Eles vão
entrando curiosos e silenciosos no Santuário. Persignam-se com água benta,
andam pelos corredores da nave central, ajoelham-se, alguns rezam por uns
instantes no banco... e dirigem-se para o altar onde está a imagem de
Albertina. São os romeiros e devotos... atraídos pelo martírio da jovenzinha de
Imaruí... impressionados com a coragem da “santinha” e com a maldade do seu
algoz.
Os mártires
são tesouros de nossa Igreja! Em todos os tempos a Igreja tem colhido seus
mártires. Mas nunca como nos últimos séculos! Nem no tempo das “grandes
perseguições” romanas! Os mártires mexem com nossa coerência religiosa, com
nossa fé batismal, às vezes tão inexpressiva e estéril.
Como não se
deixar comover pelo exemplo dos apóstolos Pedro, Paulo, Bartolomeu...? E a
tenacidade dos jovens Sebastião, Cecília e Luzia? Soa e ecoa em nossos ouvidos
o exemplo dos mártires dos primórdios do Cristianismo sendo entregues ao fogo,
às caldeiras de água ou óleo ferventes, pregados em cruzes, decapitados,
esfolados vivos, esquartejados, lançados às feras nas arenas esportivas... S.
Policarpo, Bispo de Esmirna, condenado por Marco Aurélio no ano 155, antes de
ser queimado vivo proclamou: “Sede
bendito para sempre, ó Senhor; que o Vosso Nome adorável seja glorificado por
todos os séculos”.
O quê pensar
dos mártires do último milênio, desbravando continentes e os mais diversos
perigos!... enfrentando poderosos e perseguições e doenças!... Abandonando seus
torrões-natais e familiares eles empreenderam viagens para lugares
desconhecidos... e lá amaram outros povos, absorveram outras culturas... e
permaneceram fiéis ao ideal que moveu seus corações: Jesus Cristo e o Seu
Reino!
Nos nossos
dias continuamos a receber notícias de homens e mulheres capazes de sofrer toda
perseguição e até a morte por causa de Jesus! A Igreja continua a colher essas
belas flores no jardim da humanidade. E não há como ficar insensível diante do
testemunho de agentes de pastoral, leigos ou consagrados, que desbravam as
terras de missões (como a Amazônia e países da Ásia e da África) e as
periferias existenciais de nossas cidades, com suas favelas e edifícios e a
complexidade de nosso mundo hodierno!
Inflamam amor
nos corações das pessoas, promovem a defesa da vida e semeiam a justiça e a
paz! Estão ali por inteiro e dispostos a derramar seu sangue pela Causa do
Reino, isto é, por Jesus Cristo!
É Ele o
grande referencial, o sentido mais profundo da entrega da vida. Pois Ele mesmo,
sendo Deus, fez-se oblação, vítima pascal, oferecendo-se no altar da última
Ceia, bem como no altar do Gólgota. A vida toda de Jesus foi uma entrega ao Pai
por causa do Reino. Foi um martírio que culminou com a entrega no Getsêmani e,
por fim, no Calvário. Ele foi abandonado pelos
amigos, caluniado, flagelado, coroado de espinhos, humilhado, crucificado e
morto entre dois ladrões. É o “servo sofredor” de Isaías (Is 52,13-53,12).
Eis Seu segredo: o Amor! Amou plenamente o Pai: “Seja feita a tua vontade!”
(Mt 6,10). E amou plenamente a humanidade: “Ninguém tem maior amor do que
aquele que dá a vida por seus amigos! E eu chamo vocês de amigos!” (Jo 15,13).
Há pessoas
dispostas a morrerem pelas mais diversas “causas”. O mártir cristão tem seu
coração voltado para a Vida: quer viver, promove a vida, crê na Vida eterna e,
por tudo isso, compreende que a sua morte pode gerar mais vida. Foi esse o
argumento do escritor cristão do século II, Tertuliano, na
sua missiva ao mesmo imperador Marco Aurélio, que não adiantava perseguir e
matar mais cristãos porque “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.
Certamente
não é em vão que estão sendo derramados rios de sangue de cristãos nas
perseguições religiosas, especialmente de extremistas muçulmanos. Como se
esquecer do recente martírio dos 21 cristãos coptas egípcios decapitados vivos
na Líbia, em 2015, pelo Estado Islâmico, diante das câmeras de TV?!
O testemunho
dos mártires de todos os tempos deve nos animar a vivermos nossa fé batismal
cada vez mais intensamente. Neste ano dos Leigos e Leigas temos a oportunidade
de nos valorizarmos, cultivarmos nossa pertença eclesial, nos aproximarmos mais
de Jesus e dos irmãos! Através da Igreja (que somos nós!) Cristo continua se
imolando e se martirizando nos altares de nossa existência. Como São Paulo, podemos dizer: “Completo na minha carne o que falta a paixão de Cristo, no
seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24).
Diariamente o Santuário de Albertina recebe
romeiros da região e de outros municípios. O testemunho daquela que disse:
“Não, é pecado! Deus não quer” continua tocando corações e aproximando as
pessoas do Mestre Jesus; Ele que deu a Sua própria vida a fim de alcançar para
nós a Vida verdadeira! Aleluia!
Pe. Auricélio Costa –
Reitor do Santuário de Albertina
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