Geralmente não
gostamos de ter que esperar algo ou alguém em filas... às vezes, filas
intermináveis! Pois bem, depois de termos pego filas em três lojas e
repartições públicas, meu pai me disse: “o segredo de vir à cidade é ter
paciência... é só saber esperar a sua vez... ela vai chegar... tudo se resolve
com calma!” Na altura dos seus 80 e tantos anos de vida, ele aprendeu que não
se pode fazer tudo de uma vez e que o tempo precisa ser respeitado.
Neste mundo de
tanta correria, vivemos presos a horários e compromissos e agendas... Através
das mídias sociais (especialmente de aplicativos como Facebook e WhatsApp)
encurtamos distâncias e nos conectamos com muita gente ao mesmo tempo. Mesmo
assim, reclamamos por não conseguirmos fazer tudo o que gostaríamos ou
precisaríamos realizar numa jornada de 24 horas. O dia ficou curto! Vivemos
angustiados!
Os trabalhos se
acumulam sobre nossas mesas e estantes... Quantas tarefas de ontem ficaram para
amanhã? E aquela visita a um parente doente? E aquela questão que precisa ser
resolvida no Banco? E a conversa com aquela certa pessoa? E aquele momento em
família? E aquele passeio? ... O tempo não dá tréguas! Como naquela propaganda
de anos passados: “A vida passa... O tempo voa...!”
É necessário ter
bom senso para saber qual o momento em que é preciso esperar e qual a ocasião
certa em que se deve agir. Irresponsavelmente, há quem deixe tudo para “quando
der” ou se conformando resignadamente ao “Deus dará”. E, geralmente, esse tempo
nunca chega.
Acomodar-se
diante dos compromissos não revela que alguém tem sabedoria e tampouco
paciência. Pode ser, sim, a evidência de indiferença, imaturidade ou irresponsabilidade.
Não é a toa que em pleno Golpe de 64 Geraldo Vandré cantava em coro com a nação
brasileira: “Vem, vamos embora que esperar não é saber.... quem sabe faz a hora
não espera acontecer!”. Perceber a hora de agir é sabedoria, é virtude. Não dá
pra ficar parado, esperando tudo acontecer como que “num passe de mágica”. A
vida não é questão de “abra-cadabra” ou “pirlim-pimpim”.
É preciso
recordar aquela passagem da Ascensão de Jesus ao Céu diante de cerca de
quinhentas testemunhas. Foi lá na Galiléia. Enquanto Jesus subia todos ficaram
absortos, olhando para as alturas, impactados com a manifestação da glória de
Deus (teofania). Então, dois anjos apareceram e lhes chamaram a atenção:
“Homens, o que estais fazendo aí parados olhando para o Céu? Este Jesus que
vistes subir, virá...” (Atos 1,10-11). “Ide,
pois, anunciar o Evangelho a toda a humanidade” (Mc 16,15).
Uma “Igreja em
saída” é a grande moção que o Espírito Santo tem suscitado no coração do Papa e
de tantos cristãos. Por muito tempo a dimensão missionária ficou relegada aos
típicos missionários de Congregações Religiosas. Enquanto eles faziam a Igreja
crescer lá longe, noutros continentes, nós nos habituamos a viver nossa
religião no dia a dia, buscando os Sacramentos, fazendo uma ou outra
desobriga... enquanto o mundo foi se tornando pagão bem debaixo do nosso nariz.
Muitas de nossas festas cristãs perderam o viço da fé; muitos dos nossos
sermões se converteram em palestras motivacionais; vários organismos
eclesiásticos se transformaram em ONGs ou grupos de autoajuda. E o tal
“Anúncio”?
Nesta época de
grandes transformações, já não dá mais para cruzar os braços ou erguer as mãos
para os Céus à espera de milagres. Eles existem, sim; e acontecem no seio de
nossa Igreja.
Todavia, já não
é mais tempo de ficarmos parados. A “espera” precisa ser fruto da
“esperança”!... Isto é: uma esperança que já é uma certeza de que se alcançará
a meta almejada! Esta é a esperança que queremos! É preciso colocarmo-nos à
servido da vida, em dinâmica para o bem! Somos trabalhadores da Messe de
Cristo! Operários que sabem que é Deus Quem abençoa e opera para que a obra
chegue a bom termo (Sl 127,1; 138,8).
“Anunciai
Jesus!” é o convite e ordenamento que o Espírito Santo dá à toda a Igreja! Não
dá mais para esperar! É a nossa vez! Nossa ação missionária é a melhor forma de
colaborarmos para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Nosso
Brasil precisa da Igreja! O mundo precisa da Igreja! Mesmo que muitas pessoas e
instituições não o saibam e até se riem de nós... Mas, eles precisam do
Evangelho do qual somos portadores e despenseiros/administradores (1Pd 4,10)!
Visto que não
queremos ser “tarefeiros” do Reino, mas discípulos missionários de Cristo, é
preciso que nos deixemos mover pelo Espírito Santo. Ouçamos Sua voz através da
Sagrada Escritura, do Magistério da Igreja e dos desafios sociais. Aprendamos a
ser pacientes, mas sem ser acomodados; a termos esperança, mas sem deixar de
firmar os pés no chão da vida; a aguardarmos a vitória, mas sem abdicarmos da
“cruz-nossa” de cada dia.
Não nos
esqueçamos de cultivar a ternura; porém, sem deixarmos de ser verdadeiros.
Tampouco nos esqueçamos de ser alegres, misericordiosos e pacíficos, como é
próprio dos filhos de Deus! Em nossa ação missionária, apesar da urgência da tarefa
que nos foi confiada, não nos descuidemos de contemplar o pôr-do-sol e nem de
escutar o barulho da chuva no telhado e nem de sorrir pras pessoas ao nosso
derredor. Pois cremos que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus”
(Rm 8,26-28).
De fato, meu pai
tem razão: a nossa vida exige muita paciência... e sabedoria para se esperar a
hora certa... e perceber os “sinais dos tempos”. Pois bem, essa é a hora! É a
nossa vez! Somos uma Igreja em missão!... Em Santas Missões Populares!
Pe. Auricélio
Costa
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