D. JOÃO FRANCISCO – SERMÃO DA SOLEDADE EM TUBARÃO



29 de março de 2013. Eis a mensagem de nosso Bispo D. João Francisco no final da Procissão de Sexta-feira Santa em Tubarão (SC). Estando a praça da Catedral, bem como o seu interior e os arredores tomados pelos fieis, assim se expressou o prelado.

O ASSUNTO AQUI É "VIDA"
Irmãos e irmãs, estou para completar 34 anos da Ordenação Sacerdotal, mas esta é a primeira vez que tenho uma assembléia tão numerosa e disposta a me ouvir. Muito obrigado! Eu quero lhes falar mais da vida do que da morte do Senhor Jesus. Recordamos hoje as palavras de Jesus “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. De fato, “Ele veio para o que era seu, mas os seus O rejeitaram”.

A celebração de fé que estamos fazendo nesta noite é continuidade daquela outra que fizemos hoje à tarde. Lá rezávamos por todos os sofredores do mundo. E continuamos a rezar durante a procissão. Percebi que neste gesto não houve diferença entre nós. Caminhamos juntos até aqui, mas a nossa grande caminhada ainda não terminou: estamos caminhando para a luz que emana do Cristo Ressuscitado!

O TESTEMUNHO DE MARIA
Estamos diante destas duas impressionantes imagens: a Senhora das Dores e o Senhor Morto. Olhemos para Maria. Sua perseverança e sua fé fascinam e atraem. O que faz esta mulher ser tão grande e tão forte? Maria é exemplo de pessoa perfeitamente harmonizada com os planos de Deus. Ela sabe que participa da missão do filho. Maria não é uma coitadinha, ingênua, impotente, digna de pena e dó. Pelo contrário: ela é uma gigante da fé, a Senhora da Piedade! Quanto temos que prender de sua experiência, sabedoria e testemunho!

A PROPOSTA DE JESUS
Irmãos e irmãs, sejam todos muito bem vindos e bem vindas aqui nesta noite! Com que grande amor o bom Deus nos reuniu para que, por alguns instantes, neste momento tão particular do sagrado tríduo e diante da morte de Jesus e da certeza de Sua ressurreição, voltemos nossos pensamentos para alguns aspectos dos mais importantes de nossa vida. Assim é a nossa provisoriedade neste mundo diabólico, de “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, como diz o livro de Eclesiastes. O sentido da vida e nossa missão neste mundo, a morte e a ressurreição de Jesus, a páscoa, a fé em Cristo e a nossa esperança de vida eterna, a vida cristã... é como o fermento de um mundo novo.

Jesus deixou esta tarefa como se fosse algo indispensável para poder viver. “Meu alimento é poder fazer a vontade de meu Pai”. Ele passou pelos caminhos da Palestina fazendo o bem e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus é amor e que não exclui ninguém, nem mesmo os pecadores. Ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos... não devem ser marginalizados, pois não são amaldiçoados por Deus.

Ensinou que os pobres e os excluídos são os preferidos de Deus por que têm o coração mais disponível para acolher o Reino. E avisou aos ricos, aos poderosos e instalados, que o egoísmo, o orgulho, a autosuficiência e o fechamento só podem produzir a morte. O choque foi inevitável. O que Jesus ensinava e praticava era uma afronta ao egoísmo, à má vontade, ao poder que dominava o mundo. Não faltou que se sentisse denunciado por Jesus e, por isso, incomodado, em especial os que representavam as autoridades.

Como renunciar aos esquemas de poder, da influência, do domínio, da inveja? Não havia disposição alguma para arriscar a experimentar a grande novidade que Jesus propunha. Por isso Jesus foi preso, julgado, condenado e pregado na cruz como malfeitor criminoso.

A MORTE DO SENHOR GERA VIDA
A morte de Jesus está no caminho de quem anuncia e dá testemunho do Reino. É o resultado do conflito que se estabeleceu devido às tensões, resistências que a proposta de vida segundo o Evangelho provocou entre os que dominavam o mundo. A morte de Jesus também é o ponto mais alto de Sua vida. É ali que Ele se encontra no cume do Seu poder de Messias. É ali, porque marcado com o carimbo do sangue, que ganha valor e verdade tudo aquilo que Jesus pregou com palavras e com atitudes: o amor, o dom total e o serviço.

Por isso, não estamos aqui como se estivéssemos vindo a um velório, lamentando a morte ou um acontecimento trágico de alguém muito importante. Nós não entendemos a vida como se fosse nada mais do que ‘um vale de lágrimas’. Nós andamos pela cidade de cabeça erguida e estamos aqui para bradar a todos que nos queiram ouvir que a vida é um caminho de esperança e que, por isso, de conquista do mundo; porque, quem tem esperança conquista o mundo!

Na cruz de Jesus e pelo caminho de Sua morte, em direção à ressurreição vemos aparecer o homem novo! O homem e a mulher que amam radicalmente e que fazem de sua vida um dom para todos. Porque amam, assumem como missão a luta contra o pecado, contra todas as causas geradoras de medo, injustiça, sofrimento, exploração e morte.

A IGREJA É A CASA DOS JOVENS
Assim, em Jesus Cristo morto na cruz está como uma semente do dinamismo do mundo novo!... o dinamismo do Reino! “Se o grão de trigo não morrer, fica só; mas se morrer, produzirá muitos frutos”. É para uma vida cristã assim de sentimento autêntico de Jesus de Nazaré que a Campanha da Fraternidade está chamando os jovens. É Jesus morto e ressuscitado que diz: “Vem e segue-me!” Levantam-se e deixam tudo o que as prende, aquelas pessoas que acreditam, que sonham, que estão dispostas a dar a vida pela mesma causa que animava Jesus. Onde estão os nossos jovens desta noite? Por favor, levantem a mão (muitas mãos se ergueram)! Vamos cantar o estribilho da Campanha da Fraternidade (canto). Jovens, vocês são sempre bem-vindo! Sempre mais, bem-vindos!

LIÇÕES DO FILME "TREVAS SEM LUZ"
Caros amigos e minhas irmãs, anos atrás correu por todos os cinemas do mundo o filme intitulado “Trevas sem luz”. Aí se abordava o seguinte tema: um sábio arqueólogo que empreendia escavações nos arredores de Jerusalém, onde hoje se encontra a Basílica do Santíssimo Calvário. Certo dia, uma bomba! Esse sábio arqueólogo comunica a todos os meios de imprensa dizendo “encontrei a sepultura de Jesus de Nazaré, crucificado no ano 33. Essa sepultura, porém, não está vazia, mas dentro dela se encontra um cadáver mumificado. Portanto, Cristo não pode ter ressuscitado. Cristo não ressuscitou, está morto.

Esta novidade se espalha aos quatro ventos via rádio, televisão e imprensa. O mundo entra numa densa treva. Tudo que lembrava Cristo foi feito desaparecer. Igrejas foram destruídas, conventos fechados, padres abandonaram suas paróquias, missionários do mundo inteiro retornaram às suas pátrias, irmãs abandonaram suas escolas, orfanatos e hospitais.

Enfim, o mundo entrou numa enorme confusão. “Até que, enfim, é desmascarado o embusteiro”, comentavam alguns. “Abaixo com a moral cristã e com a cruz do sacrifício e da aceitação da morte”, falavam outros. Outros tantos não deixaram de observar: “Que pena que tudo isso tenha sido uma falsidade, pois o Ressuscitado ainda nos dava o sentido e a esperança de enfrentarmos a vida e de superar os seus absurdos. Agora, porém, como morto, temos que verificar nossa frustração.”

Assim, e com outros tantos pormenores, o filme “Treva sem luz” vai mostrando como fica o mundo sem o fato da fé e da ressurreição de Cristo. Verdadeiramente trevas, confusão, frustração e angústia nos corações humanos. Porém, no final, o filme mostra o tal arqueólogo no leito de morte. Antes de entrar em agonia, ele quer ainda falar uma vez. Então revela ao médico, professor da Universidade, que sua descoberta fora um grande engano, que ele interpretou mal o cadáver mumificado, que este não era do ano 33, mas do ano 333 dC. Portanto, não se tratava do túmulo de Cristo. Todos que haviam abandonado seus compromissos assumidos em nome da fé voltaram com uma certeza, alegria, entusiasmo maior que antes.

Esta história de um filme moderno mostra-nos bem o que seria o mundo sem a fé na ressurreição. Paulo já nos dizia em sua Epístola aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã é a nossa fé”; nós seríamos falsas testemunhas e os mais miseráveis de todos os homens; iríamos viver de fantasias, em vez de enfrentarmos a vida e a morte; procuraríamos fugir da dureza com falsas projeções de nossos desejos.

Porém, com o fato da ressurreição de Cristo, entrou uma novidade total em nosso mundo fechado pelo cálculo da morte. Alguém rompeu este círculo e deu esperança a todos nós. Dele diz São Paulo, novamente em sua Carta ao Coríntios: “se Cristo ressuscitou, então haveremos nós de ressuscitar também”. Ele é apenas o primeiro da enorme esteira dos mortos que um dia hão de ressurgir para a vida que jamais conhecerá a morte. Cantemos “Eu confio em Nosso Senhor” (canto).

NOSSA OPÇÃO: VIDA OU MORTE?
Então, irmãos e irmãs, deixem que eu lhe pergunte: sua vida prática, de cada dia, põe você em que momento desse filme? Você vive sua fé cristã coerente com a fé na ressurreição? Ou você age e vive como se ele tivesse provado que Jesus não ressuscitou? Que atitudes novas você teria que tomar para ser conforme disse S. Paulo ‘homem novo’, ‘mulher nova’? Que comportamento, costume, modo de pensar, sinais da falta de fé na ressurreição você verifica no mundo ao seu redor?

Se nós andamos com a imagem do Senhor Morto pela cidade, o que é muito significativo e bonito, por que também não O procuramos mais vezes vivo na Eucaristia? Quando foi a última vez que você entrou em uma igreja para encontrar-se com Jesus presente e vivo no sacrário ou na Comunhão dentro da Missa? Você já procurou solução para seus problemas em superstições, ou em pessoas que prometeram milagres em troca de dinheiro? Você se lembra de Jesus, o próprio Deus, o Único que até vencer a morte, espera por cada um de nós, também por você, todos os dias, e a qualquer hora, presente no Sacrário, oferecendo Sua ajuda sem cobrar nada?

Se amamos tanto a Jesus a ponto de acompanhá-Lo na Sua morte, não deveríamos estar com Ele e Lhe preparar uma grande festa celebrando a Sua ressurreição? Esta festa será amanhã à noite, a celebração da vigília pascal! Também a renovamos nas missas de todos os dias. Somos um povo que traz a marca de Jesus ressuscitado! E você, quer permanecer com Jesus morto ou vai acompanhá-Lo pelas vias da Ressurreição?

VOLTAR PRA IGREJA, NOSSA CASA
Irmão querido, irmã querida, lembra daquele filme do qual eu falava a pouco? Se acaso você, por indiferença ou por decepção diante de tantas notícias tristes, se afastou da Igreja, eu lhe faço um convite com as palavras de um outro filme, especialmente gravado para motivar católicos afastados a voltarem. É de uma campanha chamada “Católicos, regressem!” e que já fez muito sucesso, especialmente nos Estados Unidos. O texto do filme diz assim:

“Nossa família é feita de todas as raças. Somos jovens e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres, pecadores e santos! Nossa família se difunde pelos séculos e pelo mundo. Com a graça de Deus abrimos hospitais para cuidar dos doentes, estabelecemos orfanatos e ajudamos os pobres. Somos a maior associação caritativa do planeta trazendo alívio e conforto para aqueles que precisam.

Nós educamos mais crianças do que qualquer outra instituição caritativa ou religiosa. Nós desenvolvemos o método científico e as leis de evidência. Nós fundamos o sistema universitário. Nós defendemos a dignidade de toda a vida humana, preservamos o casamento e a família.

Cidades foram homenageadas com os nomes de nossos venerados santos, que percorreram o sagrado caminho antes de nós. Guiados pelo Espírito compilamos a Bíblia. Nós somos transformados pela Sagrada Escritura e Sagrada Tradição tem nos guiado por mais de dois mil anos. Nós somos a Igreja Católica, uma família com cerca de um bilhão e duzentos milhões de membros. Temos mais de um milhão de padres, religiosos e religiosas, compartilhando dos Sacramentos e da riqueza da fé cristã.

Por séculos nós temos rezado por você e por todo o mundo, a cada hora e por todos os dias, sempre que celebramos a Santa Missa. O próprio Jesus lançou os fundamentos da nossa fé quando disse a Pedro, o primeiro Papa: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra Eu edificarei a minha Igreja’. Por mais de dois mil anos nós obtivemos uma linha ininterrupta de pastores guiando a Igreja Católica com amor e verdade no mundo confuso e doloroso para se viver.

E neste mundo cheio de caos, dificuldades e dor é confortante saber que algumas coisas permanecem coerentes, verdadeiras e fortes como a maravilha de nossa fé católica e do eterno amor que Deus tem por toda Criação. Se você esteve afastado da Igreja, não importa por qual razão, lhe convidamos para um novo olhar.

Nossa família é unida em Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, Morto e Ressuscitado, razão de nossa esperança. Nós somos a Igreja Católica! Bem-vindo à sua casa!”

Que tal esta volta se dar numa noite em que se celebra a Vigília da Ressurreição?! Eu me atrevo a propor, amanhã, às 19:30h, aqui na Catedral ou em alguma outra igreja perto de sua casa, onde se celebra a ressurreição do Senhor. O que você acha?

Que a Bem-aventurada Albertina e Nossa Senhora da Piedade, com sua intercessão, obtenham de Deusa graça de vivermos unidos em Cristo, esse Caminho de ressurreição até à vida plena. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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