“E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós!” (Jo 1,14). O mundo carece de testemunhas coerentes da fé
cristã. Há uma fome de sinceridade no tocante ao modo como se anuncia e como se
vive a fé.
Ainda estamos tocados pela
recente visita do Papa Francisco ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude. Além de desejar ver (e tocar!) o Papa, as multidões queriam ouvi-lo.
Ávida por escutar uma palavra que lhes tocasse o coração, que lhes apresentasse
um norte existencial, a platéia constituída por milhões de pessoas, queria ouvir o Pontífice.
Neste mundo tão barulhento e
repleto de vozes a falar e a dar razões disso e daquilo, as pessoas queriam
alimentar-se com as palavras do Papa! É de se admirar a forma como as pessoas
reagiam: “o Papa fala a nossa língua!”, mesmo quando ele usava o seu idioma
materno, o espanhol. Percebe-se aqui que há um outro nível para “ouvir” e também
para “falar”. Isto me faz lembrar aquela máxima de Jesus: “Quem tiver ouvidos
para ouvir, ouça” (Mt 13,9). Eu ousaria parafraseá-Lo: “O pior surdo é o que
não quer ouvir!”.
Não basta que a palavra seja
lançada. Ela precisa ser acompanhada de convicção, de prática. A palavra
precisa ser reflexo de uma vivência interior. Parece-me que era isso o que as
pessoas viam em Francisco. Seus ensinamentos iam muito além de meras
argumentações e formulações teológicas; estavam impregnadas até às entranhas
pelos gestos do Papa. Gestos, silêncio, posturas, esforços, presença, olhares,
acenos... como falou este
Papa!
Neste mês a Igreja reflete
sobre o valor da Palavra de Deus em nossa vida. É o Mês da Bíblia! Como temos
acolhido esta Palavra em nossa caminhada pessoal e comunitária? Ela tem gerado
vida em nós? Como temos transmitido a Palavra de Deus nos vários ambientes onde
vivemos?
A cada dia que passa, a Palavra
de Deus está mais ao nosso alcance: em forma de livro (brochura), de vídeo, de
música... em todas as mídias! Há uma série de programas televisivos, nas
emissoras de rádio e na internet que transmitem a Palavra de Deus. Mas isso
tudo é muito pouco se a Palavra não for acompanhada de testemunho.
Os cristãos se alimentam da
Eucaristia e da Palavra. E quando a gente acolhe a Palavra no coração,
inevitavelmente ela se transformará em vida, em gestos fecundos!... Ela
iluminará a vida da gente e daqueles que estiverem ao nosso derredor.
Jesus é o grande Comunicador do
Pai! Ele, o único Verbo-Palavra do Pai, “se fez Homem e veio habitar entre nós”!
Suas palavras eram acompanhadas de gestos coerentes com o que fora ensinado...
“Faziam arder o coração” (Lc 24,32). Todos ficavam admirados diante de Jesus,
até mesmo seus inimigos: “ninguém falou como este Homem!” (Jo 7,46).
Quando mais de um milhão de
brasileiros saíram às ruas para manifestar sua insatisfação quanto aos rumos do
nosso país, em síntese, estavam denunciando a incongruência entre o discurso e
a prática dos nossos mandatários. Nós, pessoas de fé, precisamos refletir sobre
o nosso testemunho cristão. Para o discípulo missionário não basta somente
professar a fé com palavras. É preciso comprometimento; é necessário adesão até
o mais íntimo do ser ao projeto de Jesus!
“Que arda como brasa tua
Palavra. Nos renove esta chama que a boca proclama!” (cf Is 6,6-7).
Pe.
Auricélio Costa – Promotor Vocacional
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