Eu conheci um rei! Quando eu tive a oportunidade de
viver junto dos povos de Guiné-Bissau, na África Ocidental, acompanhado do
agora Pe. José Eduardo, conheci tribos que tinham reis. Aliás, o continente
africano possui muitos reinos! Mais chamou nossa atenção foi o rei dos
Balantas. Ele andava à pé, trajando seu manto e gorro vermelhos, que lhe
conferiam certa autoridade sagrada. Era reverenciado por onde passava. Estava
sempre acompanhado por um séquito de homens e mulheres que o serviam. Além de
um cajado, trazia sempre um banquinho de madeira tosca, sobre o qual
descansava. Sendo rei, uma “pessoa sagrada”, ele não podia sentar-se em
qualquer lugar.
O rei dos Balantas me recorda outro Rei. Sim, Jesus!
Ele nasceu da sacra e nobre estirpe do venerável rei Davi, de Belém. E foi
adorado por “reis” do Oriente após o seu nascimento, mesmo que tivesse nascido
numa gruta que servia de abrigo para os animais, e que tenha tido por bercinho
uma manjedoura. A sua encarnação deixou estremecidos e inseguros outros reis e
governadores da Terra, como Herodes Antipas e, mais tarde, o Imperador de Roma!
Iniciando sua missão, ao apresentar os valores do seu
Reino, deixou claro que o seu Reino não podia compactuar com os poderes deste
mundo. E não se esquivou de proclamar: “o Reino de Deus está no meio de vós”
(Lc 17,20-21)! E, justamente por ter se revelado Rei, foi considerado um perigo
para Israel e inimigo de Roma. A sua morte de cruz, portanto, não deveria ser
tomada como martírio, mas como uma punição Àquele que se rebelou contra os
poderes constituídos e “sagrados”. A placa que Herodes mandou fixar no alto do
madeiro explica tudo: “Eis o Rei dos Judeus”.
Ao contemplarmos Jesus andando no meio do povo, pelas
estradas empoeiradas e perigosas de Israel, vestido ao modo da sua gente,
preocupando-se com os mais pobres e esquecidos da sociedade, superando tabus e
barreiras sócio-religiosas para estar com as pessoas, ocupando-se com a
formação de seus discípulos, “gastando tempo” com as crianças e jovens, doentes
e pecadores... não há como não questionarmos: que Rei é este?
As disputas eleitorais deste ano, praticamente, já
terminaram. Os tronos de poder já têm seus ocupantes, isto é, os “novos
reizinhos”. Segundo o nosso regime democrático, eles foram investidos de poder
sagrado pelo sufrágio universal das urnas. Todavia, será que o mundo ainda
precisa de reis? Ou de homens e mulheres comprometidos com o bem comum, com a
promoção da dignidade humana?!
Nossa “missão de reinar” é estar à serviço do Rei
Jesus! Ele será sempre o modelo para nós: quando se esvazia de si mesmo para
ser um de nós; quando escolhe pessoas simples do povo e lhes revela o quanto
são amadas pelo Pai; quando se preocupa com as multidões que vivem famintas;
quando abraça as crianças para ensinar seus discípulos a serem mais simples;
quando ensina a partilha do pão; quando lava os pés dos apóstolos e lhes pede
que façam o mesmo; quando lhes confia a missão universal e lhes garante que os
acompanhará!
Os reis deste mundo nos desiludem. O Rei dos Reis,
Jesus Cristo, nos revelou que o verdadeiro poder é servir aos outros,
especialmente aos mais necessitados. Por isso, na força do Batismo recebido,
todo cristão é vocacionado a ser “rei” também. Sim, é sua missão (múnus) administrar, orientar e ajudar na
construção do Reino de Deus. Certamente que não vai sentar-se em tronos de ouro
e de poder, como os atuais “donos” do mundo. Nem precisará sentar-se em
banquinhos de tronco de árvore, como o rei dos Balantas. O Reino de Jesus é
Amor e Justiça! A missão do cristão é amar!
Pe.
Auricélio Costa – Promotor Vocacional
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