todos nós o empenho para responder positivamente a este chamado.
O Japão está de luto. Mas também está consternada toda a nossa sociedade diante dos insistentes atos de violência contra a natureza e contra o ser humano. Nosso descaso para com a vida tem gerado muita dor e muita morte. É a tal tsumani da morte e da destruição que avassala nossas famílias e nossas instituições sociais (como a família, a escola, a Igreja...). Ela avança poderosa e ávida por vidas contra nossos jovens, jogando-os na imundície das drogas e do narcisismo e da vida sem sentido.

O que pode barrar esta tsunami do mal? O que pode impedir que avance sobre nossa sociedade? É o Amor! Pois, “o amor é mais forte que a morte” (Ct 8,6); e “o amor jamais acabará” (1Cor 13,8). É urgente que nos esforcemos por formar uma tsunami do Amor, da Vida, do Bem! Pois, “o Amor tudo pode, tudo crê, tudo supera...” (1Cor 13). Esta boa onda precisa ser maior que aquela outra. Contudo, na confluência entre estas duas forças, o amor vencerá!... como a morte é vencida pela Vida que ressuscita!... como a sexta-feira da Paixão é superada pelo Domingo da Páscoa!

Cada um precisa fazer a sua parte! Os mistérios que celebraremos na Semana Santa devem nos animar à ações mais solidárias, mais comprometidas, mais cristãs! Não se pode aceitar que cristãos vivam sua fé de uma forma pálida, sem sabor, sem entusiasmo. Pois é fruto da fé do cristão valorizar os dons recebidos e partilhados, viver a vocação de ser “sal e luz”, e não perder a esperança nunca.

Nosso mundo está carente de testemunhos vivos! A Igreja não cessa de nos oferecer modelos contemporâneos de santidade, como a nossa Albertina, a Beata Madre Tereza de Calcutá, o Papa João Paulo II (que será beatificado nestes dias), a Ir. Dulce e a Beata Chiara Luce (que morreu aos dezoito anos testemunhando Jesus em meio a doença terrível).

Quis apenas citar alguns, mas o elenco de modelos pode ser bem maior; e até bem perto de nós devem existir pessoas que ajudam o mundo a ser melhor. Estas pessoas ajudam a formar a tal tsunami do Amor!

Vamos participar deste trabalho? Vamos acolher o chamado que o Senhor está a nos fazer? O mundo precisa do nosso SIM, de nossa resposta positiva! Não há mais tempo para dizer “não quero, não posso, não tenho tempo”! Nada de desculpas!

Na força do Cristo ressuscitado, que irrompeu do túmulo na Páscoa, sigamos em frente espargindo o Amor. Então estaremos não somente solidários com aqueles irmãos que sofrem no Japão, mas seremos para eles luzeiros onde descobrirão a pessoa de Jesus Cristo!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional (Abril/2011)





O QUÊ ESTÁ ESCRITO NO CÉU?

Vez por outra alguém me pergunta o por quê do título do meu novo CD “Está escrito no Céu”. Confesso que eu acho esta pergunta um pouco engraçada, mas é muito pertinente. Desconverso para deixar bem claro: “não tem nada a ver com o nome daquela novela global ‘Escrito nas estrelas’”, que tomou nossas casas em 2010. Tem a ver com uma descoberta na Palavra de Deus – daquelas que você faz quando, apesar de saber o texto de cor, lá um dia, por graça de Deus, lhe ocorre uma iluminação a partir daquele mesmo texto e você passa a compreendê-lo melhor!

Pois é! O tal versículo tão comum de Lucas 10,20 “Alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no Céu”, certo dia, me pareceu tão especial, tão profundo, tão revelador, tão consolador... e caiu-me aos ouvidos como música! Não deu outra: tornou-se canção e está aí registrada no meu 7º CD, como tema do trabalho. Achei que ao tema caberia um ritmo bem pra cima; por isso escolhi o rock popular para cantar as coisas que o Espírito suscitou no meu coração.

CONTEXTO BÍBLICO

“Está escrito nos Céus” leva-nos a refletir um pouco mais. O quê, mesmo, está escrito lá? Quem escreveu? Com quê e em quê escreveu? E quando o fez? Bem, sem querer fazer exegese, o grande catequista Lucas e sua comunidade tinham que enfrentar os inúmeros desafios da evangelização, num ambiente totalmente hostil ao anúncio de Jesus, em meio à perseguição e descrença.

O mundo romano vivia uma grande insegurança por causa de movimentações sociais de libertação em suas subjugadas colônias. Os grupos de cristãos, ao escolherem o caminho de Jesus, eram perseguidos por questionar o Estado teocrático, em que o imperador acreditava ser o próprio deus.

A memória de tais palavras de Jesus enchia de alegria e esperança os corações dos cristãos. E os encorajava nas lutas que empreendiam para testemunhar Jesus. Eles bem sabiam de outro ensinamento do Mestre: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

MOTIVAÇÃO VOCACIONAL

O tal versículo 20, do décimo capítulo de Lucas, encontra-se no contexto vocacional em que Jesus escolheu 72 discípulos, depois de ter nomeado os Doze apóstolos. Ele os enviou “para toda cidade e lugar onde Ele mesmo haveria de ir” (v.1). E exortou-os a pedirem ao Dono da colheita mais operários para a messe, pois “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (v.2). O que vão anunciar: “o Reino de Deus está próximo de vocês” (v.9).

Os discípulos “voltaram alegres, dizendo: ‘Senhor, até os demônios obedecem a nós por causa do teu nome’” (v.17). Então Jesus lhes ensina que, mais que expulsar os espíritos, a grande alegria é ter os nomes escritos no céu.

Sim, eu entendo que é o próprio Deus o autor de tudo. No Livro da Vida, do qual nos fala o Apocalipse, nossa vida está registrada e, no fim de tudo, haveremos de apresentá-la a Deus. É Ele o autor, mas nos dá a liberdade de “co-escrevermos” nossa trajetória de vida a cada dia.

Ele registra nossa história com o seu Amor, que é imensurável e comprovado. O tal livro de registros é o próprio coração de Deus. A tinta de amor misericordioso perpassa todas as letras em vista da nossa salvação. Eis o motivo de tal alegria: o Senhor já nos predestinou para o Céu!

A CAPA DO CD

Eu e meus colaboradores Silveira (fotógrafo) e Rafael (designer gráfico) concebemos a capa do CD a partir destas considerações: o Espírito Santo (pombinhos) faz recordar as palavras de Jesus; o Filho é representado pelo sacerdote, o homem de Deus e “outro Cristo” em atitude de instrumento de Deus, escrevendo; homem este que, por sua vez, representa toda a humanidade, em sua pobre realidade.

E onde está o Pai? O Pai não tem rosto: Ele é representado pela criação, ou seja, as nuvens: é no Seu coração que são registrados nossos nomes.

Nós não conseguimos ler “no papel” estes nomes, porque não se trata de um conjunto de letras, como nossos registros: nome, sobre-nome e números.
O que está registrado no Céu são nossas histórias pessoais, nossas lutas e conquistas; quedas e superações, alegrias e tristezas, realizações e omissões...

Ele nos conhece profundamente, mais que nós mesmos. É a nossa vida que está no coração de Deus! Cantamos isso naquela antiga canção: “Meu coração é para Ti, Senhor”. Como o Céu é infinito, também o é o coração de Deus!

SOMOS POESIA DE AMOR

Por que Deus se preocupa conosco? “O que é o homem, senão um grão de areia”, reza o salmista. Mas, para Ele, nós somos uma poesia de amor, elevados à condição suprema de “filhos amados de Deus”.

É por isso que São Paulo já dizia: “somos mais que vencedores”. E a nossa vitória é participação na Vitória de Jesus; pois não temos mérito algum em nossa Salvação. É tudo Graça de Deus!

Eu não esperava ser tão longo na resposta àquela pergunta inicial, mas posso afirmar, na fé, que Deus não se cansa de escrever. Ele não quer deixar nenhum de nós fora de sua “listagem” de Salvação. Daí a importância de seguirmos nossa missão cristã no mundo, testemunhando Jesus e ajudando as pessoas a acolherem o seu Evangelho.

Enfim, se acreditamos que nossos nomes estão escritos no Céu, então também devemos acolher o convite de Jesus: “vós sereis minhas testemunhas”.

Pe. Auricélio – 06/03/2011




ORDENAÇÕES PRESBITERAIS --
GRATIDÃO E COMPROMISSO

O mês dedicado a São José, o pai adotivo de Jesus e patrono dos trabalhadores, neste ano, não será como nos anos anteriores na paróquia de Oficinas, em Tubarão. O nobre descendente da casta do grande rei Davi é venerado na citada paróquia como padroeiro e muito festejado, sobretudo, no mês de junho. Este ano, porém, um fato histórico marcará a vida daquela comunidade: a Ordenação Presbiteral de Joel Marcolino Bittencourt. A solenidade, que acontecerá no dia 19, justamente no dia do santo, enche de expectativa a comunidade, a congrega numa expressão de gratidão a Deus por mais este dom e a compromete a continuar testemunhando a sua fé.

Certamente que Joel não é o único filho de Oficinas que subirá ao altar como sacerdote; outros jovens da comunidade já receberam esta vocação: Pe. Henrique Bittencourt, Pe. Marciel Catâneo, Pe. Rogério Ramos, Pe. Rogério Esmeraldino, Pe. Avelino de Sousa... e há mais três seminaristas a caminho.

O esforço e testemunho dos padres e religiosas que lá têm realizado a sua missão, bem como das inúmeras e abnegadas lideranças, proporciona um clima favorável para o surgimento de vocações específicas. Um destaque especial merece ser dado ao SAV (Serviço de Animação Vocacional) local e ao Movimento Serra, pela contínua preocupação com a questão vocacional. E como haveria de esquecer do ícone de fé e ardor pelas vocações específicas, que edificou toda a comunidade com o seu exemplo de santidade? Refiro-me ao senhor José Zamparetti, o “seu Bépe”, ilustre e saudoso membro do Serra.

Outra paróquia que está em festa é a de Pedras Grandes. A Paróquia São Gabriel Arcanjo e Nossa Senhora da Salete está ansiosa por ver um filho seu subir os degraus do altar, assumindo a vocação presbiteral. O Diácono Márcio Martins será ordenado presbítero no dia 26 deste mês na linda matriz da cidade. Pelo que consta, será a primeira ordenação presbiteral da localidade, embora a igreja tenha sido elevada a sede paroquial em 1930. Na verdade, já houve um padre daquela localidade, o Pe. Albertino Bonetti, que veio a desistir do ministério anos depois.

O município é marcado pela herança italiana que, a partir de Azambuja, se espalhou pela região. E é daí que vem o novo sacerdote.

Igualmente, merece ser reconhecido o empenho pastoral de tantos padres, religiosas e lideranças que têm edificado uma Igreja viva naquela paróquia. Merecem destaque especial a Associação de Santa Terezinha e a Equipe Vocacional (esta ainda dando os primeiros passos), preocupadas com o despertar e o cultivo de vocações específicas.

No Documento final da Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (Aparecida, 2007), no nº 198, lê-se: “O presbítero, à imagem do Bom Pastor, é chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades”.

E no parágrafo seguinte: “O Povo de Deus sente a necessidade de presbíteros-discípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; ... movidos pela caridade pastoral; ... servidores da vida ... e promotores da cultura da solidariedade”.

Buscando assumir em suas vidas esta orientação de nossa Igreja, os Diáconos Joel e Márcio escolheram seus lemas de vida sacerdotal. Atrás deste tradicional gesto, está o desejo de traçarem um projeto de vida, moldando-se em Jesus Cristo. O Joel buscou inspiração em São João, no Livro do Apocalipse 3,20: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.

Já o Márcio, por sua vez, mirou no testemunho de São Paulo registrado na Segunda Carta aos Coríntios 12,9: “Basta-me a tua Graça!”.

E nós, povo de Deus, estaremos rezando e torcendo para que estes dois grandes presentes de Deus à nossa Igreja realizem a sua missão cheios de santa unção. Assim, o Reino crescerá em todas as dimensões, onde quer que eles venham a trabalhar; seja na igreja-mãe da Diocese, a Catedral de Tubarão, ou na Cidade das Colinas, em Orleans, ou em qualquer lugar deste mundo.

Que este abençoado mês de Março seja um incentivo a mais para nos comprometermos com o despertar e o cultivo de muitas vocações para a Igreja e para o Reino.

Parabéns aos novos presbíteros, às suas paróquias natais e à toda a Igreja diocesana!

Pe. Auricélio Costa – 20/02/2011




POR QUE CANTAR MÚSICAS RELIGIOSAS?
COMEÇANDO A REFLEXÃO

O ser humano, em todas as sociedades, sempre tem usado a música como forma de expressão. A música é, de fato, uma forma de comunicação quer seja nos tempos de dor, quer em tempos de alegria; às vezes em tempos de guerra; outras vezes é maneira de celebrar a paz.

Até nas sociedades mais primitivas, a música hora expressa o mergulho nos mistérios do divino e do sagrado; hora cadencia os relacionamentos meramente humanos e sociais. Há música que nos ajuda a relaxar e a dormir. Há música que bem pode nos despertar pela manhã.

O ser humano gosta de cantar. Assim ele se expressa, se revela, sai de si. A música contagia, atrai, congrega e pode tocar o coração. Ela pode transformar vidas! Por isso é que há certas músicas que marcam determinados momentos da vida. Então, é humano cantar! Assim sendo, visto que o ser humano é religioso, a música pode ajudá-lo no processo de ascese. E está é uma das funções da música. Ela expressa a fé!

Em nossa Igreja valorizamos muito a música litúrgica nas celebrações. A Palavra de Deus nos incentiva a usarmos da música para nos aproximarmos de Deus. Podemos lembrar do clássico apaixonado pela música de louvor, o grande cantor e compositor de salmos, o Rei Davi. Eu também gosto de imaginar Jesus e seus apóstolos cantando os salmos, nas inúmeras andanças que empreenderam por seu país.

Com o passar do tempo, bebendo de tantas tradições culturais, a música foi passando por várias fases no seio da Igreja. Mais recentemente, após o Concílio Vaticano II (há 45 anos!), a música gregoriana, sem ser excluída, cedeu lugar a diversas outras formas de expressões musicais, com formas e ritmos diversos, conforme as civilizações e costumes dos povos.


A MÚSICA RELIGIOSA NA DIOCESE DE TUBARÃO

Em nossa Diocese, a música litúrgica tem muitos matizes, conforme as realidades paroquiais. Temos aí os Corais, os Grupos de Cantores, os Grupos Musicais e os Ministérios de Música.

Contudo, nem toda música que brota no seio da Igreja é litúrgica, ou seja: aquela que ajuda a realizar determinada função litúrgica. Há também a MÚSICA RELIGIOSA. Os protestantes, evangélicos e pentecostais a chamam de música GOSPEL.

Seria interessante uma profunda pesquisa de resgate histórico da música religiosa em nossa Diocese. Eu gostaria de recordar alguns aspectos que acho relevantes.

Alguns marcos mais primitivos podem ser lembrados: os muitos livros de cantos que nossa Diocese editou para auxiliar o povo nas celebrações. Há também o livro “Canções da Terra”, iniciativa dos seminaristas de Teologia de nossa Diocese, na década de 80. E os muitos Encontros de Ensaios de Cantos promovidos por todas as nossas paróquias.

Certamente teremos que recordar o LP gravado pelo Coral Santa Cecília, da Catedral de Tubarão, nos anos 60, sob a regência do Pe. Bertilo Schmidt.

E o disco Compacto onde, na voz do Pe. Elias Della Giustina, está gravado o Hino do Sínodo de Pastoral da Diocese. Este sacerdote, que tem formação em Música Sacra em Roma, é um abnegado pela música na Igreja, tendo promovido uma dezena de Encontros de Cantos Pastorais da Igreja em Santa Catarina, e que muito frutificou também em nossa Diocese. Coube a ele a finalização do Livro de cantos Celebrai, de nossa Diocese, revisando e ampliando o rico legado deixado pelo saudoso Pe. Silvestre Philippe.

Há também que se relembrar os dois LP’s gravados pelos seminaristas do Seminário Nossa Senhora de Fátima, de Tubarão, sob a regência do Pe. Antônio Herdt. Este mesmo sacerdote dirigiu a gravação de LP’s e CD’s com o Coral Santo Antônio dos Anjos, de Laguna, contendo músicas religiosas e populares.


A NOVA MÚSICA RELIGIOSA

No início da década de 90, com o advento da nova música religiosa trazida pelo Pe. Marcelo Rossi (e os demais padres que o seguiram), algo novo também chegou à nossa Diocese. Surgiu a figura dos “padres midiáticos” (com forte presença na mídia, especialmente a televisiva) e também se popularizaram os shows religiosos e missas-show por toda parte.

Destaque-se aqui o pioneirismo do Pe. Édison de Souza Müller. Foi ele o primeiro sacerdote de nossa Diocese a gravar um CD, o “Canção – Amizade de Deus”, pela Moinho Produções, em 1994, com canções religiosas inéditas. Com o passar dos anos, ele editou mais alguns CD’s. Isso motivou imenso o surgimento de outros cantores religiosos e até de Ministérios de Música.

Na época, quase ao mesmo tempo, o Pe. Frei Rinaldo Stecanela de Oliveira, da Ordem dos Servos de Maria - servita, de Turvo (hoje na pertence à Diocese de Criciúma) também lançou o seu primeiro CD chamado “Inspirando-me constantemente em Maria, Mãe e Serva do Senhor”, pela JCA Discos.

Nacionalmente, o clima favoreceu a que mais compositores e músicos católicos pudessem mostrar seus trabalhos. Surgiram gravadoras no ambiente católico (como a Paulinas e a CODIMUC), aumentou o profissionalismo das produções e cresceu o filão comercial deste gênero musical.

A televisão, especialmente através das emissoras católicas (Rede Vida, Canção Nova e Século XXI) e a popularização da Internet deram uma imensa contribuição na divulgação da música católica. E, o mais importante, cresceu a compreensão de que a música religiosa é um precioso instrumento de evangelização.

Assim, em 2003, em Imaruí, foi lançado o meu (Pe. Auricélio Costa) primeiro CD. Recebeu o nome de “Canção de Paz”, produzido pelo músico Giovane de Souza Soratto, da Studio Mega. Depois se seguiriam outros seis CD’s com músicas religiosas inéditas.

Lançando um olhar para a nossa realidade mais contemporânea, com muita alegria, podemos registrar o trabalho musical de tantos artistas de nossa Igreja diocesana. É só contemplar o cenário da música religiosa de nossa Igreja Particular para constatar tamanha riqueza.

Entre os pioneiros estão o JORAC e o Almir Martins, ambos de Imbituba. Nos idos de 1999 o Grupo Musical Jovens Reunidos no Amor de Cristo, membros do Grupo de Jovens homônimo, gravou o CD “Canções da Fé”, com canções do Leco e do Almir. O trabalho foi feito pelo Chapolin, no Estúdio Gelason. O Almir Martins é açorianista, escritor, poeta, cantor e compositor. Entre seus CD’s destaca-se o “Terno de Reis”, com o Grupo Estrela Guia. 

Mais tarde, alguns elementos deixaram o JORAC, que continuou o seu caminho,  e formaram o Grupo TONS DE DEUS. 

Temos, também, os dois CD’s do Grupo Luz, da Paróquia de Oficinas, Tubarão, coordenado pela incansável músico católico Sandrinho Barreiros. O primeiro chama-se “Com Jesus no Coração”.

Há também o Movimento de Irmãos da Catedral que, valorizando as composições de seu membro Rui César das Neves, gravou dois CD’s: “Perdoai!” e “Caminha do meu lado, Senhor”. Em 2010, este músico organizou o Grupo Acordes para Cristo, com colegas de profissão, dentro da empresa Tractebel, e lançou o CD ecumênico “Diante de Ti”.

Também a compositora Glória Vianna, de Oficinas, Tubarão, com músicas que já alcançam a esfera nacional, gravou três CD’s: “Mãe Aparecida” (2007), “Estou à porta e bato” (2008) e “O Senhor é minha Luz” (2010).

O Ministério Sol Maior, da Paróquia de Morrotes, de Tubarão, registrou sua participação nas Missas presididas pelo pároco, Pe. Sérgio Jeremias de Souza, em 2005. Nasceu o CD “Novena da Medalha Milagrosa – ao vivo”.

A Banda Raffinare, de Morrotes, Tubarão, sob a coordenação do Sandro Raffinare, também registrou sua mensagem religiosa no CD “A força da fé”, em 2007.

Músico e cantor católico, Irineu Calegari, de Gravatal, tem se debicado à animação de encontros e celebrações. Também ele tem registrado o seu trabalho nos CD’s “Irineu Calegari” (2007), “O Semeador” (2008) e “Toca-me, Senhor!” (2010).

Em Gravatal há o MEJ – Movimento Eucarístico Jovem que é formado por muitos músicos, especialmente o Evandro Rodrigues. O Grupo gravou três CD’s, sendo um experimental (em 2005), “O Chamado” (2007) e “Adorando o Sagrado Coração” (2008).

Há que se registrar a bonita iniciativa da Paróquia Santa Otília, de Orleans. Em 2009, para comemorar o primeiro centenário da Paróquia, o Pe. Lino Brunel e sua equipe de lideranças (dentre os quais se destaca o músico Lismael Ferrareiz) promoveu um Festival de Músicas Inéditas sobre a efeméride e sobre a vida da padroeira. Muitas pessoas participaram; muitos novos talentos foram despertados e, deste movimento cultural, surgiu o CD “Celebrando o Centenário – Hino do Centenário e Canções de Santa Otília”.

Assim como havia feito o Coral Santo Antônio dos Anjos, de Laguna, na década de 90, a Associação Coral Raízes, de Imaruí, gravou um CD com canções natalinas, em 2008. Sob a regência do maestro Danilo Corrêa, o CD recebeu o título de “Feliz Natal!”.

Em 2010 as Paróquias de Gravatal e Rio Bonito brindaram nossa Diocese com o lançamento de mais dois CD’s com músicas inéditas. Um foi o CD do Grupo Musical Unidos em Cristo, de Pouso Alto. O outro foi o CD “Paterno Coração”, da dupla Édson e Olga com o Grupo Mãe Peregrina, do Jardim Andréia.

Há muitos anos ministrando a música católica, o Ministério Seguidores de Cristo, da Paróquia São José, de Oficinas, Tubarão, já fez muitos shows de evangelização por todo o Estado. Neste ano de 2010, um de seus membros, o Thiago Aguiar, gravou o CD solo “És meu tudo”.


CANTANDO A DEVOÇÃO À ALBERTINA

Em torno da devoção à Beata Albertina Berkenbrock, a mártir de Imaruí, surgiram várias manifestações devocionais também na parte musical. O primeiro registro foi feito pelo Pe. Auricélio, em 2003, no CD “Canção de Paz”, a música “Hino da Serva Albertina”, de autoria de Doraci Corrêa, compositora de Imaruí.

Mais tarde, por ocasião da Beatificação da Bem-aventurada, a Diocese de Tubarão organizou um Concurso para escolher o Hino da Beatificação. Foi eleita uma canção dos parceiros Ruy Daniani e Gilberto Silva Júnior, sobre uma letra do Pe. Sérgio Jeremias de Souza. O Pe. Édison registrou o Hino no CD “Bem-aventurada Albertina – Músicas selecionadas”, em 2007.

Também o Pe. Auricélio gravou várias composições em homenagem à Albertina nos CD’s “Tu me cativaste, Senhor” (de 2008, no qual seus pais narram a saga da Beata) e “Está escrito no Céu” (2010).

Uma singela iniciativa, mas fruto de muita devoção, foi o CD “Bem-aventurada Albertina Berkenbrock”, do cantador e compositor popular Pedro Mota (cujo nome oficial é Pedro Ribeiro), gravado em 2008.

Como forma de agradecer uma graça alcançada de Deus por intercessão de Albertina, o cantor Marcinho Moraes, em 2010, gravou um CD com canções de Margarida M. Warmiling, de São Martinho. Ele mora em São Luis, terra da Beata, e escolheu para título do seu CD “Gratidão à Bem-aventurada Albertina – músicas selecionadas”.


A HISTÓRIA PRECISA CONTINUAR

Certamente que existem muitos outros cantores, compositores e músicos que produzem boa música religiosa em nossa diocese. Portanto, não obstante inúmeras dificuldades e resistências, inclusive de lideranças e agentes de pastoral, a música religiosa é um grande instrumento de evangelização.

Evidentemente que o ministério não se reduz a cantar e a tocar para o Senhor. Mas não há como negar a importância da canção voltada para o bem da comunidade de fé e para o louvor de Deus!

Pe. Auricélio Costa - 2010



QUAL O PREÇO DE UMA CANÇÃO?

Alguém pode pagar por um tino de inspiração? Quanto se pode pagar pelo fruto colhido da experiência vivida e pela criatividade artístico-musical?

A música tem um significado especial e particular para cada pessoa. Nossos passos são marcados e cadenciados pelo ritmo das canções. Por isso, há músicas que despertam sentimentos profundos em nós; às vezes, até sentimentos opostos.

Quanto vale uma música que embalou um romance? Ou aquela canção que selou uma amizade ou que marcou um determinado período da vida? Quanto dinheiro seria necessário para pagar aquela canção que lhe ajudou a fazer uma experiência de fé, de presença de Deus, de superação, de conquista e de libertação?

O processo de composição exige sensibilidade, arte, tempo e técnica. O processo de gravação de uma música também é muito exigente e depende de muitos fatores: profissionais (arranjadores, músicos, técnicos de som...), estúdio bem equipado, instrumentos musicais, condições de saúde...

E quando a música fica pronta, como se diz, e já pode ser colocada num CD para divulgação, ela vale muito mais do que todo o custo da sua produção. É que toda música encerra em seus acordes e vozes uma história (ou histórias!): emoções, vivências... e não há como pagar por isto. E não há como cobrar também!

Por tudo isto, acho injusto o comércio de músicas. E o valor cobrado ao se adquirir um CD, nunca pagará o seu real valor. Receber algum valor em dinheiro pelo CD, contudo, é uma necessidade que se impõe ao artista (ou ministro de música), para que ele recupere o que investiu e se estimule a continuar seu trabalho.

Um exemplo particular: o meu último CD “Está escrito no Céu” (de 2010) está sendo comercializado a um preço médio de R$ 10,00 (pouco mais de 3 dólares). Ele contém 11 faixas; ou seja, cada canção custa menos R$ 1,00! E ainda há quem ache demais pagar este preço por um CD. Eu muitas vezes já ouvi: “CD de músicas religiosas deveria ser dado de graça!”.

Estamos desbravando esta forma de evangelizar pela música. Realmente, temos que valorizar (e muito!) nossas expressões artístico-culturais, nossos artistas e compositores de música religiosa! Muita gente já está atenta a este desenvolvimento e tem buscado dar o seu apoio.

Parabéns aos músicos católicos que não esmorecem no seu ministério! Parabéns aos divulgadores, vendedores e apoiadores que acreditam nesta boa música religiosa!

Pe. Auricélio Costa



UM SIM QUE TRANSFORMA O MUNDO

Tenho participado de muitas reuniões para avaliar a caminhada realizada ao longo deste ano. É, parece que este ano já terminou mesmo! Olhar o passado recente só tem sentido porque se projeta um olhar para o futuro, uma visão prospectiva. Há um adágio popular que pontua: “Quem gosta de passado é museu”.

No entanto, um olhar acurado para os passos dados pode nos levar a muito mais que atitudes saudosistas. Pode levar-nos à gratidão, à celebração da vida que se viveu e das empresas realizadas. Pode, também, levar-nos a perceber quanta gente esteve ao nosso lado e quanta ajuda delas recebemos. Notamos quanto dependemos de bons relacionamentos e como conseguimos enfrentar certos obstáculos que foram aparecendo na jornada.

Olhar para trás, necessariamente, não significa desligar-se da realidade presente e nem tampouco daquela que havermos de viver. Há muitos acertos hoje que se devem a aprendizados (às vezes, dolorosos!) adquiridos ao longo da caminhada.

Sim, final de ano é mesmo tempo de REVISÃO. Mas também é tempo de olhar para o futuro que já se descortina em nossas agendas, cronogramas, calendários, planejamentos, compromissos pré-estabelecidos... tempo de PLANEJAR.

Ufa! Nem começou o novo ano e já estamos querendo pautar as atividades para cada mês, nortear o caminho, delimitar territórios!... Já encontrei um irmão que, ao olhar a previsão de tarefas para o ano vindouro, sentenciou: “não vou conseguir dar conta de tudo”!

Bem, entre lançar um olhar para o passado e um olhar para o futuro, convido você a mirar para uma certa gruta em Belém, lá onde José e Maria acolhem o seu filho Jesus. É dali, na contemplação, que emanam todas as luzes que justificam nossa caminhada até aqui e nos impulsionam para os caminhos que ainda teremos de construir.

Aquela sagrada criança, protegida pelos seus veneráveis pais, é FRUTO DE UM SIM MAIOR. O SIM de um Deus Pai que, preocupado com nossa realidade e com saudades de nós, enviou o seu Divino tesouro. É o SIM de um Filho obediente e decido a sempre agradar seu Onipotente Pai. É o SIM de uma jovem do interior, possuidora de um coração com inigualável capacidade para amar e acolher, que aceitou a missão de ser a Mãe do Redentor, assumindo todas as consequências, fazendo-se escrava do Amor. E há, ainda, o SIM de um moço, José, que assumiu a paternidade adotiva do filho de sua noiva, confiando na promessa de Deus.

A festa do Natal recorda-nos, a cada ano, que não estamos sozinhos na caminhada. Ele, o Emanuel, caminha ao nosso lado, pois veio morar conosco. No encontro com Jesus, na esperança, toda a humanidade se renova, a história ganha sentido e nossos caminhos se iluminam!

Não somos tarefeiros e nem cumpridores de agenda! Como cristãos, discípulos missionários de Jesus, temos muito que fazer em nossa curta existência. Assim como nos acompanhou até agora, temos certeza de Ele que estará ao nosso lado no ano que está chegando. Que o nosso SIM seja frutuoso cada dia! Afinal de contas, também somos frutos do SIM!

FELIZ NATAL DE TODO DIA!

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional




ARAUTOS DA ESPERANÇA
Nos primeiros dias de novembro, tradicionalmente, celebramos o Dia de Finados, isto é, a memória daqueles cuja caminhada neste mundo chegou ao fim. Também por linda tradição de nossa Igreja, concluiremos este mês com a solenidade de Cristo, Rei e Senhor do Universo!

Tomar consciência de que a nossa caminhada neste muno é finita e passageira, pode, num primeiro momento, aterrorizar-nos e levar-nos a um certo conformismo: “não há o por quê da gente se esforçar, pois todos haverão de morrer mesmo!”. Este modo de pensar pode induzir-nos a uma estagnação prática, não desenvolvendo nenhuma esperança com relação ao futuro, e vivendo apenas o momento presente, como se tudo acabasse com a morte deste corpo.

A vida assim, não carece de ideais. Vive-se para comer, gozar as oportunidades hedonistas e aguardar a morte chegar. Contudo, como naquela parábola contada por Jesus, Deus poderá nos dizer “Loucos, hoje mesmo pedirei contas de suas almas” (cf Lc 12,20). Pois a nossa vida é um dom precioso de Deus que é eterno. E que, ao fazer-nos à Sua imagem e semelhança, semeou no interior do nosso ser a semente da imortalidade.

Por isso, cremos que não fomos feitos para o cemitério, para o caos, para o fim. Somos “cidadãos do Céu”, destinados à vida eterna. É lá que o Senhor nos espera, com braços abertos, para dizer-nos: “Vinde, benditos de meu Pai!”... “vinde ocupar o lugar preparado para vós desde toda a eternidade” (cf Mc 10,40 e Jo 14,2).

Hoje, de tantas maneiras, e sempre mais acentuado, percebemos o homem tornando-se escravo do tempo, da máquina, da informática, das novas pesquisas e conhecimentos... E o homem não se encontra ainda realizado e satisfeito com os passos que dá. Parece haver um vazio em seu coração, em sua vida. Aqui gostaria de citar a palavras do Papa Bento XVI em recente Carta aos Seminaristas.

Por ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal, escreveu: “Sempre que o homem deixa de ter a noção de Deus, a vida torna-se vazia; tudo é insuficiente. Depois o homem busca refúgio na alienação ou na violência, ameaça esta que recai cada vez mais sobre a própria juventude. Deus vive; criou cada um de nós e, por conseguinte, conhece a todos.”

Para escapar da passividade e de suas maléficas parceiras, o nosso Papa nos convida a uma maior intimidade com Deus. Afinal de contas, servimos a um Deus que está vivo e que deseja caminhar conosco. Ele deseja que tenhamos “vida, e vida em abundância” (Jo 10,10).

A festa de Finados é apenas uma recordação de que fomos criados para a vida. E, já aqui neste mundo terreno, podemos fazer a experiência de uma vida plena. É o próprio Papa quem, novamente, nos instrui: “(Deus) É tão grande que tem tempo para as nossas coisas mais insignificantes: ‘Até os cabelos da vossa cabeça estão contados’”.

A celebração da vida culmina, liturgicamente, com a festa de Cristo Rei e Senhor. Encerrar-se-á um Ano litúrgico e se iniciará, por assim dizer, um novo período. E nem precisaremos cantar “Adeus ano velho, feliz ano novo”, porque, na Igreja, através do ciclo litúrgico, experimentamos e vivenciamos a nossa dimensão de eternidade. Pois a grande celebração da vida acontecerá quando nós mergulharmos no Coração do Pai, no Céu. Então, as promessas de Jesus se realizarão plenamente.

SOMOS ARAUTOS DA ESPERANÇA! Que o Senhor, a cada dia, nos confirme na ESPERANÇA. E nos ajude a ouvirmos o CHAMADO que nos faz. Respondendo à nossa VOCAÇÃO seremos verdadeiros discípulos missionários do Reino, a serviço do Rei Jesus.

Venha você também se unir a nós nesta tarefa, pois, como escreveu o Papa naquela Carta: “Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros.”

Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional






DEFINIDO PROJETO GRÁFICO 
PARA NOVO CD DO PE. AURICÉLIO

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Após muitos estudos, ficou definido o projeto gráfico para o CD “Está escrito no céu”, que será lança em dezembro deste ano. O trabalho fotográfico foi realizado pelo Adilson Silveira, da Silveira Produções, que é fotógrafo renomado na cidade de Tubarão.

Na foto principal o Pe. Auricélio segura um caneta bico de pena, toda em ouro, que pertenceu ao saudoso Pe. Itamar Luis da Costa (cf. livro “Imaruí do Senhor dos Passos”, de Pe. Auricélio) e, atualmente, sob os cuidados do Pe. Raimundo Ghizoni.

O trabalho de designer gráfico é assinado pelo competente Rafael Medeiros, da Gráfica e Editora Humaitá, de Tubarão, que já produziu os últimos cinco CD’s do Pe. Auricélio.

O CD virá dentro de uma bela caixa de papel, onde se encontrará o encarte com letras das canções, mensagens, ficha técnica, contatos e fotos dos cantores que participam do trabalho. É só esperar para conferir.

Tudo está sendo feito com muito carinho, pois o conteúdo é muito valioso: exaltar as coisas de Deus!





ANDERSON GRAVA DUAS CANÇÕES PARA NOVO CD


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No último 01 de outubro, segunda-feira, em Tubarão, o seminarista Anderson gravou sua participação no novo CD do Pe. Auricélio. As canções são suas composições e foram cantadas pelo autor e pelo Pe. Auricélio.

“Viver é cantar” fala sobre a alegria de andar na presença de Deus e enfrentar os obstáculos da vida com altivez e confiança no Senhor. “Nossa Mãe” é uma homenagem à Nossa Senhora, em cujas mãos maternais carrega todos os discípulos de Jesus. Os arranjos são assinados pelo tecladista Giovane Soratto.

O processo de gravação foi tranquilo, até porque o Anderson tem um grande tino artístico e já participou de três outros CD’s do Pe. Auricélio. Sempre muito afinado e com um timbre de voz que agrada aos ouvidos, o Anderson tem participado de festivais locais e nacionais.

Na sua caminhada vocacional, atualmente, está cursando o 2º ano da faculdade de Filosofia, na Faculdade São Luís, em Brusque; e reside no SEFISC – Seminário Filosófico de Santa Catarina.

As pessoas que apreciam música católica poderão esperar muitas coisas boas deste jovem talentoso. No futuro, se Deus quiser, ele poderá ter o seu próprio álbum com suas belas composições.







GRUPO TONS DE DEUS GRAVA 
PARTICIPAÇÃO NO NOVO CD DO PE. AURICÉLIO

Foi com muita alegria que recebi o SIM dos membros do Ministério de Música Tons de Deus, de Imbituba; digo, de Morro do Mirim. Sim, o Ministério tem suas raízes fundadas na comunidade de fé em Morro do Mirim.

E, dali, estende seus sarmentos à toda a paróquia, diocese, Estado e alcança o sul da América Latina. É verdade! Pois o Grupo é membro da Liga Cultural Artística Alto Urugay, divulgando sua fé e seus valores culturais luso-açorianos, presentes no litoral sul catarinense.

Há muitos anos que venho caminhando com o Ministério Tons de Deus. Desde o início de meu ministério presbiteral, ainda quando era pároco em Imaruí. Antes, o nome do grupo era JORAC – Jovens Reunidos Amigos de Cristo.

Chegaram a gravar um CD de músicas religiosas! E outros de música folclórica açoriana, alavancados pelo açorianista Almir Martins, filho querido de Imbituba. É fácil encontra-los animando celebrações eucarísticas, festas paroquiais, encontros de pastoral, e até o ENJOCRI, em nível diocesano!

O Grupo sofreu várias modificações em sua formação. O amadurecimento humano e espiritual do Vává e da Ana, pilares do Ministério, os levou ao altar, assumindo o Matrimônio. Assim foi gerado o Mateus, hoje um adolescente de doze anos, integrante do Ministério. Mas estes dois grandes músicos geraram também muitos outros filhos na fé e no gosto pela música religiosa. Tanto que, o hoje Tons de Deus, reúne jovens que se dedicam para o ministério da música católica à serviço da liturgia e da comunidade.

Reconhecendo este trabalho tão importante é que convidei o TONS DE DEUS para participar de meu 7º CD. O convite foi feito ao final de uma missa em Imbituba, na comunidade de Aguada.

Essa é uma prática que tenho procurado manter: convidar cantores católicos e Ministérios de Música para participarem de meus CD’s. Com isso busco valorizá-los em seu ministério, e abrir portas para que eles continuem mais animados neste tão importante serviço pastoral.

Foi assim que eu tenho trazido o seminarista Anderson Costa (Paróquia de Nova Brasília). E ele fará a sua participação em meus CD’s pela quarta vez!

Também convidei o casal de cantores católicos Gilberto e Gisele Medeiros Costa, do Ministério de Música (Paróquia de Passagem, Tubarão). Eles gravaram comigo no CD “Tu me cativaste, Senhor”, onde também participam meus pais Sebastião e Osmarina.

Já tive a alegria de ter a participação do Ministério Vozes do Espírito, de Jaguaruna, em meu CD “Celebrar a Vida”. Em meu CD “Tu és minha Luz” tive a felicidade de poder cantar com meus irmãos Aurélio, Renato e Rainério, e com suas respectivas esposas Rosângela, Fátima e Adriana. E ainda gravei música de Rafael Wiggers Redivo (Tubarão).

Pois bem, agora chegou a vez do Tons de Deus. E eles fizeram bonito! Neste dia 26 de outubro fomos ao Estúdio Mega gravar duas canções que comporão o novo álbum “Está escrito no céu”: “Eterna Palavra” e “Me chamastes, ó Senhor”.

O clima de gravação foi tranquilo, porque o Giovani Soratto é mestre na arte de bem acolher e fazer os músicos e cantores se sentirem á vontade no estúdio. Entre uma explicação daqui, outra dali, todos nos sentimos muito bem à vontade, fizemos os ajustes necessários nas canções, trocamos idéias e sugestões, e as gravamos.

Iniciamos os trabalhos às 15h com um momento de oração no estúdio, juntamente com o Giovani, e só fomos conclui-lo por volta das 17:40h!

Além do Vavá e da Aninha, também participou da gravação a Josy, irmã da Aninha. Tudo correu muito bem e o resultado nos deixou a todos muito satisfeitos.

Eu só tenho que agradecer muito a estes jovens cantores pela plena dedicação na realização deste meu trabalho que, agora, pertence a eles também.

Muito obrigado! Deus lhes abençoe!





NA BÍBLIA, O SENTIDO DE TODA VOCAÇÃO


Acho por demais significativo que tenhamos, ao longo do ano, um mês temático exclusivamente para proclamar o nosso amor à Palavra de Deus. E, então, me vem à mente a imagem de D. Orlando Brandes ensinando, persuadindo e repetidas vezes clamando: “Bíblia na mão, no coração e pés para a missão.”
E mais: “O discípulo é aquele que escuta, compreende, vive e anuncia a Palavra de Deus. Todavia, o primeiro passo a ser dado, pastoralmente falando, é colocar a Bíblia nas mãos do povo. Este é o início da mobilização bíblica a ser implantada. Bíblia na mão, no coração e pés para a missão. Sem a Palavra, a missão enfraquece e desaparece. O ardor e a perseverança na missão vêm da Palavra. O anjo do Apocalipse tem o livro aberto em suas mãos (Ap 10,8)”.
Setembro é considerado o Mês da Bíblia por causa do aniversário de morte de São Jerônimo, dia 30 de setembro, autor da tradução latina da Bíblia, no Século IV, e grande estudioso e apaixonado pela Sagrada Escritura.
Sabemos que a Palavra é alimento. O próprio Deus disse ao profeta Ezequiel: “ ‘Filho do homem, alimenta teu ventre e sacia as entranhas com este rolo que te dou’. Eu o comi, e era doce como mel em minha boca.” (Ez 3,3). Temos andado um pouco “desnutridos” deste alimento substancial e divinal. Talvez por isso temos tido tantas dificuldades em nosso processo de evangelização e, até mesmo, em nossa vida pessoal. Temos recebido todo tipo de alimento, das mais variadas fontes, com os matizes mais atraentes e criativos. Contudo, quando não buscamos o alimento verdadeiro que Deus nos oferece, a Sua Palavra, ficamos enfraquecidos e não conseguimos dar um sentido à nossa missão cristã.
A ausência da Bíblia em nossa missão empalidece e descaracteriza as nossas palavras, o nosso testemunho e o nosso labor. Precisamos voltar a sentar aos pés de Jesus, como Maria de Betânia (Lc 10,38-42), ou como as multidões que rodeavam Jesus naquela ocasião do Sermão da Montanha (Mt 5,1-12). Precisamos acolher a Palavra com ouvidos de discípulos! Discípulos que se tornam missionários para levar a Boa Nova recebida, transpondo todas as fronteiras.
A vocação de tantas personagens bíblicas brota da ESCUTA da Palavra de Deus. Também hoje Deus continua a falar, a chamar, a vocacionar! Mas, quem O escuta? A Leitura Orante da Bíblia é um convite a acolhermos a voz de Deus em nossos corações.
O mês da Bíblia é uma provocação ao nosso coração! Sim, uma PRO-VOCAÇÃO! Afinal de contas, qual é o espaço que a Palavra de Deus tem em nossas vidas? Como está o canteiro do nosso coração para que as sementes da Palavra de Deus possam germinar?
Por fim, recordo um pensamento de D. Orlando na Romaria Estadual de Sacerdotes (Fraiburgo, 21/04/10). “É com a Bíblia nas mãos e no coração que a gente vai tirar o ranço sacramentalizador. É a hora de um catolicismo bíblico! Uma Igreja bíblica! Um sacerdócio bíblico! Não um mero biblicismo, mas é ter a Bíblia como um pilar da nossa Igreja. Certos problemas que enfrentamos é pura falta de leitura orante da Bíblia.”
Pe. Auricélio Costa – Promotor Vocacional

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3 Comentários

  1. Parabéns.Amei tudo....ajudando muito na minha missão,como catequista.Abraços.

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  2. Parabéns.Amei tudo....ajudando muito na minha missão,como catequista.Abraços.

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  3. Muito obrigado, Marcilda! Deus a abençoe sempre!

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